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SÃO CRISTÓVÃO – SE
2023
1. Introdução
Compreender a experiência estética vivida durante a disciplina Tópicos Especiais em
História do Cinema envolve uma jornada de descobertas significativas. Dentre elas, o Cinema
Mudo e todo seu universo particular. É a respeito disso que discorreremos nesse trabalho.
Antes de nos aprofundarmos nas discussões, é necessário entender essa rica fase da
história do cinema. Nessa vertente, os filmes eram produzidos sem a presença de diálogos
sonoros, principalmente pelas limitações tecnológicas que implicavam nisso. Áudio e imagem
precisavam ser capturados separadamente e isso dificultava a junção, pois nem sempre se
conseguia chegar à perfeita sincronia.
O Cinema Mudo tinha um caráter universal. As produções eram exibidas por diversos
cantos do Globo. Dessa forma, era muito mais vantajoso que não houvesse diálogos na língua
original. Contudo, mesmo na ausência de som, os filmes conseguiam oferecer uma experiência
estética completa. Recursos como expressividade, trilha sonora e elementos visuais, tais como
cenários, jogos de luz, sombras e movimentos da câmera, cumpriam muito bem o papel de
transmitir exatamente a atmosfera pensada para o filme.
Mesmo diante de tanta grandiosidade histórica, ainda hoje há resistência quando se trata
da experiência estética dessa fase cinematográfica. O cinema sem som é frequentemente
julgado como fraco e sem relevância. Principalmente, quando é posto lado a lado ao cinema
sonoro. No entanto, a realidade é bem diferente. Assim como o Cinema Sonoro, o Cinema Mudo
carrega consigo as particularidades que o fazem ser o que é. É preciso entender isso antes de
adentrar nesse universo: "Se alguém quiser conhecer e amar o cinema mudo, precisa ter bem
claro que sua linguagem é diferente da usada pelo cinema sonoro." (COSTA, 1987)
Tendo em vista a resistência inicial à transição do cinema mudo para o sonoro, este
ensaio se propõe a analisar o impacto duradouro do Cinema Mudo na história do cinema e a
destacar como diretores de destaque, como Charles Chaplin, enfrentaram essa mudança. Além
disso, investigaremos como o Cinema Mudo moldou a narrativa, a estética e a linguagem
cinematográfica, influenciando obras contemporâneas, como O Artista. Para ilustrar essa
análise, exploraremos o cinema de horror e comédia dessa era.
2. Desenvolvimento
2.1. O Cinema Mudo e sua importância
A transição para o cinema mudo, na década de 1920, foi uma mudança significativa para
a indústria cinematográfica. E, como em toda revolução, houve resistência a essa nova maneira
de fazer arte. Os motivos foram diversos, desde os altos custos, que envolviam o investimento
em equipamentos, à perda de estrelas do Cinema Mudo que não tinham uma boa voz para atuar
nos filmes; e, até mesmo, o fim da universalidade do cinema.
Chaplin é um dos exemplos de resistência. A chegada do som trouxe muitos desafios ao
cineasta. A resistência do produtor se deu em razão do apego ao seu personagem “O
vagabundo”, pois, para ele, a adição de voz removeria a sua essência. Dentre muitos outros
motivos, destaca-se também o medo de perder a audiência global. Chaplin era conhecido
mundialmente e limitar sua obra a um único idioma o faria perder o prestígio. Por fim, outro
motivo que levou o cineasta a resistir foi o fato de ter a expressão visual como detalhe preferido
na busca pela transmissão de emoções. Com o som, esse aspecto era minimizado. Um filme que
mostra muito bem a resistência de Charles Chaplin é O circo (1928) que, embora lançado no
auge da era sonora, ainda era predominantemente mudo.
O Artista (2011), dirigido por Michel Hazanavicius, não apenas homenageia a era do
Cinema Mudo, mas também nos proporciona uma perspectiva única sobre a transição para o
cinema sonoro. O filme retrata de forma brilhante o impacto do som na vida dos artistas e na
indústria cinematográfica como um todo. Através de seus personagens, somos levados a
compreender a resistência à mudança e os desafios enfrentados por atores e diretores que viram
seus métodos de trabalho transformados.
O personagem de George Valentin, interpretado por Jean Dujardin, personifica a
nostalgia pela era do Cinema Mudo, onde sua expressão facial e gestos falavam mais alto do
que palavras. No entanto, à medida que o cinema sonoro surge, Valentin se vê confrontado com
a necessidade de se adaptar a essa nova realidade, uma transição que espelha a experiência de
muitos artistas da época.
Peppy Miller, por sua vez, interpretada por Bérénice Bejo, encarna a ascensão dos
novos talentos do cinema sonoro. Sua jornada exemplifica a empolgação e a adaptação bem-
sucedida ao novo meio, simbolizando a próxima geração de artistas.
Ao longo do filme, Hazanavicius nos mostra as lutas e os triunfos desses personagens
em meio a uma indústria em transformação. A relutância de Valentin em aceitar a mudança, seu
declínio na indústria e posterior redescoberta de sua voz representam um retrato comovente da
passagem de uma era para outra.
Através da brilhante cinematografia em preto e branco e da trilha sonora, O Artista nos
convida a refletir sobre como as transformações tecnológicas moldam não apenas o mundo do
entretenimento, mas também a nossa própria compreensão da transição, da evolução e da
resistência à mudança. Hazanavicius nos entrega uma obra-prima que não apenas homenageia
o passado, mas também nos instiga a contemplar o futuro, reconhecendo que, por vezes, a
verdadeira genialidade artística reside na capacidade de se adaptar a novos desafios e
horizontes.
3. Conclusão
O Cinema Mudo foi uma época de ouro na história do cinema, marcada por inovação,
criatividade e experimentação. Artistas como Charlie Chaplin e obras como Nosferatu e O
Gabinete do Dr. Caligari continuam a cativar e inspirar o público, enquanto filmes como O
Artista nos ajudam a compreender a transição para o cinema sonoro. O legado do Cinema Mudo
perdura, lembrando-nos da importância da expressão visual e da capacidade da sétima arte de
atravessar fronteiras culturais. À medida que exploramos esse período fascinante, somos
levados a uma apreciação mais profunda da história do cinema e de seu poder duradouro.
4. Discussão
Nesta seção, vamos aprofundar nossa compreensão do Cinema Mudo, da transição para
o som e das influências culturais e estilísticas. Também destacaremos as conexões entre os
tópicos abordados e sua relevância contínua.
Referências bibliográficas
Filmografia
1. A GENERAL (The general). Direção: Clyde Bruckman. Produção de: Buster Keaton,
Joseph Schenck e David Shepard. Estados Unidos: United Artists, 1926.
2. HOMEM-MOSCA (Safety Last!). Direção: Fred C. Newmeyer e Sam Taylor.
Produção de: Hal Roach. Estados Unidos: Pathé Exchange, 1923.
3. NOSFERATU (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens). Direção: F.W. Murnau.
Produção de Prana Film, Alemanha, 1922.
4. O ARTISTA (The Artist). Direção: Michel Hazanavicius. Produção de: Thomas
Langmann. França, Warner Bros; France The Weinstein Company.
5. O CIRCO (The Circus. Direção: Charlie Chaplin. Produção de: Charlie Chaplin
Productions. Estados Unidos, 1928.
6. O GABINETE DO DR. CALIGARI (Das Cabinet des Dr. Caligari). Direção: Robert
Wiene. Produção de Decla-Bioscop. Alemanha, 1920.
7. O GRANDE DITADOR (The Great Dictator). Direção: Charlie Chaplin. Produção
de: Charlie Chaplin Productions. Estados Unidos: United Artists, 1940.
8. TEMPOS MODERNOS (Modern Times). Direção: Charlie Chaplin. Produção de:
Charlie Chaplin Productions. Estados Unidos: United Artists, 1936.