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1A lente cinemascope permite que a projeção a tela dos filmes sejam projetadas em 35mm, com
um ângulo dilatado gerando um efeito retangular na imagem em oposição à tela quadrada.
Podemos notar que Sganzerla buscou dar voz à personagens “fora dos
padrões”, que muitas vezes se encontravam à margem da sociedade. Em plena
ditadura militar a Belair buscou valorizar a vida dos “marginalizados”. Estes não
o foram por sua própria vontade, mas por não se encaixar na ideologia da
“tradicional família brasileira” que os militares tanto almejavam. De acordo com
Bronislaw Baczko:
2 Rogério Sganzerla junto com Helena Ignez e Julio Bressane declara uma guerra aberta contra
o Cinema Novo. Em uma famosa entrevista ao Pasquim Sganzerla caracteriza o movimento
como conservador, de direita e paternalizador. SGANZERLA, Rogério; IGNEZ, Helena. A mulher
de todos e seu homem. Pasquim, Rio de Janeiro, 5 de fevereiro de 1970.
3 Em diversas entrevistas Helena Ignez afirma que o filme Bandido da luz vermelha foi boicotado
pelos integrantes do Cinema Novo por uma espécie de “ciúme” por um “cineasta mais jovem”
que “surgia de outro ambiente”
Utilizando o termo de cultura proposto pelo autor, os diretores marginais
se relacionam com uma “estética do lixo” como subversão dos padrões
estabelecidos pelo Cinema Novo. Ângela José (2007, p.159) afirma sobre o
cinema marginal: “Para além da militância política, existiam as prostitutas,
bandidos, homossexuais, drogados, pervertidos, degenerados. Era a estética do
grotesco, onde o kitsch, o burlesco, as imagens sujas e desfocadas
predominavam”. Se levarmos em consideração a linguagem midiática proposto
por Ancízar Narváez Montoya (2004) composta pela oralidade (o linguajar),
iconicidade (a aparência), rituais (as representações culturais da sociedade) e a
história (a narrativa dos personagens), o cinema marginal não se encaixa com a
lógica do agradável ou dos bons costumes. Sua estética, no entanto, busca a
agressão ao espectador, tanto na diegese das películas, mas também na
composição dos planos-sequências. A tática adotada pela Belair foi o “choque
profanador”, uma tendencia cara à arte brasileira dos anos 1970 no que diz
respeito à superação do modelo convencional na relação espectador/obra.
Isso não significa diz que o filme é apolítico, Em Copacabana mon Amour
Sganzerla se inspira no pensamento de Frantz Fanon, mais precisamente no
livro “Os condenados da terra”. Podemos detectá-lo tanto na caracterização dos
personagens – que se baseiam nas relações de patrão/empregado - quanto na
composição dos diálogos. De acordo com Anna Karinne Ballalai:
Figura 1 (38.57min)
Figura 2 (47.25min)
Figura 3 (54.57min)
Nessa cena fica claro que qualquer esmola afetiva dado pelo colono é
para o colonizado maior do que as dezenas de empurrões e tapas que recebeu
antes do gesto carinhoso. Ao contrário de seu comportamento perante seus
pares, no universo da primeira Copacabana, Vidimar é agressivo, agarra sua
mãe e sua irmã. No caso de Silk o irmão além de forçar uma relação incestuosa,
chega a extorquir e agredi-la. Mas no ambiente da segunda Copacabana ele é
totalmente subserviente ao seu patrão.
Considerações finais
Guimarães, Pedro; Oliveira, Sandro de. Helena Ignez. São Paulo: Edições Sesc
S, 2021.