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Outras coisas influenciam para explosão sensorial. Por exemplo, o filme inicia
com um painel publicitário de led anunciando “Os personagens não pertencem ao
Mundo, mas ao Terceiro Mundo”, “Guerra total na Boca do Lixo” e continua com
uma apresentação da ficha técnica do filme. Acompanhado a isso, tem a narração
de um homem e uma mulher, que ficam alternando a fala entre um e outro,
emulando a narração de um rádio: “Decretado, hoje, Estado de Sítio, no país”,
“Trata-se sobre um faroeste sobre o Terceiro Mundo”. No momento em que o
primeiro narrador para de falar, outra voz masculina chega: “Eu sei que fracassei.
Minha mãe tentou me abortar para mim não morrer de fome”. Assim, esses vários
estímulos sensoriais que brincam entre mídias fazem com que o espectador fique
desorientado, o que é a proposta de ambiente do filme.
É uma obra extremamente frenética. As coisas acontecem e não podem ser
processadas. De certa forma, essa ideia de explosão sensorial se mantém mais
atual do que nunca; a mistura naturalizada de mídias - o uso de vídeo junto ao
áudio, a televisão ligada junto ao computador, o jornal televisivo que usa materiais
da internet para se estruturar - está mais presente do que nos anos 60. Além disso,
acho que a barreira de ficção e realidade é um outro ponto muito atual: os
narradores passam de falar sobre o golpe militar para falar sobre o filme de maneira
tão natural que nos deixa desorientado; hoje em dia, a gente olha para o celular e vê
notícias que podem ser falsas ao lado de verdadeiras deixando a gente atordoados
de tanta informação.
Se já não ficou claro, eu acho que esse é um filme muito inteligente. Ele se
manteve muito atemporal durante esses 55 anos. O sensacionalismo midiático que
é retratado, na obra, me lembra muito os casos do Lázaro e dos massacres nas
escolas. É um filme que olha para a realidade do Brasil dos anos 60, já na ditadura
militar, e ri. Como o bandido diz: “Quando a gente não pode fazer nada, a gente
avacalha”.
Junto a essa fala, outro discurso que me marcou muito foi o “O terceiro
Mundo vai explodir!”. As duas frases me passam muito a ideia de crise social, de
uma instabilidade generalizada, no ar, e de que as pessoas estão insatisfeitas com
seu horizonte de possibilidades. Acho que isso é outro ponto que se relaciona com o
presente brasileiro; o clima político da época de golpe militar recém decretado e
chegada dos militares, de novo, no governo com o Bolsonaro. Mas, mesmo assim,
não poder fazer nada, só avacalhar, se refere muito à esquerda, também. Nos anos
60, a esquerda brasileira falhou e não conseguiu fazer as reformas necessárias,
enquanto, atualmente, ela teve que ir para o centro para conseguir se eleger.
A forma que ele consegue fazer uma sátira ácida, forte e apocalíptica. De
certa forma, é um filme extremamente fatalista. Ele disse que o terceiro Mundo ia
explodir, que não tinha o que fazer impedir e que não via nada para ser feito e
melhorar sua realidade. Assim, o caos é a única saída, como quem diz “já que
estamos aqui, vamos rir da situação”.