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apresenta:

Documentário/Ficção - Intersecções
De 2 a 26 de maio de 2017

De 2 a 26 de maio, o CINUSP Paulo Emílio apresenta a mostra DOCUMENTÁRIO/FICÇÃO -


INTERSECÇÕES, composta por filmes a partir dos quais é possível questionar os paradigmas e as
convenções que definem e diferenciam o documentário e a ficção. Selecionamos obras cujos
procedimentos estético-formais embaralham as fronteiras entre esses dois universos fílmicos e
levantam a questão da veracidade de seu próprio conteúdo. Em que medida o documentário é
narrativa do real e em que medida a ficção é seu contrário? O documentário é verdade e a
ficção, mentira?

As perguntas feitas acima certamente não são facilmente respondidas. Qualquer tentativa de
resposta incorre em um vasto campo de discussão sobre representação e apresentação da
realidade na própria arte, permeando toda a história desta.

A discussão ganha contornos particulares ao pensarmos sua relação com o cinema: a imagem
obtida pela câmera é fruto do reflexo de luz sobre os objetos ou pessoas à sua frente; esta luz é
captada por um sensor digital ou filme analógico. A relação do objeto fotografado e a imagem
é, portanto, de indexicalidade (do conceito semiótico de índice), uma relação de contiguidade
com um espaço real. Portanto, a questão do real é especialmente central na discussão do
específico cinematográfico e é a partir deste debate que conseguimos compreender o
delineamento, com suas convenções e signos, dos dois tipos de cinema predominantes: o
cinema documental e o cinema ficcional.

A ficção recebe a concepção dominante de ser uma narrativa cinematográfica sem


comprometimento com o real e encenada, como o teatro. Apesar de normalmente buscar
convencer o espectador da verossimilhança de seu universo, sua linguagem denuncia seu
caráter ficcional. Por meio da decupagem, da montagem, da presença de rostos conhecidos
(entre outros elementos formais), o espectador é capaz de interpretar que aquilo a que assiste
é uma ficção.

O documentário inicialmente é visto como projeto contrário. Sua concepção dominante é a de


ser uma narrativa do real, com personagens que existem para além da tela, que possuem um
lastro com o mundo histórico. Desse modo, o documentário carrega consigo desde seu
surgimento a pretensão de se apresentar enquanto registro que possui, em maior ou menor
medida, uma correspondência com o real e um grau de veracidade.

Até mesmo nos filmes convencionais de documentário, a subjetividade do autor, o olhar e as


vontades conscientes ou inconscientes do cineasta distorcem em maior ou menor grau a
suposta “realidade” ali presente. É flagrante o exemplo de Nanook, o Esquimó. Considerado
como o filme fundador do gênero documental, é fato conhecido que muitas de suas cenas são
encenações impostas pelo diretor. Relatos contam que o cineasta Robert Flaherty exigiu de
seus personagens (nativos inuits do norte do continente americano) o desempenho de práticas
já obsoletas de sua cultura.

É possível um documentário ser inteiramente encenado? Ser uma ficção documental? Ou um


documentário ficcional? Culloden e O Jogo da Guerra, de Peter Watkins, trazem essa questão,
aproveitando-se do dispositivo documental em reconstituições históricas incompatíveis com o
momento de suas realizações (a câmera de Watkins se encontra em um dos filmes em meio a
uma guerra do século XVIII e, no outro, em meio a um suposto bombardeio nuclear do
território inglês durante uma possível 3ª Guerra Mundial).

Da mesma forma, a realidade do mundo por vezes invade o espaço da ficção de maneiras
diversas. Filmes como Sombras e The connection, respectivamente de John Cassavetes e
Shirley Clarke, trabalham com improviso em cima de situações reais, utilizando em cena não-
atores que estão encenando um personagem ou interpretando a si próprios. Em sentido
contrário, a ficção também pode invadir o mundo. O personagem de Dildu em A Cidade É Uma
Só é um elemento da ficcional que interage com o mundo alheio à sua encenação.  

Com o desenvolvimento da discussão do “real” no documentário ou na ficção, foram feitos


filmes cuja temática era o apagamento da fronteira entre os dois campos utilizando-se de
códigos próprios de cada um para criar uma obra de difícil categorização. Um dos filmes mais
importantes nesse estilo é Close-up, de Abbas Kiarostami, no qual a mistura do material
documental de um julgamento se funde com uma reconstituição encenada dos fatos julgados.
No entanto, o entrelaçamento das encenações com o julgamento cultiva uma dubiedade a
respeito do que nos é mostrado. A cada momento nos perguntamos: qual a presente natureza
da imagem na tela? Ficcional ou documental?

Os filmes escolhidos possuem múltiplas camadas de leitura e entendimento e embaralham


nossas noções convencionais do que é um filme-documentário ou um filme-ficção. E é um
desafio ao espectador decifrar essas leituras.

Boas sessões!

PROGRAMAÇÃO:

2/05 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 NANOOK, O ESQUIMÓ
19h00 UM HOMEM COM UMA CÂMERA

3/05 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 VERDADES E MENTIRAS
19h00 CLOSE-UP

4/05 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 ISTO NÃO É UM FILME
19h00 SOMBRAS

5/05 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO
19h00 EU, UM NEGRO

8/05 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 CLOSE-UP
19h00 VERDADES E MENTIRAS

9/05 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 DEZ
19h00 AS BICICLETAS DE BELLEVILLE (SESSÃO CINEMA E CORPO)

10/05 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 A BATALHA DE ARGEL
19h00 NANOOK, O ESQUIMÓ

11/05 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 UM HOMEM COM UMA CÂMERA
19h00 CULLODEN + O JOGO DA GUERRA

12/05 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 24 CITY
19h00 A IMAGEM QUE FALTA

15/05 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 NO QUARTO DA VANDA
19h00 DEZ

16/05 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 SOMBRAS
19h00 SANTIAGO

17/05 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 CULLODEN + O JOGO DA GUERRA
19h00 24 CITY

18/05 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 A CIDADE É UMA SÓ
19h00 VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO

19/05 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 JOGO DE CENA
19h00 THE CONNECTION

22/05 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 THE CONNECTION
19h00 A BATALHA DE ARGEL

23/05 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 A IMAGEM QUE FALTA
19h00 JOGO DE CENA

24/05 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 SANTIAGO
19h00 ISTO NÃO É UM FILME

25/05 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 24 CITY
19h00 NO QUARTO DA VANDA

26/05 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 EU, UM NEGRO
19h00 A CIDADE É UMA SÓ
FILMES:

24 City

Er Shi Si Cheng Ji

China, 2008, 112’

direção: Jia Zhang-Ke

sinopse: A fábrica estatal 420 e seus dormitórios populares, que existem


há 50 anos na província de Chengdu, na China, estão sendo demolidos
para dar lugar ao condomínio 24 City, um complexo de apartamentos de
luxo. Acompanhamos as histórias ficcionalizadas de três mulheres cujas
existências foram marcadas pelo trabalho na fábrica. Paralelamente, cinco
homens que fizeram parte da vida dessas mulheres dão seus depoimentos
reais para a câmera. De três gerações diferentes, as memórias desses
trabalhadores se relacionam profundamente com a própria história da
China.

A Batalha de Argel

La Battaglia di Algeri

Itália/Argélia, 1966, 121’

direção: Gillo Pontecorvo

sinopse: Entre os anos de 1954 e 1957, o povo da Argélia decidiu que não
seria mais explorado: assim teve início o conflito que levou o país à sua
independência. No entanto, a França, através de seu numeroso exército,
não estava disposta a deixar que a Argélia se tornasse independente.
Começa aí uma verdadeira batalha em Argel, capital do país, travada
principalmente entre os métodos convencionais da tropa francesa e as
técnicas não-convencionais da FLN, a Frente de Libertação Nacional.

A Cidade é Uma Só

Brasil, 2011, Brasil, 79’

direção: Adirley Queirós

sinopse: O filme reflete sobre o processo de exclusão territorial de Brasília,


tendo como ponto de partida a chamada Campanha de Erradicação de
Invasões (CEI) que em 1971 removeu os barracos que ocupavam os
arredores da cidade e os transferiu para o que é hoje conhecido como
Ceilândia. Entre os personagens estão aqueles que foram retirados à
força do local sob uma promessa de urbanização que não se cumpriu e
uma nova geração já nascida ali. O filme acompanha também a
candidatura de Dildu, um dos moradores de Ceilândia a vereador.

A Imagem que Falta

L’Image Manquante

Camboja/França, 2013, 98’

direção: Rithy Panh

sinopse: O período entre 1975 e 1979 foi marcado por uma sangrenta
ditadura no Camboja. Milhares de pessoas foram executadas e o governo
do Khmer Vermelho deixou poucos registros da matança e da escravidão
generalizada no país. O diretor Rithy Panh faz um retrato autobiográfico
através de cenas de arquivo e do uso da animação de bonecos para
reconstruir a história a partir do ponto de vista quem sofreu a ditadura.

Close-Up

Nema-ye Nazdik

Irã, 1990, 98’

direção: Abbas Kiarostami


sinopse: Hossain Sabzian, um jovem e modesto empregado de uma
tipografia, é um cinéfilo apaixonado pela obra do realizador Mohsen
Makhmalbaf. Ele se faz passar pelo diretor e começa a filmar uma família.
Ao descobrirem sua farsa, ele é preso. Kiarostami se interessa pela
história de Sabzian e obtém permissão para filmar o seu julgamento.
Culloden

Reino Unido, 1964, 69’

direção: Peter Watkins

sinopse: O filme se passa em 1746, durante a


Batalha de Culloden, que ficou conhecida por ser a última guerra a
acontecer em solo britânico. Apesar da distância temporal, o filme
documenta a guerra como se uma equipe de jornalistas e câmeras de TV
contemporâneos estivessem presentes em campo.

Dez

Dah

Irã, 2002, 94’

direção: Abbas Kiarostami

sinopse: Dez conta a história de uma mulher iraniana de classe média e


divorciada que dirige um carro, sempre com uma pessoa no banco do
passageiro, conversando e debatendo com suas caronas. São cinco
histórias contadas, que se intercalam umas nas outras: a do filho pré-
adolescente Amin, a de sua irmã, a de uma senhora religiosa, a de uma
jovem apaixonada e a de uma prostituta.

Eu, um Negro

Moi, Un Noir

França, 1958, 70’

direção: Jean Rouch

sinopse: Jovens nigerianos deixam sua terra natal para procurar trabalho
na Costa do Marfim e acabam chegando a Treichville, bairro operário de
Abdijam. O herói, que conta sua própria história, se autodenomina Edward
G. Robinson, em honra ao ator americano. Da mesma forma, seus amigos
escolhem pseudônimos destinados a lhes forjar, simbolicamente, uma
personalidade ideal.
Isto não é um filme

In Film Nist

Irã, 2011, 75’

direção: Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi

sinopse: Condenado pela justiça do Irã, o cineasta Jafar Panahi aguarda


em prisão domiciliar pelo resultado de sua sentença no tribunal de
apelação. Este "não filme" retrata o dia do diretor perseguido pelo governo
de Mahmoud Ahmadinejad.

Jogo de Cena

Brasil, 2007, 100’

direção: Eduardo Coutinho

sinopse: O filme incita uma provocação entre


documentário e ficção através de 23 relatos de
mulheres, gravados por uma câmera estática, no Teatro Glauce Rocha, no
Rio de Janeiro. As histórias foram selecionadas entre outras 60, que
chegaram ao diretor depois da publicação de um anúncio no jornal. O
telespectador entra no jogo ao tentar adivinhar quais dos depoimentos são
reais e quais são encenados. A maioria deles trata de temas delicados
como a maternidade, a relação entre pais e filhos, fins de relacionamentos
e homossexualidade.

Nanook, o Esquimó

Nanook of the North

Estados Unidos, 1922, 78’

direção: Robert J. Flaherty

sinopse: Robert Flaherty documenta um ano da vida do esquimó Nanook e


de sua família, que vivem em Hudson Bay, no Canadá. Alheios à
industrialização insurgente dos anos 20, os esquimós mantêm seus
costumes como a caça, a pesca e as migrações. Apesar do filme ter sido
considerado um grande documento do modo de vida dessa comunidade,
parte da obra fora encenada, como, por exemplo, a construção dos iglus.
No Quarto da Vanda

Portugal, 2000, 170’

direção: Pedro Costa

sinopse: Vanda Duarte é uma jovem


dependente química que vive no bairro das Fontainhas, ao norte da cidade
de Lisboa. O local começa gradualmente a ser destruído pelos tratores da
Câmara de Lisboa e Vanda inquieta-se em relação ao seu lar e ao seu
futuro.

O Jogo da Guerra

The War Game

Reino Unido, 1965, 48’

direção: Peter Watkins

sinopse: Um cenário pós-ataque nuclear numa cidade da Inglaterra. Uma


mistura de cinejornal, ficção e documentário. Presente, futuro e passado.
Um duro retrato do que restou depois da aniquiladora e catastrófica
Terceira Guerra Mundial.

Santiago

Brasil, 2007, 80’

direção: João Moreira Salles

sinopse: Já aposentado, Santiago leva uma


vida solitária entre as 30 mil páginas que escreveu sobre nobrezas e
dinastias de todo o mundo. Santiago fora por três décadas o mordomo da
família Moreira Salles. Em 1992, João Moreira Salles decidiu filmá-lo e só
voltou a editar o material em 2005, 13 anos depois, fazendo do filme um
ensaio autocrítico que questiona suas escolhas estéticas de diretor e a sua
relação com Santiago, seu personagem e antigo mordomo.
Sombras

Shadows

Estados Unidos, 1959, 81’

direção: John Cassavetes

sinopse: Nos anos 50, em Nova York, Lelia, uma garota negra, envolve-se
com Tony, um rapaz branco. Seus dois irmãos são músicos lutando para
conseguir reconhecimento. O filme acompanha situações das vidas desses
personagens e o encontro afetivo entre eles que gera tensões raciais.

The Connection

Estados Unidos, 1961, 110’

direção: Shirley Clarke

sinopse: Oito músicos de jazz estão em um


apartamento em Nova York esperando
Cowboy, o traficante que trará heroína para eles. Jim Dunn, um cineasta e
amigo deles, aceita pagar pelas drogas caso os junkies permitam que ele
filme o apartamento durante a espera. Especialmente controverso, venceu
um prêmio da crítica em Cannes e é hoje um documento valioso sobre a
contracultura do início dos anos 1960 e uma obra importante do cinema
experimental. Baseado em um livro de Jack Gelber.

Um Homem com uma Câmera

Chelovek s kino-apparatom

URSS, 1929, 68’

direção: Dziga Vertov

sinopse: O filme documenta a vida dos habitantes de uma cidade através


do olho de uma câmera. Seus atores são as máquinas e as pessoas da
cidade, fotografadas em todos os tipos de situações com a câmera que
segue todos os seus movimentos. É considerado por muitos o precursor
dos documentários, já que o chamado cinema direto foi fortemente
influenciado por Vertov.
Verdades e Mentiras

F For Fake

França/Irã/Alemanha Ocidental, 1973, 89’

direção: Orson Welles

sinopse: No último filme dirigido por Orson Welles, ele desmistifica um


grupo de falsificadores: Elmyr de Hory é o maior falsificador de quadros de
seu tempo e seu confidente Clifford foi responsável pela biografia de
Howard Hughes, que é lembrada como a maior falsificação da década de
70. Welles se coloca em meio aos dois e desvenda as verdades e mentiras
existentes nos diversos tipos de arte, fazendo o próprio filme.

Viajo porque preciso, volto porque te amo

Brasil, 2009, 71’

direção: Marcelo Gomes e Karim Ainouz

sinopse: José Renato, geólogo, 35 anos, é


enviado para uma pesquisa de campo na qual terá de atravessar o sertão.
Durante seu trajeto tanto por locais que serão beneficiados quanto por
outros que serão desapropriados e inundados por uma obra, ele tenta
esquecer uma paixão.

CINUSP Paulo Emílio

Cidade Universitária
Rua do Anfiteatro, 181 – Colmeia, Favo 04
Cidade Universitária
entrada franca
100 lugares
fone: 11-3091-3540

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