- Não homogeneidade
- Não rematamento
- Não linearidade
Críticos e estudiosos atribuem esses
traços de descontinuidade narrativa ao
fato de que os modelos daqueles
cineastas eram os espetáculos de
vaudeville e o music-hall, e não o
romance do século XIX ou o teatro.
Não havia drama.
A Continuidade Narrativa
ou
Quando o cinema passou a ter
narratividade
Edgar Morin, o parceiro de Jean Rouch em
Crônica de um verão, diz que o cinema só
passou a existir de fato quando adquiriu a
narratividade; ou seja: o “nascimento” do
cinema coincidiu com o “nascimento” do
que conhecemos hoje por linguagem
cinematográfica.
Em Griffith é possível identificar, já de
forma madura, o uso pleno da linguagem
cinematográfica. Mas, como advertem os
autores, Griffith deve ser visto como parte
de um contexto: o próprio Griffith se disse
influenciado pelo filme Cabíria (1914), de
Giovanni Pastrone.
Autores lembram também que é quando a
atividade cinematográfica passa a ser regida por
uma forma de produção racionalizada e
especializada (roteiristas, pesquisadores,
figurinistas, cenógrafos, etc) que a narratividade
se instala definitivamente no cinema.
[Grandes estúdios também já estavam sendo
montados na Europa; havia um começo de
indústria cinematográfica, interrompido pela
Primeira Guerra Mundial]
De qualquer forma, a continuidade
narrativa foi elaborada em base dos
seguintes princípios:
- Homogeneização do significante visual
(cenários, iluminação, dimensões da tela) e do
significado narrativo (relações entre legendas e
imagens; desempenho dos atores, unidade do
roteiro, etc); e, posteriormente, já no “cinema
falado”, homogeneização do significante
audiovisual (sincronismo da imagens e dos
sons).
-Linearização narrativa, o que acontece pelo modo
como os planos se vinculam e se articulam entre si
– Como um plano se articula com o seguinte,
produzindo um vínculo de movimento e uma série
de outras vinculações, que acabaram por se tornar
uma espécie de regras convencionais: um
personagem olha, enxergamos o que ele vê; um
personagem escuta, “vemos” o que ele escuta (no
caso dos filmes sonoros, “ouvimos” o que ele
ouve.
Também as vozes over e em off, os
diálogos, a música (seguidamente
utilizada como meio de continuidade
narrativa) – tudo isto fornece meios
poderosos de linearização [o cinema
construído nestes pressupostos tem um
claro parentesco com o romance realista
do século XIX].
Estes meios – isoladamente ou (mais comum) em
conjunto tem o efeito de produzir no espectador a
“ilusão” de continuidade do significante
cinematográfico.
Algumas formas de montagem contribuíram para
estruturar desta nova forma narrativa, como a
montagem alternada (dois ou mais eventos que se
desenvolvem simultaneamente; plano/contra-
plano).
Esta narratividade carrega claramente a
“marca” das formas romanescas do século
anterior, tendo Griffith reivindicado
explicitamente a ancestralidade de
Dickens para justificar algumas de suas
“invenções” narrativas.
Importante: em alguns dos cinemas
“primitivos”, pode-se perceber forte influência
da narrativa teatral. Aos poucos, até a década
de 1920, a forma narrativa que vai se
consolidando tem a estrutura semelhante a do
romance naturalista do século XIX; isto é: a
história contada pelo cinema tende a ser, cada
vez mais, “transparente”.
As técnicas cinematográficas serão
cada vez mais subordinadas à clareza,
à homogeneidade, à linearidade, à
coerência da narrativa. A CENA e a
SEQÜÊNCIA irão dominar, tornar-se
hegemônicas.
Cena entendido como duração da
projeção/duração diegética e
Seqüência entendida como um
conjunto de planos que apresentam
uma unidade narrativa forte.
A este cinema, largamente utilizado
pela indústria cinematográfica norte-
americana, pode ser chamado de
modelo Griffitiano. Este modelo
obedece com poucas variações o
seguinte esquema:
Cenas sequenciadas em uma lógica de causa e
efeito, com edição que tenta apagar/suavizar o
corte; história estruturada na forma de prosa
com inspiração no romance realista/naturalista
do século XIX (começo, meio e fim).
Esteticamente, é um cinema “transparente”
(isto é: que tende a “esconder” a matéria da
qual é feito).
Outra característica forte sua é a de um herói
que passa por uma série de provas e sai-se
vitorioso. O indivíduo conforma os desfechos e
sai fortalecido. Uma das marcas deste tipo de
cinema, portanto, é o individualismo. Isto está
muito amenizado ou inexistente em outros
cinemas, como os feitos na Europa, países
periféricos ou no cinema que era produzido na
antiga União Soviética.
[Em termos de transparência, pode-se
encontrar semelhanças em cinemas
griffitianos e não griffitianos, embora
estruturalmente eles possam ser
diferentes]
Algumas tendências que chegaram a
se apresentar com alternativa ao
modelo grifftiano são as seguintes:
O cinema soviético da era Lênin (anos 1920 e parte
dos anos 1930).
É um cinema não-linear, nem sempre é prosaico
(por exemplo: o homem com a câmera), sua
montagem não obedece ao dogma da
continuidade temporal; não há heróis individuais
e, quando aparecem indivíduos em situação
dramática, são “indivíduos tipo”, isto é: como
representantes de um determinada classe ou
estrato social. Não raro, são argumentativos.
Impressionismo Francês, ou a primeira
vanguarda francesa.
Tentativa de fazer um cinema não prosaico e que
se sustentasse apenas através de suas
características formais. Seria o “cinema puro” ou
ainda a “música para os olhos”, como escreveu
Germaine Dulac. São representantes desta
“escola” Louis Delluc, Germaine Dulac, Jean
Epstein, Marcel L’Herbier e Abel Gance
Conforme alguns autores,
Este tipo de cinema não vingou
porque era anticomercial por
excelência. Mas muito do que foi nele
testado e/ou produzido acabou por
ser aproveitado em outros contextos
Surrealismo e Dadaísmo, ou a segunda
vanguarda francesa.