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Sinopse:
Buscapé é um jovem pobre, negro e sensível, que cresce em um universo de muita
violência. Ele vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais
violentos do Rio. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé é
salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga
carreira na profissão. É por meio de seu olhar atrás da câmera que ele analisa o dia a dia
da favela em que vive, onde a violência aparenta ser infinita.
Comentários:
“Assistir Cidade de Deus é um dever cívico.” - Zuenir Ventura
“Faça um favor a si mesmo e assista a Cidade de Deus. Você não apenas terá duas horas
incrivelmente divertidas (sim, o filme prende a atenção e funciona como entretenimento),
como também aprenderá muito mais sobre este outro país que existe dentro do nosso velho
e sofrido Brasil” - Pablo Villaça
"Cidade de Deus deveria ganhar muitos prêmios, porque é um dos filmes mais vitais e
empolgantes não apenas dos últimos anos, mas que já vi em toda minha vida. Mas ele
enfrenta a montanha intransponível O Senhor dos Anéis", comenta Michael Bonner, editor
de cinema da revista Uncut. - BBC
– Infância perdida
– Tráfico de armas
– Corrupção policial
– Narcotráfico
– Preconceito Racial
Resenha Crítica:
Panorama Geral:
Para o caixa baixa, um grupo de crianças órfãs, o plano de ascensão social era
entrar para o mundo do crime, mas sem passar pelo “plano de carreira”. O objetivo deles
era ter o poder e prestígio de Bené e Zé Pequeno, suas referências. Assim, eles começam
a fazer assaltos pelas padarias e mercearias do bairro, contrariando as regras da favela que
proibiam roubar dentro da comunidade. Essa lei, proveniente do poder paralelo, é muito
comum em diversos bairros e favelas do Brasil. Um bairro tranquilo para os moradores é um
bairro tranquilo para o tráfico, porque é nesta calmaria que podem realizar seus negócios,
além de serem os promotores da segurança local.
Numa das cenas, Zé Pequeno vai com seu bando cobrar os meninos do caixa baixa
por quebrarem as regras e leva junto Filé com Fritas, uma das crianças que era aviãozinho
na boca de fumo. Ao encontrarem o grupo, os garotos correm com medo, restando apenas
dois. Esse é um dos momentos mais tensos do filme. Zé Pequeno diz que eles precisam
pagar, e pergunta se querem o tiro no pé ou na mão. De forma tirana e fria, atira no pé de
ambos, mesmo que eles tenham escolhido a mão. A dor, o medo e o pânico são nítidos no
olhar das crianças, é desesperador. O mérito fica para o ator mirim Felipe Paulino, que
demonstra pavor de forma visceral. Após um certo tempo, Zé Pequeno introduz Filé com
Fritas ao mundo do crime ordenando que ele escolha um dos garotos para matar. Essa
cena, considerada como uma das mais brutais do cinema nacional, demonstra o momento
em que a infância destas crianças é violentamente assassinada. O encontro com a violência
e a morte através do mundo do crime rouba a perspectiva de vida, e no caso do grupo caixa
baixa, os coloca de vez nesse universo, começando a planejar uma vingança contra Zé
Pequeno.
Podemos concluir, assim, que a criminalização dos sujeitos nesse contexto possui
diversas motivações, e o longa não poupa recursos para construir uma narrativa que
envolva toda a problemática social envolvida neste processo. A figura de Buscapé foge
dessa lógica com muito esforço e conta com o protagonismo para isso. O longa consegue
estruturar uma imagem pura da realidade brasileira e seus abismos sociais, a presença do
Estado na repressão e violência policial, as profundas complexidades da infância no mundo
do crime e a insegurança para os moradores causada pela guerra de facções. Tais
aspectos, analisados pelo prisma da história cultural, penetram numa compreensão madura
e realista das desigualdades do Brasil, além de confirmarem a obra-prima que é Cidade de
Deus.
Bibliografia
Luiz Zanin Oricchio - Entenda por que 'Cidade de Deus' entrou para a história (Terra)