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O Rio de Janeiro Visto Através

do Filme Rio, 40 Graus*

Luiz Claudio Motta Lima**

RESUMO como exclusão social, deterioração dos


As imagens da cidade do Rio de serviços urbanos, exploração do trabalho
Janeiro, expostas no filme Rio, 40 infantil e divisão entre favela e asfalto.
Graus, dirigido por Nelson Pereira dos Portanto, pode-se afirmar que as ima-
Santos, serviram de base, nesse artigo, gens de Rio, 40 Graus são um instrumen-
para a realização de algumas considera- to importante para a reflexão sobre a
ções sobre a segregação espacial presente questão urbana presente na cidade do Rio
nessa cidade. de Janeiro.
O filme, realizado na década de 1950,
tem uma temática bastante atual, que PALAVRAS—CHAVE:
pode ser vista em uma seqüência de cenas Cinema, Rio de Janeiro, Favela, Asfal-
que revelam a todo momento problemas to, Segregação Espacial

N
o final do século XIX, com o surgi- se tornaram adultos juntos (WEN-
mento do Cinema, a representação DERS1994, p. 81).
do espaço urbano adquire um gran-
de dinamismo, pois as articulações entre o espa- Através deste artigo, buscamos no cinema,
ço e o tempo se aproximam, com maior eficácia, mais especificamente no filme Rio, 40 Graus,
da cidade moderna e seus problemas. dirigido por Nelson Pereira dos Santos em 1955,
DIAS (1993, p. 73) nos alerta que o primei- uma contribuição à reflexão para a análise da pro-
ro filme realizado no mundo tratou do tema ur- blemática urbana presente na cidade do Rio de Ja-
bano, pois a conhecida película dos irmãos Lu- neiro, com destaque para a segregação espacial.
miére mostrava a chegada de um trem em uma A razão de recorrermos a este filme como base
estação. Assim, o Cinema enquanto produto da de nossa investigação, procede do fato de sua
era industrial, já na sua primeira exibição públi- temática ser, ainda hoje, bastante atual. Para
ca, mostrava-se como um importante reprodu- tanto, obedeceu-se a um procedimento meto-
tor de imagens de seu tempo. dológico que se concentrou na coleta bibliográ-
fica de alguns autores das mais diferentes áreas
O Cinema é uma cultura urbana, do conhecimento. Dentre os quais destacamos:
nasceu no final do século XIX e seexpan- PERLMAM (1977); ROCHA (1981); COR-
diu com as grandes metrópoles do mundo. RÊA (1993), SANTOS (1993); CARLOS
O Cinema e as cidades cresceram juntos e (1994); JAMESON (1995); BARBOSA (1996);

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entre outros. Além disso, recorreu-se à análise A cidade em si como relação social
do filme Rio, 40 Graus, através de uma apreciação e como materialidade, torna-se cria-
de suas imagens, o que possibilitou uma observa- dora de pobreza, tanto pelo modelo
ção empírica da atual dinâmica urbana da cidade, socioeconômico de que é suporte como
fornecendo indícios para uma análise da segrega- por sua estrutura física que faz dos
ção espacial na cidade do Rio de Janeiro. habitantes pobres cada vez mais po-
Segundo ABREU (1987), a segregação espa- bres. A pobreza não é apenas fato do
cial em questão foi patrocinada pelo Estado, que modelo sócio-econômico vigente, mas
beneficiou, muitas vezes, as classes mais abasta- também, do modelo espacial (SAN-
das da sociedade, criando, assim, espaços dife- TOS, 1993, p. 10)
renciados e antagônicos entre si, (podemos citar
como exemplo o caso da fizvela e do asfalto). "Nes- A história do filme gira em torno de cinco
te contexto, o Estado tem tradicionalmente apoia- garotos, todos vendedores ambulantes de amen-
do os interesses e privilégios das classes e grupos doim: Jorge, Paulinho, Serginho, Xerife (líder dos
sociais dominantes, via a adoção de políticas, con- garotos) e Zeca, residentes na favela do Cabuçu,
troles e mecanismos reguladores altamente dis- localizada no bairro do Lins, Zona Norte da ci-
criminatórios e elitistas" (ABREU, 1987). dade do Rio de Janeiro.
A fim de conseguirem dinheiro para sua so-
As IMAGENS Do FILME Rio, brevivência, os garotos deslocam-se, num dia
40 GRAus E SUA RELAÇÃO ensolarado de domingo, em direção a cinco pon-
Com A PROBLEMÁTICA URBANA tos considerados turísticos da cidade: Quinta da
Desde que sua paisagem inspirou Afonso Se- Boa-vista, Copacabana, Maracanã, Pão-de-Açú-
greto para realizar um dos primeiros registros car e Corcovado.
cinematográficos do Brasil, no ano de 1898, a Nota-se na temática do filme a preocupação
cidade do Rio de Janeiro vem servindo de cená- em mostrar a favela, a imagem do povo e a opo-
rio para variados filmes, dentre os quais Rio, 40 sição com a burguesia abastada e mau-caráter.
Graus. Esse filme, inspirado no neo-realismo' Tudo isso é narrado de uma maneira não linear,
cinematográfico italiano do pós-guerra, influen- em que se dá destaque às particularidades de cada
ciou cineastas do movimento denominado Ci- personagem.
nema-Novo2, que predominou no Brasil duran-
te a década de 1960. Rio, 40 Graus ainda hoje A FAVELA
inspira cineastas brasileiros como Murilo Sanes, Podemos afirmar que, primeiramente, o fil-
em Como Nascem os Anjos (1996), e Walter Sal- me enfatiza as formas da cidade, mostrando os
les em Central do Brasil (1998). prédios e as favelas, para depois se aproximar da
O enfoque central de que trata Rio, 40 Graus é população. Neste contexto, deve-se ter em men-
o cotidiano da população carioca, sob o ponto de te a preocupação de CARLOS (1994, p.13) com
vista dos moradores da favela. Além disso, busca a paisagem da cidade.
através da reflexão demonstrar os problemas pre-
sentes na organização espacial da cidade do Rio de A forma domina, predomina, esmaga
Janeiro. Esses decorrem, em grande parte, de um os seres humanos como as grandes constru-
acelerado processo de urbanização do pós-guer- ções religiosas. A obra do homem parece se
ra, que se caracterizou por excluir uma grande sobrepor ao próprio homem e as formas
parte da população do processo produtivo, ge- concretas visíveis, escondem seu real signi-
rando a intensificação da pobreza urbana. ficado: a de obra sem sujeito.

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Esse jogo de imagens (cenas de prédios, corta PERLMAN (1977, p.17) no sentido de desqua-
para os moradores da favela) serve para mostrar lificar os estereótipos que a autora denomina de
que, por trás da suntuosidade dos prédios e ricas mitos da marginalidade, os quais são tão genera-
mansões localimdas na zona privilegiada' da 'cida- lizadós e arraigados que acabam por constituir
de, existe um modo de vida, uma identidade cole- uma "ideologia (ou instrumento político) para
tiva, apreensões individuais, medo, alegria, pois, justificar as políticas das classes dominantes, das
ainda de acordo com a referida autora, "a paisa- quais dependem as próprias vidas dos favelados".
gem é humana, (...) é expressão do trabalho so- As imagens contidas no filme ajudam a desacre-
cial materializado, mas também é expressão de ditar estes preconceitos, na medida em que são evi-
um momento de vida" (CARLOS, 1994, p14). denciados os costumes populares dos anos 50, que
Então, levando em consideração as imagens se configuram de uma forma bem normatizada.
do início do filme, podemos afirmar que há um Os moradores da favela, no filme, não se apre-
esforço em combater a idéia da obra do homem sentam como fruto da desorganização familiar,
se sobrepor ao próprio homem e as formas con- da incapacidade para planejar o futuro, do fata-
cretas visíveis esconderem o seu real significado: lismo e do pessimismo. Pelo contrário, são alta-
"a de obra sem sujeito" (CARLOS, 1994, p.12). mente preocupados com o núcleo familiar, mos-
Neste aspecto o que vale ressaltar são as rela- tram-se alegres e fraternos.
ções humanas, a dimensão espacial, que se tra- Para confirmar este fato basta perceber o tom
duz na própria favela e nos diferentes espaços crítico do diálogo a seguir, travado entre Alber-
percorridos pelos personagens do filme. to, um operário, e sua noiva Alice, residente da
À primeira vista, alguns poderão dizer que a favela do Cabuçu.
imagem da favela é um perfeito exemplo de aglo-
meração caótica, precária, superlotada, enquan- Alberto
to a imagem de seus moradores sugere caracte- - Isso aqui me lembra a minha infância.
rísticas de pessoas à toa, descendo e subindo vi- Quando eu era garoto ficava sentado no alto do
elas, sem destino, quando deviam estar traba- morro vendo a cidade e o mar. De noite as luzes
lhando; e as crianças seriam verdadeiros pivetes, se acendiam.. .Mas que cara de enterro é essa?
ao invés de estarem na escola. Hoje é teu dia. Rainha da escola, noiva do papai
Mas as imagens seguintes darão conta de de- aqui.
sacreditar tal idéia, mostrando o cuidado que os Alice
moradores têm com seus lares, que são arruma- - É por causa do velho. Está desempregado
dos e bem cuidados, evidenciando uma comu- há 2 anos. Se eu sair de casa a velha é que vai
nidade que se caracteriza pelo planejamento no agüentar sozinha a despesa. Vamos esperar um
uso de um limitado espaço para fins de moradia pouco, Alberto?
e pelas técnicas criativas de construção em en- Alberto
costas que os urbanistas consideram bastante -Até quando?
íngremes para edificação. Alice
- Até as coisas melhorarem. Eu queria casar
Se conformar, não! A gente tem é que en- direito, morar num lugar bom.
frentar a vida Alberto
- As coisas vão melhorar sim, mas não é só
A preocupação de indicar a favela como um para a gente. Você acha que esse povo todo não
lugar de harmonia entre os moradores , onde sofre que nem a gente? Ninguém melhora de
todos se ajudam, vem de encontro aos ideais de vida juntando aos pouquinhos.

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Alice com seu animal de estimação, uma lagartixa, a
- Mas é que eu queria ter uma casa que nem qual ele chama de Catarina. De repente o ani-
minha mãe tinha antigamente. Nosso dinheiro mal foge e entra no jardim zoológico. Paulinho
junto só dá para morar aqui no morro. vai atrás da lagartixa e consegue encontrá-la,
Alberto quando finalmente se dá conta da paisagem que o
- Que que tem isso? Tem tanta gente boa rodeia. A expressão do menino se modifica, seu
morando aqui no morro. rosto toma-se pura felicidade, pois, finalmente, se
Alice sente livre e experimenta o prazer da vida. Ele está
- É, a gente tem que se conformar. diante de um lugar diferente daquilo que ele até
Alberto então conhecia. O menino experiencia o lugar,
- Se conformar, não! A gente tem é que en- pois na acepção de TUAN (1983, p.13) "o espa-
frentar a vida. ço é experienciado quando há lugar para se mo-
ver. Ainda mais, mudando de um lugar para
Diante das apreensões de sua noiva, Alberto outro, a pessoa adquire sentido de direção".
tenra encorajá-la, mostrando que o problema não No entanto, um guarda aparece e joga a la-
é só deles e sim de toda a comunidade. Seu dis- gartixa entre as cobras, que a devoram. Posteri-
curso é articulado e maduro, marcado por uma ormente o guarda expulsa o Paulinho do zooló-
consciência de classe. gico. Neste momento surgem no local algumas
Estas idéias de organização social, no entanto, crianças, típicas da classe média, brincando ale-
não pertencem somente a um personagem, que re- gremente, contrastando com a tristeza do garo-
presenta a ordem, os ideais burgueses de comporta- to que acabou de perder a sua "amiga Catarina",
mento e sim, também, a outros personagens, como além de ter sido privado de ficar em um local
86 o caso do malandro Miro, que aparece em uma ou- qualificado como público. Dessa forma, a cida-
tra cena brigando e pegando dinheiro dos garotos de mostra-se nesse momento segregadora, na
vendedores ambulantes de amendoim. Apesar de sua medida que inibe a entrada da classe popular em
atitude, Miro é ainda assim considerado herói por determinados locais.
seus companheiros. Este fato fica bem claro quando
alguns moradores da favela conversam sobre a pri- São uns criminosos, esses pais que largam
são do referido personagem. Um deles comenta: os filhos na rua
-Quem tem razão para brigar tem mais força
para vencer. A indiferença entre os cidadãos é exemplar-
E depois é lembrado que Miro teve partici- mente abordada na seqüência em que Bebeto,
pação efetiva em uma greve na indústria em que um playboy típico da Zona Sul da cidade, esbar-
trabalhava. ra em Jorge, um dos garotos vendedores ambu-
A luta efetiva dos moradores da favela no sen- lantes de amendoim . O playboy derruba o pro-
tido de afirmação como membros de uma deter- duto de venda do menino, mas ignora o fato e
minada organização espacial está presente nas segue o seu caminho. O garoto, por sua vez, pre-
suas andanças pelos diferentes pontos da cidade: ocupa-se com sua mercadoria, porque depende
Quinta da Boa Vista, Corcovado, Copacabana e dela para sobrevivência.
Pão-de-Acúcar Mas, por trás desse mundo de indiferenças exis-
tem pessoas com suas histórias individuais, suas
O ASFALTO preocupações, suas perspectivas, suas alegrias. No
Na Quinta da Boa-vista, Paulinho, um dos caso da seqüência citada, os personagens repre-
vendedores ambulantes de amendoim, brinca sentam realidades opostas que são mostradas por

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Nelson Pereira dos Santos para realçar as diferen- sultado de ações acumuladas através do tempo e
ças de vida dos moradores da favela e, conse- engendradas por agentes sociais que consomem
qüentemente, despertar a compaixão do públi- e produzem espaço.
co por eles.
Jorge representa os valores da população po- São agentes sociais concretos, e não um
bre. Ele tem que trabalhar para ajudar em casa, mercado invisível ou processos aleatórios
já que sua mãe está gravemente doente. Quan- atuando sobre um espaço abstrato. A ação
do sai de casa, o menino, apesar da insistência e destes agentes é complexa, derivando da
sem que ela saiba, deixa de comer para que ela se dinâmica de acumulação de capital, das
alimente. necessidades mutáveis de reprodução das
Por outro lado, o p/aybay representa os pre- relações de produção, e dos conflitos de classe
conceitos dos burgueses. Isto fica bem claro que dela emergem (CORRÊA, 1993,
quando, em outra cena do filme, um grupo de p.11).
burgueses conversa futilidades na praia de Co-
pacabana. Ainda, segundo o referido autor, estes agen-
O menino está na praia para trabalhar, ga- tes são os seguintes:
nhar algum dinheiro de modo que possa ajudar - Os proprietários dos meios de produção - são
sua mãe. Os burgueses estão na praia em puro representados pelos proprietários industriais e
ócio para se bronzearem e se divertirem. Há, grandes empresas comerciais que, em razão da
portanto, uma forma de utilização do espaço di- dimensão de suas atividades, se convertem em
ferenciada. Uma, voltada para o trabalho, outra grandes consumidores de espaço e por isso ne-
dirigida para o divertimento. cessitam de terrenos amplos e baratos que satis-
Posteriormente, na seqüência do filme, Jorge façam os requisitos locacionais condizentes com
encontra op/ayboy e cobra dele o prejuízo causa- as atividades de suas empresas, tais como, junto
do, pois ele precisa muito do dinheiro. No en- ao porto, às vias férreas, em locais de ampla aces-
tanto, é humilhado e insultado. Um homem que sibilidade à população etc. Assim, a terra urbana
passa, carregando o seu cachorro, comenta: serve de suporte físico e para expressar diferen-
- São uns criminosos esses pais que largam os cialmente requisitos locacionais específicos às
filhos na rua. atividades.
Na cena seguinte surge a imagem da mãe de - Os proprietários fundiários - são os proprie-
Jorge que sofre doente na cama de sua casa. Esta tários de terras que atuam no sentido de obte-
contraposição brusca: povo-burguesia, cercada de rem a maior renda fundiária de suas proprieda-
elementos ficcionais arrumados para detonar a des, esperando sua maior remuneração.
compaixão do espectador, acaba por acarretar a - Os promotores imobiliários - são os agentes
possibilidade de uma reflexão sobre os precon- que realizam os procedimentos de aumentar o
ceitos, tão constantemente expostos como ver- interesse a um imóvel.
dades absolutas, sobre a classe popular. - O Estado - atua na organização espacial da
Neste caso, segundo CHAUÍ (1989), se a clas- cidade. Sua atuação tem sido complexa e variável
se popular está em campo oposto à burguesia, é tanto no tempo como no espaço, refletindo a dinâ-
porque a sociedade não é um todo unitário, mas, mica da sociedade a qual é parte constituinte.
pelo contrário, encontra-se internamente dividida. - Os grupos sociais excluídos - a exclusão nas
Essa divisão é expressão do espaço urbano sociedades capitalistas se verifica através do acesso
capitalista, que, segundo CÔRREA (1993, p.10), seletivo aos bens e serviços produzidos social-
apresenta-se fragmentado, articulado, sendo re- mente, como o caso da habitação.

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É importante notar que no interior de alguns São as novas estratégias aprendidas nas ruas
destes agentes existe um certo conflito. Este fato que dão sustentação para a classe popular viver
é mostrado em uma seqüência de Rio, 40 Graus, nesses locais, cuja forma de organização se volta
quando Serginho, um dos garotos vendedores historicamente para servir aos interesses das clas-
ambulantes de amendoim, tenta vender seu pro- ses dominantes que fundam seu poder sobre a ci-
duto em uma área dominada por um outro ven- dade a partir da intervenção do espaço, no sentido
dedor que cobra comissão de quem trabalha em de coibir "usos e abusos", e, principalmente, fun-
seu ponto. A definição do personagem é dada dam esse mesmo poder por meio de representa-
por um garoto: ções que legitimam o que são bons usos e o que
- Seu Peixoto. Um velho desgranhudo da- seriam os abusos (PECHMAN, 1994b, p.32).
queles. Não deixa nem mulher velha traba- Com isso instaura-se uma corrida contra o
lhar no ponto. tempo, pois o condicionamento ao ritmo da ci-
Ambos os personagens, Peixoto e Serginho, dade faz com que as pessoas busquem novas al-
são excluídos, mas pertencem a hierarquias dife- ternativas para sua sobrevivência. Assim, segun-
renciadas, onde um detém o poder e o outro se do CARLOS (1994,18), pode-se dizer que o tem-
submete ou se rebela contra este poder. Sergi- po social é constituído por relações produtivis-
nho não se submete aos interesses de seu Peixo- tas e a relação das pessoas com o tempo é medi-
to, que por sua vez o persegue para destruir a ada pela máquina.
sua lata de amendoim. As imagens do filme são um contraponto a
Por outro lado, a luta do garoto não é só con- esta mentalidade, pois procura-se enfatizar o lado
tra seu Peixoto (ou seja, não é só contra a explo- humano da cidade, onde o que se destaca é o
ração de mão-de-obra), mas também contra os cotidiano da população carioca (apresentada atra-
mecanismos reguladores da ordem pública, que vés de diversos personagens). Cabe aqui lembrar,
são implementados pelo Estado e aceitos pela mais uma vez, as imagens iniciais do filme quan-
sociedade como um todo. E no filme isto ficará do se vislumbra a paisagem construída. Assim,
bem claro, já que se mostra como a população como lembra CARLOS (1994, p.39), estas cons-
favelada se embrenha pelo espaço público, mes- truções, que à primeira vista podem ser tomadas
mo sem ser desejada, criando maneiras de so- como elementos estáticos da paisagem, "escon-
brevivência neste espaço. Um exemplo disso é dem" o movimento potencial em sua forma, ou
quando Jorge (personagem já citado anterior- seja, nos dias da semana as construções e auto-
mente), depois de ter sua lata de amendoim que- móveis na cidade vão apresentar características
brada, não tem como voltar para casa. Por isso, diferentes, de acordo com o passar do tempo.
o garoto começa a pedir dinheiro a estranhos,
quando é bruscamente interrompido por um No horário de almoço os bares, lancho-
garoto de rua, o qual lhe explica os procedimen- netes, pensões (..) atendem aquela porção
tos para se conseguir esmola. Jorge relata ao de trabalhadores, olhos sem brilho, rostos
menino de rua que não quer viver da caridade extenuados de uma jornada estafiznte de
pública e que apenas necessita de dinheiro para trabalho, toma as ruas em busca de trans-
a passagem, pois quer voltar para casa, numa luta porte que os levará para casa (CARLOS,
constante contra o tempo. Mas o menino de rua 1994, p.40).
insiste em lhe ensinar como proceder para ga-
nhar dinheiro nas ruas, e afirma: Ao contrário dessa rotina estafante dos dias
- Pedir dinheiro para você não cola. Tem que de trabalho, o final de semana oferece descanso
pedir para a sua mãe. e lazer. No entanto, o fim de semana não repre-

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senta apenas o descanso, pois para alguns este gador veterano por Foguinho - um jogador mais
dia é de trabalho. novo. O técnico obedece a "sugestão" do diri-
gente e substitui Daniel por Foguinho. En-
Ainda chegará um dia que deixaremos de tretanto, no primeiro tempo ele não corres-
ser mercadoria ponde às expectativas e a torcida grita pela vol-
ta de Daniel.
O filme Rio, 40 Graus, como já foi dito, se No intervalo da partida, o dirigente, deses-
passa num dia de domingo, e cada personagem perado, conversa com o técnico:
o vivencia de maneira diferenciada. Os garotos - A imprensa já está conversada. Fará dele um
vendedores de amendoim aproveitam este dia de herói.
descanso e lazer para venderem seu produto, en- O técnico reúne o grupo e ordena que o ata-
quanto a classe média se diverte na praia e em que aconteça com Foguinho, o qual fica deses-
outros pontos turísticos da cidade como Corco- perado diante de tal responsabilidade. Mas Da-
vado e Pão-de-Açúcar. niel o aconselha:
Mas boa parte da população prefere mesmo - Jogue para você e para a torcida. (...) Ainda
assistir ao jogo de futebol no Maracanã ou ouvir chegará um dia que deixaremos de ser mercadoria.
pelo rádio, já que a transmissão do jogo percorre Essa seqüência coincide com o fetichismo da
os diversos pontos da cidade. Quanto ao signifi- mercadoria elaborado por MARX (1983, p.118),
cado deste esporte para a sociedade, recorremos em que "uma relação social definida, estabeleci-
a JESUS (mimeo) da entre os homens, assume a forma fantasma-
górica de uma relação entre coisas". O mesmo
Sua grande capacidade de atrair a aten- acontece com o jogador (que simbolicamente
ção de multidões, gerar mitos e heróis des- representa este operário). Este fato excludente
pertar sentimentos patrióticos e emoções, do processo urbano é ainda mais evidenciado
ao mesmo tempo que mobiliza vultosos pelas seqüências que se sucedem enquanto se
investimentos públicos e privados, torna desenvolve a partida de futebol, com destaque
este esporte fenômeno social de grande im- para as andanças de Jorge, que ainda pede di-
portância, transcendendo em muito sua nheiro às pessoas, até que, abordado por outros
natureza primordial, a de meramente uma garotos que tentam roubá-lo, ele foge, e, na ten-
prática desportiva, dentre tantas outras. tativa de pegar um bonde, é atropelado e morre
atrapalhando o trânsito, tal como descrito por
No filme, uma partida de futebol tem o po- Chico Buarque em "Construção".
der de modificar o estado de espírito de quem
assiste. Um gol pode significar a euforia para uns (..) E se acabou no chão feito pacote
ou a desgraça para outros. A briga entre os tor- flácido.
cedores é constante. E algumas vezes, os mais Agonizou no meio do passeio público.
exaltados são expulsos do estádio do Maracanã. Morreu na contramão atrapalhando o
Um torcedor diz para o outro: trânsito.
- Sou forte, sou bruto, sou Pengo (um dos ti-
mes que disputa a partida de futebol). No momento do atropelamento, o barulho
No entanto, além das expectativas dos torce- do carro e o grito do garota fundem-se com o
dores, existe o interesse dos dirigentes dos clu- grito da torcida no Maracanã, que vibra com mais
bes, com destaque para o dirigente do Pengo, um gol de Foguinho. A alegria da torcida con-
que tem a intenção de substituir Daniel, um jo- trasta com a tristeza da morte do garoto, que

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tentava, por todos os meios, conseguir dinhei- E esse aspecto se evidencia quando na seqüên-
ro para ajudar sua mãe. Esta seqüência, além cia final do filme, Miro finalmente encontra
de mostrar a simultaneidade de acontecimen- Alberto, o atual noivo de sua ex-namorada Ali-
tos contraditórios (que geram sentimentos ce. Miro durante todo o filme ansiara por este
contraditórios, tal como ensinado por Eisens- encontro, pois queria ajustar as contas com aque-
tein, em seus ensinamentos sobre a monta- le que roubara sua amada.
gem dialética, em que se utiliza os pressupos- Por um instante a situação se complica; to-
tos da tese, antítese e síntese, para conseguir dos esperam o pior, porque afinal de contas Miro
um efeito ideológico) evidencia também o é tido pelos moradores como um sujeito "bom
poder da imprensa em manipular a opinião de briga". Contudo, ao reconhecer Alberto como
pública, pois no início a torcida estava reti- companheiro da greve realizada na fábrica em
cente com relação a Foguinho. Bastou este fa- que ambos trabalharam, prevalece a amizade
zer um gol e a imprensa exaltá-lo, para a torci- entre os dois personagens, expressa no diálogo
da o ter como herói. descrito a seguir:
Miro
Sou eu quem levo a alegria para milhões de - O Alberto é meu amigo do peito. Agüentamos
corações brasileiros a dureza juntos, bem Baiano?...É um cara legal
pra chuchu.
No prosseguimento do filme, já noite de do- Alberto
mingo, realiza-se uma grande festa na quadra da - E tu Miro? Se não fosse por você não passaría-
escola de samba do morro do Cabuçu, marcan- mos os 40 dias da greve.
do a confraternização entre os moradores do Assim, os personagens deixam a disputa amo-
morro do Cabuçu e de outros locais da cidade, rosa de lado e se confraternizam na roda de sam-
identificados como pertencentes a outras esco- ba. Todos cantam a música:
las de samba, como a Portela. A confraterniza-
ção se expressa também nas músicas que são to- Eu sou o samba
cadas, que exaltam as raízes culturais dos parti- A voz do morro sou eu mesmo, sim senhor
cipantes da festa, quando todos cantam o seguin- Quero mostrar ao mundo que tenho valor
te refrão: Eu sou o rei dos terreiros
Eu sou o samba
Uma voz de Norte ao Sul se ouvia. Sou natural daqui do Rio de Janeiro
- Liberdade era o que o negro queria. Sou eu quem levo a alegria para milhões de
Em 1888 a princesa Isabel a lei Áurea corações brasileiros.
assinou
E a escravidão no Brasil acabou Em seguida corta para a cena em que aparece
ôôô a escravidão no Brasil acabou a mãe de Jorge, que ainda o espera, com um sem-
blante triste, contradizendo o seguinte trecho da
Neste contexto, vê-se o empenho de Nelson música: Sou eu quem levo a alegria para milhões
Pereira dos Santos em mostrar a união entre dis- de corações brasileiros, pois a velha senhora não
tintas espacialidades, no caso Portela e Cabuçu, foi contagiada por esta alegria. A câmera se er-
que congregam a população pobre da cidade, no gue levemente, mostrando a paisagem da cida-
sentido de deixar claro que a força reside na união. de: o Cristo Redentor, o Pão-de-Açúcar
Este fato sugere sua posição ideológica, condi- Neste intento enfatizamos a preocupação de
zente com os ideais marxistas. Nelson Pereira dos Santos, em mostrar um pa-

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norama geral da cidade do Rio de Janeiro, com dade social de uma época, mas também por evi-
um nítido interesse de abordar os principais pro- denciar, através de contornos ideológicos níti-
blemas (violência, moradia, população de 'rua dos, 'a dimensão humana da cidade, ou seja, os
etc.) da população da cidade. Assim, o filme nos costumes dos indivíduos, suas alegrias e angús-
permite refletir sobre a complexidade urbana da tias, prazeres, sonhos e ilusões. Talvez seja por
cidade, que se encontra nos dias de hoje retrata- isso que ROCHA (1981) tenha classificado Rio,
da pelos meios de comunicação como «espaço 40 Graus, como o filme revolucionário do Ter-
do medo e do pânico", fato que muitas vezes ceiro Mundo.
não corresponde à realidade.
NOTAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalho adaptado da monografia de conclu-
são de curso defendida pelo autor em junho de
Para nós, as imagens do filme Rio, 40 Graus,
1997.
são de fato uma ferramenta importante para esta- Geógrafo formado pela Universidade do Esta-
belecer algumas considerações sobre o processo ur- do do Rio de Janeiro.
bano da cidade do Rio de Janeiro, que nos últimos 1 Movimento cinematográfico nascido na Itália
anos vem apresentando sinais de colapso, com ex- após a 2a Guerra Mundial. Em essência, esse
pressão mais evidente na violência urbana: assal- movimento cinematográfico defendia a objeti-
tos, balas perdidas, favelização, moradores de rua e vidade e observação da realidade cotidiana, in-
outras formas de marginalização. serida no contexto social. Os representantes
mais célebres do neo-realismo foram L. Vis-
No filme em análise, realizado na década de
conti (Obsessão, 1942); Roberto Rosseliní
1950, esses problemas se evidenciam quando
(Roma, Cidade Aberta, 1948); e Vitório de Sica
observamos a exploração do trabalho infantil e a (Ladrões de Bicicleta, 1947).
divisão da cidade entre duas espacialidades: fa- 2 O Cinema-Novo foi um movimento cinema-
vela e asfalto. tográfco que surgiu no início da década de 1960
Por isso, destacamos a importância dessa obra no Brasil. Definia-se em estilo como uma clara
na reflexão de questões urbanas atuais, pois suas oposição ao populismo das Chanchadas e ao
imagens mais do que registrarem a paisagem cosmopolismo de produções que imitavam os
modelos cinematográficos estrangeiros. O Ci-
construída, se tornam porta-vozes da classe po-
nema-Novo defendia a realização de obras au-
pular, expressando suas apreensões e preocupa- tenticamente nacionais, que colocavam em
ções cotidianas. Além disso, as imagens do filme discussão a realidade econômica, social e cul-
nos permitem tecer algumas considerações, atra- tural do país. Os principais nomes do movi-
vés de um outro instrumento de análise, sobre mento são: Glauber Rocha (Deus e o Diabo na
questões inerentes à ciência geográfica. O cine- Terra do Sol, 1964); Joaquim Pedro de Andra-
ma aparece, então, como uma concepção capaz de (Couro de Gato, 1960); Rui Guerra ( Os
Cafajestes, 1962); Carlos Diegues (Ganga
de evidenciar uma riqueza de possibilidades acer-
Zumba, 1963); Paulo César Saraceni (Porto clas
ca das articulações entre esta arte e a cidade, ain- Caixas,1963) , Nelson Pereira dos Santos (Vi-
da pouco exploradas pela Geografia. das Secas, 1963); entre outros.
Este tipo de análise pode até parecer para mui-
tos um mero exercício intelectual, já que o dire- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tor de Rio, 40 Graus, Nelson Pereira dos Santos, ABREU, Mauricio de. Evolução urbana do Rio de Janeiro.
pertencente à classe média carioca, não viven- Rio de Janeiro: IPLAN RIO/Jorge Zahar, 1987.
ciou os problemas retratados em seu filme. En- BARBOSA, Jorge Luiz. As Paisagens naturais nos Estados
tretanto, ressaltamos a importância de suas ima- Unidos: Signos, simulacros e alegorias. Revista Flumi-
gens, não somente no sentido de mostrar a reali- nense de Geografia. Niterói, n.1, p.29-39, 1996.

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