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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – POLO TIMON

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

JOSIAS ALVES DE SOUSA

RESENHA DO FILME “ CIDADE DE DEUS”

TIMON-MA
2020
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JOSIAS ALVES DE SOUSA

RESENHA DO FILME “ CIDADE DE DEUS”

Atividade avaliativa da disciplina Sociologia da


educação ministrada pelo Professor Cláudio
Guida de Sousa.

TIMON-MA
2020
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Filme Cidade de Deus, 2002

RESENHA

Josias Alves de Sousa1

O filme cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles, mostra


como é a vida de pessoas que moram nas regiões das favelas que são comandadas
por traficantes. As cenas narram o dia-a-dia de uma vida caótica de um povo carente
que já nascem convivendo com esses criminosos, e à medida que as crianças vão
crescendo e convivendo com essa realidade são despertadas, e muitas vezes
recrutadas, tendo como única referencia essa atividade do tráfico. Adaptado por
Bráulio Mantovani a partir do livro escrito por Paulo Lins, O filme mostra o
crescimento do crime nas décadas de 60 e 80 no Rio de Janeiro, mais
especificamente na comunidade Cidade de Deus, um dos lugares mais violentos do
Brasil. Buscapé é o narrador personagem, morador da comunidade que procura se
afastar da criminalidade que o cerca e se encanta pela profissão de fotógrafo. Aos
poucos a violência parece mais presente na comunidade à medida que o
crescimento vai chegando. O bairro que antes parecia uma cidade pequena, agora
pode ser visto cheio de paredes de concretos e uma maior movimentação. A infância
dos personagens começa a desaparecer e as crianças que faziam parte da
malandragem, agora dão lugar a um crime mais organizado, baseado em tráfico de
drogas. O que antes eram pequenos assaltos a caminhão de gás, por exemplo,
agora passa a se tornar plano de carreira onde crianças são recrutadas e veem o
tráfico como única forma se sustentar. Buscapé Consegue se realizar depois de
arrumar um emprego em um jornal da cidade, onde começou como entregador de
jornais impressos, mas por ser morador da favela e conseguir boas fotos, devido o
acesso aos traficantes, ganha seu tão sonhado emprego de fotógrafo. Embora
Buscapé não se relacione diretamente com o crime, o dia-a-dia dos traficantes
alteram significativamente sua vida no decorrer da história. Os primeiros a serem
apresentados são os personagens do trio ternura, trio este formado por três jovens
pobres que realizam assaltos para sobreviver. O personagem principal do filme,


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Estudante do 2º período da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
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Dadinho, se inspira nos jovens do trio e decide que aquele modelo de vida é o seu
referencial, pra isso convida seu colega Bené a seguir a carreira de assaltante.
Ainda criança, Dadinho demonstra frieza ao realizar uma chacina dentro de um
motel, depois de ficar desapontado ao ser deixado por seus colegas do lado de fora
do motel. Ali vemos de forma clara as consequências de uma convivência com a
realidade violenta que vive a população das favelas, tomadas pelo tráfico. Os
personagens crescem e Dadinho consegue convencer seu amigo Bené a entrar no
mundo das drogas. Em pouco tempo os dois se tornam os traficantes mais
procurados do Rio de Janeiro. Logo após a morte de Bené em uma festa de
despedida, Dadinho, agora chamado de Zé pequeno, inicia uma disputa de controle
do território com outro traficante chamado Cenoura. Durante essa disputa, muitas
mortes são provocadas e muitas crianças são recrutadas. A polícia consegue
prender os dois líderes do tráfico na região. Zé pequeno é preso e liberado logo
após pagar propina aos policiais e Cenoura continua preso. No entanto, ao voltar
para a favela, Zé pequeno é assassinado por um grupo de crianças que haviam sido
recrutadas por ele mesmo.
Com um cenário bem familiar para os brasileiros que conhecem a
situação social do país, a obra foi inspirada em personagens reais. Entre os fatores
de destaque nesse roteiro, podemos destacar: a quantidade de histórias que
acontecem simultaneamente, a humanidade e a falta dela nas pessoas. Alguns
comentaristas explicam que na época em que o filme foi produzido os diretores
tiveram dificuldade de encontrar a quantidade de atores negros necessário para o
elenco, o que motivou um trabalho de aproveitamento de pessoas que viviam a
realidade da história narrada no livro. Ao longo da história podemos perceber a
manutenção da desigualdade social no mercado de trabalho, principalmente no que
se refere a visão racial. Tendo em vista que os acontecimentos se desenvolvem no
Rio de janeiro quero destacar um fragmento do texto de Chaloub: “ Aos negros e
negras era cerceada a oportunidade de atuar no mercado de trabalho, e a Lei de
Terras, de 1850, foi um obstáculo ao seu acesso à propriedade da terra. Já na
época das reformas urbanísticas do prefeito Pereira Passos, Sidney Chalhoub nos
fala que um aspecto fundamental da vida cotidiana do pobre urbano da cidade do
Rio de Janeiro era o problema da moradia” (CHALHOUB, 2001). O tráfico é, muitas
vezes, a única forma de sobrevivência nessas comunidades.
Freire (1996), propunha uma educação molhada de afetividade, mas não
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deixando que a efetividade interferisse no cumprimento ético e no dever de


professor e na sua autoridade, uma relação pedagógica cultural que não se trata
apenas de conceber a educação como transmissão de conteúdos curriculares por
parte do educador, tendo como necessidade a participação do educando, levando
em conta a sua autonomia e sim estabelecendo uma prática dialógica na escola.
Freire ressalta a importância da dimensão cultural no processo de transformação,
pois a educação é mais do que uma instrução, para ser transformadora deve
enraizar-se na cultura dos povos. Nesse sentido a transmissão de conteúdos
estruturados fora do contexto do alfabetizando é considerada invasão cultural,
porque não emerge saber popular (SILVA). Segundo Schram (2007), “ A partir das
releituras de Paulo Freire, acreditamos no professor capaz de coordenar a ação
educativa; no educando como agente sujeito participante; na escola como currículo
de cultura; e na sala de aula como espaço de diálogo. É em função desses
pressupostos que queremos participar das reflexões para a construção da escola
que oferece uma educação em que as pessoas vão se completando ao longo da
vida, uma educação capaz de ouvir as pessoas, participando dessa realidade,
discutindo-a, e colocando como perspectiva a possibilidade de mudar essa
realidade. “ A sociedade é um agente de transformação quando impõe a cultura no
indivíduo por meio de suas leis. É através da escola que o indivíduo terá o acesso a
essas regras e leis que o farão conhecer os seus e os demais modos de vida. Como
a educação tem esse papel, o estado que a promove tem o papel de combater as
desigualdades, diminuindo senários como o que foi narrado na obra que inspirou o
filme Cidade de deus.
A proposta Gramsciana de educação concebida sob a perspectiva de
uma cultura pedagógica integral, inclui entre outros, os seguintes pontos: 1) A
Escola, a educação e a cultura em geral devem se preocupar com a formação dos
quadros dirigentes do futuro Estado Proletário Revolucionário, através de uma
educação cultural de interesse coletivo, priorizando-se uma formação integral da
sociedade; 2) O não rebaixamento cultural e escolar das classes populares com
vistas a não discrimina-las na aparente “capa” de projetos assistencialistas de
proteção aos pobres, pois estes precisam apenas de igualdades de condições
sociais para estudar; 3) Integração da Cultura do novo humanismo com a educação
politécnica profissionalizante no campo do ensino superior, pois antes do futuro
profissional existe o “ser humano”, que não deve ser impedido de percorrer os mais
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amplos horizontes do desenvolvimento intelectual e humano para ser subjugado


apenas à ditadura da monotecnia da máquina capitalista. (MELO e RODRIGUES,
2016). A educação disponibilizada pelo estado democrático não deve ser oferecida
as classes mais vulneráveis apenas com a possibilidade de ingresso no mercado de
trabalho, mas também uma capacidade de desenvolver pensamentos, ideias e se
organizarem valorizando outros modos de vida. A educação profissionalizante é
essencial, desde que seja oferecida igualmente a todos, no entanto o uso deste
método sem a conscientização das dificuldades sociais enfrentadas por grande parte
da nação pode ser um grande meio de manipulação e escravidão por parte das
classes dominadoras.
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REFERÊNCIAS

CHALHOUB, Sidney. Cidade Negra. In: Visões da Liberdade: Uma história das
últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras,
2011. pp. 218- 265. Disponível em https://edisciplinas.usp.br. acessado em 05 de
junho de 2020

MELO, Maria Lúcia; RODRIGUES, Denise Simões. Gramsci e a educação. I


JOINGG – Jornada Internacional de Estudos e Pesquisas em Antônio Gramsci. VII
JOREGG – Jornada Regional de Estudos e Pesquisas em Antônio Gramsci. Práxis,
Formação Humana e a Luta por uma Nova Hegemonia. Anais. Fortaleza, Ceará.
2016. http://www.ggramsci.faced.ufc.br/wp-content/uploads/2017/06/GRAMSCI-E-A-
EDUCA%C3%87%C3%83O.pdf. Acesso em 09 de junho de 2020

SILVA, Lucimar Antônia – Contribuições de Paulo Freire para a Educação.


http://www.seduc.mt.gov.br/Paginas/Contribui%C3%A7%C3%B5es-de-Paulo-
Freirepara-a-Educa%C3%A7%C3%A3o.aspx acessado em: 09 de junho de 2020.

SCHRAM, Sandra Cristina; CARVALHO, Marco Antônio Batista - O PENSAR


EDUCAÇÃO EM PAULO FREIRE Para uma Pedagogia de mudanças - 2007.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/852-2.pdf. Acesso em 09
de junho de 2020.

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