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AS TIAS BAIANAS
TOMAM CONTA DO PEDA O
Espaço e identidade cultural no
Rio de Janeiro*
E,.o utiao foi de7i"'olvido co o pute do um ptOjClO de pcsquiJa finVlciado pela "Fundlçio CadOl Da..." (SP)
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...
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ESnIDOS HISTÓRICOS - 199016
nia é precária, lacunar e, sobretudo, artifi neja, aldeamento ind(gena, feira africana
cial. foram expressões utilizadas pelas nossas
Cidade administrativa e política, de ba elites, referindo-se aos espaços da cidade
se escravista, o Rio sofre influência mar que retendiam excluir do imaginário urba
;,
cante da cultura africana. Em meados do no. Dessa forma, a República nao conse
século XIX, a população escrava chega a gue oferecer as bases integrativas capares
representar mais da metade da população de unificar a sociedade. Imigrantes nordes
da corte, enquanto na cidade de sao Paulo tinos, [ndios, ciganos e negros slio vistos
o contingente de escravos nao chegava a como elementos indesejáveis, incapazes de
atingir 9% da populaçao (Dias, 1985). O serem absorvidos pela "cidade moderna".
fato vai imprimir contornos específicos à Dentro desse contexto é que vai vivifi
hislÓria carioca, sendo a cidade definida por car a idéia de pertencimento ao pedaço,
uma verdadeira dualidade de mundos (Car onde é clara para o grupo marginalizado a
valho, 1987). noção do "nós" e "eles". O fato de pertencer
Realmente, se lembrarmos que um dos a um espaço não traduz vínculos de proprie
objetivos do projeto Pereira Passos era o de dade (fundiária) mas sim uma rede de rela
tomar o Rio uma "Europa Possível", a afri ções. Esta rede é de tal forma interiorizada
canização será a contrapartida dessa possi que acaba fazendo parte da própria identi
bilidade. A "Pequena África"l e a "Europa dade do indivíduo. Em um dos seus roman
Poss[vel": como juntar realidades tão dis ces, Lima Barreto coloca na boca do seu
tintas? personagem esta frase genial: "A cidade
Sabe-se que o regime republicano não mora em mim e eu nela". Era o protesto
vai dar conta de tal tarefa. Cidadania e contra o projeto urbanístico que moderni
escravidão mostram-se elementos incom zava a cidade, desfarendo os antigos refe
patíveis. A "Pequena África" decididamen renciais espaço-temporais. A memória
te não tem lugar na maquete da cidade afetiva dos moradores reage, principalmen- .
idealizada pelo prefeito Pereira Passos. te no que toca aos excluídos.
Verdadeiro "parto da inteligência", essa ci A "Pequena Africa", trecho da cidade
• •
glll/lde pane da letra é escrita em ioruba, a De início, Gamboa, Saúde e Santo Cristo
marca da identidade lutando contra o exilio constituínam esse núcleo aglutinador. No
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da memória. Mesmo sendo lembnanya re seu depoimento, Meninazinha de Oxum
mota ou consuução do imaginário, a Africa confirmou amplamente a idéia do pedaço
permanece como ponto de referência para baiano.
o grupo, no sentido de marcar a sua identi Na década de 1920, sua famOia emigrou
dade. para o Rio e se estabeleceu nos arredores do
Por mais que a nossa historiografia os bairro de Santo Cristo. A avó logo ficou
tenha ignonado, os negros baianos radica conhecida por todos como tia Davina, sen
dos no Rio introduziram novos hábitos, do sua residência transformada em um re
costumes e valores que influenciaram a cul duto de baianos. Meninazinha contou,
tura carioca. Esses valores contrastam visi ainda, que o avô era' estivador e ficou co
v e l m e n t e c o m o s introduzidos pela nhecido no cais do porto como o "cônsul
modernidade. baiano", porque os baianos recém-chega
A idéia deste artigo é resgatar a memória dos sempre indagavam por ele para saber
dos negros baianos na "cidade moderna". onde ficava a casa da tia Davina. Esta fun
Mostrar o processo de consuuçl1o de sua cionava como local de referência e de con
identidade é mostrar também os conflitos, talOS para o grupo, ajudando-o a integrar-se
ambigüidades e absorções sofridos pelo na cidade grande.
grupo na dinâmica social. Foi na Pedna do Sal, bairro da Saúde,
que surgiu o primeiro nancho carioca de que
se tem notícia: o Rancho das Sereias, for
mado quase exclusivamente por elementos
Na proa, a bandeira branca de da colônia baiana. O fato se explica: a casa
Oxalá da tia Sadata, local onde nasceu o referido
rancho, ena uma espécie de passagem obri
Desde o século XVIII, o Rio de Janeiro gatória para grande parte dos baianos re
já ena u m dos maiores portos negreiros do cém-chegados ao Rio. Conta-se que a casa,
país. Grande parle dos neglOs que aqui che- situada no alto do morro, oferecia uma vi
•
gararn vinha da Arrica através dos portos sao panorâmica da baía de Guanabara. De
nordestinos, notadamente de Salvador. l á era possível controlar todo o tráfego ma
Com a Abolição, aumenta consideravel rítimo. Para sinalizar a chegada de novos
mente o fluxo de imigrantes baianos que baianos, a embarcação já trazia na proa a
afIufram pana cá em busca de melhores bandeina branca de Oxalá. A acolhida e
condições de vida. Entretanto, não foi ape proteção da "tia" era certa (Moura, 1983).
nas por ser a capital da República queo Rio Lá eles encontravam o apoio necessário
foi piocurado, mas também porque os ne para enfrentar a dura batalha da sobrevivên
gros baianos já identiflcavam a cidade com cia na cidade hostil. Essa rede de solidarie
as suas origens. O fato de muitos dos seus dade grupal acabou criando fortes vínculos
descendentes aqui residirem dava um certo entre os conterrâneos, levando-os a desen
ar de familia ridade ao Rio, apesar de todas volverem expressões culturais próprias em
as dificuldades para se estabelecerem na relação ao restante da cidade. Muitas famí
.
cidade grande. üas de baianos viriam a se estabelecer no
No final do século XIX, as áreas do bairro da Saúde, trazendo os hábitos e cos
centro da cidade foram sendo ocupadas pe tumes da terra.
lo grupo, que passou a identificar esse es Já no início do século XX, a refolllla
paço com a sua própria identidade cultunal. urbana de Pereira Passos viria modificar
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210 ESllJOOS I-nSTÓRICOS 1990)6
.
no final do século passado. A paiavra teria cuida de si".4 Cuidar de si e dos filhos era
sido trazida pelos combatentes da campa uma coisa só, obrigação de mulher.
nha de Canudos, onde existiria uma colina Já vimos o quanto a comunidade negra
com esse nome (Gerson, 1954). O fato tes no Rio de Janeiro do inicio do século fora
temunha claramente a influência do grupo marginalizada pelo regime. Entretanto,
na cidade, uma influência "sublerrânea", nesse contexto adverso, as mulheres ne
mas decisiva, capaz de forjar novas realida gras, em relação aos homens, conseguiram
des sociais (Carvalho, 1987). Daí a neces ter maiores oponunidades de trabalho. Do
sidade de reconstruir essa rede informal de na Carmem Teixeira da Conceição, que
comunicação, incorporando-a no quadro chegou ao Rio antes da virada do século,
mais amplo da sociedade. Sem dúvida, en viveu essa realidade na pele:
A que se deve essa posiÇão de liderança dar empre�o pro pessoal assim que era
preto, da Africa, que penencia à Bahia,
atribuída à mulher? De onde vem essa força
eles tinham aquele preconceito. Mas a
e capacidade organizativa? A história é lon
mulher baiana arranjava trabalho (...)
ga.
elas tem assim aquelas quedas, chega
Sabe-se que uma das decorrências da
vam assim, iaiá, que há? e sempre se
escravidão foi a fragmentação da famOia
empregavam nas casas de familia (...)
africana. Ao incorporar a mulher negra ao
tinha fábrica ( ...) mas eram os brancos
ciclo reprodutivo da família branca, invia
que trabalhavam, muitas mulheres tra
bilizava-se para os escravos a constituição
balha.vam em casa lavando pra fora,
do seu próprio espaço reprodutivo. Assim,
criando as crianças delas e dos outros..."
as relações eram precárias e efêmeras, ocor
(Moura, 1983).
rendo muitas vezes à revelia dos próprios
parceiros. Acabavam predominando os in
Por meio do trabalho doméstico, da cu
teresses dos senhores, mais preocupados
linária e dos mais variados biscates, as mu
em assegurar a reprodução de sua mão-de
lheres conseguiam garantir, mesmo que em
obra. A legislação escravista enfatizava
bases precárias, o sustento dos seus. Era
sempre a unidade "mãe-filhos", preocupan
comum que as crianças tivessem apenas
do-se mais com a separação dos filhos em
mãe. A figura do pai, quando não era des
relação à mãe do que ao pai ou do que com conhecida, tinha pouca expressividade.
a separação entre os próprios cônjuges. Nesse contexto, cabfam sempre à mulher as
Nesse contexto, a mãe acaba assumindo maiores responsabilidades e encargos. Ge
sozinha a responsabilidade da prole, já que ralmente, era ela que assegurava a teia de
os parceiros estão sempre de passagem relaçOes do casal, cujo rompimento põe em
(Giacomini, \988 e Woonmann, \987). De risco a própria sobrevivência do homem.
pois da Abolição essa situação pouco se Não é à toa a música de João da Baiana,
modifica. A maioria das mulheres que en Quem paga a casa pra hoTT/J!m. é mulher
trevistamos COnflITOOU essa idéia de "ter (19\5). Malandragens à parte, essa era uma
que se virar sozinha", enquanto o compa realidade...
nheiro ganhava o mundo. Vovó Damiana, Nas camadas populares não se sustenta
urna baiana que já completou cem anos, se va o modelo burguês de familia que delega
referiu ao marido como um "estradeiro", à mulher o espaço do lar, a criação dos
mas logo em seguida, citou o tradicional filhos e a submissão, e ao homem o traba
provérbio: "No tempo de Murici, cada um lho, a subsistência da famnia e o poder de
212 ESTUDO S I-DSTÓRlCOS 1990/6
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Peo, da Saúde" (Moura, 1983, grifo coisa. Predomina a visão institucional que
meu). delimita a família nuclear e a família mais
extensa em função dos laços consangüí
o aprendizado pa<<8va-se "boca a bo neos. Já nas camadas populares nem sel!)
ca". Ser con terrâneo era condição essencial pre isso ocorre. Pode acontecer que o
para ingressar nessa rede de intercâmbios, referencial institucional ceda lugar à idéia
onde o saber estava sempre em circulação. de solidariffiade e união. O parentesco está
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Mais urna vez se confmna a idéia da de tal forma colado à idéia de solidariedade
sociabilidade espacial como costume pro que, muitas vezes, os termos acabam tendo
fundamente enraizado na cultura afro-baia o mesmo significado. Assim, o parentesco
na. Entre nós, essa tradição era encabeçada pode ou não passar por laços consangüí
pelas mulheres que, muitas vezes, acaba neos. Uma co� é certa: a maior parte dos
vam transformando suas casas em verda ditos parentes o são por laços de afetividade
deiras oficinas de trabalho. As casas eram e vivência. Assim, é muito comum que al
os camas, o pedaço onde era possível unir guém assuma o papel de mãe sem sê-lo
esforços, dividir tarefas, enfim, reunir os realmente. Não há nenhum problema trau
fragmentos de uma cultura que se via cons mático em se ter, por exemplo, duas mães.
tantemente ameaçada. Na "grande farnJlia", as referências e con
Acontece que esse estreito convívio en tatos são consideravelmente ampliados.
tre as pessoas acabou ampliando a família Importa sempre fazer crescer e fortalecer a
nuclear, dando surgimento à "grande famí rede...
lia". A autoridade deixou de ser exclusiva Mais do que nunca se faz presente aqui
mente centrada na figura dos pais, entrando a idéia da família como "valor territorial"
em ação outros elementos que, na maioria que concentra no coletivo qualidades que
das vezes, não faziam parte da família con raramente são atributos de um indivíduo
sangüínea. Era comum que essas figuras - (Mafesoli, 1984). Na comunidade negra, a
normalmente femininas - acabassem tendo concentração de esforços no espaço exíguo
certa ascendência sobre a criança às vezes era uma necessidade ditada pela própria
maior do que a dos próprios pais. O papel sobrevivência: dai a família ampliada e
marcante das avós, tias e madrinhas na his concentrada. Freqüentemente a casa das
tória de vida dessas crianças é fato conhe tias se convertia nesse pólo aglutinador de
cido. Suprindo carências e afetos, abrindo energia, onde se dava a socialização do
novos canais de social idade e comunica grupo.
ção, elas eram alvo do respeito, admiraçãO,
carinho e prestígio. As "tias" certamente "Naquele tempo (1910) não havia lugar
são o exemplo mais concreto desse tipo de para se divenir. Não. havia cinema. Ha
socialidade, típico das camadas populares. via só festa familiar. Nós os da raça
O parentesco adquire diferentes signifi (negro) já sabíamos de cor onde se reu
cados e possibilidades em função do con nir. Havia sempre fesla, com baile e até
texto social. Assim, não se pode pensar a com assunto religioso, em numerosas
família como fato universal e natural (Ve fam(/ias. Lá os crioulos se reuniam, co
lho, 1981), mas como sistema organizador miam, sambavam, se divertiam, namo·
de idéias e valores. Na ordem burguesa, por ravam e casavam ou entao se amigavam!
exemplo, costuma-se fazer uma cerla dis Mas de qualquer jeito arranjavam com
tinção entre família propriamente dita e pa panheira. Havia muitas casas (centros)
rentesco. Apesar de bem próximos, os onde os negros se reuniam. As princi
termos não significam exaLamente a mesma pais, que eu me iembro eram de Perei-
-
214 ES11JDOS IDSTÓRJCOS . 1990{6
Alguns jornalistas e intelectuais, como João nentes. E essa intricada rede de influências
do Rio, Manuel Bandeira, Mário de Andra que vai determinar formas específicas de
de e O assíduo cronista Francisco Guima ver, sentir e de se localizar na vida social. A
rlIes (Vagalume), tomariam conhecido o visão que as mulheres das camadas popula
pedaç o. res têm da casa e da rua pode ser esclarece
A casa da tia Ciata denota bem a questão dora nesse sentido. É na dinãmica dos
da circularidade cultural (Ginzburg, 1987), contrastes, complementaridades e. oposi
atraindo intelectuais e elementos da classe çOCs que essas categorias devem ser com
média carioca. Geralmente eram carnava preendidas (Mana, 1987:14).
lescos da Zona Sul que iam encomendar
fantasias e acabavam ficando para o pago
de. Também por essa época, o candomblé e
o jogo de búzios começavam a exercer cer
As ruas nao levam a lugar
to fascínio entre a alta sociedade. Através
nenhum ...
do samba, do Carnaval e da culinária a
cultura negra foi ganhando espaços no con·
junto da sociedade, fazendo·se aceita. Os A ordem burguesa criara uma "geogra
códigos culturais começaram a se entrecru fia médica" destinada a codificar o espaço
zar, mesmo que de forma precária. Geral da família e o da intimidade em oposição ao
mente, o centro irradiador dessa cultura em território mundano. Assim, a família se
a casa das tias ou os terreiros. transforma em refúgio idealizado, em opo
Roberto Moura lembra O nome de outras sição ao domínio público, que é tido como
tias que nessa época também fizeram a his- moralmente inferior (Costa, 1979 e Seneu,
•
tória da "Pequena Africa": Perpétua, Veri- 1988). Cria-se, portanto, uma segmentação
diana, Caiu Boneca, Maria Amélia, Rosa entre o espaço público e o privado, onde o
Olé, Gracinda. A lista é infindável. Uma primeiro é desqualificado, chegando a ser
coisa, porém, é certa: tanto as tias Sadata, visto como uma espécie de "antro de perdi
Ciata e Bibiana quartlo às demais desempe ção". Um dos objetivos dessa geografia
nharam um mesmo papel, ou seja, os de médica é o de delimitar o espaço da mulher
verdadeiras lideres comunitárias. burguesa. Se agora, no início do século, ela
De onde vem essa força? Quais as bases já é incentivada a iràs ruas (teatros,footings
dessa liderança informal exercida pelas na avenida etc.), este trânsito não flui livre·
mulheres? mente. Há lugares permitidos e proibidos.
O que salta logo'aos olhos é o papel que, Enfim, há um código regulando cuidadosa
as "tias" ocupam no seio familiar. Na "gran mente esses espaços.
de família", haseada predominantemente Já se destacou a espantosa fluidez das
em laços éUlicos, elas assumem o papel de mulheres pertencentes às camadas popula
verdadeiras mauiarcas. São elas que sem· res que circulam livremente pelas ruas da
pre estllo a par de tudo, preocupando-se cidade (perrot, 1988). Diferentemente das
com a· sorte de todos, alé dos "filhos" mais mulheres das elites, que trans itam por um
afas tados. Na maior parte das vezes, são espaço rigidamente codificado sempreobe
elas que decidem, providenciam e batalham diente às normas, elas se movem de acordo
no dia- a'(\ia. com os seus afazeres e prazeres.
AS TIAS BAIANAS TOMAM CONrA DO PEDAço 217
em relação ao uso do espaço urbano pelos O comércio miúdo com gêneros de pri
escravos. Nesse contexto, a liberdade de ir meira necessidade foi uma atividade majo
e vir, mesmo que relativa, acabou dando à ritariamente exercida por essas mulheres.
mulher negra cerlO poder em relação aos Para Maria OdiIa Leite (1984), essa tradi-
•
presença obrigatória, já fazendo parte do reza do seu ofício, que lhes dava uma maior
cotidiano carioca. Nas festas tradicionais autonomia de movimenlO, elas consegui
das igrejas, como as da Penba e Glória, riam afrouxar, dentro do possível, a wtela
também compareciam com as suas barracas senhorial, como já mostramos. Driblando O
de comida típica. controle do fisco e das aUlOridades munici
Essa intensa participação no mundo do pais, essas mulheres, por intermédio do pe
trabalho influenciou a própria personalida queno comércio, lançaram as bases de uma
de dessas mulheres, interferindo na sua ma vida comunitária intensa.
neira de pensar, sentir e de se integrar à No Rio, esse comércio, exercido pelas
realidade. Contrastando com ás mulheres "tias baianas", iria adquirir força inusitada,
de outros segmentos sociais, elas se com devido à alta concentração da população
portavam de forma desinibida e tinham um negra na cidade. Havia IOdo um código de
Iinguajar mais sollO e maior liberdade de valores que vazava por esses canais infor
locomoção e iniciativa. mais decomurticação. Tais valores freqüen
Para as mulheres das camadas popula temente contrastavam com os ideais
res, as mas nao guardavam maiores misté transmitidos pela modernidade: era a "Pe
rios. N a realidade, a r u a pouco se quena África" marcando sua presença na
diferenciava da casa onde moravam. "Europa possível".
TanlO lá, como cá, a lei era a mesma: Uma das concepções mais difundidas
unir esforços, batalhar pela sobrevivência pela ideologia da modernidade é a que de
sempre posta em risco. Enrun, para essas rme a rua como local de passagem. Assim ,
mulheres as mas da cidade já faziam parte o espaço público é vislO corno a "derivação
211 ESTUDOS HISTóRICOS - 1990.16
dirigem apressadamente para algum desti estava presente na vida concreta do cotidia
no. Seu destino era precisamente estar ali, no. Esse era o espaço onde a comunicação
deitar raízes, ganhar terreno, conhecer e se inscrevia de forma mais eficiente. fluin-
AS TIAS BAIANAS TOMAM COI"ITA DO PEDAço 219
"driblar" os olhos do poder, oferecendo me o sanlO, sentir que ele confia em mim e me
lO
canismos de socializaçao alternativos aos atende"
de uma sociedade regulada pelo tempo fa No candomblé, grande parte do saber
bril. No seu cotidiano, essas mulheres se continua a ser !ransmitido alravés de estru
desdobram em múltiplas e infindáveis tare turas informais de comunicação. A dança
fas que exlrapolarn a temporalidade formal. dos orixás, por exemplo, pode ser viSIa
Invisibilidade na produçao, poder e saber como uma espécie de narrativa onde os
infOlillSl, vincuJaçao direla com O cotidia vários ritmos e gestos contam uma história.
no, enfim, esse'é o universo onde se movem Mãe Beala explica que cada cantiga é o
as mulheres das camadas populares. Tal "oriqui" (história) do orixá. Por meio da
universo conaasta visivelmente com os va dança e da música conuicse a vida deles.
lores ideológicos dominantes. Para a comunidade, esse saber está direta
Em decorrência do fato, a própria Irans mente vinculado à experiência concrela de
missão dos saberes vai ocorrer, em grande cada um: "Denlro de nossa vida, eles (os
ll
parte, fora dos canais formais de comunica orixás) silo reais"
ção. Lembremos do depoimento de Heitor De fato. No candomblé, O saber iniciá
dos Plareres que se refere ao seu tempo tico tem eSlreita relaçao com a vida de cada
como O "da aprendizagem", onde quem um. De certa forma, é o próprio indivIduo
sabia mais ensinava aos outros. Traia-se de que faz o santo, da! ser comum escutar as
um saber que é passado normalmente de pessoas se referirem a seu santo como O
boca em boca, desempenhando os mais ve " meu Oxossi". "minha Oxum ..... O indiví
lhos papéis de ascendência sobre os demais. duo panicipa da distribuição das forças sa
As avós, vistas como verdadeiras guardiãs gradas quando empresta seu corpo, voz e
das !radiçOes e lembranças, vão exercer dança (Augras, 1983). O profano e o sagra
papel fundamental na socialização do gru do estllo juntos, pois pertencem à mesma
po. São elas que ensinam aos netos (consan dinâmiCa que dá sentido à.comunidade.
güíneos ou . não) as mais variadas coisas, Naturalmente, esses poderes e valores
desde histórias e cantigas até pequenos ser passam hoje por um proce= de reelabora
viços que poderão aj udar na sobrevivência. çao, incorporando outros elementos cultu
É o caso de mãe Beala, que aprendeu rais. No entanto, ne�a incorporação, a
com a avó, que foi escrava em um engenho inovaçilo quase sempre vem lraduzida e
no interior da Bahia, histórias, cantigas de referendada por valores já interiorizados
ninar e cerâmica Também foi ela que lhe pelo grupo.
ensinou a propriedade das ervas. Diz ela:
"cada uma delas (ervas) tem um dom e um
significado, servindo para cura do corpo e
,, 9
do espírito 2_ RESGATANDO AS
Não é o saber cumulativo que interessa ENTRELINHAS
aqui, mas saber passar adiante. Enlretanto,
quando se !rata do saber iniciativo, silo ne Reconstituir uma história feita de lacu
ce�<ários certos dons. A�im, no candom nas, interstrcios � silêncios nao é tarefa
blé, O poder da mãe-de-santo reside fácil. Quando as fontes escritas silo reticen
sobretudo na habilidade de mediação enlre . tes,.é sempre preciso ler por tnls das linhas,
as pessoas e os orixás (Silverstein, 1979). buscar a informaçao no entredito, juntar
Nesse sentido, o depoimento de Meninazi fragmentos dispersos: é a "nec=idade de
nha de Oxum é claro: "Nilo é competência lidar com os silêncios", surpreendendo o
de saber muila coisa, mas de saber escutar ainda nao formulado (Vovelle, 1987).
AS TIAS BAIANAS TOMAM CONTA 00 PEDAÇO ZZI
A história das mulheres negras baianas rancho aparecer como coisa fora do lugar,
se insere nesse domínio onde a história acaba atraindo tanta ou mais alenç!!o que os
volla e meia hesita, omile e silencia. Trata santos, andores e emblemas sagrados. Diz
se de uma dupla exclusão: mulher e negra. o aulor:
As fonleS escritas do início do século são
extremamenle reticences sobre o assunto. "... era formado esse rancho por um
Nos jornais e revistas da época há poucas grande número de negras vestidas à mo
referências sobre as mulheres neglas haia da da província da Bahia, donde lhe
nas. Alguns cronistas inleressados na cullu vinha o nome, e que dançavam nos in
ra popular vasculharam as gafieiras, os tervalos dos Deo Gratias uma dança lá a
lerreiros e as festas de rua em busca de seu capricho. Para falarmos a verdade, a
informação. Quase sempre era o lado exó coisa era curiosa: e se nao a'empregas
tico dessa cultura que os mobilizava à pes sem como primeira pane de uma ptocis
quisa. Na realidade, essa perspectiva é sao religiosa, certamente seria ' mais
típica da cultura fin-de-si�cle que cultua o desculpável" (Almeida, 1969).
decadentismo, morbidez e nefelibatismo. O
popular, frequenlemente identificado com Descrevendo o Carnaval da praça Onze,
o primitivismo, acabaria sendo associado a Graça Aranha acentua o seu aspecto exóti
esses valores. Era a seduçãO pelo lado aves- co; um tanto ao quanto assustador:
•
E preciso reconhecer, no entanto, a im- surreiçao das bacances, das bruxas, das
portância das informaçOes que essas crôni diabas. Missa negra, tragédia negra, ma
cas trazem para o historiador. Através delas, gia negra. Triunfa a negra, triunfa a mu-
é possível reconstituir um sugestivo pano lata (... ) Africa, Baía, Brasil" (Aranha,
•
imprensa como a rainha das diretoras de próprio Carnaval com batalhas de confe!es,
ranchos (Jotaefegê, 1982), Maria AlaM, serpentinas, lança-perfumes, bandas de
Joana do Passu, Sara, Bambala, Amélia do música, coretos e blocos. Na rua do Lavra
AragAo e Maria do Beju também aparecem dio, a República dos Trouxas; na Cidade
como as primeiras componentes dos ran Nova, os Representantes da Miséria, cujo
chos carnavalescos. Fica evidente a partici presidente é o lorde Miserável, seguido pela
paçAo das "tias" baianas organizando e Fome Negra, Passa Fome etc. Há toda uma
dando brilho à folia. No entanto, nas pró paródia ao poder, onde slio desmitificados
prias cronicas de Vagalume, elas aparecem, valores e idéias. A miséria em que vivem as
na maioria das vezes, como referências camadas populares (a fome é que determina
anônimas: baianinhas. A nosso ver, o fato a hierarquia social), o engodo da cidadania
vem reforçar a própria natureza informal - República dos Trouxas -, enfim, tudo vem
dessas lideranças. Se o cronista registra a à tona no Carnaval. Essa idéia da inverslio
presença dessas mulheres, se reconhece a da ordem cotidiana aparece sugestivamente
sua liderança, ao mesmo tempo parece não ilustrada em uma caricatura onde o rei mo
dar importincia aos seus nomes. Basta no mo dialoga com a política, ordenando- lhe
mear O gênero. que se retire do cenário porque chegou o seu
Quem não conhece os nomes de João da !empo. No argumento, é clara a intenção
Baiana, Donga e Heitor dos Ptazeres? Na jocosa: se a política faz pândega o ano
história da música popular brasileira eles inteiro, essa é a vez do rei momo fazê-la. A
silo referência obrigatória. No entanto, suas polltica passa entllo a ser ridicularizada por
respectivas maes - Perciliana, Amélia do que não cumpre o seu papel: não leva nada
12
AragAo e Celeste - foram figuras que pas a sério!
saram desapercebidas em termos de regis O Carnaval denota claramente a consti
tro. Quando seus nomes sAo citados é tuição da trama social onde a socialidade se
sempre em referência aos filhos: recupera exprime o tempo todo e em todos os luga
se apenas o papel de mAe. res. Os aspectos formais silo destituldos do
Entretanto, essas mulheres foram ele poder, criando-se uma conua-ordem. As
mentos que se destacaram na comunidade crônicas de Vagalume reafirmam a impor
baiana, fortalecendo seus elos, preservando tância das ruas na constituiçAo da identida
e divulgando os valores culturais do grupo. de sócio-poHtica dos seus habitantes.
O p,
úpria Donga se refere à mae - Amélia Trata-se de uma "cidadania paralela" que
do Aragão - como uma das pessoas que !ende a criar os seus próprios canais de
teria introduzido o samba aqui no Rio ainda participação sócio-polftica. Um fato é ine
no final do século passado (Sodré, 1979). gável: as ruas oferecem canais de integra
É precisamente por çste anonimato ou ção aos seus babitan!es mais funcionais do
por esta invisibilidade que a mulher para que qualquer outra instituiçAo política. O
doxalmente aparece. Ela consegue captar e Carnaval simplesmente torna o fato paten
exprimir toda uma forma de comunicação te, permitindo que a idéia de pedIJço seja
que foge aos códigos dominantes. "Alma vivenciada plenamente e sem maiores
do baino" ou "dona do pedaço", a mulher constrangimentos. O que é subterrâneo no
fala a linguagem das ruas simplesmente cotidiano agora vem à superfície.
•
depoimentos colelactos por Monique Au glas. Essa foi uma das metas deste artigo. A
&Ias e João Batista dos Santos (1985:42-62) partir da ablação dessas mulheres, foi pos
as primeiras casas-de-santo foram fundadas sível vislumbrar uma outra percepção da
pelos baianos, no bairro da Saúde, ainda no história. Vemos, então, um Rio de Janeiro
final do século passado. Datam dessa época bem distinto daquele impresso nos cartões
as primeiras viagens de mlle Aninha. famo postais da bel/e époque. Uma cidade habi
sa mlIe-de-santo baiana, ao Rio de Janeiro. tada por cidadãos, cujos valores nos são
Filha de uma das casas mais tradici onais, a praticamente desconhecidos. Ex",,"imentar
Dê Axé M. ISSÔ, ela iria fundar o Axé Opô esse novo ângulo da história. ver através de
Monjá, que constiwi hoje um dos nossos um outro olhar, foi uma experiência de im
.
mais tradicionais terreiros. pacto.
Trabalhar com a questão da a1teridade
não é nada fácil, pOis exige um duplo esfor
• ço reflexivo em direção ao singular e ao
3. REINVENTANDO OS ESPAÇOS conjunto. Trata-se de apreender a cultura
nessa dinâmica, concebendo-a como reali
A idéia de uma história haseada apenas dade multifacetada, ambígua e em inces
na memória coletiva organizada que deixa sante movimento. Assim. ao privilegiar a
de lado as estruturas informais de comuni memória negra contrastando-a com deter
cação (pollack, 1989) constitui-se em sério minados padrjles de pensamento burgueses,
equívoco. Ainda mais entre nós, onde a minha intenção não foi a de tomá-Ia en
extrema diversidade cullural favorece a quanto entidade auto- referenciada e isola
coexistência de várias espacialidades e da do conjunto social . Ao contrário: a
tempocalidades (Malta, 1987). É necessá culwra negra é corrcebida aqui como parte
rio, portanto, resgatar essa pluralidade de detentora de uma lógica, capaz de influir no
sentidos presente nas diferentes codifica conjunto. Essa influência - não importa se
çOes culblrais, com O objetivo de recons subtt;rrãnea - faz-se sentir mais fortemente
truir identidades silenciadas pela tão em determinados contextos históricos. É o
controversa "memória nacional". que aconleceu, por exemplo, no início do
Quando se trata da memória negra, o século, quando estava em curSQ a implanta
problema é ainda mais complexo. De modo ção do mercado de trabalho capitalista.
.
geral, nossos estudos têm enfatizado a Nesse Período - conforme vimos, - ve
opressão dos senhores sobre escravos. As rifica-se uma tentativa de disciplinarnento
. sim, o mundo negro é tratado como um do tempo e do espaço, tendo como referen
aglegado monoülico onde a categoria da cial a esfera do trabalho. É precisamente aí
marginalidade acaba explicando tudo. No que se faz sentir a influência culbJral dos
entanto, há diferenças e especificidades de baianos, na medida em que o grupo tem
papéis no interior dessa cultura (Queiroz,
,
uma visão específica do conceito de espaço.
1988). E o caso das "lias" baianas, que se Este não aparece necessariamente vincula
colocam como figuras imprescindíveis para do à questãõ do trabalho, mas adquire um
a compreensão da memória culbJral do gru sentido bem mais amplo. Entre os negros
po. baianos, a idéia de espaço (pedaço) consti
Não basta reconstituir o que foi silencia tui um dos referenciais organizadores do
do em um nível mais amplo (memória ne grupo.
gra), mas também o que foi silenciado Contrastando com os padrOes dominan
dentro do próprio grupo: no caso, o papel tes que conceituam o espaço como mero
de liderança exercido pelas mulheres ne- valor imobiliário. a cultura negra vai com-
AS TIAS BAIANAS TOMAM CONTA DO PEDAço
próprio nome da mãe Aninha: Majebassã, E o próprio corpo que vai abrigar o sagrado. .
que, em ioruba significa "não me deixe Assim, os orixás adquirem, temporaria
sozinha" . mente, forma humana. O intercâmbio das
Vindo para o Rio, Aninha trazia consigo esferas é, portanto, incessante. Há um vai
lOda uma história e cultura caceOles de lan vém contínuo do sagrado ao profano, do
çar raízes, se fixar e se desenvolver no público ao privado.
espaço urbano carioca. É sempre li união No Rio de Janeiro, nas primeiras déca
das pessoas e a sua energia participativa que das do .século, o espaço da comunidade
fazem O espaço. Lembremos os cordOes negra (fundiário, político, social e simbóli
carnavalescos, onde OS foliOes tomam a rua, co) é extremamente restrito. Daí a necessi
arrastando consigo a multidilo, e a festa da dade de recorrer a múltiplas eslrlllégias,
Penha se deslocando do subúrbio para as visando ampliá-lo. A condensação é uma
avenidas centrais. Thnto nos cordOes como das estralégias mais utilizadas pelo grupo.
na festa e no candomblé a dimensilo da luta Nesse sentido, o depoimento de mãe Beata
-
está presente. E necessário sempre abrir vem ratificar a questllo: "Aqui dentro de
espaços... �m � o de terreno, a gente faz uma
l
No seu depoimento, dona Neuma 13 Africa".
-
Essa reordenaçllO gera uma visao de papel de IIder comunitária. Assim, cabe·lhe
mundo especifica que vai se fazer presente O papel de manter vivas essas tradiçOes,
nas várias dimenslles da vida sociaL zelar por elas cuidadosamente.
Já se observou que, em determinados É a necessidade de garantir o pedaço e
contextos, a ampliaçao do domínio privado ampliar a liderança pelos mais variados d0-
ocaba remetendo para a própria idéia de mínios da vida social (umbanda, samba,
privaçao (Arend!, t98l). É o que aconle<:e jongo), ampliar o espaço da casa (centro),
entre nós. Privado de participação na esfera ampliar a idéia de família ("grande famí
pública, destruído de cidadania e identida· lia"), ampliar a concepçllO de rua (0lI0 só
de, o grupo baiano acaba criando seus pró· mero local de passagem mas ''ponto'') en
prios canais de integração, da] a casa das fIlO ampliar o espaço do terreiro além dos
Utias". ser espaço de aconchego. participa limites fundiários. Sem dúvida, O candom
ção, luta e festa. Visando amenizar. as difi· blé introduziu e consolidou muitas dessas
culdades com que se defrontavam os idéias e valores aqui no Rio. Integrado à
recém·chegados à cidade o grupo acaba modernidade, hoje ele se rearticula de di
criando novos vínculos de sociabilidade. versas formas na ordem urbano-industriaJ.
Surge a figurado "cônsul baiano". É ele que A história do Rio de Janeiro, mais do que
vai receber no cais os seus conterrâneos e qualquer outro lugar é impensável sem a
encaminhá·los na cidade grande. influência dessa trama cultural onde se ar
No tabuleiro da tia Teresa funciona o ticulam tradição e modernidade:
"bureau de informaçOes". É lá que o grupo
toma pé dos últimos acontccimenlos que "O monumento nao tem porta
permitem situá-lo no próprio cotidiano. a entrada é uma rua antiga,
Trata-se, portanto. de uma "cidadania para estreita e torta".
lela" que se vira como pode para integrar· (Caetano Velloso . Tropicália)
se. Através de espaços informais via cais do
,
7. Depoimento de dona Eunice dos Santos COSTA, Jurandir Freire. 1979. Ordem médica e
do Axé Opô Afonjá, em 8 de de 1989. norma familiar. Rio de Janeiro, Graal.
8. Depoimento de mie Beata, ialorixá do Dê DIAS, Maria Odila Leite da Silva. 1984. Quoti
Omi Ojuarô, em 6 de outubro de 1989. diano e poder em São Paulo no século XIX.
9. Idem. São Paulo, Brasiliense .
10. Depoimento de Meninazinha de Oxum, _. 1985. "Nas fímbrias da escravidão urbana:
ialorixá do Dê Omolú e Oxum, em 1 0 de novem negras de tabuleiro e de ganho". Estudos
bro de 1 989. Econômicos, São Paulo, v. 15.
1 1 . Depoimento de mãe Beata, ialorixá do GERSON, Brasil. 1954. História das ruas do
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Dê Omi Ojuarô, em 6 de outubro de 1989.
12. R evista da Semana, ago. 1 909 ; fev. 1 9 1 1 GIACOMINI, Sônia. 1988. Mulher e escrava.
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GINZBURG, Carlo. 1987 . 0 queijo e os vermes;
1 9 1 9 e 1 4 fev. 1 9 19 .
o cotidiano e as idéias de um moleiro perse
1 3 . Depoimento de dona Neuma, líder co
guido pela l"'luisição. São Paulo, Compa
munitária da Mangueira, em 1 1 de julho de 1989.
nhia das Letras.
14. Depoimento de mãe Beata, ialorixá do
GU S, Francisco, 1978. Na roda do
Dê Omi Ojllarô, em 6 de outubro de 1989.
samba. Rio de Janeiro, Funarte.
1 5 . Depoimento de Eva Emily Monteiro do
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hnpétio Serrano, em 1 6 de outubro de 1989.
val. Rio de Janeiro, Funarte.
1 6 . A propósito do assunto consultar Moni
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•
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