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Nesse sentido, Campo Grande expõe uma fragmentação do território do Rio de Janeiro:
o bairro proporciona ao restante da cidade alimentos, mão-de-obra, produtos e arrecadações de
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Goffman (2004) concebe o conceito de estigma como uma relação onde um grupo social ou indivíduo estabelece
uma identidade social virtual de outro grupo ou indivíduo. Essa identidade virtual é baseada em um conjunto de
leituras prévias baseadas no imaginário, “especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande - algumas
vezes ele também é considerado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem”. O estigma manifesta uma
discrepância entre a identidade virtual e a identidade social real do grupo e/ou indivíduos.
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impostos, mas se encontra completamente desconectado no que tange à representação da
cidade. Seria o que Milton Santos (2006) denominou como uma relação vertical, quandoonde
em uma rede de relações o local fica subordinado aos interesses exclusivos de agentes externos,
constituindo uma relação verticalizada em termos de processos sociais entre distintas
territorialidades.
Isto O que Milton Santos está chamando de “chão mais identidade” é inerente a qualquer
obra fílmica. “A arte mais próxima do cinema é a arquitetura”2, esta frase de autoria do cineasta
francês René Clair, assim - como indica Costa (2008), - demonstra a proximidade de duas
formas de representação, “duas práticas espaciais que constroem espaços”3, sendo o cinema
uma forma de construir espaços-tempo historicamente vinculados a uma prática urbana.
Assim Ccomo indicdo pora Costa (2008), o cinema “tanto influencia como reproduz
sensações e sentimentos” sobre o espaço. Aqui, entendemos “espaço” como “território usado”,
de maneira que a influência fílmica se dá sobre as pessoas e sobre o espaço e não sobre o espaço
em si. Assim como a representação da cidade no filme “não é a cidade em si”, mas a expressão
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Apud Costa, 2008:35
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IDEM
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artística do cineasta sobre a mesma, impregnada de suas noções culturais, discurso e olhar,
criando uma “mimesis” da cidade.
O filme Campo Grande (2015) expressa uma série de estigmas sociais sobre o bairro de
Campo Grande, ao mesmo tempo que expõe e visibiliza diversos preconceitos de Regina,
representante da classe média da Zona Sul. O drama constrói um imaginário sobre Campo
Grande apresentando a territorialidade como um meio rural e ao mesmo tempo como um meio
urbano decadente e perigoso.
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de diversas formas. Outro ponto curioso também é que a personagem se perde na Avenida
Brasil, uma linha praticamente reta até Campo Grande.
Carlos Onofre (2018) nos indica que o filme As Aventuras Amorosas de um Padeiro
(1975)As aventuras...(1975) foi ambientado em Campo Grande e procurou mostrar a vida no
subúrbio. A saga da mulher insatisfeita no casamento (Ritinha) em aventuras extraconjugais
com um padeiro português (Seu Marques) e um artista negro (Saul).
Aqui, Oos personagens de Campo Grande não são representados de forma marginal mas
como parte integrante de uma sociedade. Waldir Onofre narra um subúrbio urbanizado e
moderno, personagens complexos com identidades variadas, algo raro na representação dos
moradores da Zona Oeste, que muitas vezes têm a representação de sua identidade
homogeneizada por pertencerem ao mesmo território. Waldir Onofre registra de forma
autêntica o pico da urbanização e do crescimento populacional do bairro (ONOFRE, 2018).
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Waldir Onofre não é somente o primeiro cineasta negro a realizar um longa no Brasil,
ele é também o primeiro cineasta de Campo Grande e o primeiro a representar o subúrbio por
uma perspectiva de dentro (ONOFRE, 2018). O autor enaltece as identidades locais,
conectando-as àas características tanto do carioca em geral, como de aspectos do povo brasileiro
e seu racismo velado. Seu olhar de dentro de Campo Grande permitiu a construção de uma
representação do bairro e de seus moradores extremamente singular se comparada com outras
narrativas já mencionadas.
Existem outras obras que utilizaram Campo Grande como cenário, como Clóvis na Zona
Oeste, um curta-metragem gravado por Waldir Onofre com fotografia de Walter Carvalho a
respeito do Carnaval. Memórias do Cárcere (1983) de Nelson Pereira dos Santos. Outro filme
também gravado em Campo Grande é Perpétuo contra o Esquadrão da Morte (1973), de
autoria de Miguel Borges. É um filme policial que foi importante na construção do imaginário
do bandido carioca, cujo personagem Cara de Cavalo ficou marcado pela atuação de Waldir
Onofre. (ONOFRE, 2018)
II - OBJETO DE PESQUISA
Nosso objeto de pesquisa são os filmes realizados no bairro de Campo Grande, Zona
Oeste do Rio de Janeiro. Por meio deles, propomos um estudo multidisciplinar, englobando
territorialidade, cultura, memória e identidade.
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III – JUSTIFICATIVA
Campo Grande é um bairro que apresenta elementos culturais locais e ao mesmo tempo
globais e que imprime em sua geografia identidades singulares em um emaranhado de
elementos históricos. Entretanto, a Zona Oeste como um todo, assim como identifica Dantas
(2018), é um território que apresenta poucos investimentos culturais.
Nos parece relevante que estudos investiguem assimetrias tanto qualitativas quanto
quantitativas sobre a representação cinematográfica do bairro mais populoso do Estado do Rio
de Janeiroo Brasil, contextualizando onde esse território se insere e em quais dinâmicas
territoriais. É um relevante estudo de caso relevante capazque pode de auxiliar na compreensão
do imaginário social construído a cercaentorno da “cCidade Hhonorária” de Campo Grande
em relação à cidade do Rio de Janeiro.
IV – OBJETIVO GERAL
O objetivo geral é analisar as diferentes representações do bairro de Campo Grande (RJ)
no cinema. Contribuindo assim para a organização de uma memória cinematográfica do bairro
e a construção de uma análise crítica sobre a sua representação no cinema.
V- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1 - Investigar estigmas sociais, assim como representações de identidades locais,
buscandomos visibilizar o problema da representação territorial no município do Rio de Janeiro,
tendo como caso o bairro de Campo Grande.
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VI – PROBLEMA DE PESQUISA
Investigaremos as produções cinematográficas que utilizaram Campo Grande como
cenário e como elases representaram o bairro. Procuraremos compreender as diferenças entre a
produção fílmica local do bairro e a externa. Em nossa hipótese, o baixo investimento em
cultura e a baixa representatividade local nos meios cinematográficos contribuem mutuamente
para uma sub-representação da territorialidade e de seus moradores, reforçando estigmas
históricos sobre a região amparados ora no imaginário ora do “Sertão carioca”, ora ndo local
violento.
Nossa coleta de documentos está articulada com nossa pesquisa de dados secundários.
Estaremos atentos àas produções bibliográficas sobre os filmes realizados, assim como aoso
debates sobre cultura, identidade e memória, compreendendo que o cinema é uma forma de
construção de uma memória compartilhada e transmitida, sendo indissociável das identidades
e dos processos de significação do mundo.
VI – REFERENCIAL TEÓRICO
Como descrito peloAssim como o historiador Eric Hobsbawn (1994) coloca, o homem
do século XX teve sua percepção da realidade profundamente impactada pela
“reprodutibilidade técnica”, pela massificação das obras de arte. E o cinema, por sua vez, tem
um papel central nessa transformaçãote impacto social, a imagem em movimento, tornou-se um
dos principais meios de transmissão de códigos, de significação da realidade, impactando e
modificandotransformando formas de criar e interpretar o mundo.
Esse processo vem se intensificando no século XXI, assim como apontado porcoloca
Hall (1997), a indústria cultural e os estudos sobre cultura assumiram uma centralidade na
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investigação da vida social, como o autor coloca: “a expressão ‘centralidade da cultura’ indica
aqui a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea, fazendo
proliferar ambientes secundários, mediando tudo (...)”4., oOu seja a cultura é um ponto de vista
privilegiado para compreender diversos aspectos da sociedade, e o cinema é uma produção
cultural relevante para memória e a identidade de um país, um Estado ou um bairro.
A noção de um sistema de representação cultural elaborado por Stuart Hall (2006) nos
auxilia a pensar uma análise sobre o sistema de representação no cinema a respeito do Rio de
Janeiro e sobre como o bairro de Campo Grande se insere nele: como as diferenças territoriais
em seus distintos elementos étnico-raciais, econômicos, sociais e políticos são apresentadas na
expressão cultural do cinema carioca?, Ccomo este “teto comum” do cinema abriga essas
representações dessas identidades territoriais?.
A representação dos territórios no cinema, sua construção temporal, seus modos de ver
e agir na cidade impactam na significação dos territórios e das identidades. Milton Santos
relaciona diretamente a territorialidade com a produção de identidades que são geradas a partir
de diferentes relações com o espaço, seja por trabalho, locomoção ou expressão cultural
(SANTOS, 2006, 1998).
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HALL, 1997:22
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CANDAU,2011:24 APUB MATHEUS, 2011:304.
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Segundo Bauman (1999), a globalização ao invés de unir territorialidades provocou sua
fragmentação e o isolamento de territórios considerados perigosos como, uma estratégia de
controle para lidar com grupos internos. Com o significativo aumento da densidade urbana, os
mecanismos de segregação espacial desenvolveram tecnologias de poder cada vez mais
sofisticadas, onde o outro é estigmatizado socialmente, assim como Bauman (1999) indica:
Esse isolamento não opera apenas pela arquitetura mas também no campo do discurso,
onde a identidade do outro é colocada no lugar do “estranho”, no sentido de estrangeiro. Em
nossa hipótese, o campo-grandense é reconhecido como “outro” no imaginário do Rio de
Janeiro e no espaço-tempo do cinema, este seu território usado é colocado como um local de
confinamento.
“A cidade é representação e imagem” e, por sua vez, o cinema emoldura estas imagens
para o filme representando o cotidiano dos territórios, os fluxos da cidade, a identidade dos
indivíduos e dos grupos sociais, as obras fílmicas estabelecem espaços e tempos específicos. O
cinema é um campo privilegiado para análise de assimetrias nas relações de representação da
territorialidade (COSTA, 2008)
Campo Grande com seu crescimento social, político e econômico passa a demandar um
olhar para si mesmo que levante questões sobre sua memória, identidade e representação.
Diferentes identidades em um mesmo território passam a negociar uma tradução cultural
(HALL, 2006) dessa ideia generalizada do que é a cidade do Rio de Janeiro com os novos
elementos que se fazem presente no cotidiano da Zona Oeste, elementos globais e locais.
Em síntese, nosso referencial teórico buscará nos auxiliar na análise de como o território
usado (SANTOS, 1998, 2006) do bairro de Campo Grande tem sua identidade representada no
cinema (HALL, 2006), atentos aos estigmas (GOFFMAN, 2004) e as dinâmicas urbanas de
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isolamento (BAUMAN, 1999) assim como a representação da memória compartilhada
(CANDAU, 2012) do bairro. Em nossa hipótese, as representações de Campo Grande no
cinema influenciam e criam modos de uso e significação deste território, além de reproduzir e
evidenciar estigmas já presentes na sociedade. O desafio é identificar de forma nítida como se
dá essa representação e em que contexto, procurando colaborar para construção de um
conhecimento sobre a memória e a história cinematográfica do bairro mais populoso do Estado
do Rio de Janeiro, analisando por meio de uma questão local dinâmicas de identidade, território,
memória e representação no cinema brasileiro.
BIBLIOGRAFIA PRELIMINAR
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