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XADALU TUPÃ JEKUPÉ

BIOGRAFIA DO ARTISTA

Seu nome é Dione Martins. Xadalu vem de Shadaloo, do desenho Street


Fighter. Na infância, ele e um amigo imaginaram criar a empresa Xadalu. Nas
primeiras intervenções nas ruas, ele colocou o nome Xadalu no indiozinho que
colava pelas paredes - passou a ser chamado de Xadalu, por ser um street fighter,
um guerreiro das ruas como gari e artista.
Xadalu Tupã Jekupé tem 39 anos, nasceu na cidade de Alegre – RS no ano
de 1985.
É um artista indígena que usa elementos da serigrafia, pintura, fotografia e
objetos para abordar em forma de arte urbana para se ter o entendimento entre a
cultura indígena e ocidental nas cidades.

Sua obra, surgiu através das conversas com sábios em volta da fogueira,
tornou-se um dos recursos mais potentes das artes visuais contra o apagamento da
cultura indígena no Rio Grande do Sul.
O diálogo e a integração com a comunidade Guarani Mbyá permitiram ao
artista o resgate e reconhecimento da própria ancestralidade.
Xadalu tem origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as
margens do Rio Ibirapuitã.
As águas que banharam sua infância na antiga terra chamada Ararenguá
carregam a história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones, assim
como dos bisavós e trisavós do artista.
De etnia desconhecida, eles eram parte de um fragmento indígena que
resistia em casas de barro e capim à beira do Ibirapuitã, dedicando-se à pesca e
vivendo ao redor do fogo mesmo depois do extermínio das aldeias da região.

PERCEPÇÕES DELE SOBRE A ARTE

Xadalu produz uma obra que quanto mais dispersada, mais eficiente é sua
comunicação.
Xadalu trata de deslocamentos territoriais, de sua saída do interior para a
capital até o reconhecimento da diáspora dos guaranis. Sua metáfora, os primeiros
trabalhos na rua enquanto catador de latinhas e gari, num percurso dos desterrados.

O QUE SUA OBRA DISCUTE

O artista indígena Xadalu Tupã Jekupé elabora pontes comunicacionais entre


a história da sua comunidade Guarani Mbyá e os Juruá (Não-Indígenas),
transmitindo seus conhecimentos e memória.

• Os povos Guarani Mbyá, que vivem nos estados do sul e do sudeste


brasileiros seguem sua caminhada, buscando seguir seus ancestrais.
• Os Guarani não levam em consideração as fronteiras impostas
pelos juruá (não indígenas), entre países, estados e municípios, porém, são
obrigados a conviver com elas,
• Os juruá começaram a vir para este continente, a cerca de 500 anos atrás,
não vieram como convidados, mas sim como invasores, sua forma de ver o
mundo não foi aceita pelos povos Guarani.
• Mas como precisam conviver com os não indígenas, os Guarani precisam
usar documentações, e adquirir recursos financeiros, para poder manter sua
cultura de coletividade entre as aldeias, através das visitas, da troca de
saberes, e dos auxílios prestados uns aos outros.

Xadalu reivindica o reconhecimento das terras guaranis, a reterritorialização


das aldeias e o reconhecimento simbólico da Tekoha.
PRINCIPAIS OBRAS

INVASÃO COLONIAL MEU CORPO NOSSO TERRITÓRIO: Xadalu, venceu o


Prêmio Aliança Francesa com a obra "Invasão Colonial: Meu Corpo Nosso
Território", que o levou a uma residência artística na França em 2021.
A obra foi produzida por meio de diversas imersões em uma aldeia da etnia
Guarani Mbya, que sofre constantemente ataques de homens armados. Foram
fotografados indígenas da aldeia e colocados digitalmente coletes à prova de balas
com o nome de sua etnia.
A aldeia resiste há dois anos sem água e luz à beira do rio Guaíba, isolada
por uma cerca e seguranças fortemente armados. São ameaçados e intimidados
diariamente com tiros, gritos e deboches.
Divido aqui o relato do Cacique Karai Mirim: “por volta das 20 h, escutamos
um forte barulho na mata. Ouvimos gritos em volta das barracas e saímos em
grupos. De frente para nós, cinco homens empunhavam armas de fogo. Nos
mandavam sair ou morreríamos. Então Timóteo falou: ‘Apontar a arma para mim é
fácil, qualquer um pode fazer isso. Mas você não pode apontar sua arma para aquilo
que acredito. Nem você nem ninguém. Queria ver você apontar uma arma para o
vento, o sol, a chuva, as estrelas. Isso você nunca vai conseguir’”.

LIMPEZA ESPIRITUAL COLONIAL

“Subir para a morada celestial rasgando a alma sem nenhuma gota de


sangue”. São roupas recolhidas de crianças indígenas junto a seus nomes
espirituais de crianças, pois são a fonte da felicidade. É sobre essa relação, essas
fronteiras que o homem branco tenta criar. Essa cerca tenta separar classes, o lado
étnico, a verdade. Essa cerca tenta contar outra história, pois existem diversas
histórias, mas o homem branco sempre escolheu a história que queria contar.
Hoje as comunidades estão reduzidas, perto de lavouras do agronegócio,
respirando veneno e lutando e resistindo contra a entrada feroz dos costumes
ocidentais dentro da comunidade. A cerca que rodeia as aldeias ameaça, assusta,
amedronta. Essa cerca serve para impedir que a comunidade acesse uma terra que
foi dela. Esse tipo de separação tenta fazer essa limpeza que o homem ocidental
acredita, é sua maneira de apagar a história, reduzir, humilhar até fazer
desaparecer. Então essa provocação das camisetas de crianças nas cercas com
seus nomes celestiais confronta essa limpeza colonial com o lado espiritual.

CASA DE REZA OPY

São pinturas e costura sobre lonas usadas em barracas de acampamentos


indígenas de beira de estrada. A importância dessas lonas é explicitada em um
relato do cacique: “A vida aqui é muito difícil. Estamos à margem e encurralados
entre a cerca e a estrada. Eu sou cacique aqui, meu nome é Karai Mirim. Sou
cacique de uma aldeia que ainda não tem nome. A primeira coisa quando chegamos
aqui e quando se chega a um acampamento é a construção de casas. A matéria-
prima é a lona. A lona preta. A lona dos acampamentos à beira de estrada. É ela
que abriga nossos sonhos e sustenta nossa lealdade. E mostra a nossa resistência
e nossa esperança de que há de haver um bom lugar para morar.”

ÁREA INDÍGENA

Esta obra fala muito dessa pendulação que acontece aqui em Porto Alegre,
sobre as aldeias que se encontram nas periferias da cidade e precisam viajar até o
centro para vender seu artesanato, sua única forma de sustento. Nesse contexto de
idas e vindas, a comunidade começou a ser atacada e tentaram retirá-la das
calçadas. Começou a ficar tão forte essa coisa das expulsões que a comunidade
estava com muito medo desse enfrentamento.
Apesar de o centro de Porto Alegre ser uma antiga aldeia indígena, seria um
pouco utópico falar que Porto Alegre é terra indígena. Na criação da obra, até cogitei
essa coisa da terra, mas o que mais se relacionava com os fatos era a palavra
“área”. Então eu demarquei o centro colando esses cartazes. Saiu nos jornais e na
televisão o questionamento do que queria dizer aqueles cartazes. Alguns lojistas
pensaram que era uma lei municipal, outros acreditaram que haveria uma invasão
indígena.
O mais importante é que, em suas idas ao centro, a comunidade se colocava
embaixo dos cartazes, ocupava o espaço demarcado e a obra ficava completa. Eu
fui investigado pela Polícia Federal e detido. O que estava em questão no
julgamento não era colar os cartazes, mas o modo de pensar, proclamar a área
indígena. Depois o caso foi arquivado.

Em 2020, sua obra Atenção Área Indígena foi transformada em bandeira e hasteada
na cúpula do Museu de Arte do Rio.
NHERU NHE’RY: EXISTE UMA CIDADE SOBRE NÓS

As cidades são cemitérios indígenas. Foram locais de grande alegria para o


povo indígena no passado, mas hoje são reflexos de tristeza e agonia, de
invisibilidade e marginalidade. Por mais que se construam cidades em cima de
aldeias, o verdadeiro espírito do espaço estará sempre lá, mas em contato com
outra dimensão. Esta obra é o espírito absoluto do espaço. É a releitura das cabeças
que sustentam a principal catedral de Porto Alegre. Essas cabeças foram símbolos
usados pela Igreja para mostrar seu triunfo sobre a cultura indígena.
Hoje, nas cidades, podemos dizer que pisamos sobre cabeças, presos ao
passado com sentimentos melancólicos. A obra desenterra essas cabeças e invoca
esses espíritos para que se tornem presentes e ressignifiquem os espaços. A
cabeça dourada é um tesouro perdido ou esquecido que foi encontrado. Os olhos
amarelos mostram que o espírito permanece vivo. O pedaço de concreto está
grafado com a frase “existe uma cidade sobre nós”, e o vermelho mostra que o
sangue circula dentro de cada um de nós até hoje.

ANÁLISE DO GRUPO

Percebeu-se que Xadalu por meio das suas obras de arte consegue mudar a
visão das coisas, pois, faz uma conexão entre a aldeia e a cidade. Sua produção é
diversificada vai desde a sticker art à fotografia, passando pela pintura e a serigrafia.
Nota-se também que o artista acredita muito no potencial da arte urbana e
seu objetivo é atingir por meio da arte todas as camadas sociais e poder
compartilhar informações.
Portanto, conclui-se que se tratando da arte contemporânea, especificamente
da arte urbana, Xadalu deixa claro que ela sempre foi muito discriminada no Rio
Grande do Sul, mas em virtude do sucesso das suas obras Xadalu é um artista
conhecido internacionalmente e essa experiência no exterior também ajuda a
mostrar a importância que a arte urbana tem fora do país e a valorizá-la no Brasil.

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