Você está na página 1de 4

GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PIAUÍ-UESPI


COORDENADORIA DO CURSO DE: DIREITO – BOM JESUS/PI
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA GERAL E JURÍDICA - BLOCO – 1º - 2022.2
Prefº.: GÊNIA DARC DE OLIVEIRA PEREIRA

Resenha do Filme: Quanto Vale ou É Por Quilo ?

Tatiano Ribeiro Dos Santos – Matricula Nº 1086006

Bom Jesus – PI
2023
“Quanto vale ou é por quilo” (2005), tem como direção: Sérgio Bianchi, produção:
Paulo Galvão, roteiro: Sérgio Bianchi, Eduardo Benaim, Newton Canitto e como
intérpretes: Ana Carbatti, Herson Capri, Cláudia Mello, Zezé Motta, Caco Ciocler, Ana
Lúcia Torres e outros. Sendo produzido pela RIOFILME, Petrobras e Agravo
Produções, no ano de 2005, em cores com 107 min., trata-se de uma obra
cinematográfica contendo críticas aos comportamentos da sociedade brasileira,
sendo classificado como um filme de gênero drama, com aspectos de ficção e o
documentário.

Bianchi iniciou seus trabalhos com cinema em 1968, sendo assistente de produção
e ator em Lance Maior, de Sylvio Back. Em 1972 fez seu primeiro trabalho como
diretor: o curta Omnibus. Em 1979 estreou na direção de longas com Maldita
coincidência, lançando, na sequência: Mato eles? (1982, média-metragem), divina
previdência (1983, curta), Entojo (1985, curta), Romance (1988, longa), A causa
secreta (1994, longa), Cronicamente Inviável (2000, longa), Quanto vale ou é por
quilo? (2005, longa), Os inquilinos (2009, longa) e por fim Jogo das decapitações
(2013, longa).

De um ponto de vista objetivo, o filme Quanto vale ou é por quilo? É uma releitura
atualizada do conto Pai contra Mãe, de Machado de Assis, que apresenta a história
de Candinho, cujo ofício era capturar escravos fugidos e apresenta uma correlação
entre o período da escravidão e atualidade através de uma equiparação entre o
antigo trabalho escravo e a exploração da miséria.

O filme pode ser dividido em quatro blocos. Cada um deles contém pequenos
episódios que ora funcionam como reforços narrativos, ora funcionam para
questionar especialmente através da ironia – algum de seus elementos.

Tendo em seu início uma narrativa do Brasil Colônia. Na cena de abertura do filme,
o cineasta Sérgio Bianchi nos remete a um episódio envolvendo Joana, (interpretada
pela atriz Zezé Motta), uma ex-escrava alforriada, que conquistou uma pequena
fazenda e adquiriu escravos, acontece que um homem branco e rico roubou um de
seus escravos. Em seguida o narrador - na voz de Milton Gonçalves – explica a
cena: Joana cheia de seus direitos reúne algumas pessoas e os documentos
provando sua posse e vai até o homem em comitiva, mas a lei que deveria garantir
os direitos dela não foi cumprida e ela acaba sendo condenada por ofender e
perturbar o senhor de escravos. A questão de valores é colocada logo no início do
filme uma negra que já sofreu com a escravidão briga por um escravo seu, ou seja,
e ainda não tem direito nenhum ao bater de frente com um branco, essa sociedade
escravocrata que é a base da sociedade atual o ser humano é tido como produto,
pois no passado os escravos e atualmente a miséria.

Após esse início com aspectos de drama ocorre uma quebra no filme com imagens
de pessoas negras usando alguns instrumentos de tortura e um narrador, que os
descreve, de forma tão detalhada que causa um desconforto no telespectador mais
sensível. Nesse segundo bloco do filme os personagens principais da trama são
apresentados através de suas relações interpessoais. A primeira cena desse bloco
já apresenta a protagonista. Como se estivesse mergulhada em um pesadelo, a
personagem Arminda do presente aparece dormindo enquanto uma festa acontece
ao seu redor. A escuridão das cenas do passado dá lugar a tonalidades mais
vibrantes – e essa alternância entre claro e escuro é uma das características da
composição de cores das cenas ao longo do filme.

O problema enfatizado pelo filme seria a forma como alguns setores da sociedade
se aproveitam dos discursos solidários dessas instituições com finalidades espúrias,
colocando a miséria como novo produto lucrativo. Para isso, um núcleo formado por
empresários do Terceiro Setor e seus funcionários, que está conectado aos demais
núcleos através dos personagens centrais, Candinho e Arminda. No
desenvolvimento da crítica sobre o papel das ONGs no filme, os principais
personagens são os empresários por trás da empresa Stiner, Marco Aurélio
(interpretado por Herson Capri) e Ricardo Pedrosa (interpretado por Caco Ciocler).
Nesse ponto do filme o problema socioeconômico será ampliado quando entra em
cena a política, representada pelo vereador Solis (interpretado por Humberto José
Magnani). O primeiro ponto de virada do filme vem da percepção de Arminda das
maquinações corruptas entre empresários e políticos por trás do Terceiro Setor, onde
um amigo de Arminda explica, de maneira didática, o funcionamento dos esquemas
de corrupção.
A partir disso, temos o início do terceiro bloco da narrativa, onde Arminda vai
compreender a trama dos empresários e dos políticos e partir para a ação, alterando
a trajetória de diversos personagens. O segundo ponto de virada está mais próximo
ao final, e acontece por volta de uma hora e vinte minutos. O ex-presidiário Dido,
interpretado por Lázaro Ramos, reúne uma equipe, em um ambiente escuro de
porão, para planejar o sequestro de Marco Aurélio. Essa cena marca o fim do terceiro
bloco, onde os conflitos da narrativa foram desenvolvidos, e o início do quarto bloco,
que finaliza o filme de duas formas diferentes: uma com a derrota de Arminda,
assassinada por Candinho, e outra onde a protagonista convence Candinho a montar
uma central de sequestros para “acabar com tudo que é filho da puta que rouba do
Estado”.

A exploração da miséria é, portanto, uma das principais críticas que o filme


apresenta em relação ao Brasil do seu tempo de produção. Sem dúvida esse filme
é um tesouro nacional. Ainda que te faça sentir mais vergonha a cada minuto que
passa, ele é um retrato fiel e sem ensaio da história de nossas vidas. Mexe bastante
com o ser. Choca a forma desonesta com que o sistema é usado a favor do próprio
sistema. Diálogos riquíssimos em preconceitos e hedonismos fajutos, disfarçados
numa caridade sem limites. Vale cada minuto. Uma atenção à edição perfeita dessa
obra.

Você também pode gostar