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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO


URUGUAI CENTRO UNIVERSITÁRIO
IDEAU CURSO DE DIREITO

A NECESSIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO DE
VOTO DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JEFFERSON JORGE DE SOUZA

GETULIO VARGAS/RS
2023
1

JEFFERSON JORGE DE SOUZA

A NECESSIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO DE VOTO


DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI

Trabalho de conclusão de curso,


apresentado ao Curso de Direito, do
Instituto de Desenvolvimento
Educacional do Alto Uruguai, como parte
dos requisitos para obtenção de
aprovação na disciplina de Estágio de
Prática Jurídica III.

Orientador: Prof. Danubia Desordi

GETÚLIO VARGAS / RS
2023
2

Souza, Jefferson Jorge de

A necessidade da fundamentação de voto dos jurados no tribunal do júri/ Jefferson


Jorge de Souza.
Getúlio Vargas – 2023
50 f.: PDF.

Monografia de Graduação – Centro Universitário IDEAU. Campus Getúlio


Vargas, 2023.
Orientador: Mestre Danubia Desordi

1. Fundamentações do Voto. 2. Tribunal do Júri. 3. Legitimidade de Voto.


I. Titulo. II. Centro Universitário IDEAU. Campus Getúlio Vargas.
_______________________________________________________________________
3

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO


URUGUAI
CENTRO UNIVERSITÁRIO IDEAU
CURSO DE DIREITO

A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de


Curso

A NECESSIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO DE VOTO


DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI

ELABORADO POR
JEFFERSON JORGE DE SOUZA

Como requisito parcial para obtenção do título de


Bacharel em Direito

Aprovado em: ____/____/_______

COMISSÃO EXAMINADORA:

_______________________________________
Prof(a). M(a). Nome do orientador(a) – Orientador(a)
Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai – UNIDEAU

_____________________________________________
Prof.xxxx
Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai – UNIDEAU

_______________________________________
Prof.ª. xxxx
Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - UNIDEAU

GETÚLIO VARGAS / RS
2023
4

Só se pode alcançar um grande êxito quando nos


mantemos fiéis a nós mesmos.

Friedrich Nietzsche
5

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso aborda a temática da necessidade da


fundamentação do voto dos jurados no âmbito do júri popular, instituto consagrado no
ordenamento jurídico brasileiro como garantia fundamental e expressão do regime
democrático. O objetivo central desta pesquisa é analisar se os julgamentos em sede
de júri popular cumprem o papel que justifica a sua existência, seja ele o de garantir o
exercício do regime democrático em toda a sua potencialidade. A pergunta de pesquisa
que norteia este estudo é: Os julgamentos em sede de júri cumprem o papel que
justifica a sua existência, garantindo o exercício do regime democrático em toda a sua
potencialidade, apenas pela sociedade estar representada por sorteio? Para responder
a essa indagação, será realizada uma análise crítica e reflexiva acerca dos princípios e
fundamentos que permeiam o júri popular, bem como das possíveis implicações
decorrentes da ausência de fundamentação dos votos dos jurados. O estudo se
desenvolverá por meio da revisão bibliográfica e análise legislativa, abordando
aspectos históricos e teóricos relacionados ao instituto do júri popular e à necessidade
de fundamentação das decisões judiciais. Será discutida também a importância da
participação popular na administração da Justiça e na concretização dos ideais
democráticos. Ao final deste trabalho, espera-se contribuir para ampliar as discussões
acerca da necessidade da fundamentação do voto dos jurados no contexto do júri
popular, bem como refletir sobre possíveis aperfeiçoamentos e alternativas que possam
garantir maior efetividade e legitimidade às decisões proferidas por este importante
instrumento de participação popular no âmbito do Poder Judiciário.
Palavras-Chave: Fundamentações De Voto. Tribunal Do Júri. Legitimidade De Voto.
6

ABSTRACT

This Course Completion Work addresses the issue of the need to justify the vote of the
jurors within the scope of the popular jury, an institute enshrined in the Brazilian legal
system as a fundamental guarantee and expression of the democratic regime. The main
objective of this research is to analyze whether the popular jury trials fulfill the role that
justifies their existence, be it to guarantee the exercise of the democratic regime in all its
potentiality. The research question that guides this study is: Do jury trials fulfill the role
that justifies their existence, guaranteeing the exercise of the democratic regime in all its
potential, just because society is represented by lot? To answer this question, a critical
and reflective analysis will be carried out about the principles and fundamentals that
permeate the popular jury, as well as the possible implications arising from the absence
of reasons for the jurors' votes. The study will be developed through a bibliographical
review and legislative analysis, addressing historical and theoretical aspects related to
the popular jury institute and the need to justify judicial decisions. The importance of
popular participation in the administration of justice and in the realization of democratic
ideals will also be discussed. At the end of this work, it is expected to contribute to
broaden the discussions about the need to justify the jurors' vote in the context of the
popular jury, as well as to reflect on possible improvements and alternatives that can
guarantee greater effectiveness and legitimacy to the decisions made by this important
instrument. of popular participation within the scope of the Judiciary.

Keywords: Voting grounds, jury court, voting legitimacy.


7

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10
2 DESENVOLVIMENTO ..........................................................................................12
2.1 TRIBUNAL DO JÚRI: CONTEXTO HISTÓRICO NO BRASIL ...........................12
2.1.1 Tribunal do Júri na civil law .........................................................................12
2.1.2 A Importância Da Linguagem No Discurso De Expressão No Tribunal Do Júri
................................................................................................................................... 12
2.2 O Júri Como Direito E Garantia Dos Direitos Fundamentais 20
2.3 Princípios Constitucionais 23
2.4 Princípios Constitucionais Do Tribunal Do Júri 26
2.5 Tribunais Do Júri: Aspectos Gerais ................................................................28
2.6 A Vulnerabilidade Dos Jurados Diante Dos Fatores Internos E Externos Ao
Processo 31
2.6.1 Interferência Da Mídia Nos Julgamentos, Afetando A Livre Convicção 34
2.7 Livre Convicção Dos Jurados 38
2.8 Competências Do Tribunal Do Juri E Sua Importância Na Democratização Do
Ordenamento Jurídico Brasileiro 40
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45
REFERÊNCIAS 47
8

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente estudo tem como enfoque a necessidade da fundamentação de voto


dos jurados no Tribunal do Júri. O Estado Democrático de Direito está assegurado pela
Constituição de 1988 no art. 93 IX, aonde descreve que todas as decisões dos órgãos
do Poder Judiciário serão públicas e que serão fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade. Sobre a fundamentação do voto, o Código de Processo Penal (CPP),
em seu art. 485, prevê o sistema da íntima convicção, descrevendo que os jurados não
são obrigados a fundamentar seu voto.
As reflexões sobre a fundamentação das decisões são abrangentes e estão
baseadas nos ditos constitucionais e nas normas processuais à luz do advento da Carta
Magna de 1988. Sendo assim, o problema de pesquisa é: os julgamentos em sede de
júri popular cumprem o papel que justifica a sua existência, qual seja, o de garantir o
exercício do regime democrático em toda a sua potencialidade, apenas pelo fato de a
sociedade civil se encontrar ali representada pelos jurados sorteados para formar o
conselho de sentença? Acredita-se que absolver ou condenar alguém utilizando
respostas objetivas, que restringe o voto ao “sim” ou “não”, não é recepcionado pela
Constituição Federal (CF) de 1988.
Com isso, o objetivo geral é analisar se os julgamentos em sede de júri popular
cumprem o papel que justifica a sua existência, e os objetivos Específicos são:
investigar os contornos de ilegitimidade do atual procedimento do tribunal do júri no
Brasil; analisar a instituição do tribunal do júri à luz do norte constitucional que exige a
motivação das decisões judiciais, fazer uma abordagem teleológica da democracia e
necessidade de julgamentos motivados.
A metodologia adotada é de revisão bibliográfica, indutiva, o embasamento
teórico foi realizado por meio de livros, artigos científicos e eletrônicos, também foram
realizadas buscas por intermédio do Scielo, Google Acadêmico, sites do TSJ, TSF,
Código Penal Brasileiro, Leis, Jurisprudências, eleitos os artigos publicados entre os
anos de 2012 a 2023, e excluídos os artigos que não tivessem assuntos relacionados
ao tema.
9

Portanto, este trabalho é de fundamental importância, pois, tem como finalidade


defender a instituição do Tribunal do Júri brasileiro, pois, fazem parte do tribunal do júri:
um juiz presidente togado e 25 pessoas sem nenhum conhecimento sobre Direito,
desses 25, sete, serão sorteados, para fazer parte do conselho de sentença com a
atribuição de aplicar a justiça de acordo com suas convicções, por meio das respostas
aos quesitos, que são perguntas formuladas pelo juiz presidente, sobre o fato criminoso
e demais circunstâncias.
Cabem aos jurados decidirem sobre a condenação ou absolvição do réu, quanto
a autoria, materialidade delitiva, excludente de ilicitude ou culpabilidade, incidência de
qualificadoras, agravantes, atenuantes, causas de aumento e diminuição da pena, sem
a necessidade de fundamentar as suas decisões (SILVA; URANI, 2018)
Neste sentido, o júri tem a pretensão de ser uma instituição que representa o
exercício da prática democrática, uma vez que os acusados serão julgados por seus
pares. Sendo assim, o Estado concederia à sociedade civil a prerrogativa de decidir
soberanamente sobre o futuro de um indivíduo acusado de infringir a norma penal nos
casos relacionados aos crimes dolosos contra a vida.
Nucci (2014, p. 40) descreve que “o Tribunal do Júri figura como, praticamente, a
única instituição a funcionar com regularidade, permitindo que qualquer cidadão tome
parte nos assuntos de um dos Poderes da República”. Portanto, acredita-se que
somente a participação da sociedade civil não torna o júri democrático.
Sendo assim, essencial modificar o sistema acusatório e as garantias
constitucionais se fazendo uma análise da instituição do Tribunal do Júri, pois o objetivo
de ser do júri popular é oferecer para a sociedade civil o direito de interferir nos
assuntos estatais, e isso só acontecerá se houver democracia e observância ao
sistema processual acusatório.
Para descrever sobre o tema é importante primeiramente fazer uma abordagem
histórica do instituto no ordenamento jurídico brasileiro, para depois focar nas reflexões
sobre o júri no Brasil. Também será descrito sobre o princípio constitucional da
motivação das decisões judiciais e sobre a democracia garantista e necessidade de
julgamentos motivados.
10

O presente trabalho também abordará sobre as influências que os jurados


sofrem em suas decisões, analisando os discursos dos tribunais e a influência que a
mídia exerce. Por fim, será feito uma abordagem sobre o chamado voto médio utilizado
nos tribunais superiores, que poderia servir de modelo para o Júri, e descreve sobre o
princípio do sigilo das votações em conflito com o princípio constitucional da motivação
das decisões.

2 DESENVOLVIMENTO

No decorrer dos tópicos será apresentado concepções sobre o contexto histórico


do tribunal do júri no Brasil, tribunal do júri na civil law, a importância da linguagem no
discurso de expressão no tribunal do júri, o júri como direito e garantia dos direitos
fundamentais, princípios constitucionais, princípios constitucionais do tribunal do júri,
tribunal do júri: aspectos gerais, a vulnerabilidade dos jurados diante dos fatores
internos e externos ao processo, interferência da mídia nos julgamentos, afetando a
livre convicção, livre convicção dos jurados e por fim as competências do tribunal do júri
e sua importância na democratização do ordenamento jurídico brasileiro.

2.1 TRIBUNAL DO JÚRI: CONTEXTO HISTÓRICO NO BRASIL

O Tribunal do Júri não é um assunto contemporâneo. Existem registros que


órgãos populares de justiça tiveram sua primeira aparição na Palestina. Outras
correntes apontam para a Grécia e Roma Antiga, e outras para a Inglaterra. Com isso,
nota-se que
as origens do Júri são incertas. Para Capez (2014), na própria ceia do Senhor, há quem
identifique traços de um conselho de jurados. No enfoque constitucional é necessário
tratar do Tribunal do Júri, identificando como este foi incorporado na Constituição
Brasileira vigente.

No Brasil, o Tribunal do Júri foi estabelecido por meio do Decreto Imperial de 18


de junho de 1822, pelo Príncipe Regente Dom Pedro Alcântara, no contexto de
declaração da independência do país, com atribuição para julgamento de
11

crimes de abuso de liberdade de imprensa. Contudo, a sua previsão


constitucional só se deu com o advento da Constituição Imperial, de 25 de
março de 1824, ampliando sua competência para julgar causas cíveis e
criminais e passando a integrar o Poder Judiciário como um de seus órgãos. Foi
regulamentado com a previsão de um Júri de Acusação e um Júri de Julgação
em 1830. Entretanto, o Júri de Acusação foi extinto pela Lei n.º 261, de 3 de
dezembro de 1841. Em novembro de 1932 o Código de Processo Criminal do
Império, estabeleceu a composição de jurados de acusação no total de 24 (vinte
e quatro) membros e para o Júri de Sentença, 12 (doze) membros. A escolha
desses membros se daria por eleitores reconhecidos pela sociedade como
sendo pessoas de bom senso e probidade (FERNANDES, 2020, p. 160).

No ano de 1946, com a democracia, a Constituição inseriu novamente o júri


dentre os direitos e garantias fundamentais. Capez (2014) cita que é mantida a
instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja ímpar o
número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude de defesa do
réu e a soberania dos veredictos. Serão obrigatoriamente da sua competência o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 141, § 28).
A Constituição de 1967, produzida sob o regime militar, manteve a instituição do
júri no contexto dos direitos e garantias fundamentais. São mantidas a instituição e a
soberania do júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a
vida. A Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, dando nova redação à
Constituição de 1967, conservou o júri no mesmo capítulo, porém com redação
normativa diversa: é mantida a instituição do júri, que terá competência no julgamento
dos crimes dolosos contra a vida (CAPEZ, 2014).
Após a redemocratização do Brasil e a Constituição Federal de 1988, revigorou-
se o júri nos moldes já preconizados pela Constituição de 1946. Manteve-se no
contexto dos direitos e garantias individuais, figurando no art. 5º, XXXVIII: é
reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a
plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a
competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (NUCCI, 2014).
O Júri é responsável pelo julgamento dos crimes dolosos contra a vida: homicídio
(que abrange o feminicídio, crime praticado contra a mulher, por razões de condição de
sexo feminino), infanticídio, participação em suicídio e aborto. Por ser o latrocínio
12

previsto no artigo 157, parágrafo 3º, do Código Penal, é crime contra o patrimônio, não
sendo julgado pelo Tribunal do Júri, contrariando o senso comum (UTSCH, 2023).
No tribunal do júri atuam os jurados, cidadãos comuns que, diante dos
procedimentos a serem desenvolvidos previstos nos artigos 406 a 497 do Código de
Processo Penal, o CPP, decidem sobre a inocência ou culpabilidade dos réus (UTSCH,
2023). Com isso, é valido destacar que o Tribunal do Júri é composto por um juiz
togado, seu presidente, e por 25 jurados que serão sorteados dentre os alistados, sete
dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento (NUCCI,
2014). A figura 1 demostra como é a estrutura de um tribunal de júri no Brasil.

Figura 1: Estrutura do tribunal de júri no Brasil.

Fonte: NUCCI (2014).

No Código de Processo Penal isso já acontece há cerca de 66 anos. No ano de


2008, editou-se a lei nº 11.689, que modificou a estrutura do júri no Brasil, e isso
13

prevalece até os dias de hoje. Sabe-se que o procedimento do júri segue o sistema
bifásico, onde, o Ministério Público oferece denúncia, juiz recebe, citação do réu para
defesa escrita, audiência una, debates, juiz poderá pronunciar; impronunciar;
desclassificar ou absolver sumariamente; e se pronunciar, intimação das partes para
apresentarem rol testemunhas e plenário (LOPES, 2023).
Para Ferreira (2020) a primeira fase do procedimento do júri nada mais é do que
o procedimento para verificar se a pessoa que está sendo processada deve ou não ser
submetida a julgamento pelo Conselho Popular (o Tribunal do Júri). O Ministério Público
(MP) oferece a denúncia contra o acusado, por cometer um crime contra a vida, o
acusado é citado para se defender, então, haverá audiências para oitivas de
testemunhas e também para ouvir o próprio acusado, que será interrogado.
Após, primeiro o Ministério Público, depois a defesa, apresentam seus memoriais
finais, que é a exposição das teses defendidas por cada uma dessas partes, e então, o
juiz togado proferirá sentença de pronúncia. Se, após colhida a prova, o juiz ainda
estiver convicto de que há, de fato, indícios suficientes de autoria e prova da
materialidade do crime (ou seja, prova de que o crime contra a vida ocorreu), o juiz
deve pronunciar o réu (FERREIRA, 2020).
Também se tem a sentença de pronúncia. Portanto, é o juiz togado dizendo que,
por tudo que foi apurado, o réu deve ser julgado pelo Tribunal do Júri. Sentença de
Impronúncia, se o juiz entender que esses indícios de autoria não estão presentes ou
que o crime não ocorreu, ele, então, impronunciará o réu, o que significa que ele não
será submetido ao julgamento pelo tribunal do júri. Sentença de desclassificação, e se o
juiz entender que houve qualquer outro crime, mas não um crime contra a vida, ele
remeterá os autos para o juiz de uma vara comum, pois não será caso de julgamento
pelo procedimento especial do Júri (FERREIRA, 2020).
E por fim, a sentença de absolvição sumária, há também a possibilidade de o juiz
reconhecer que o réu, de fato, cometeu o crime. Mas se essa conduta estiver
acobertada por uma excludente de ilicitude, ou seja, o réu somente cometeu o crime
porque agiu em legítima defesa, ou em estado de necessidade, ou, ainda, estava no
estrito cumprimento de um dever legal ou no exercício regular de direito, o juiz
absolverá sumariamente o réu (FERREIRA, 2020).
14

No caso da sentença de absolvição sumária, o acusado não será levado a


julgamento pelo Tribunal do Júri. Independente da decisão do juiz, cabe recurso da
parte que se sentir prejudicada. A segunda fase do procedimento do júri acontece caso
não haja recurso contra a sentença de pronúncia. O primeiro passo é o alistamento dos
jurados. Escolhido o conselho dos jurados, feita a instrução, é dado o início à oitiva das
testemunhas, lembrando que sempre primeiro as de acusação, depois as de defesa. E
por último, será ouvido o réu, se estiver presente. (CAPEZ, 2014)
Terá também o debate quando, para Cartaxo (2017), os jurados podem formular
perguntas às testemunhas e ao réu, por intermédio do juiz. As partes têm uma hora e
meia cada uma para apresentar seus argumentos. Após a fala da defesa, caso seja
interesse da acusação, poderá haver réplica, pelo prazo de trinta minutos e, nesse
caso, a defesa também tem direito à tréplica, pelo mesmo tempo.
Terminados os debates, segue-se à votação dos jurados que, para Ferreira
(2020, p. 85), devem seguir os seguintes quesitos:

A ordem dos quesitos está prevista de forma muito didática no art. 483 do
Código de Processo Penal, que assim dispõe: Art. 483. Os quesitos serão
formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato; II –
a autoria ou participação; III – se o acusado deve ser absolvido; IV – se existe
causa de diminuição de pena alegada pela defesa; V – se existe circunstância
qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. A resposta negativa,
de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II
do caput deste artigo encerra a votação e implica a absolvição do acusado.

Para Ferreira (2020) respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os


quesitos relativos aos incisos I e II, do art. 483, do CPP, será formulado quesito com a
seguinte redação: o jurado absolve o acusado? Decidindo os jurados pela condenação,
o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre, I – causa de
diminuição de pena alegada pela defesa; II – circunstância qualificadora ou causa de
aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação. Sustentada a desclassificação da infração para outra de
competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para ser respondido
após o segundo ou terceiro quesito, conforme o caso.
15

Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada, ou havendo


divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri,
o juiz formulará quesito acerca destas questões para ser respondido após o segundo
quesito. Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos serão
formulados em séries distintas (FERREIRA, 2020).
Importante notar que, pela atual redação do § 3º, do art. 483, do CPP, hoje é
muito difícil saber o resultado exato da votação. Por fim, Ferreira (2020) descreve que
terminada a votação, o juiz presidente proferirá a sentença respeitando o que foi
decidido pelos jurados. O juiz presidente proclamará o resultado do julgamento no
plenário, para que todos possam ter ciência da decisão tomada pelo Conselho de
Sentença.
Nucci (2018) destaca que as atribuições do júri e dos jurados são: jurados
decidem sobre a matéria de fato, jurados decidem se o acusado deve ser absolvido, júri
responde sobre a materialidade do crime, júri responde sobre autoria, júri responde se o
acusado deve ser absolvido, causas de diminuição da pena e atenuantes e causas de
aumento e qualificadoras. Por fim, entende-se que o juiz presidente dirige a sessão,
para que tudo transcorra em clima tranquilo, sem interferência indevida na atuação das
partes.
Portanto, o Tribunal do Júri é um elemento do exercício da cidadania e
demonstra o quanto é importante se fazer democracia na sociedade. Isso porque o
órgão permite ao cidadão ser julgado por seus semelhantes e, principalmente, por
assegurar a participação popular direta nos julgamentos proferidos pelo Poder
Judiciário (NUCCI, 2018). Percebe-se que é pelo Tribunal do Júri que a justiça é feita,
sem erros ou falhas.

2.1.1 Tribunal do Júri na civil law

Os países que abrangem a civil law são: Portugal, França, Itália e Espanha.
Assim como o Brasil, esses países também são regidos por leis e códigos. Para Rangel
(2012) a histórica da instituição do júri nasceu e progrediu na antiguidade, tornou-se
obscuro por um longo tempo até que a Magna Carta de 1215, na Inglaterra, o fez
16

renascer, espalhando-se pela Europa continental, adentrando na maior parte dos


sistemas jurídicos do ocidente, transformando-se em um símbolo da democracia e
liberdade pública.
Se tratando do Tribunal do Júri em Portugal, Nucci (2018) descreve que é
constituído por três juízes, que formam o tribunal coletivo e por quatro jurados eletivos e
quatro suplentes, adotando-se também o regime de escabinato ou assessorado. O Júri
em Portugal não é muito utilizado, tudo depende se as partes requerem.
Rangel (2012) cita que a função do escabinato português é intervir na decisão
das questões da culpabilidade e na determinação da pena a ser aplicada. Em Portugal
os jurados recebem remuneração e consiste em serviço público obrigatório, sendo a
recusa considerada crime. O sorteio dos jurados é feito entre os eleitores constantes
dos cadernos de recenseamento eleitoral (NUCCI, 2018).
No Tribunal do Júri de Portugal, é essencial a fundamentação nas decisões.
Portanto, para Rangel (2012), cada juiz e cada jurado precisa esclarecer quais foram os
motivos que os levaram a formar tal convencimento, indicando, quando possível, os
meios de prova que serviram como base para a decisão.
Sobre o Tribunal de Júri na França, é válido descrever que, após a Revolução
Francesa, o júri veio para representar os valores e os ideais dos revolucionários da
época que fundaram a Revolução em três conceitos básicos: liberdade, igualdade e
fraternidade. Liberdade de decisão dos cidadãos; igualdade perante a justiça e
fraternidade no exercício democrático do poder (STRECK, 2011).
Ao longo de sua história, o Tribunal do Júri na França passou por diversas
transformações. Para Rangel (2012), inicialmente, era ligado às funções eleitorais, e os
jurados eram escolhidos pela lista eleitoral. Dessa forma, só podia atuar como jurado
quem estivesse na qualidade de eleitor, fazendo com que o Júri adquirisse um viés
político e não judicial, vez que, havia obrigatoriedade de ser jurado, mas não havia de
ser eleitor.
Nos dias de hoje, na França, o Tribunal do Juri é formado por três magistrados e
nove jurados, sendo um juiz na função de presidente e outros dois como assessores.
(STRECK, 2011). Na França, o júri também é formado pelo escabinato e a sessão é
individual e secreta, e o acusado só será declarado culpado se, entre os 12 integrantes
17

do Júri, pelo menos 8 assim decidirem (RANGEL, 2012). Portanto, no escabinato são
os jurados quem decidem a pena do acusado.
Sobre o Tribunal do Júri na Itália Nucci (2018, p. 129) descreve que:

Passou a integrar o ordenamento jurídico desde muito cedo, em 1859. Porém,


com a ascensão do fascismo, a instituição que antes expressava a democracia,
pois permitia ao povo que participasse do poder judicial, foi extinta. Foi criada
uma alternativa, uma espécie de escabinato, conhecido como assessorado, que
permitia que determinadas pessoas, dotadas de status social privilegiado e
filiadas ao partido fascista, participassem da administração da justiça e mesmo
com o fim do fascismo, o Tribunal do Júri italiano continuou sem o viés social
que antes, lhe era inerente, pois permaneceu o chamado assessorado.

Sobre o Tribunal de Júri Assessorado, destaca-se que é composto por 2


magistrados togados, e mais 6 cidadãos, sendo que entre estes, 3 devem ser homens,
assim, os jurados integram o tribunal e participam das decisões de fato, de direito, bem
como de todas aquelas que integram o processo (RANGEL, 2012).
Na Itália, a seleção dos jurados é feita por sorteio e quem realiza é o juiz. Exige-
se idade de 30 a 65 anos e escolaridade no primeiro grau, e, se caso o jurado for
escolhido para compor o corpo de jurados da Corte de Apelação, a escolaridade exigida
é o segundo grau (NUCCI, 2018). A decisão da pena se dá pela maioria de votos,
prevalecendo sempre a decisão mais favorável ao réu.
Na Espanha, o júri é previsto constitucionalmente, ficando claramente
estabelecido que o cidadão tem direito a participar da administração da justiça, o
Tribunal do Júri espanhol é composto por um magistrado integrante da audiência
provincial, que será o presidente do Tribunal, e mais 9 jurados, que não precisam de
bacharelado em direito, e desempenham função emitindo veredicto, declarando
provado ou não o fato, e sobre a culpa ou inocência do acusado (ESPAÑA, 2015).
A pena é aplicada pelo Juiz Presidente. Os jurados são sorteados entre os
eleitores em cada província, dentro dos 15 últimos dias do mês de setembro dos anos
pares, a fim de compor a lista bienal de candidatos a jurados (RANGEL, 2012). O Júri
pode ser dissolvido se houver consenso entre as partes no sentido da condenação do
réu e a pena não poderá ultrapassar 6 anos de privação de liberdade, isoladamente; ou
cumulativamente, pena de multa ou privação de direitos (NUCCI, 2018).
18

Outro ponto interessante no Júri espanhol, é que as partes podem entrevistar os


candidatos a jurados, a fim de extrair o perfil de cada um, sendo isso muito importante
para garantir que os jurados selecionados não tenham qualquer tipo de preconceito ou
pré-disposição que afete em seu julgamento (RANGEL, 2012). Por fim, destaca-se que
na Espanha o indivíduo que participa do Júri como jurado é remunerado.

2.1.2 A Importância Da Linguagem No Discurso De Expressão No Tribunal Do Júri

Desde os primórdios da humanidade a linguagem é um dos elementos mais


importante nas relações humanas, é dito que ninguém nasce falando, e é no
crescimento e desenvolvimento humano que vamos criando a capacidade de nos
comunicar e formar uma linguagem que nos mostra a capacidade de podermos nos
relacionar (CONDÉ, 2018).
Se tratando da linguagem é importante saber usa-la, bom como sua pronúncia
em um discurso, sua contextualização. Para Costa (2022), o verdadeiro significado que
as palavras dão, sempre ocupou um papel de extrema participação nas reflexões
filosóficas, desde os primeiros pensadores, mas, cabe observar que foi somente a partir
do século XX que a Filosofia considerou a linguagem com uma importante investigação
filosófica, e fundamental.
Com isso, nota-se que era considerada secundária, servia somente como uma
simples base nas reflexões e depois da Era Contemporânea ela passou a ser o tema
principal. Condé (2018) descreve que não se relaciona apenas com a questão de
compreensão textual de forma histórica, social e cultural, mas sim de investigação no
verdadeiro significado e sentido das palavras. Se inclui também o entendimento nos
limites da linguagem, nas várias formas de exprimir pensamentos, e determinar se o
sujeito que determina a linguagem ou ao contrário.
Segundo as concepções de Costa (2022, p. 83):

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein é considerado o pioneiro da Filosofia


da Linguagem, foi ele quem inaugurou os estudos filosóficos centrados da
linguagem, e diversos outros campos do conhecimento, incluindo o Direito.
Wittgenstein considerava só fazerem parte da linguagem as ideias que retratam
19

os acontecimentos do mundo, que pudessem estabelecer uma referência


concreta com a realidade. Para ele, qualquer coisa diversa significava dizer
coisas sem sentido e transitar em algo fora do campo da linguagem. Em sua
obra Investigações Filosóficas (1953), aborda questões sobre linguagem,
significado e uso da linguagem na comunicação humana e passou a contar com
o contexto que estabeleceu a seguinte questão: “jogamos jogos de linguagem”.
Mais do que isso, que cada jogo desses funciona apenas em determinada
classe dentro de certas circunstâncias e, portanto, compara-se diretamente a
uma exposição da autenticidade própria desse grupo social. O entendimento da
linguagem menciona elementos da filosofia da mente, uma vez que trata de
como a mente do falante e do ouvinte se relacionam. A filosofia da linguagem
se curva sobre a natureza do significado, sobre como as frases compõem um
todo significativo mesmo que fale sobre coisas que não existem materialmente
e, sobretudo, como utilizamos a linguagem socialmente ou para nos
relacionarmos com o mundo.

No contexto do direito, destacou a importância da linguagem na formação e


aplicação do sistema jurídico. Para Leal (2019) a linguagem desempenha um papel
fundamental na criação de regras e normas legais, bem como na interpretação e
aplicação dessas normas por parte dos juristas e juízes.
Para Wittgenstein (2019), a linguagem está intrinsecamente relacionada com o
contexto social e cultural em que é usada, pois, o significado das palavras e frases é
determinado pelo seu uso dentro de uma comunidade linguística específica e isso
implica que a interpretação das leis e dos textos jurídicos deve levar em consideração o
contexto em que foram criados e aplicados.
Além disso, destacou a importância da linguagem na resolução de disputas e na
argumentação jurídica, não sendo apenas um meio de transmitir informações, mas
também uma forma de açã, pois, ao usar a linguagem, os indivíduos podem fazer
expressões, expressar intenções e persuadir os outros (WITTGENSTEIN, 2019). No
contexto jurídico, a persuasão linguística é um papel fundamental na formulação e
defesa de argumentos legais.
Segundo Wittgenstein (2019, p. 149):

A linguagem tem um significado preciso e unívoco. Ele argumentou que muitas


vezes as palavras têm significados múltiplos e seu uso pode ser ambíguo. Isso
pode levar a interpretações diferentes e até mesmo conflitantes das leis e dos
contratos. Na relação entre linguagem e Direito afirma que aquela desempenha
um papel central na construção e funcionamento do sistema jurídico. Sua teoria
da ação comunicativa, em particular, explora o papel central da linguagem na
construção da realidade social e na formação de consensos e entendimentos
20

mútuos. Portanto, a linguagem desempenha um papel crucial na coordenação


das ações humanas e na criação de sociedades democráticas, pois, cria-se e
compartilha - se significados, normas e valores.

Portanto, a interpretação e aplicação da linguagem jurídica requer sensibilidade


para essas nuances e ambiguidades, a fim de evitar equívocos e injustiças. Leal (2019)
descreve que o discurso presente no Tribunal do Júri tem como objetivo transmitir as
considerações, da maneira mais vantajosa para o cliente ou para a própria acusação.
Sem dúvidas, seu alicerce, é o debate.
Como a linguagem relaciona-se com oratória, e o Tribunal do Júri é uma
instituição muito valorizada exatamente pelo seu embate argumentativo, tendo em vista
que o corpo de jurados é formado por leigos, e os advogados e promotores têm a
possibilidade de se valerem de discursos criativos que visam potencializar a reação
emocional dos jurados. Não se pode esquecer, que a discussão encontra limites éticos
e morais e que devem ser reconhecidos diante dos princípios constitucionais do júri
(FLORES, 2018).
No Tribunal do Júri, a linguagem é fundamental, pois, tudo acontece por meio
dela. A importância da linguagem no Tribunal se dá em razão de que ela tenta
reproduzir os fatos relevantes para os julgamentos. Leal (2019) cita que no rito a
linguagem utilizada deve ser clara, objetiva e acessível, de forma a permitir que todos
os envolvidos no processo possam compreender as argumentações e participar.
É importante lembrar que o Tribunal do Júri é composto por leis jurídicas, que
não possuem formação jurídica, portanto a linguagem técnica e jurídica deve ser
evitada ou explicada de forma simplificada quando necessário (FLORES, 2018). Por
fim, destaca-se que os jurados podem usar a linguagem para discutir o caso,
argumentar as decisões, pautando no que foi apresentado durante o julgamento.

2.2 O JÚRI COMO DIREITO E GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Antes de entrar na questão do júri como direito e garantia dos direitos


fundamentais, é essencial citar alguns aspectos e concepções a respeito dos direitos
fundamentais, pois são eles que regem a vida da humanidade, e somente serão
21

efetivados se o Estado adotar um sistema ético de referência tendente à contínua


consecução dos bens da vida mais caros à humanidade, os bens soberanos
(LUHMANN, 2012). Os direitos fundamentais são complexos e possuem uma grande
extensão perante a Constituição, e isso revela que cabe ao Estado atribuições para que
se tornem efeitos.
Teles Junior (2014) cita que é fundamental eleger características para a defesa
dos direitos fundamentais, distinguindo-os dos demais direitos e das inúmeras
atribuições estatais. Esta metodologia objetiva sistematizar a atuação estatal em
matéria de direitos fundamentais, mas sob a ótica de uma eventual tutela jurisdicional,
não esgotando as classificações doutrinárias sobre a matéria.
Os direitos fundamentais são direitos universais para todo o ser humano.
Canotilho (2014) descreve que são atributos inerentes à condição humana e não de
uma nacionalidade em particular. A restrição dos direitos humanos por consequência
direta desta característica, não podem restringir os direitos fundamentais a rol inferior
ao que dispõem as convenções e tratados internacionais (CANOTILHO, 2014).
Com isso, entende-se que o Estado pode originar outros direitos além dos já
previstos no âmbito internacional. Os direitos fundamentais são um conjunto de direitos
que objetiva a efetivação da dignidade da pessoa humana (SANT'ANA, 2012), portanto
é valido destacar que o júri possui 11 características dos direitos fundamentais, como
demostra a figura 2.
Figura 2: Características dos direitos fundamentais
22

Fonte: SANT'ANA (2012).

As características dos direitos fundamentais é um tema de grandes discussões


jurídicas entre os doutrinadores. Os estudiosos têm procurado estabelecer um maior rol
possível das referidas características, mas nunca deixando de existir divergências entre
eles (SANT'ANA, 2012).

Para Canotilho (2014) na Constituição de 88 as características dos direitos

fundamentais são, universalidade: os direitos fundamentais são dirigidos a todo ser


humano, sem restrições, independentemente de sua raça, credo, nacionalidade ou
convicção política, imprescritibilidade: Os direitos fundamentais não estão sujeitos à
prescrição, não se perdem com o decorrer do tempo. Entretanto, há direitos que podem
23

ser prescritos, como é o caso da propriedade que poderá ser atingida pela usucapião
quando não exercida.
Historicidade: os direitos fundamentais são parte de um processo histórico,
adquiridos através de inúmeras revoluções no desdobrar-se da história. 4.
irrenunciabilidade: os direitos fundamentais são irrenunciáveis pelo titular. Entretanto,
existe a possibilidade de renúncia temporária, inalienabilidade: os direitos fundamentais
são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, não podendo ser desertados
(CANOTILHO, 2014). Contudo, existe a possibilidade de sua não atuação.
Inexauribilidade, O artigo 5°, parágrafo segundo da CF explica que os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte, Concorrência: Os direitos fundamentais interagem entre
si, influenciando-se, havendo, assim, uma mútua dependência, visto que seus
conteúdos se vinculam e, por vezes, precisam ser complementados por outros direitos
fundamentais (CANOTILHO, 2014).
Aplicabilidade, os direitos fundamentais têm aplicabilidade imediata, não
podendo, sob nenhuma hipótese, ser postergados. A Constituição Federal determina
ser da competência dos poderes públicos a aplicabilidade imediata dos direitos e
garantias previstos em lei, Constitucionalização: Os direitos fundamentais são
os direitos positivados na Constituição de um país. Influem em todo o Direito, não só
quando tem por objeto as relações jurídicas dos cidadãos com os poderes públicos,
mas também quando regulam as relações jurídicas entre os particulares (CANOTILHO,
2014).
E por fim, a vedação ao retrocesso: Uma vez estabelecidos, os direitos
fundamentais não podem ser tomados de volta. Uma vez que é decorrente do sistema
jurídico-constitucional, entende-se que se uma lei, ao regulamentar um mandamento
constitucional, instituir determinado direito, ele se incorpora ao patrimônio jurídico da
cidadania e não pode ser absolutamente suprimido e a relatividade: Trata-se da
natureza relativa e limitada desses direitos (CANOTILHO, 2014). Por mais que
sejam imprescindíveis, eles podem ser limitados no caso concreto por outros Direitos
Fundamentais.
24

Para Comparato (2013), os direitos fundamentais são prioritários, porque os bens


da vida por eles protegidos são essenciais à existência humana, constituem um plexo
normativo que dispõe sobre as necessidades inerentes à condição humana, sem as
quais não se é capaz de existir, desenvolver ou mesmo participar plenamente da vida,
além de direitos de realização da liberdade do sujeito, constituem direitos de adequação
da essência do homem, de sua natureza ideal.
Portanto, os direitos fundamentais são importantes para o desenvolvimento
social, pois, acompanham a história do homem e devem acontecer de forma integral
sem diferenças ou prioridade entre as diversas gerações de direitos humanos. Greene
(1968) cita que o constitucionalismo liberal do século XIX, desencadeou um maior
avanço na efetivação dos direitos fundamentais.
O Estado existe para atender ao bem comum, o que representa a satisfação
espontânea dos direitos fundamentais. O Estado deve promover a igualdade
substancial dos cidadãos, mediante a implementação material, e não meramente
formal, dos bens da vida amparados pelos direitos fundamentais sociais. Com isso, o
Estado garante não somente a democracia política, mas também a democracia social
(COMPARATO, 2013).
Ao se integrar com o sistema normativo internacional de proteção dos direitos
humanos, o Estado brasileiro adotou o referencial ético que deu origem à Declaração
dos Direitos Humanos de 1948. Adotando o sistema ético de referência, o Estado
brasileiro optou pela proteção integral e irrestrita dos direitos humanos, mediante a
satisfação dos bens soberanos de toda a humanidade (DALLARI, 2014).
A institucionalização dos direitos humanos por meio da Constituição Federal de
1988, intitulou ao Estado brasileiro a função efetiva de proteção dos direitos
fundamentais, bem como manter a democracia como forma de governo. Para Tassara
(2013) a afirmação social da democracia, faz-se necessária a garantia de igualdade
material entre todos os cidadãos brasileiros. Esta igualdade somente poderá ser obtida
através da satisfação dos bens da vida, previstos no art. 6° da Constituição Federal,
integrantes dos direitos fundamentais sociais.
Os direitos fundamentais sociais, por outro lado, constituem direitos
constitucionais subjetivos, dotados de eficácia plena e de exigibilidade imediata, na
25

forma do que dispõe o art. 5°, § 1°, da Constituição Federal (DALLARI, 2014). Por fim, a
efetivação dos direitos fundamentais, deve ser o compromisso ético do Poder
Judiciário.
Considerando-se o direito individual como aquele que se concretiza sozinho,
devendo o Estado apenas reconhecer a sua existência, como direito à vida, à liberdade,
à integridade física, e a garantia individual como aquela que depende da atuação
estatal para criá-la e assegurar o seu cumprimento, como ampla defesa, contraditório,
juiz natural (CAPEZ, 2014), pode-se concluir que as garantias se destinam,
basicamente, a assegurar a existência e preservação dos direitos.

O Tribunal do Júri, constituído no Brasil como direito e garantia fundamentais,


por sua inserção no art. 5º, XXXVIII, da Constituição Federal de 1988, encontra-
se em nível meramente formal. Isso não significa que seu valor deva ser
menosprezado ou ignorado, mas somente serve para compreendermos a sua
essência. Direitos e garantais individuais, materiais e formais, devem ser
fielmente cumpridos e, sobretudo, respeitados pela legislação
infraconstitucional. Como direito humano fundamental, de conteúdo formal,
representa o júri a possibilidade cívica de participação do cidadão no cenário de
atuação do Poder Judiciário. É a forma mais direta e cristalina de participação
popular na Justiça Brasileira. Como garantia humana fundamental, de conteúdo
formal, significa o devido processo legal para se processar o acusado pela
prática de um crime doloso contra a vida. (CAPES, 2014, p. 94).

No Brasil, o magistrado é concursado, e as decisões tomadas pelo Poder


Judiciário constituem fruto da atuação imparcial dos juízes, nas Varas e Tribunais, não
constituindo o Tribunal do Júri a única corte que teria a exclusividade nisso. Logo, não é
garantia de um julgamento justo ser avaliado o caso pelo Tribunal Popular. Cuidou-se
de opção política, calcada em inúmeros fatores, distanciados, entretanto, da busca pela
imparcialidade da magistratura (NUCCI, 2014).
Sendo assim, para Capez (2014), se no ordenamento brasileiro não tivesse
Tribunal do Júri, os julgamentos seriam baseados na Constituição vigente e nos seus
princípios, priorizando os direitos e garantias humanas fundamentais no cenário do
processo penal.

2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS


26

Os princípios são espécies de normas jurídicas que possuem maior abstração


comparada com as leis em sentido amplo. Estas são normas gerais e abstratas que,
como regra, regulam comportamentos, ao passo que os princípios não existem
exatamente para regular comportamento, mas acabam por regular nos casos da lacuna
da lei (ALEXANDRINO; PAULO, 2017).
Sobre os princípios, pode- dizer que direcionam a aplicação do direito bem como
sua interpretação. Para Alexy (2020), os princípios possuem um caráter de dever e de
obrigação, são normas que ordenam algo que, relativamente às possibilidades fáticas e
jurídicas, seja realizado em medida tão alta quanto possível.
Para Canotilho (2014), princípios são mandamentos de otimização, assim
caracterizados pelo fato de a medida ordenada de seu cumprimento depender não só
das possibilidades fáticas, mas também das jurídicas. São regras que servem de
interpretação das demais normas jurídicas, apontando os caminhos que devam ser
seguidos na aplicação das leis e resolução de conflitos que surjam durantes as relações
jurídicas.
Portanto, os princípios são os pilares do ordenamento jurídico. São regras de
validade maior que orientam a interpretação de outras regras, inclusive das regras
constitucionais. Para Alexy (2020) os princípios, juntamente com as regras, são normas
jurídicas que possibilitam a harmonia do ordenamento jurídico, exercendo dentro do
sistema normativo um papel diferente do das regras.
Segundo Canotilho (2014, p. 75), os princípios possuem várias funções como:

a) função fundamentadora: exerce a importante função de fundamentar a ordem


jurídica em que se insere, fazendo com que todas as relações jurídicas que
adentram ao sistema busquem nos princípios constitucionais o fundamento das
estruturas e instituições jurídicas. b) função orientadora da interpretação:
decorre logicamente de sua função fundamentadora do direito. Os princípios
servem, portanto, de guia e orientação na busca de sentido e alcance das
normas. c) função de fonte subsidiária: os princípios servem como elemento
integrador ou forma de preenchimento de lacunas do ordenamento jurídico, na
hipótese de ausência da lei aplicável à espécie típica. Sendo assim, acaso o juiz
não encontrasse disposições legais capazes de suprir a plena eficácia da norma
constitucional definidora de direito, deve buscar outros meios de fazer com que
a norma atinja sua máxima efetividade, como a analogia, os costumes e, por
fim, os princípios gerais de direito.
27

No decorrer da história, uma série de princípios foram criados para nortear e


estruturar o Estado de Direito. Esses princípios podem ser observados nas
Constituições existentes no mundo, pois elas são responsáveis por definir a estrutura
básica, fundamentos e bases para determinado sistema (BONAVIDES, 2021).
Os princípios foram influenciados principalmente pelas Revoluções Francesa e
Americana. No Brasil, desde o século XIX, havia certa resistência na elaboração de
uma Constituição Brasileira, visto que, o país era comandado por um rei que tinha suas
regras próprias. Com o passar dos anos, foram criadas sete constituições que fizeram
mudanças na história do país, fora as atuais Emendas Constitucionais. A partir destes
textos Constitucionais, muitos princípios foram implantados e, atualmente, representam
o pilar do Estado Brasileiro (ALEXANDRINO; PAULO, 2017).
A palavra princípio, no dicionário, significa o início de algo, o que vem antes, a
causa, o começo e, também, um conjunto de leis, definições ou preceitos utilizados
para nortear o ser humano. Seria uma espécie de verdade universal. Aquilo que o
homem acredita como um dos seus valores mais inegociáveis (ALEXY, 2020).
Os princípios constitucionais são as principais normas fundamentais de conduta
de um indivíduo mediante as leis já impostas, além de exigências básicas ou
fundamentos para tratar uma determinada situação, e podem até ser classificados
como a base do próprio Direito. São o alicerce para qualquer indivíduo. É indispensável
tomar nota dos assuntos que rodeiam os seus direitos e deveres. A Constituição
Federal de 1988 é o livro que está hierarquicamente acima de todos os outros, em nível
de legislação no Brasil (ALEXANDRINO; PAULO, 2017).
A Constituição é a lei fundamental e os princípios constitucionais são o que
protegem os atributos fundamentais da ordem jurídica. Para Bonavides (2021) os
princípios constitucionais são os princípios constitucionais gerais informadores da
ordem jurídica nacional. São emanados das normas constitucionais, o que gera alguns
desdobramentos, a começar pelo princípio da supremacia da Constituição Federal, do
qual resultam os demais, como o princípio da legalidade, o princípio da isonomia,
dentre outros.
Assim, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta um
conjunto de regras e princípios básicos essenciais ao cidadão: princípio da legalidade,
28

princípio da liberdade, princípio da igualdade, princípio da ampla defesa, princípio da


isonomia, princípio do contraditório, princípio da simetria, princípio da proporcionalidade
da lei (ALEXY, 2020). Além desses princípios, existem uma série de outros princípios
que fazem parte das demais áreas do Direito.

2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO TRIBUNAL DO JÚRI

O direito constitucional tem seus princípios fundamentais, o título I da


Constituição Federal de 1988 trata dos princípios fundamentais do Estado.

Conforme o artigo 1º, a República Federativa do Brasil possui como


fundamentos: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a
cidadania; III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL,
1988).

Sobre os princípios constitucionais do júri, a Constituição de 1988 reconheceu a


instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, porém, assegurados os
seguintes princípios: plenitude de defesa; sigilo das votações; soberania dos veredictos;
competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

O princípio da plenitude de defesa: pleno exercício do direito de defesa técnica


e defesa pessoal. Sigilo das votações: princípio informador especifico, não se
aplicando a regra da publicidade das decisões do poder judiciário. Soberania
dos veredictos: caráter relativo, pois, no caso das apelações das decisões do
Júri pelo mérito, o tribunal pode anular o julgamento e determinar a realização
de um novo. Competência mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida:
pode ser ampliado (CARTAXO, 2017, p. 125).

Nucci (2018, p. 96) aborda os princípios constitucionais explícitos referentes ao


Tribunal do Júri, previstos no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal,
salientando sua relevância jurídica. O primeiro princípio, para Nucci (2018), é o da
plenitude de defesa. A garantia da ampla defesa assegura que os acusados possam
29

valer-se de toda possibilidade de defesa, utilizando-se dos instrumentos e recursos


previstos em lei, a fim de evitar qualquer forma de cerceamento.
O sigilo das votações visa assegurar que os jurados possam proferir seu
veredicto de forma livre e isenta para, assim, atender ao interesse público e promover a
justiça. O princípio do sigilo da votação, introduziu norma que impõe a apuração dos
votos por maioria, sem que seja divulgado o quórum total (NUCCI, 2018).
A soberania dos veredictos é um princípio previsto no artigo 5º, XXXVIII, alínea
"c", da CF. Muitos tribunais togados têm apresentado alguma resistência quanto às
decisões dos Conselhos de Sentença, valendo-se os juízes, por vezes, da aplicação de
jurisprudência da Corte onde exercem suas funções. No entanto, esquecem eles que os
jurados são juízes leigos, que não tem o dever de conhecer as jurisprudências
predominantes nos tribunais (NUCCI, 2018).
Segundo Capez (2014, p. 78):

A soberania dos veredictos é a alma do Tribunal Popular, assegurando-lhe o


efetivo poder jurisdicional e não somente a prolação de um parecer, passível de
rejeição por qualquer magistrado togado. Ser soberano significa atingir a
supremacia, o mais alto grau de uma escala, o poder absoluto, acima do qual
inexiste outro. Traduzindo-se esse valor para o contexto do veredicto popular,
quer-se assegurar seja esta a última voz a decidir o caso, quando apresentado
a julgamento no Tribunal do Júri.

Se tratando da competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida,


Nucci (2018) explica que tal questão foi levantada em razão do caso conhecido como
"massacre de Haximu", em que garimpeiros assassinaram vários índios ianomâmis.
Nesse caso, o Supremo Tribunal Federal entendeu tratar-se de competência da Justiça
Federal singular, muito embora as vítimas fossem membros de grupo indígena. O autor
defende que nessa hipótese a solução correta seria o julgamento pelo Tribunal do Júri,
no âmbito federal, devendo ser estruturado, nessa órbita, plenário para julgamento dos
crimes dolosos contra a vida.
Com isso, deve-se passar a interpretar a legislação infraconstitucional,
reguladora do procedimento a ser utilizado no júri, basicamente existente no Código de
Processo Penal, de maneira secundária e dependente (CAPEZ, 2014). Não se pode
admitir que uma norma processual qualquer se sobreponha a qualquer dos princípios
30

constitucionais regentes da instituição do júri. É essencial a busca pela cessação da


cultura da primazia da lei ordinária sobre a norma constitucional, como se esta fosse
apenas uma ilustração ou uma figuração, no cenário do sistema jurídico nacional
(NUCCI, 2014).
A experiência advinda da prática forense evidencia a existência de muitos
operadores do Direito determinando a aplicação estrita da lei. Sendo assim, Capez
(2014) cita que, por vezes, em detrimento nítido do princípio constitucional expresso,
somente por arraigado costume ou por força de decisões jurisprudenciais reiteradas,
portanto, não se questiona a importância dos preceitos constitucionais reguladores do
Tribunal do Júri, de modo a, se necessário for, fazê-los superar a norma contida no
Código de Processo Penal, conferindo-lhes o real alcance e, consequentemente, a
indispensável aplicação.

2.5 TRIBUNAL DO JÚRI: ASPECTOS GERAIS

O Tribunal do Júri é um órgão jurisdicional colegiado de primeiro grau, cujos atos


integram os atos judiciais subjetivamente complexos, ou seja, aqueles que emanam de
dois ou mais órgãos e, portanto, devem estar submetidos ao mandamento
constitucional da fundamentação de suas decisões judiciais. (NUCCI, 2014)
O Tribunal do Júri, para Capez (2014), está presente no nosso ordenamento
jurídico como uma garantia individual, trazendo a competência mínima para o
julgamento dos crimes dolosos contra a vida. A instituição do júri não pode ser extinta,
nem mesmo por uma emenda constitucional, pois este é uma cláusula pétrea (art. 40, §
4º, inciso IV, da CF) e garantia fundamental.
Sobre a divisão do procedimento do Tribunal do Júri, destacam-se duas fases,
que consistem em:

A primeira fase, denominada sumário da culpa (ou judicium accusationis), tem


início com o recebimento da denúncia e encerra-se com a preclusão da decisão
de pronúncia. Tal etapa traduz atividade processual voltada para a formação de
juízo de admissibilidade da acusação. A segunda fase, denominada juízo da
causa (ou judicium causae), se inicia com a intimação das partes para indicação
das provas que pretendem produzir em plenário e tem fim com o trânsito em
julgado da decisão do tribunal do júri. Essa fase compreende uma etapa
31

preparatória ao julgamento e o próprio julgamento do mérito da pretensão


punitiva (REIS; GONÇALVES, 2014, p. 500).

Nota-se que é especificamente na segunda fase que acontece o rito do Tribunal


do Júri, pois os jurados terão responsabilidade e competência de julgar o mérito, de
acordo com a sua livre convicção sobre os fatos. Reis e Gonçalves (2014) descrevem
que, para que uma pessoa seja alistada como jurado, deverá ser maior de 18 (dezoito)
anos e ser pessoa de notória idoneidade, e o serviço é obrigatório, tudo conforme
dispõe o artigo 436 do Código Processo Penal.
A Constituição Federal de 1988 alinha a instituição do júri. Dentre os princípios
constitucionais do Tribunal do Júri, percebe-se que não está previsto o sistema de
íntima convicção. A Constituição não descreve que os jurados não devem fundamentar
os seus votos. Diante da fundamentação, se verifica se o juiz julgou com conhecimento
de causa, se sua convicção é legítima e não arbitrária, levando em conta que interessa
à sociedade e, em particular às partes, saber se a sentença foi ou não acertada.
(FERNANDES, 2013)
Portanto, a forma de argumento que a prova aparece na fundamentação da
sentença, em que o juiz justifica sua decisão perante as partes e a comunidade jurídica,
é uma maneira de expor as razões de decidir e todas judicialmente devem ser
fundamentadas. Por mais transparente que seja essa obrigação, o instituto do júri
popular não vislumbra esse mandamento.

O sistema da íntima convicção é capaz de provocar inomináveis injustiças, na


exata medida em que revela um poder tão arbitrário que permite o julgamento
baseado em algo que sequer foi apresentado no processo, nesse sentido, os
jurados podem então decidir completamente fora da prova dos autos sem que
nada possa ser feito, possuem o poder de tornar o quadrado, redondo, com
plena tolerância dos Tribunais e do senso comum teórico, que se limitam a
argumentar, fragilmente, com a tal “supremacia do júri”, como se essa fosse
uma “verdade absoluta”, inquestionável e insuperável, são juízes com poderes
hipertrofiados que julgam através de qualquer elemento e que podem apreciar
buscando suas próprias verdades, influenciados por racismo, homofobia,
religiosidade e outros inúmeros preconceitos (LOPES JR, 206, p. 861).

Sendo assim, se o próprio Juiz presidente tomar suas próprias decisões,


entende-se que que não existe democracia, pois o poder limita-se a uma só pessoa. O
32

solipsismo judicial não é próprio de regimes democráticos e inspira a versão contrária


da razão de ser do tribunal do júri, que tem a pretensão de funcionar como símbolo da
democracia. É o que acontece no sistema da íntima convicção, onde o jurado é a lei,
suas opiniões valem mais que o Direito (LIMA, 2016)
Aquilo que foi idealizado como verdade pode ser diferente de todo o conteúdo
produzido e o argumento trazido na sustentação oral pelo Promotor de Justiça ou pela
Defesa técnica, e será entendido como mera consequência da compreensão, já
concebida umbilicalmente em qualquer coisa não jurídica (STRECK, 2016).
O artigo 315 do Código de Processo Penal prevê que a decisão que decretar,
substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada. Não é compreensível
que, no caso de prisão preventiva, que tem como característica a provisoriedade
obedeça-se à obrigatoriedade da fundamentação das decisões, enquanto o julgamento
do tribunal do júri, que resolve sobre o futuro definitivo do réu, não se cumpra esse
mandamento lógico (LIMA, 2016).
Nessa ressalva, pode-se dizer que no ordenamento jurídico brasileiro existem
outras normas que validam a obrigatoriedade da fundamentação em toda sentença
judicial, como, por exemplo, o Código de Processo Civil, a fim de obter a equidade. O
Código de Processo Civil, em seu art. 489 1, dispõe acerca do que não pode ser
considerada como decisão fundamentada.
Para Lopes Jr. (2016), no júri popular brasileiro, quando não se observa a regra
da fundamentação das decisões, fere-se outros postulados fundamentais da
Constituição, a exemplo da ampla defesa e do contraditório, para o controle da eficácia
do contraditório e do direito de defesa, bem como de que existe prova suficiente para
sepultar a presunção de inocência. É fundamental que as decisões judiciais (sentenças
e decisões interlocutórias) estejam suficientemente motivadas. Só a fundamentação
1
Art. 489 - São elementos essenciais da sentença: (…). § 1o Não se considera fundamentada qualquer
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução
ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II -
empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os
argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V -
se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes
nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir
enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL, 2023).
33

permite avaliar se a racionalidade da decisão predominou sobre o poder, premissa


fundante de um processo penal democrático.
Portanto, a ausência de fundamentação na formação dos veredictos remete-se
apenas à condenação ou absolvição do réu. Para Lopes Jr (2016), reduz a defesa
deste a quase nada, tornando inútil a garantia da plenitude da defesa, seja sob o prisma
da defesa técnica, seja sob o viés da autodefesa.
A ausência de fundamentação das decisões do Conselho de Sentença é tema
que divide a doutrina. Para alguns, trata-se de legítima exceção ao disposto na
Constituição (artigo 93, IX), eis que estar-se-ia tratando de uma jurisdição leiga e,
ainda, política (TUBENCHLAK, 2019). Para Streck (2016) a carência de fundamentação
é vício que assesta para a inconstitucionalidade da instituição. O desacordo, envolve
mais uma vez o transplante sempre parcial de um júri de sólida tradição anglo-
americana para uma experiência romano-germânica.
O nosso atual sistema legal não exige a fundamentação do veredicto dos
jurados, o qual é alcançado intimamente pela maioria de votos a cada quesito proposto.
Tal regra, por outro lado, não impede a busca pelo aperfeiçoamento do júri e das
decisões do Conselho de Sentença. Aqui reside um ponto importante, pois a decisão
por íntima convicção se ampara na incomunicabilidade entre os jurados, a qual, se
violada, importa na imposição de sanção pecuniária (artigo 466, §1º, do CPP) e de
nulidade (artigo 564, III, “j”, do CPP). Não se coaduna com os ideais democráticos que
iluminam o júri (BRASIL, 2023.
Para Werle (2018, p. 148):

Não é possível pensar-se numa decisão democrática sem alinhá-la a uma


deliberação com equivalentes oportunidades de fala entre iguais, momento em
que o aporte de argumentos racionais entre pessoas de conhecimentos
díspares possam aparar equivocadas apreciações dos fatos, dissipar
preconceitos, desbaratar pré-julgamentos, preencher lacunas no próprio
raciocínio e resgatar de maneira mais precisa a memória dos fatos, expurgando
possíveis erros fáticos e lógicos de premissas previamente tomadas como
certas, portanto, a regra básica da democracia deliberativa é a de que a
normatividade seja justificada no debate público entre cidadãos livres e iguais
em que prevaleça a força do melhor argumento (WERLE, 208, p. 148).
34

Sendo assim, reconhece-se a existência de uma defesa efetiva mediante o


respeito às garantias constitucionais que inspiram um processo verdadeiramente
democrático e o resultado só acontece por meio da fundamentação das decisões.

2.6 A VULNERABILIDADE DOS JURADOS DIANTE DOS FATORES INTERNOS E


EXTERNOS AO PROCESSO

Além da pressão de estar fazendo parte de um júri, os jurados podem ser


influenciados por fatores internos e externos. Andrade (2019) descreve que os fatores
internos do processo são as provas e o discurso da defesa e da acusação, e os fatores
externos são a mídia, senso comum criado do réu, concepções religiosas e políticas,
entre outros. Um caso real sobre a influência da mídia é o caso Nardoni, que foi
condenado o casal Alexandre Nardoni (pai) e Anna Carolina Jatobá (madrasta) pela
morte da Isabella Nardoni que, no dia 25 de março de 2008, caiu do sexto andar de um
prédio em São Paulo.
Para Andrade (2019) não se discute se houve erro quanto ao veredito, mas é
sabido que a presença da mídia neste caso foi intensa, visto que há indícios que
comprovam a influência da mesma no julgamento, seja ela direta ou indireta, gerando
um linchamento midiático antes mesmo do encerramento do caso, tais como: a
reprodução de expressões, termos (e até "chavões") utilizados e/ou consagrados na
redação jornalística a respeito do crime, criminoso ou processo; referências aos
conceitos vagos do "clamor popular" e/ou da "garantia da ordem pública" para justificar
a prisão provisória, dentre outros.
Sabe-se que a mídia trabalha com o máximo de agilidade e a internet facilita a
divulgação das informações. Se tratando do caso Nardoni, antecipou-se a pena,
gerando um verdadeiro linchamento midiático. Em todos os cantos do mundo não se lia
outras notícias e era o assunto do momento no âmbito social.
Para Abdallah (2020) é na fundamentação das decisões que é possível avaliar
se esta reflete o que foi discutido durante o processo, pois não adianta garantir ao réu
defesa técnica em sua plenitude, se ao final, após toda carga probatória, após todas as
teses apresentadas, os jurados podem decidir de acordo com sua convicção pessoal.
35

Ademais, é necessário destacar que o sistema da íntima convicção e a vulnerabilidade


dos jurados influenciam a presença do direito penal do autor nos julgamentos, e não do
fato, tendo em vista que a aplicação da pena se dá em razão do ser, da pessoa que
praticou, e não em razão do ato praticado.
Segundo Andrade (2019, p. 254):

Fica claro que a pressão que a mídia exerce no judiciário, especificadamente no


âmbito criminal, pois, a notícia é transmitida de forma política ou até julgadora,
criando vítimas e réus, ocasionando o confronto das garantias constitucionais
com a liberdade de imprensa, afrontando os princípios constitucionais da
presunção de inocência, do devido processo legal, do contraditório e
da ampla defesa, quando não lhes invadem, sem qualquer escrúpulo, a
privacidade, ofendendo lhes aos sagrados direitos à intimidade, à imagem
e a honra, assegurados constitucionalmente.

Os maiores problemas de toda essa repercussão dos fatos gerados pela mídia
se dão com relação à manipulação midiática, que atinge os jurados que formarão o
conselho de sentença de um julgamento de crime cometido contra a vida. A informação
repassada à sociedade faz objeções da vida do acusado, incriminando-o e mostrando a
sua vida, particular de uma maneira distorcida, formando então a opinião errônea a
respeito da conduta deste (KOEHLER, 2010, p. 29).
Nessa ressalva, destaca-se que os pré-julgamentos são obstáculos perante os
crimes dolosos contra a vida. Tal influência é de fácil percepção dentro do tribunal do
júri, pois o conselho de sentença é formado por esses membros da sociedade, bem
como toda essa informação vendida pela mídia pode sim interferir na convicção do
jurado, induzindo-o ao preconceito generalizado pelos meios de comunicação.
Segundo as concepções de Tucci (2019, p. 89):

Indubitável é que a pressão da mídia produz efeitos perante o juiz togado, que
sente pressão pela ordem pública. Por outro lado, de maior amplitude é este
efeito sobre o júri popular, que possui estreita relação com a opinião pública
construída pela campanha midiática. É obvio, pois, que isto faz com que a
independência do julgador se dissipe não podendo este realizar um julgamento
livre por estar diante de uma verdadeira coação. Levar um réu a julgamento no
auge de uma campanha de mídia é levá-lo a
um linchamento, em que os ritos e fórmulas processuais são apenas a
aparência da justiça, se encobrindo os mecanismos cruéis de uma execução
sumária.
36

Da mesma forma, se a pressão e


a influência da mídia tendem a produzir efeitos sobre os juízes togados, muito maiores
são esses efeitos sobre o júri popular. Para Bastos (2019, p. 74), com os jurados é pior:
“envolvidos pela opinião pública, construída massivamente por campanhas da mídia
orquestradas e frenéticas, é difícil exigir deles conduta que não seguir a
corrente”.
Percebe-se que o sensacionalismo midiático afeta diretamente os direitos e
garantias fundamentais. Andrade (2019), pois, repercute crimes bárbaros que acabam
influenciando a sociedade nos casos em que esta, por meio do tribunal do júri, julgam
seus pares, muitas vezes sem o conhecimento técnico para distinguir o que foi
transmitido pela mídia perante o que está sendo exposto em plenário.
A influência externa capaz de impedir que o réu tenha um julgamento justo e na
forma da lei, decorre da influência exercida pela opinião da mídia, capaz de exercer um
forte apelo junto à opinião pública. Em verdade, a imprensa possui o poder de absorver
ou condenar previamente um réu e, com isso, influir no convencimento dos jurados e na
atuação da acusação e da defesa em plenário (KOEHLER, 2020). Por tanto, essa
influência não pode ser despercebida e nem desprezada, principalmente nos crimes
que geram grande repercussão social.

2.6.1 Interferência da mídia nos julgamentos, afetando a livre convicção

Crimes dolosos contra a vida, via de regra, têm atraído o sensacionalismo da


mídia, induzindo muitas vezes o Conselho de Sentença a fazer valer a opinião pública
em detrimento de sua livre convicção. Como o tribunal do júri trata justamente sobre
crimes dolosos, que tem grande repercussão, traz justamente o sentimentalismo da
sociedade, a revolta e opiniões sobre tudo o que acontece no mundo do crime.
Muitas vezes a mídia condena sem ter a certeza, com apenas especulações de
que realmente é verdadeiro tal fato que está sendo noticiado, mas não imagina a
influência que pode ter sobre os pensamentos das pessoas, que deveriam julgar
apenas baseado em fatos reais, narrados no decorrer do processo e não em apenas
especulações já preconcebidas antes mesmo do julgamento (TUCCI, 2019).
37

Alguns setores da mídia vistos como supostamente “justiceiros”, antes de


qualquer diligência necessária publicam o nome de possíveis suspeitos
atribuindo-lhes o condão de “acusados” ou mesmo “réus”, sem que estes
estejam respondendo ainda sequer a um processo. “Para saber se é preciso
punir, pune-se com o processo”. O cidadão nestas circunstâncias, mesmo que
teoricamente acobertado constitucionalmente pelo princípio da presunção de
inocência, se vê em realidade apontado como “culpado” pelos meios de
comunicação de massa, sofrendo enorme exposição e o encargo de poder
enfrentar um Conselho de Sentença maculado por um “jornalismo investigativo”
nem sempre ético e harmonizado com a realidade dos fatos ditos “apurados
(PRATES e TAVARES, 2018, p. 34).

O Tribunal do Júri pretende ser uma forma democrática de cidadania, como se


assim fosse uma fórmula de distribuição da justiça feita pelos próprios integrantes do
povo, voltada mais à justiça do caso concreto do que à aplicação da mesma justiça a
partir de normas jurídicas de grande abstração e generalidade. No entanto, estas
características não se verificam de modo pleno neste instituto jurídico, que se torna
frágil ao deparar-se com uma significativa e relevante influência dos meios de
comunicação nos julgamentos que profere mediante o voto dos jurados.
Estes cidadãos comuns são recepcionados por informações construídas com
base em juízo de valores que integram a identidade cultural do indivíduo e do contexto
social em que vive. O resultado desse processo é o impedimento de um julgamento
justo e legal para o réu, pois decorre prévia formação de opinião capaz de influir na
atuação da acusação e defesa em plenário (COELHO, 2023).
De acordo com Tucci (2019, p. 35):

Os meios de comunicação afetam profundamente as atitudes das comunidades,


as estruturas políticas e o estado psicológico de todo um país. À maneira de
Deus, a mídia pode alterar o curso de uma guerra, arrasar um presidente,
elevar os humildes e humilhar os orgulhosos. Os meios de comunicação
conseguem dirigir a atenção de milhões de pessoas sobre o mesmo caso e da
mesma maneira. O direito de informar, ou ainda, a liberdade de imprensa leva à
possibilidade de noticiar fatos, que devem ser narrados da maneira imparcial. A
notícia deve corresponder aos fatos, de forma exata e factível para que seja
verdadeira, sem a intenção de confundir o receptor da mensagem, ou ainda,
sem a intenção de formar nesse receptor uma opinião errônea de determinado
fato.
38

Com o intuito de lhe gerar lucro, a mídia explora o fato, transformando-o em


verdadeiros espetáculos, em instrumentos de diversão e entretenimento do público. As
notícias não passam por crítico processo de seleção. Tudo é notícia, desde que
possam render audiência e, consequentemente, dinheiro. Mais grave que isso, é o fato
de a mídia constituir um poderoso instrumento de formação da opinião pública. Quando
um fato é divulgado pelos meios de comunicação, sobre ele já incide a opinião do
jornalista, ou seja, o modo como ele viu o acontecimento é a notícia, e esta visão,
justamente pelos motivos acima apresentados, nem sempre demonstra a realidade
(MELLO, 2020).
Prates e Tavares (2018, p. 34) usam como exemplo o caso Reichtofen e irmãos
Cravinhos:

Veja-se, por exemplo, o polêmico julgamento de Suzane Reichtofen e dos


irmãos Cravinhos em que antes do julgamento ocorrer uma emissora de
televisão colocou no ar um membro do Ministério Público e o advogado de
Defesa da ré. Os dois debateram acerca das teses que seriam usadas durante
o julgamento, ou seja, o julgamento estava acontecendo no ar, perante o
público e o apresentador do programa exaltando que agora é que se veria se
existe justiça neste país. Como se a condenação de Suzane fosse a exata
medida de justiça para todos os crimes.25 Diante das reportagens sobre os
crimes dolosos, veiculadas pela mídia, temos a colisão de dois princípios, de
um lado o de liberdade de expressão e do outro o que se refere a dignidade
humana.

Outro caso seria o da Daniela Perez, filha da renomada autora de novelas Glória
Perez, assassinada por seu ex-colega de trabalho Guilherme de Pádua e sua esposa,
com mais de 18 tesouradas em todo o corpo. A indignação popular, diante desse
episódio, resultou até na alteração da legislação penal, em decorrência de uma
iniciativa popular que culminou com a publicação da Lei 8930/94, responsável por
incluir no rol dos crimes hediondos o homicídio qualificado (LOPES FILHO, 2018).
Em 2008, outro caso de grande repercussão na imprensa foi o de Eloá Cristina
que, aos 15 anos de idade, foi assassinada pelo seu ex-namorado, Lindemberg Farias,
após ser mantida por mais de 100 horas em cárcere privado, juntamente com alguns
amigos. Várias emissoras de televisão se mantiveram presentes durante todo o
desenrolar dos fatos, cobrindo e transmitindo todos os acontecimentos, inclusive,
39

fazendo um apanhado histórico da vida e intimidade da vítima, como também dos


outros reféns (LOPES FILHO, 2018).
Em 2010, a morte da advogada Mércia Nakashima pelo ex-namorado e ex-sócio
Mizael Bispo de Souza ocasionou um julgamento televisionado pela imprensa, exceto o
que transcorreu na sala secreta, local no qual os jurados decidem pela condenação ou
absolvição do réu. Os jurados, como também as testemunhas, tiveram a opção de
escolher se queriam que suas imagens fossem exibidas ou não (MAXIMILIANO, 2011).
Diante das reportagens sobre os crimes dolosos, veiculadas pela mídia, tem-se a
colisão de dois princípios, de um lado o de liberdade de expressão e do outro o que se
refere a dignidade humana. Segundo os autores que se interessam pelo tema, quando
dois princípios colidem, um precisa recuar para que o outro prevaleça.
Prates e Tavares (2018) fazem algumas reflexões como:

Pois como não se deixar influenciar se o que eles fazem é justamente tentar
condenar de todas as formas? Como poderia jurados leigos, que não tem
acesso ao processo, não sabe do trâmite, não tem acesso a tudo o que foi
colhido até então, não conhece sobre as normas da lei, decidindo assim por
mera opinião própria, não se baseando no direito e na forma judicial de julgar,
tendo base no que viu na mídia e no depoimento das partes apenas o
depoimento com a acusação e defesa, utilizando-se da malicia para convencê-
los de sua tese? Seria essa a ideia de democracia? Colocar pessoas sem
conhecimento especifico para julgar um dos bens mais preciso do ser humano
que é o direito à liberdade? Seria esse o pensamento do legislador ao declarar
que o tribunal do júri seria clausula pétrea?

Portanto, juntamente com a mudança do Código Penal, deveriam também


realizar uma nova avaliação sobre a composição do Tribunal do Júri, afinal vive-se em
outro século, os tempos são outros, e seria uma injustiça sem tamanho, recolher uma
pessoa, tirar a sua liberdade, colocá-la num lugar tão frio e perigoso, modificando assim
todo o seu futuro, sendo ela inocente (PRATES; TAVARES, 2018).
Portanto, em decorrência da imensa influência que a mídia exerce sobre a
sociedade, a liberdade de imprensa deve recuar para não ferir os direitos fundamentais
da presunção de inocência e da dignidade humana. As notícias veiculadas pela
imprensa chegam até a sociedade com ares de verdade. Assim, as pessoas esperam
uma condenação que seja rigorosa, fazendo o réu sofrer emocional e fisicamente.
Nesse sentido, quando um ato criminoso chega ao conhecimento da sociedade, o réu
40

tem um desrespeito total a sua dignidade, tendo sua privacidade invadida e sua
condenação decretada (PRATES; TAVARES, 2018).
A impressão que a mídia transmite do crime e do criminoso é, em grande parte,
mais relevante aos jurados do que aquelas apresentadas no desenrolar do julgamento.
O fato de o júri decidir apenas por íntima convicção, não fundamentando sua decisão,
favorece ainda mais a que isso ocorra, de maneira que se torna obscuro visualizar
quais fatos apresentados foram decisivos durante a formulação do veredito.
A exposição dos motivos que levaram à decisão é imposta apenas aos juízes
togados. Aos jurados, cabe apenas responder sim ou não os quesitos formulados pelo
juiz presidente. Entretanto, isso não os afasta do dever de decidir com isenção e
imparcialidade. O que está em jogo é o futuro de uma pessoa, por isso os jurados não
podem se deixar manipular pelos segmentos mais fortes e organizados da sociedade.
Cabe a eles decidirem de acordo com as suas consciências e inteligências,
representando em suas decisões a opinião da sociedade e não a dos mais abastados.
Lopes Filho (2018) descreve que a finalidade do Tribunal do Júri é a de ampliar o
direito de defesa dos réus, funcionando-se como uma garantia individual dos acusados
pela prática de crimes dolosos contra a vida e permitir que, em lugar do juiz togado,
preso a regras jurídicas, sejam julgados pelos seus pares. Ao se desvencilhar do
conjunto probatório apresentado no processo, o Júri pode estar baseando o seu
convencimento em fatos dissonantes da verdade processual, apoiando-se em um pré-
julgamento realizado e amplamente divulgado pela mídia, desprovidos do
reconhecimento judicial.

2.7 LIVRE CONVICÇÃO DOS JURADOS

A livre convicção dos jurados ou o princípio da íntima convicção diz respeito ao


julgador ter suas próprias convicções ou decisões. Tal ato está fundamentado perante a
lei. Tourinho Filho (2012) descreve que a íntima convicção é uma exceção dentro do
nosso ordenamento, podendo ser aplicável apenas nos casos que encaminhados ao
julgamento perante o plenário do júri o Juiz não estava obrigado a exteriorizar as razões
que o levaram a proferir a sentença; atribuía às provas o valor que em quisesse e
41

entendesse, podendo, até, valer-se do conhecimento extra autos, mesmo sem


nenhuma prova nos autos; decidia de acordo com a sua íntima convicção, sem se
deixar dominar pelo que havia no processo.
A livre convicção dos jurados foi estabelecida pelo legislador ordinário, no Código
de Processo Penal, não havendo previsões quanto ao tema na Constituição, cabendo,
assim, uma análise do princípio da íntima convicção em face à Constituição,
principalmente no que diz respeito ao teor do art. 93, inciso IX, o qual dispõe que:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação (BRASIL,
1988, p. 223).

Verifica-se que todos os julgamentos devem ser abertos ao público e todas as


decisões fundamentadas, havendo, não obstante, uma exceção à publicidade em casos
nos quais o direito à intimidade do interessado não prejudique o interesse público
(OLIVEIRA, 2019). No entanto, é notório que, no Tribunal do Júri, as decisões dos
jurados não são fundamentadas, visto que estão amparados pelo princípio da íntima
convicção, assim como, a votação dos quesitos não é aberta ao público, sendo ela
realizada em uma sala secreta (NUCCI, 2019).
A falta de motivação nas decisões judiciais compromete o contraditório, visto
que o mesmo garante a defesa quanto aos atos contrários ao interesse das partes.
Para Lopes Júnior (2017), o controle da eficácia do contraditório e do direito de defesa,
bem como de que existe prova suficiente para sepultar a presunção de inocência, é
fundamental que as decisões judiciais (sentenças e decisões interlocutórias) sejam
suficientemente motivadas. Só a fundamentação permite avaliar se a racionalidade da
decisão predominou sobre o poder.
Com isso, o princípio da íntima convicção apresenta-se como uma exceção
dentro do ordenamento, sendo aplicável em casos encaminhados ao julgamento
perante o plenário do júri. Logo, para Nucci, (2019) a falta de motivação pode afrontar o
princípio constitucional da presunção de inocência, em caso de condenação
42

manifestamente contrária a prova dos autos, visto que a falta da obrigação de motivar
seu veredito, pode levar o jurado a condenar o acusado sem demonstrar provas,
contrário ao que versa o princípio da presunção de inocência.
Além disso, as pessoas leigas estariam mais sujeitas a pressões exteriores,
influências políticas e econômicas, bem como não detêm as garantias orgânicas da
magistratura (OLIVEIRA, 2019). Os jurados não possuem conhecimento de processo,
ou conhecimento legal para compreender a complexidade jurídica.
Outro ponto a ser discutido, é o fato de o Conselho de Jurados não conseguir
distinguir as provas colhidas durante a fase de instrução e a prova colhida durante o
inquérito, visto que está pode não ser suficiente para a condenação, também levando
em conta não estar presente o princípio do contraditório na fase inquisitiva, não fazendo
distinção da prova judicializada daquela produzida no inquérito (LOPES JUNIOR,
2017). Outrossim, os jurados somente têm acesso ao processo no dia do julgamento, o
que os limita a julgar com base no que é trazido durante as sustentações.
Neste sentido, Lopes Júnior (2017, p. 458) destaca que:

O golpe fatal no júri está na absoluta falta de motivação do ato decisório. A


motivação serve para o controle da racionalidade da decisão judicial. Não se
trata de gastar folhas e folhas para demonstrar erudição jurídica (e
jurisprudencial) ou discutir obviedades. O mais importante é explicar o porquê
da decisão, o que o levou a tal conclusão sobre a autoria e materialidade. A
motivação sobre a matéria fática demonstra o saber que legitima o poder, pois a
pena somente pode ser imposta a quem – racionalmente – pode ser
considerado autor do fato criminoso imputado. Como define IBÁÑEZ, o ius
dicere em matéria de direito punitivo deve ser uma aplicação/explicação: um
exercício de poder fundado em um saber consistente por demonstradamente
bem adquirido. Esta qualidade na aquisição do saber é condição essencial para
legitimidade do atuar jurisdicional.

Nota-se que o instituto do Tribunal do Júri é alvo de muitas críticas e polêmicas


no que tange à capacidade de julgamento dos jurados, não é razoável que haja a
prevalência de elementos meramente emocionais em julgamentos tão importantes
como os dos crimes dolosos contra a vida, sendo o bem jurídico de maior proteção no
Direito Penal.
43

2.8 COMPETÊNCIAS DO TRIBUNAL DO JÚRI E SUA IMPORTÂNCIA NA


DEMOCRATIZAÇÃO DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O júri é uma instituição de julgamento, ou seja, é uma forma de representar


diretamente o povo. Para Távora e Alencar (2015), a ideia do tribunal popular é a de
que os casos importantes sejam julgados por pessoas que formam a comunidade a
qual pertence o acusado.
A Constituição Federal brasileira reconheceu a instituição do júri como garantia
fundamental, porquanto embora sendo órgão do Poder Judiciário, foi inserida no título
relativo aos Direitos e Garantias Fundamentais, precisamente, no art. 5º, XXXVIII,
da CF de 1988, como forma de garantir a competência mínima do Tribunal do Júri para
julgar os crimes dolosos contra a vida, pois se não houvesse a previsão expressa
na Constituição, o legislador ordinário poderia, dependendo do momento histórico,
transferir essa competência para o juiz singular (BANDEIRA, 2010).
Caso não houvesse as leis para julgar os crimes dolosos contra a vida, os delitos
poderiam não ter nada de gravidade. Oliveira (2019) destaca que nada impede a
ampliação de sua competência para julgar outros crimes, tanto que o legislador
ordinário ampliou sua competência quando admitiu a possibilidade de apreciar os
crimes conexos aos delitos contra a vida, conforme disposição contida no
art. 78, I do CPP.

A Constituição Federal que é à instituição do júri, assegurada a competência


para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida em seu art. 5º,XXXVIII,
garante para o Tribunal popular uma competência mínima, o que não significa,
a impossibilidade de ampliação dos casos para abranger outras modalidades de
delitos. Conforme decorre do disposto nos artigos 13.º do CPP e 2.º do Decreto-
Lei n.º 387-A/87, de 29 de dezembro, compete ao Tribunal do júri julgar os
processos que, tendo a intervenção do júri sido requerida pelo Ministério
Público, pelo assistente ou pelo arguido, respeitarem a crimes previstos no título
II e no capítulo I do título V do livro II do Código Penal, sendo que compete
ainda ao Tribunal do júri julgar os processos que, não devendo ser julgados
pelo tribunal singular, e tendo a intervenção do júri sido requerida pelo
Ministério Público, pelo assistente ou pelo arguido, respeitarem a crimes cuja
pena máxima, abstratamente aplicável, for superior a oito anos de prisão
(NUCCI, 2018, p. 174).
44

Com isso, entende-se que o tribunal do júri faz parte das garantias individuas do
ser humano. Para Nucci (2011), garantia esta que não poderia ser a garantia à
liberdade, pois, seria uma proteção do delinquente, que atenta contra a vida do ser
humana. Tal situação viola o direito à vida, também coberto como garantia de direito
pela Constituição. O Tribunal do Júri, para Nucci (2018), é uma garantia ao devido
processo legal que, por sua vez, é uma garantia ao direito de liberdade. A Constituição
brasileira descreve que o Tribunal do Júri expressa claramente os direitos e garantias
fundamentais, ou seja, são a estrutura da instituição do júri no Brasil.
Azevedo (2017) descreve o Tribunal do Júri como uma garantia institucional, na
medida em que a constituição garante a existência e eficácia do Tribunal do Júri, como
também por significar, indiretamente, a proteção da liberdade individual, já que seu
processo diferenciado, caracterizado por uma defesa plena e por sua própria
significância enquanto instituição popular e democrática, consiste num evidente
instrumento de proteção do indivíduo frente ao Estado. Portanto, é essencial, selecionar
as pessoas que irão compor o júri, pois estas devem ser integras, honestas e corretas.
Para Campos (2018), por mais que sempre tenha havido quem, com fortes
argumentos, desaprovasse o Tribunal do Júri, é fato que a instituição tem feito parte da
história constitucional do Brasil, e, certo ou errado, foi trazido pela Constituição da
República de 1988 para dentro do rol de direitos e garantias fundamentais expressas no
artigo 5º. Sendo assim, nota-se que o júri ou suas decisões, refletem a vontade do
povo.
Os juízes populares, que julgam secundum conscientiam são livres no exame do
fato, podendo usar do critério da reprobavibilidade como expressão do sentido moral
médio, sem as amarras a que o magistrado se submete jungido, como está à lei. E a lei,
como é notório, tem o passo trôpego, acompanhando lentamente a evolução social, de
que o juízo de reprovabilidade é reflexo imediato (NUCCI, 2018).
No entanto, a soberania dos vereditos justifica-se por não poder a decisão
coletiva dos jurados ser mudada em seu mérito por um tribunal formado por juízes
técnicos, nem pelo órgão de cúpula do poder judiciário, e nem pelo Supremo Tribunal
Federal (CAMPOS, 2018). Nessa ressalva, destaca-se que pelo fato da existir o tribunal
do júri estuda-se e demostra-se os instrumentos utilizados para que se concretize as
45

garantias e os direitos fundamentais, motivo pelo qual a diferenciação entre uma e outro
é apontada, bem como são demonstrados os instrumentos utilizados, a fim de
assegurar os direitos fundamentais, pois, o julgamento pelo júri tanto uma garantia
como um direito fundamental.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o contexto abordado ao longo do trabalho, destaca-se que o


Tribunal do Júri é um instrumento eficaz, pois, juntamente com a decisão do Juiz, as
pessoas que participam do júri podem dar a sua opinião representando a sociedade em
relação aos crimes dolosos contra a vida. Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a
institucionalização do Tribunal do Júri acompanha as mudanças políticas e sociais e
seguindo o que está escrito na Constituição Federal está avançando juntamente com o
Governo Democrático de Direito.
Percebeu-se do Júri é um assunto complexo e polêmico nos meios midiáticos e
políticos, sendo assim, compete as mídias somente informar o fato, respeitando o
princípio do Tribunal do Júri, para que os jurados se convençam pelo que foi exposto
em plenário, não se deixando influenciar pela opinião pública. Sabe-se que o Poder
Judiciário age de acordo com a legislação vigente imposta pelo Tribunal do Júri, a fim
de solucionar tais problemas, visando sempre o princípio da dignidade da pessoa
humana, mas, é plenamente possível que os julgadores sejam influenciados pela mídia
por meio de notícias alarmantes.
No Direito sempre existirão juristas com concepções a favor ou contra o Júri,
mas, de acordo com o que foi exposto no desenvolvimento do trabalho nota-se que o
Júri é o caminho para a efetivação dos mecanismos de aplicação da lei, com isso, é
primordial respeitá-lo. Por estar incluído como clausula pétrea perante a Constituição no
capítulo dos direitos e garantias fundamentais na Constituição brasileira, o Júri não será
extinto do ordenamento jurídico, mas, é preciso uma reestruturação se tratando do
Tribunal do Júri em seus aspectos ideológicos e políticos.
Portanto, afirma-se que o uso da íntima convicção nas decisões proferidas pelo
Tribunal do Júri é uma afronta e um conflito direto ao princípio constitucional da
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motivação das decisões judiciais, indo contra os preceitos de Estado Democrático de


Direito. Sendo assim, conclui-se que o princípio constitucional da motivação das
decisões judiciais deve prevalecer sobre o Código de Processo Penal, que estabelece e
cobra no Júri que as decisões dos jurados sejam baseadas no sistema da íntima
convicção.
Mas, a interpretação do Código de Processo Penal seguindo o que está descrito
na Constituição Federal é obrigatório para tornar validas as decisões do Tribunal do
Júri, pois, caso contrário, viola o que está descrito na Carta Magna. Portanto,
juridicamente a maneira mais efetiva seria adaptar o procedimento de tomada de
decisões do Júri ao princípio da motivação. Por fim, afirma-se a fundamentação das
decisões dos jurados é se faz necessário por ser uma medida para efetivar as
proteções normatizadas e legais na Constituição vigente, pois, somente assim poderá
se falar sobre a legitimidade democrática.
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