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RESUMO: Fritz Lang deixou seu legado e revolucionou o cinema alemão e mundial. A
partir da análise de dois de seus clássicos, Metrópolis (1927) e Almas Perversas (1945),
sob os conceitos do Expressionismo Alemão e do cinema noir, o presente artigo busca
desvendar as faces desse emblemático diretor.
Introdução
Mesmo sendo uma figura controversa e até mesmo impopular, Fritz Lang
deixou para o mundo do cinema filmes inspiradores, visionários e revolucionários -
garantindo seu lugar no panteão da história da sétima arte. Desde que foi convidado por
Erich Pommer para trabalhar na Decla escrevendo roteiros, Lang trouxe seus conceitos
revolucionários do cinema como composição visual e descrevia minuciosamente cada
sequência imaginada, o que se tornaria uma marca registrada do diretor.
Durante sua parceria com Thea von Harbou, Lang explorou a técnica da
expressão de estados mórbidos e seu gosto pelo o exótico. Seus filmes dessa fase
ficaram marcados pelas grandiosas composições visuais; o intenso jogo de luz e
sombra; pela temática da loucura e do medo e pelas interpretações demoníacas e
marcantes dos personagens – características típicas do Expressionismo, que dominara o
teatro e o cinema alemão da época. Mesmo que rejeitasse filiação ao movimento, Fritz
Lang passou a ser um de seus principais representantes, levando o cinema alemão a
níveis mundiais.
Quando fugiu da Alemanha, durante o governo Hitler, o diretor teve que se
reinventar e se adequar ao cinema hollywoodiano. Mesmo com intensos conflitos e
dificuldades de se adequar ao sistema das produtoras norte-americanas, Lang produziu
filmes que nos permitiu conhecer outra face do seu cinema. Atraído pelo filme noir,
mostrou que era capaz de fazer obras primas desde o Expressionismo Alemão até
clássicos de Hollywood.
Para compreender melhor as faces do cinema de Fritz Lang, o presente
artigo irá analisar dois de seus filmes de maior repercussão – Metrópolis (1927),
idealmente expressionista e que revolucionou a ficção científica, e Almas Perversas
(1945), um clássico noir hollywoodiano.
O Expressionismo Alemão
O sucesso do termo, aplicado inicialmente à pintura, fez com que ele fosse
adotado, com significações variadas, por outras artes, como poesia, dança, música,
teatro e cinema. Suas manifestações artísticas caracterizavam-se pela rejeição as
convenções, mostrando a realidade de maneira distorcida, de forma que causasse certo
impacto social. Principalmente nas artes plásticas, os artistas não se preocupavam em
produzir composições esteticamente agradáveis, mas buscavam, por meio de contrastes,
ângulos e formas abruptas, gerar reações profundas. Em sua essência, o Expressionismo
explorava a relação entre arte e sociedade.
Estudiosos do movimento destacam que, na Alemanha, ele pode ser
dividido em dois momentos, que correspondem ao pré e ao pós Primeira Guerra
Mundial. De acordo com Mattos (2002), “no período pré-guerra, ele teria se
desenvolvido em diálogo com as vanguardas internacionais pela busca de uma nova
linguagem expressiva, ao passo que, após o início do conflito, passaria adquirir tons
cada vez mais nacionalistas e politicamente engajados” (MATTOS, 2002, p.42). Tal
caráter nacionalista e político, que aflorou ainda mais após 1918, derivou da
necessidade da construção de uma identidade nacional, a partir do isolamento cultural e
da crise política e econômica que o país enfrentava.
Também no período pós-guerra, as manifestações expressionistas no teatro e
no cinema ganhariam destaque. Cánepa (2006) destaca que a dramaturgia expressionista
já era produzida desde antes de 1914, mas que só encontraria seu público a partir de
1916, quando grandes diretores começaram a encenar peças expressionistas, como O
Mendigo, de Reinhard Johannes Sorge e O despertar da primavera, de Frank
Wedekind. . Tais peças “faziam do mundo interno do personagem o único elo entre os
diversos elementos da trama, abrindo mão das noções tradicionais de estruturação da
cena segundo os princípios de unidade espaço-temporal” (MATTOS apud CÁNEPA,
2006, p.61). O que se via no palco era o próprio desenvolvimento psicológico dos
personagens e todo o cenário estava a serviço dessa explicitação emocional.
Luiz Nazário (2021) destaca que como o Expressionismo já havia florescido
na literatura, nas artes plásticas e no teatro, foi como uma “síntese de diversas
manifestações artísticas que nasceu a imagem expressionista em movimento”
(NAZARIO, 2021, p.06). Ainda segundo o autor, como o cinema alemão precisava se
diferenciar do cinema americano para então poder competir, passou a investir em filmes
considerados mais “artísticos”.
Assim como as pinturas expressionistas, os filmes desse período pós-guerra
buscavam abordar as experiências pessoais e subjetivas do ser humano, No cinema, essa
característica foi mais associada aos sets pouco realistas, ângulos profundos e sombras
marcantes, para intensificar a atmosfera do filme, comumente de horror e mistério.
Segundo Nazário (2021), trabalhava-se intensamente em uma técnica avançada nos
estúdios de Berlim, o que permitia as narrativas mais complexas.
Quando Das Testament des Dr. Mabuse foi rodado, interessava aos nazistas a
difusão da paranoia social com o objetivo de desestabilizar a República de
Weimar, levando à vitória eleitoral do nazismo. O filme teria sido concebido
como um suporte político às visões de Hitler. Concluído, porém, logo após a
tomada do poder pelos nazistas, sua mensagem de desestabilização política
não interessava mais aos vencedores, que agora controlavam a paranoia
social de dentro do Estado. (NAZARIO, 2021, p.12)
O Cinema noir
Durante sua carreira nos Estados Unidos, Fritz Lang teve de se adequar ao
ritmo de produção hollywoodiano, passando por diversos gêneros, como western,
guerra, romance, que não eram os seus preferidos. Contudo, durante sua fase americana,
o diretor foi conquistado por um gênero em especial: o filme noir.
Subgênero do cinema americano, o filme noir teve seu período clássico
entre as décadas 1940 e 1950 e apresentou trama que abordam temas policiais, porém,
que acabam sendo apenas um pretexto para mostrar e explorar o comportamento
humano, muitas vezes, em seu estado mais vulnerável e obscuro. Suas principais
características são uma combinação de luxo, iluminação sofisticada, roupas sensuais,
crimes, drama e a figura de uma femme fatale. Mattos (2001) destaca alguns elementos
fílmicos adotados pelo noir:
Considerações finais
Fritz Lang foi, e ainda é, uma das figuras mais emblemáticas, controversas e
geniais do cinema mundial. Já em seu primeiro filme, a Morte Cansada (1921),
apresentou técnicas cinematográficas inovadoras e uma estética minuciosamente
construída, que aprimoraria a cada filme e colocaria o cinema alemão no mapa da
cultura ocidental. Mesmo negando sua filiação, foi um dos representantes mais
contundentes do Expressionismo Alemão, com filmes marcados pelos fortes contrastes
entre luz e sombra, pela temática da loucura e do medo e pelas interpretações
exageradas e demoníacas de seus personagens.
Em 1927 revoluciona sua obra e o cinema em geral com Metrópolis,
considerado o berço da ficção científica. O filme com o orçamento mais caro da época,
traz o ápice do Expressionismo, com uma cenografia exuberante e gigantesca e uma
montagem apocalíptica e de tirar o fôlego. Aqui Fritz Lang garantira seu lugar no
panteão da Sétima Arte e se tornara uma das principais referências das gerações
seguintes.
Mesmo depois de uma misteriosa e controversa fuga da Alemanha durante o
governo Hittler e intensos embates com a indústria hollywoodiana, Lang ainda
conseguiu levar sua genialidade para os clássicos do cinema noir e seguir
surpreendendo os espectadores. Em Almas Perversas (1945), conseguiu transformar um
clássico hollywoodiano em um longa substancialmente cuidadoso, com uma boa
discussão psicológica e com um final corajoso e, ao mesmo, perturbador.
A partir das análises, pôde-se observar que assim como seus personagens,
Lang tinha muitas faces, mas em todas elas algo em comum: a busca pela perfeição e a
paixão pelo cinema. Passando do Expressionismo Alemão ao cinema noir, entre
polêmicas políticas e embates com a indústria, o diretor deixou sua marca no cinema
mundial e segue inspirando cineastas até os dias atuais.
REFERÊNCIAS
GAMBA, J.S. Schöpfer und Kreatur: Friz Lang e o personagem Dr. Mabuse pelo
olhar da imprensa (1920-1990). Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social - PUCRS, 2019
MATTOS, A.C de Gomes. O outro lado da noite: film noir. Rio de Janeiro: Rocco,
2001