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Viva o cinema brasileiro

Luciana Bessa

Para além dos festejos juninos, o mês de junho tem uma data que passa despercebida para
alguns de nós: o dia do cinema brasileiro, 19 de junho, em alusão ao ítalo-brasileiro, Afonso
Segretto, que filmou, no ano de 1898, a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro.

Minha relação com a literatura brasileira sempre foi de amor à primeira vista. Já com o cinema,
não foi bem assim. Influenciado pelas comédias italianas, o gênero das pornochanchadas, fez
muito sucesso na década de 1970, mas confesso que narrativas com palavras de baixo calão,
exposição do corpo feminino, temáticas sobre virgindade e conquistas amorosas, não me
conquistaram.

Que fique claro que não se trata de moralismo. Longe ainda de defender a proibição da
pornochanchadas por acreditar que esse tipo gênero atenta contra a moral e os bons costumes.
Imoral é a defesa à Ditadura, às Fake News, ao feminício todo santo dia, a mulheres
desempenhando as mesmas funções do homem e ganhando menos, a trinta e três milhões de
pessoas passando fome, etc.

Se no século XX se promoviam campanhas ruidosas na sociedade civil e no Congresso


Nacional contra as pornochanchadas, acho justo, necessário e fundamental, que em pleno
século XXI, também fazermos ações estrondosas contra a taxação de livros e a censura de
alguns títulos (Meninos sem pátria, de Luiz Puntel; Bolsa Amarela, de Lígia Bojunga;
Beirage, de George Furlan, dentre tantos outros), assim como o preço alto dos ingressos de
cinema.

Assim como amo a literatura, mas não me interesso muito pelo gênero de suspense, sou
apaixonada pelo cinema brasileiro, mas não me identifico com enredos que misturavam tramas
mirabolantes e a nudez feminina. Valorizo a importância dessas produções que incomoradam
o mercado hollywoodiano, e reconheco que o sucesso de público, especialmente, entre os anos
de 1970 e 1975, foram responsáveis pelo desenvolvimento do nosso cinema.
Não identificação não significa reprovação. Indica que me interesso pela corrente
cinematográfica chamada de Cinema Novo, que se propunha a denunciar a pobreza e a miséria
da população brasileira, tal qual a Segunda Geração Modernista, por meio das obras de
escritores como: José Américo de Almeida, Graciliano Ramos, Jorge Amado e José Lins do
Rego.

Nesse contexto, um grupo de jovens cineastas, diante das produções de Hollywood, com altos
recursos finceiros e enredos açucarados; e da pornochanchada, que para eles não passavam de
cinema “prostituído” e de “mal gosto”, resolveram se contrapor a essa realidade de
induatrialismo cultural e alienação. Adotaram o lema, “uma câmera na mão e uma ideia na
cabeça”, na expextativa de criar uma arte engajada e forjada nas mazelas sociais.

Essa nova corrente cinematográfica foi definida por Glauber Rocha como um “cinema
perigoso, divino e maravilhoso” com filmes de tirar o fôlego e encher de questionamentos a
mente do espectador, como por exemplo, Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), A Hora e a
Vez de Augusto Matraga (1966), Terra em Transe (1967), Maria Bonita, Rainha do
Cangaço (1968), Macunaíma (1969), etc.

Mudaram-se os tempos e a indústria cinematográfica. Hoje, somos capazes de fazer uma lista
de filmes “made in Brazil” que tem levado milhares de brasileiros ao cinema, apesar dos
ingressos caros: Lisbela e o Prisioneiro (2003), de Guel Arraes, Tropa de Elite 2 (2007), de
José Padilha, Se eu fosse você 2 (2009), de Daniel Filho, Meu passado me condena (2013), de
Julia Rezende, Minha Mãe é Uma Peça (2019), de Susana Garcia.

Sigo na expectativa pelos filmes que estão por vir, como O Auto da Compadecida 2. Que
sigamos enchendo as salas do cinema para prestigiar o trabalho de diretores, atores / atrizes,
roteiristas, sobretudo, lutando por leis de incentivo à expansão e modernização do parque
cinematográfico brasileiro.

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