A IMPORTÂNCIA DA REALIZAÇÃO DO TESTE DE ATP NA VALIDAÇÃO DO
PROCESSO DE LIMPEZA DE MATERIAIS NA CENTRAL DE MATERIAIS
O processo de esterilização possui aproximadamente dois séculos,
surgiu com a descoberta das bactérias e foi evoluindo com as buscas da morte microbiana (Costa, 2022). Até o início da década de 40, tanto nas unidades de saúde ou nos hospitais, a limpeza, preparo e armazenamento dos materiais era realizado pela equipe de enfermagem e o trabalho era coletivo e descentralizado (Leitão, 2021). Somente na década de 50 que surgiram os Centros de Materiais parcialmente centralizados e a Central de Materiais Esterilizados - CME semicentralizada na qual parte dos instrumentos e materiais começou a serem preparados e esterilizados e cada unidade preparava seus materiais e encaminhava para serem esterilizados em um único local (Costa, 2022). Como o mundo está sempre em constante transformação, a área de saúde e hospitalar, principalmente a CME, precisaram a partir das últimas décadas do século XX precisaram se adaptar e aprimorar as ações voltadas aos processos de limpeza, armazenamento de materiais e roupas e esterilização. Sendo assim, com esta evolução a CME torna-se centralizada, com a supervisão de um enfermeiro e passa a ser definida como uma unidade de apoio técnico a todas as unidades assistenciais, responsável pelo processamento dos materiais, como instrumental e roupas cirúrgicas e a esterilização dos mesmos (Leitão, 2021). Nos dias de hoje, praticamente em todos os centros de saúde existe a implantação de Centrais de Materiais Esterilizados. A CME é uma unidade de apoio técnico dentro do estabelecimento de saúde destinada a receber material considerado sujo e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-los, bem como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas da lavanderia e armazenar esses artigos para futura distribuição (Brasil, 2023). Para o Ministério da Saúde (MS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Centro de Materiais e Esterilização é definido como unidade funcional destinada ao processamento de produtos para saúde (PPS), sua missão é fornecer PPS para os serviços cirúrgicos, assistenciais e de diagnóstico, garantindo a quantidade e a qualidade de recursos para uma assistência segura (Brasil, 2023). O CME abrange todo o sistema de saúde e atua especificamente no combate às infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Qualquer falha ocorrida durante o processamento de PPS implica o possível comprometimento da esterilidade, possibilitando a ocorrência de eventos infecciosos durante o período de internação ou pós-alta (Madeira, Santos, Batista, Rodrigues, 2023). Para a garantia da qualidade de todas as etapas do processamento, é fundamental que o CME tenha a infraestrutura adequada, de acordo com a legislação vigente. Sendo assim é importante manter a garantia da qualidade de todas as etapas do processamento e ter a infraestrutura adequada, de acordo com a legislação vigente que é a RDC 15. De acordo com a Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico – SOBECC (2017, p. 15):
A RDC 15 (Regulação da Diretoria Colegiada) é uma norma
regulamentadora que tem como objetivo principal estabelecer e regulamentar os requisitos de boas práticas para o funcionamento dos serviços que realizam o processamento de produtos na área de saúde visando à segurança do paciente e de todos os profissionais envolvidos.
Atualmente, as classificações desse setor de apoio são definidas como
CME de classe I, sendo o local que realiza o processamento de PPS não críticos, semicríticos e críticos de conformação não complexa, passíveis de processamento; e CME de classe II, definido como o local que realiza o processamento de PPS não críticos, semicríticos e críticos de conformação complexa e não complexa, passíveis de processamento (Brasil, 2023). Além disso, é necessário que o setor de apoio tenha qualidade em todos os processos internos, como o recebimento de PPS contaminados, a limpeza, o preparo, a esterilização, o armazenamento e a distribuição de PPS. Nesse fluxo, salienta-se a limpeza como etapa primordial para a garantia de uma desinfecção ou esterilização segura (Madeira, Santos, Batista, Rodrigues, 2023). Sendo assim, a etapa da limpeza durante o processo de esterilização é fundamental, pois são eliminados fungos, vírus e bactérias. Para Felippe (2018) a etapa da limpeza reduz em até 80% da carga de micro-organismos, no processo de esterilização a limpeza é importante pois, garante: segurança para pacientes e profissionais; obediência às normas legais estabelecidas pela Anvisa, maior vida útil aos materiais médicos e economia e otimização de recursos. Sabe-se que a limpeza correta é essencial para manter a qualidade no processo de esterilização. Para Rebello (2023, p. 02):
A limpeza pode ser manual: os artigos e instrumentais são imersos
em solução detergente enzimática e friccionados com escovas apropriadas para remover as sujidades. Após a limpeza, os itens devem ser enxaguados em água corrente ou deionizada para remover resíduos de detergente. E automatizada: lavadoras ultrassônicas e termo desinfectoras utilizam a ação mecânica das ondas ultrassônicas e/ou jatos de água aquecida para remover as sujidades dos materiais. Estes equipamentos garantem uma limpeza mais uniforme e reduzem os riscos ocupacionais para os profissionais de saúde. Um exemplo de equipamento que faz limpeza automatizada são as lavadoras ultrassônicas que são programadas para realizarem o ciclo de limpeza. Independente da limpeza, é utilizado um produto com tensoativos para viabilizar a auxiliar na remoção da carga microbiana, com por exemplo os detergentes enzimáticos e alcalinos. Recomenda-se que os materiais sejam desmontados e que utilizem escovas especiais para aqueles canulados ou de superfície não regular.
Com isso, é fundamental fazer a validação do processo para garantir
que os equipamentos e materiais estejam, higienizados. Cunha (2022) cita que a RDC 15 em seu art. 76 cita que a limpeza dos produtos para saúde, seja manual ou automatizada, deve ser avaliada por meio da inspeção visual, com o auxílio de lentes intensificadoras de imagem, de no mínimo oito vezes de aumento, complementada, quando indicado, por testes químicos disponíveis no mercado. O teste de adenosina trifosfato (ATP) é um os diversos testes químicos disponíveis para validação da limpeza. O ATP, não é substituível pelos indicadores químicos, físicos e biológicos, mede a limpeza de dispositivos, endoscópios e superfícies ambientais, sua leitura é realizada de forma quantitativa, por meio da bioluminescência, buscando pela fonte de energia presente em células vivas conforme o grau de contaminação, a medição de luz requer o uso do equipamento luminômetro e os resultados são emitidos em unidade relativa de luz, do inglês relative luminescence unit (RLU) (Alfa, Fatima, Olson, 2023). O teste adenosina trifosfato (ATP), confere o grau de bactérias presentes na água ou em outras substâncias, é um teste microbiológico que aponta a quantidade de seres vivos e microrganismos presentes em uma amostra, proporcionando a obtenção de dados quantitativos, bem como, a facilidade de um feedback imediato sobre esse resultado (Oliveira e Viana, 2023). O teste de acordo com Alfa, Fatima e Olson (2023) é aplicado após a realização dos processos de limpeza, para a coleta são utilizados cotonetes específicos, após isso, eles são direcionados às técnicas de bioluminiscência, que apontam a presença de adenosina trifosfato nas superfícies examinadas. Para Oliveira e Viana (2023) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA oferece o manual de Validação de Limpeza para Farmoquímicas com o objetivo de orientar sobre o controle de contaminação simples e contaminação cruzada. Assim, para que isso seja garantido, a melhor estratégia é a validação da eficácia da limpeza.
A AVISA também propõe que sejam tomados os seguintes passos:
apontamento dos critérios de aceitação da presença de ATP; mapeamento dos processos de limpeza, bem como, o apontamento dos equipamentos utilizados, caracterização dos produtos (prévio, atividade, toxidade, solubilidade e subsequente), além de suas dosagens e lote; identificação dos agentes da limpeza; mapeamento dos processos de amostragem; desenvolvimento dos processos de análise e suas devidas validações; desenvolvimento do plano de teste; montagem dos protocolos de validação e preparação dos relatórios de validação necessários (Oliveira e Viana, 2023, p. 156).
Portanto, seguindo esses passos, é possível obter uma limpeza pesada
de alto desempenho, e analisar a performance dos produtos utilizados. Para ***** é preciso apostar em produtos de limpeza pesada que recebem o teste ATP, pois a contaminação bacteriana é uma das principais preocupações que se deve ter. Isso porque, esse problema afeta o ambiente como um todo. A água de consumo, a produção de quaisquer dejetos dos seus processos podem ser contaminadas, colocando em risco a saúde de todos. Portanto, é essencial investir em estratégias de combate e monitoramento prático, para garantir a limpeza correta dos ambientes, além de proteger funcionários, clientes e demais envolvidos na produção e entrega de seus produtos (Oliveira e Viana, 2023). Por fim, destaca-se que não existe um produto de limpeza pesada 100% seguro e que garanta a máxima eficiência no mercado. Portanto, a presença de ATP aponta o comprometimento da qualidade e eficácia do produto, sobre as áreas que receberam sua aplicação.
REFERÊNCIAS
ALFA, M.J, FATIMA, I, OLSON, N. O teste de trifosfato de adenosina é uma
ferramenta de auditoria rápida e confiável para avaliar a adequação da limpeza manual dos canais do endoscópio flexível. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.ajic.2012.03.015. Acesso em: 21 de ago. 2023.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMEIROS DE CENTRO CIRÚRGICO –
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0015_15_03_2012.ht ml. Acesso em: 21 de ago. 2023.
COSTA, A.O. et al. Esterilização e Desinfecção: Fundamentos Básicos,
Processos e Controles. Cadernos de Enfermagem, 10 ed. Cortez, São Paulo, 2022.
CUNHA, A. F. Recomendações práticas para processos de esterilização
em estabelecimentos de saúde. Ed, Komedi. Campinas: 2020.
FELIPPE, Maria Justina Dalla Bernardina. Manual de biossegurança. Ed.
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu. São Paulo, 2018.
LEITÃO, A.A. et al. Projeto sobre Central Distrital de Material Esterilizado e
Serviço de Processamento de Roupa. Secretaria Municipal de Saúde, Belo Horizonte, 2021.
Processamento de produtos para saúde em CME. Disponível me: http://doi.org/10.5327/Z1414-4425201500040006. Acesso em: 21 de ago. 2023. OLIVEIRA A.C, VIANA R.E.H. Adenosina trifosfato bioluminescência para avaliação da limpeza de superfícies: uma revisão integrativa. Disponível me: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670618. Acesso em: 21 de ago. 2023.
REBELLO, Rafaela. Limpeza de materiais utilizados na assistência à
saúde: primeira etapa na CME. Disponível em: https://gestaoemsaude.net/limpeza-de-materiais-utilizados-na-assistencia-a- saude-primeira-etapa-na-cme/. Acesso em: 06 de set. 2023.
Proposta de integração dos sistemas de gestão da qualidade e ambiental aplicados no laboratório de controle da qualidade da água para consumo humano de uma empresa pública de saneamento