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Pesquisas Contábeis no Brasil: Métodos de Pesquisa Segundo os Critérios do Congresso


Anual da European Accounting Association
Autoria: Paulo Roberto Barbosa Lustosa, Vanessa Paiva Dias

RESUMO

Este artigo utiliza os critérios do Congresso Anual da EAA – European Accounting


Association para classificar pesquisas contábeis brasileiras quanto ao método de pesquisa.
Foram analisados o conteúdo de 372 resumos de artigos apresentados nos Congressos
ANPCONT e EnANPAD, e os publicados na Revista de Contabilidade e Finanças da USP, no
período de 2005 a 2008. As categorias escolhidas para a seleção dos periódicos foram:
Contabilidade para Usuários Externos; e Educação e Pesquisa em Contabilidade. Os dados
foram coletados nos anais dos congressos e no sítio da revista, e organizados em um banco de
dados. O método de pesquisa adotado na realização deste trabalho, de acordo com
classificação do Congresso Anual da EAA, foi o empírico em base de dados e a técnica de
análise utilizada foi a análise de conteúdo. Os resultados revelam que: (i) em 38,4% dos
trabalhos não é possível inferir-se o método de pesquisa no resumo, o que contraria a norma
NBR 6028/2003, da ABNT; (ii) dentre os 6 métodos de pesquisa previstos no Congresso da
EAA, o empírico em base de dados foi o mais utilizado; e (iii) o Congresso EnANPAD foi o
que apresentou maior diversidade de métodos de pesquisa. Como resultado secundário,
observou-se aumento no número de pesquisas apresentadas no período de 2005 a 2007 e uma
queda no ano de 2008.

Palavras–chave: Metodologia. Métodos de pesquisa. Pesquisas contábeis.

1 INTRODUÇÃO

O The American Heritage Dictionary define a palavra método como “o jeito ou


maneira de se proceder, especialmente a forma regular e sistemática de se fazer algo”. No
mesmo dicionário, a palavra técnica é definida como “um procedimento sistemático por meio
do qual uma tarefa científica ou complexa é realizada”. E, em uma nota de esclarecimento
sobre a tendência indevida de uso comum da palavra método no lugar de metodologia, o
tradicional dicionário afirma:
[...] cada vez se usa mais a palavra metodologia como substituta de método
nas áreas técnica e científica. Talvez isso se deva ao fato de o adjetivo
metodológico significar o que se refere aos métodos. A palavra
metodológico pode ter assumido esse sentido porque as pessoas vêm
utilizando o adjetivo metódico no sentido de algo ordenado, sistemático.

A diferença sutil de significado envolvendo as palavras técnica e método e por vezes


até a extensão indevida do escopo dessa última palavra para metodologia, pode explicar
porque é tão comum, nas pesquisas em ciências contábeis (e talvez em outras áreas do
conhecimento), a denominação de um mesmo objeto metodológico, por exemplo Estudo de
Caso, ser adotado em diferentes pesquisas e por diferentes autores, como técnica, método,
metodologia ou outras denominações.
Para complicar ainda mais a ausência de uniformidade terminológica no uso dessas
palavras em pesquisas, alguns autores, por exemplo Walliman (2001), denominam de
estratégia da pesquisa as categorias de estudos empíricos do tipo Estudo de Caso, Survey,
Experimentos etc. Talvez por isso, alguns congressos e revistas estrangeiros da área contábil
preferem especificar o que consideram método de pesquisa para o autor enquadrar o seu
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trabalho no momento da submissão. Por exemplo, o tradicional congresso anual de


contabilidade da EAA – European Accounting Association define seis possíveis métodos de
pesquisa, sendo quatro empíricos e dois teóricos, que serão adiante explorados neste trabalho.
É tênue a distinção de significado entre as palavras método e técnica. Uma possível
interpretação, que será adotada neste trabalho, é que a palavra método se refere à descrição da
maneira de se fazer algo, ex ante à execução da ação; e que técnica é a maneira sistematizada
como as coisas são executadas, o que requer habilidade das pessoas que executam a tarefa. O
método, nessa interpretação, descreve os passos que serão seguidos pela técnica, mas esta
retroalimenta o método, aperfeiçoando-o.
No Brasil, os congressos e revistas da área de contabilidade ainda não requerem que o
autor especifique o método (estratégia? metodologia? técnica?) da sua pesquisa no momento
de submeter o trabalho. Além disso, as quatro usuais áreas temáticas em que se dividem as
pesquisas (CUE – Contabilidade para Usuário Externos; CCG – Controladoria e
Contabilidade Gerencial; CMC – Contabilidade e Mercado de Capitais; e EPC – Estudos e
Pesquisas em Contabilidade) são bastante agregadas quando comparadas com os modelos
mais analíticos adotados internacionalmente. Por exemplo, o já citado congresso anual da
EAA adota 13 áreas temáticas, e o Asian-Pacific Conference on International Accounting
Issues especifica nada menos do que 42 áreas de pesquisa.
Talvez seja necessário no futuro que os congressos e revistas brasileiros da área de
contabilidade sigam a tendência internacional no sentido de desdobrar as áreas temáticas
atuais em níveis mais analíticos e de pré-especificar os métodos de pesquisa para
enquadramento dos trabalhos. A prévia identificação desses elementos pode ajudar na
formação de um banco de dados que ajudará na elaboração de futuras pesquisas e no processo
de gestão dos congressos e revistas, por exemplo, na destinação mais qualificada dos
trabalhos para revisão dos ad hoc.
Tendo em vista o exposto, o objetivo deste trabalho é classificar os métodos de
pesquisa utilizados nas pesquisas contábeis brasileiras segundo os critérios definidos no
tradicional congresso anual de contabilidade realizado pela EAA e verificar quais desses
métodos são mais usuais. Para tanto, foi aplicada a técnica de análise de conteúdo aos
resumos de 372 artigos apresentados nas áreas Contabilidade para Usuários Externos e
Educação e Pesquisa em Contabilidade dos congressos ANPCONT e EnANPAD dos anos de
2005 a 2008, e também nas pesquisas publicadas na Revista de Contabilidade e Finanças da
USP no mesmo período. Haja vista a quantidade de eventos e periódicos na área, a pesquisa
foi delimitada a observar apenas os três previamente mencionados: ANPCONT, EnANPAD e
RCF/USP. É importante esclarecer, que esse mesmo critério foi utilizado na escolha das
categorias CUE e EPC.
Ademais, cabe ressaltar, que a idéia de elaborar esta pesquisa surgiu da necessidade de
se entender, de forma mais objetiva, como classificar metodologicamente uma pesquisa,
principalmente quanto aos métodos de pesquisa. Portanto, o intuito deste estudo não é criticar
a estrutura dos congressos brasileiros ou os autores de bibliografias existentes sobre o tema,
mas sim despertar a atenção de estudiosos para um problema que tem dificultado o
desenvolvimento de pesquisas acadêmicas que é a ausência de rigor metodológico, devido à
diversidade e a controvérsia dos conceitos e terminologias atribuídas ao tema.
O presente trabalho está estruturado em cinco seções. Além desta introdução, há a
revisão da literatura na segunda seção, com a apresentação de trabalhos relacionados ao tema.
Na terceira seção, estão os fundamentos teóricos, com a consulta de bibliografias
especializadas que dão um maior embasamento ao estudo. Na quarta e quinta seções
apresentam-se, respectivamente, a metodologia utilizada na elaboração do trabalho e os
resultados da pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conceitos sobre Metodologia, Método e Técnica

Há certa confusão entre os autores consultados sobre a definição de metodologia, pois


o termo é utilizado com diferentes significados. Parte dos autores entende metodologia como
sendo o estudo dos métodos científicos, como por exemplo, Theóphilo (2000). Já Richardson
(1999) a entende como sendo procedimentos e regras utilizadas por determinado método.
Demo (1995, p. 11) define que Metodologia é:
[...] estudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência. É
uma disciplina instrumental a serviço da pesquisa. Ao mesmo tempo que
visa conhecer caminhos do processo científico, também problematiza
criticamente, no sentido de indagar os limites da ciência, seja com referência
à capacidade de conhecer, seja com referência à capacidade de intervir na
realidade.

Por outro lado, Asti Vera (1983) define que metodologia tem dois significados: o
primeiro, que é uma disciplina chamada metodologia e, o segundo, que é o estudo analítico e
crítico dos métodos de investigação e de prova. Ele define metodologia como sendo “[...] a
descrição, análise e avaliação crítica dos métodos de investigação” (Asti Vera, 1983, p. 8).
Barros e Lehfeld (2000, p. 1) entendem Metodologia como:
[...] uma disciplina que se relaciona com a epistemologia. Consiste em
estudar e avaliar os vários métodos disponíveis, identificando suas
limitações ou não em nível das implicações de suas utilizações [...]
corresponde a um conjunto de procedimentos a serem utilizados na obtenção
do conhecimento, [...]. É a aplicação do método através de processos e
técnicas que garantem a legitimidade do saber obtido.

Desta forma, observa-se que existem basicamente duas vertentes para conceituar
metodologia. A primeira entende que Metodologia estuda a forma como é apreendida a
realidade social, numa perspectiva de discussão teórico-filosófica. Nesse sentido, existem
várias metodologias, pois cada uma está aliada a uma concepção filosófica de mundo. A
segunda defende que Metodologia é uma disciplina que estudará e definirá qual o melhor
método a ser empregado, portanto, existe a disciplina de metodologia, que escolhe num
conjunto de procedimentos disponíveis, o melhor a ser utilizado.
Além da discussão sobre os conceitos de Metodologia, ainda há outra polêmica, que é
a relação entre metodologia, método e técnica. Para Demo (1995), metodologia distingue-se
de método e técnica, pois considera que os dois últimos tratam da realidade empírica,
enquanto a metodologia prende-se mais às discussões problematizantes. Com isso, a
metodologia situa-se no nível da discussão teórica, discutindo criticamente sobre as maneiras
de se fazer a ciência. Por outro lado, Asti Vera (1983) diferencia método e técnica por “[...]
uma diferença semântica análoga à que distingue o gênero da espécie”.
Como se pôde observar, quando se trata de definir conceitos e aspectos metodológicos
não existe consenso e alguns autores sugerem tratamentos bastante distintos em termos do que
seja uma metodologia, um método, uma técnica etc. Portanto, para a condução deste trabalho
será utilizado o conceito de metodologia como um conjunto de métodos, técnicas e
instrumentos necessários à elaboração de uma pesquisa, ou seja, é a descrição de todo o
procedimento realizado pelo pesquisador para o desenvolvimento da pesquisa e obtenção de
resultados.
Com vistas a facilitar o entendimento, seguem os conceitos de método, técnica e
instrumento, considerados na elaboração deste artigo:
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•Método: “Forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. Conjunto de


processos ou fases empregadas na investigação, na busca do conhecimento.”
(BARROS; LEHFELD, 2000, p. 3). É em geral “o que fazer”. Por exemplo, os
métodos de pesquisa1.
• Técnicas: “Procedimentos [...] que operacionalizam os métodos, mediante
emprego de instrumentos adequados.” (SEVERINO, 1996, p. 130). É em geral
“como fazer”. Por exemplo, a análise de conteúdo (BARDIN, 1977, p. 42).
• Instrumentos: Meios utilizados na coleta dos dados. Como exemplo, questionários,
formulários, entrevistas etc.
Em resumo, o método é a fase inicial da pesquisa. Primeiro é necessário traçar as
estratégias da pesquisa para depois partir para a execução. Essa etapa, da operacionalização
do método, será concretizada pelo emprego da técnica, com o auxilio de instrumentos
adequados para viabilizar a extração ou coleta dos dados necessários à pesquisa.

2.2 Diversidade de conceitos nas classificações metodológicas

Como mencionado anteriormente, há uma polêmica quanto à dificuldade de


classificação das pesquisas acadêmicas devido à grande variedade de conceitos e
nomenclaturas atribuídas aos termos relacionados à metodologia. A fim de exemplificar tal
fato, fez-se uma comparação entre os conceitos utilizados por alguns autores a respeito das
abordagens metodológicas (Quadro 1) e das bases de classificação dos tipos de pesquisa
(Quadro 2).
No Quadro 1, estão apresentadas as classificações e nomenclaturas atribuídas por
Martins (1994) e Theóphilo (2007) com relação às abordagens metodológicas, definidas por
eles como Nível metodológico e Pólo metodológico, respectivamente.
O termo definido por Martins (1994) como nível metodológico, foi dividido em:
empirista, positivista, sistêmica, funcionalista, fenomenológica, hermenêutica e crítico-
dialética. Já Theóphilo (2007) o definiu como pólo metodológico e o dividiu em: empirismo,
positivismo, abordagem sistêmica, estruturalismo, fenomenologia, dialética e abordagens não-
convencionais. O quadro abaixo, mostra de forma explícita essas diferenças:
Martins (1994) Theóphilo (2007)
Empirista Empirismo
Positivista Positivismo
Sistêmica Abordagem sistêmica
Nível Metodológico Funcionalista Pólo Metodológico Estruturalismo
Fenomenológica Fenomenologia
Hermenêutica Dialética
Crítico-dialética Abordagens não-convencionais
Quadro 1 - Terminologia atribuída às abordagens metodológicas segundo Martins (1994) e Theóphilo (2007).
Fonte: NOSSA; FIÓRIO; SGARBI (2006)
O que Martins (1994) e Theóphilo (2007) tratam como “nível ou pólo metodológico”,
Demo (1995) chama de Metodologia, dividindo-a em: Metodologia dialética, Estruturalismo,
Abordagem sistêmica e Funcional, além disso, atribui o conceito de metodologias alternativas
para: Hermenêutica, Fenomenologia, Pesquisa Participante e Pesquisa-ação. Demo (1995),
pois, em seu tratamento contradiz a lógica a respeito do conceito de metodologia que vem
sem sendo seguido neste trabalho, visto que ele limita a definição do termo metodologia a um
assunto específico.
Ressalta-se também que os dois últimos conceitos, Pesquisa Participante e Pesquisa-
ação, tratados por Demo (1995) como um tipo de Metodologia, não foram abordados por

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Martins (1994) e Theóphilo (2007) no sentido de abordagem metodológica, porém, foram


identificadas por Gil (2002), como um tipo de pesquisa inserida na base de classificação dos
procedimentos técnicos.
No Quadro 2, estão apresentados os tipos de pesquisas mais usuais, de acordo com a
base de classificação proposta por Collis e Hussey (2005) e Gil (1999; 2002):
Base de Classificação
Itens Tipos de Pesquisa
Collis e Hussey Gil
1 Exploratória, Descritiva, Analítica ou Preditiva Objetivo da Pesquisa Objetivo da Pesquisa
2 Quantitativa ou Qualitativa Processo da Pesquisa Abordagem
3 Dedutiva, Indutiva, Hipotético-dedutiva, etc. Lógica da Pesquisa Lógica da Investigação
4 Aplicada ou Básica Resultado da Pesquisa Natureza da Pesquisa
Método (metodologia)
5 Bibliográfica, Experimental, Estudo de Caso, etc. Procedimentos Técnicos
de Pesquisa
Quadro 2: Classificação dos tipos de pesquisa segundo Collis e Hussey (2005) e Gil (1999; 2002).
Com este quadro é possível observar que para determinado tipo de pesquisa atribuem-
se variadas formas de classificação. No caso da nomenclatura atribuída pelos autores acima,
apenas o item 1 dos tipos de pesquisa apresenta a mesma base de classificação, os demais,
recebem denominações muito distintas, impossíveis de serem relacionadas se vistas
individualmente.
Entretanto, há divergência nos critérios adotados por Collis e Hussey (2005) e Gil
(2002) quanto aos objetivos da pesquisa (item 1). Collis e Hussey dividem as pesquisas
quanto os seus objetivos em: exploratórias, descritivas, analíticas e preditivas, enquanto Gil as
divide em: exploratórias, descritivas e explicativas.
No item 2, o que Collis e Hussey (2005) definiram como Processo de Pesquisa, Gil
(1999) definiu como Forma de Abordagem, gerando um certa confusão com o termo
“abordagem metodológica”, classificado por outros autores em: empirismo, positivismo,
estruturalismo etc.
No item 3, Collis e Hussey (2005) consideram como Lógica da Pesquisa apenas as
pesquisas tipificadas em: dedutiva e indutiva. Entretanto, Gil (1999) e Santos, Schmidt e
Machado (2005), são mais abrangentes e classificam as pesquisas, respectivamente, quanto a
lógica da investigação ou método de investigação/pesquisa, em: dedutiva, indutiva,
hipotético-dedutiva, dialética e fenomenológica.
Estas bases de classificação ainda podem receber denominações muito mais
diversificadas se consideradas as taxonomias utilizadas por outros autores. Dentre as bases
apresentadas, a de maior polêmica é o “Método de Pesquisa”, pois é utilizado para conceituar
vários tipos de pesquisas.
Por exemplo, o item 3 do Quadro 2, que é classificado por Collis e Hussey (2005)
como Lógica da Pesquisa e por Gil (1999) como Lógica da Investigação, é classificado,
segundo Santos, Schmidt e Machado (2005), como Método de Pesquisa ou Investigação.
Seguindo essas nomenclaturas, tanto as pesquisas do item 3 quanto as do item 5 seriam
classificadas como métodos de pesquisa, mesmo pertencendo à grupos distintos, já que o
primeiro refere-se ao tipo de raciocínio lógico utilizado e o segundo à forma de investigação
ou coleta dos dados.
Os exemplos citados confirmam a idéia de que, apesar do elevado conhecimento dos
autores acerca do tema, não há uma uniformidade na classificação e conceituação no âmbito
da metodologia, o que dificulta o desenvolvimento das pesquisas acadêmicas tendo em vista a
diversidade de bibliografias sobre o tema e a ausência de padrão metodológico no qual os
pesquisadores possam fundamentar suas pesquisas.

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2.3 Revisão da literatura

O aumento substancial de instituições de ensino superior e o desenvolvimento de


novos cursos de pós-graduação2 no Brasil têm intensificado a produção de trabalhos
acadêmicos, visto que, além da crescente exigência de elaboração de pesquisas científicas
para a conclusão da graduação, um dos requisitos para a obtenção do título de pós-graduado é
a elaboração de artigos, monografias, dissertações ou teses, colaborando para a inserção dos
alunos nas tarefas de pesquisa.
A área de Ciências Contábeis também está inserida neste contexto e devido à evolução
da pesquisa científica nesta área, surgiu a necessidade de se avaliar a qualidade da
classificação metodológica dessas pesquisas, visto que esse crescimento quantitativo das
pesquisas muitas vezes não é acompanhado pelo devido rigor teórico. Tal fato compromete,
em alguns casos, a qualidade dos trabalhos acadêmicos, o que justifica o crescimento no
número de pesquisas da área contábil, voltadas aos aspectos da metodologia científica.
Tem-se observado com as pesquisas desenvolvidas na área, que há uma grande
dificuldade por parte dos pesquisadores em classificar metodologicamente seus trabalhos, em
função da grande variedade de conceitos e terminologias atribuídos a este assunto. Theóphilo
(1998), em artigo publicado na RCF/USP, comentou que as terminologias e classificações
utilizadas na literatura a respeito de metodologia científica variam bastante entre os autores.
Para demonstrar o quanto alguns conceitos podem ser contraditórios, citou o exemplo do
termo “empírico”, que possui diversos significados, podendo receber a conotação de
conhecimento popular, adquirido sem a aplicação de um método ou designar a abordagem que
caracteriza a própria pesquisa científica, a qual utiliza métodos em sua elaboração.
Theóphilo (2004), avançando em sua dissertação de mestrado, analisou aspectos
epistemológicos das pesquisas em contabilidade realizadas entre 1994 e 2003. Com sua
pesquisa, constatou que há predominância de trabalhos positivos, porém com características
normativas. Dando seqüência a este trabalho, Theóphilo e Iudícibus (2005) deram maior
ênfase aos aspectos epistemológicos da pesquisa, e, posteriormente, Coelho, Soutes e Martins
(2007) utilizaram este enfoque no exame de 77 artigos da área Contabilidade para Usuários
Externos do Congresso EnANPAD, no anos de 2005 e 2006. Por meio da técnica de análise
de conteúdo, os autores constataram que 77% dos trabalhos eram empírico-analíticos,
enquadrados nas categorias caracterizadas por Theóphilo e Iudícibus (2005), como:
Positivistas, Empiricista ou Estruturalista, porém, também com características normativas
(55%) na subárea Eficiência das Demonstrações Financeiras.
Nossa, Fiório e Sgarbi (2006), pesquisaram sobre as metodologias e técnicas aplicadas
nas pesquisas em contabilidade, sobre os temas Balanço Social e Demonstração do Valor
Adicionado, por meio da análise de 31 pesquisas, sendo 14 dissertações, 1 tese e 16 artigos
defendidos/publicados no período de 1997 a 2005, pelos programas de pós-graduação (teses e
dissertações) e revistas nacionais na área contábil. Concluíram que a abordagem metodológica
empírica e a positivista não foram encontradas nas pesquisas, enquanto que a
fenomenológico-hermenêutica foi observada em 3%, as sistêmicas foram verificadas em
6,5%, as crítico-dialéticas em 35,5%, as funcionalistas em 26% e outras em 29% das
pesquisas analisadas. Perceberam também que o uso de técnicas de pesquisas é maior entre as
dissertações do que dentre os artigos. No que se refere aos artigos, 56% não atenderam aos
requisitos de relatório-técnico-científico.
Ribeiro Filho et al. (2006), procederam uma pesquisa epistemológica e metodológica
onde analisaram 54 dissertações, no período de 2001 a 2004, produzidas no âmbito do
Programa Multiinstitucional e Inter-Regional em Ciências Contábeis UnB, UFPB, UFPE e
UFRN. Os autores concluíram que existe a necessidade de um aprimoramento na formação
básica do pesquisador, quanto ao aprofundamento de conhecimento sobre metodologia
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cientifica, no intuito de ampliar os conhecimentos relacionados com os fundamentos


filosóficos e epistemológicos da pesquisa, bem como no que diz respeito às técnicas de
investigação.
Ponte et al. (2007) discutiram as metodologias e técnicas de pesquisa adotadas nos
artigos publicados no Brasil nas áreas de Administração e Contabilidade elegendo como tema
central o Balanced Scorecard. Tomaram por base 54 artigos publicados no período de 1999 a
2006. Verificaram com a pesquisa que aspectos metodológicos considerados elementares na
apresentação de trabalhos científicos não estão sendo observados pelos pesquisadores, por
exemplo, a explicitação do problema, dos objetivos e do detalhamento da metodologia
empregada. Ressaltaram também que as classificações apresentadas resultaram da análise de
conteúdo dos trabalhos investigados, já que a maioria dos autores não mencionava
explicitamente as classificações das pesquisas. Concluíram que há necessidade em avançar na
construção de trabalhos científicos de qualidade nas áreas de Administração e Contabilidade.
Considerando o exposto, a presente pesquisa poderá auxiliar o avanço em relação ao
estado de conhecimento existente, já que abordará a questão da dificuldade de classificação
metodológica das pesquisas contábeis no Brasil, quanto ao método de pesquisa, devido à
grande variedade de conceitos e terminologias utilizadas, muitas vezes, para se referir a um
mesmo termo ou assunto.

2.4 Situação das pesquisas contábeis no Brasil

Tendo em vista o que foi mencionado sobre a grande variedade de abordagens,


terminologias e conceitos no âmbito da metodologia, leva-se a pensar que isto ocorre devido à
ausência de um órgão central ou uma associação que regulamente a questão da pesquisa em
relação aos seus aspectos metodológicos, como ocorrem quanto os aspectos formais,
regulamentados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Nos últimos anos, o número de pesquisas científicas na área de contabilidade tem
aumentado, no entanto, no que tange ao rigor metodológico, ainda há um longo caminho a ser
percorrido. Observa-se que muitos pesquisadores da área contábil, apesar de possuírem
considerável conhecimento na área de atuação, não abordam de forma desejável os aspectos
metodológicos em suas pesquisas. Esta falha, porém, não pode ser completamente atribuída
aos pesquisadores, pois muitos deles só passam a ter um contato maior com o tema quando
ingressam em cursos de pós-graduação, como especialização, mestrado, doutorado etc, o que
gera dificuldade em absorver os conceitos metodológicos, visto que são vastos e controversos.
Conseqüentemente, a dificuldade em classificar suas pesquisas é inevitável
Considerando esta realidade, deveria haver por parte dos congressos e periódicos da
área, uma orientação maior aos pesquisadores que utilizam esses veículos para apresentar seus
trabalhos, começando por uma categorização mais específica das pesquisas, visto que os
congressos adotam poucas categorias e estas são muito abrangentes. Por exemplo, o
Congresso ANPCONT apresenta apenas quatro categorias, que são elas: CUE, CGC, MFC e
EPC. A primeira engloba uma infinidade de pesquisas que, muitas vezes, poderiam até ser
alocadas em algumas das outras três categorias. O próprio nome atribuído a ela é genérico e
dependendo do entendimento, uma variedade de pesquisas poderia ser nela enquadrada. Tal
situação, além de ser complicada para o pesquisador, que muitas vezes não sabe em qual
categoria seu trabalho será alocado, é complicada também para os usuários que necessitam
consultar assuntos específicos nos anais dos congressos.
Outra questão que deveria ser considerada pelos Congressos e periódicos nacionais é a
orientação aos pesquisadores quanto à classificação metodológica de seus trabalhos quanto ao
método de pesquisa. Haja vista a controvérsia de conceitos no âmbito da metodologia no

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Brasil, os eventos nacionais poderiam adotar um padrão terminológico a respeito do tema,


auxiliando, desta forma, os pesquisadores na classificação metodológica de seus trabalhos.

2.5 Metodologia adotada pelo Congresso Anual da EAA

No item anterior foram relatadas algumas deficiências encontradas nos Congressos e


periódicos da área contábil no Brasil e levantou-se a questão de haver, por parte destes, maior
colaboração com os pesquisadores no sentido de especificar mais as categorias onde eles
enquadrarão seus trabalhos e orientá-los na classificação metodológica, quanto ao método de
pesquisa utilizado.
A sugestão apresentada aos Congressos e periódicos brasileiros, já é uma realidade em
alguns eventos internacionais. Para exemplificar tal fato, escolheu-se o Congresso Anual da
European Accounting Association. A escolha desse Congresso como um exemplo a ser
adotado pelos congressos nacionais se deu porque, além de ser reconhecido
internacionalmente, o mesmo, visando manter um padrão nos trabalhos eleitos, orienta os
pesquisadores quanto à apresentação de suas pesquisas, enfatizando a necessidade de se
prezar por um rigor metodológico.
O primeiro passo dos pesquisadores ao enviarem seus trabalhos para este Congresso é
enquadrá-los em categorias, assim como é feito nos congressos brasileiros, porém, as
categorias adotadas pelo EAA são mais específicas. Atualmente, a divisão é realizada em
treze categorias, o que favorece e facilita a consulta de pesquisas nos anais do Congresso.
Além da classificação por categoria, o Congresso exige que os pesquisadores definam
o método de pesquisa, ou seja, as estratégias de investigação utilizadas para se coletar os
dados, de acordo com as opções apresentadas no quadro abaixo:
Classificação Tipo Descrição
Em Base de Dados
Realizado em uma base de dados ou em um arquivo pré-existente.
ou em Arquivo
Experimento Realizado por meio de experimento.
Empírico Em Campo ou
Realizado por meio de uma pesquisa de campo ou estudo de caso.
Estudo de Caso
Realizado por meio de inspeção detalhada - questionários estruturados
Survey
ou amostras e opiniões que possam ser tomadas pelo todo.
Analítico Ensaio em que ele manifesta seu ponto de vista.
Não-empírico
Teórico Proposição de uma nova teoria ou modelo teórico.
Quadro 3: Resumo da classificação, quanto ao método de pesquisa, dos trabalhos a serem enviados ao EAA.
Ademais, há a opção “Outros”, utilizada para classificar as pesquisas que não se
enquadram em nenhum dos critérios acima.
Desta forma, conclui-se que, segundo critérios adotados pela EAA, há apenas dois
grandes grupos para classificar as pesquisas quanto aos seus métodos: empíricas ou não-
empíricas; e a especificação delas, em survey ou estudo de caso, por exemplo, dependerá das
técnicas e instrumentos utilizados na coleta de dados.

3 PROCEDER METODOLÓGICO

Ante a controvérsia na classificação metodológica utilizada nas pesquisas brasileiras, a


descrição dos métodos de pesquisa será baseada nos critérios estabelecidos pelo Congresso da
EAA, visto que é uma classificação mais objetiva.
Para a elaboração desta pesquisa, foram selecionados os Congressos ANPCONT e
EnANPAD e a Revista de Contabilidade e Finanças da USP. Dentre as categorias
apresentadas nos congressos, duas foram selecionadas: Contabilidade para Usuários Externos
e Educação e Pesquisa em Contabilidade. No caso da revista, como não possui divisão em
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categorias, fez-se uma correspondência dos trabalhos nela apresentados, de acordo com o
assunto, com as categorias adotadas pelos Congressos.
Após esta seleção, extraíram-se dos Congressos e da revista alguns dados que serviram
de base para a elaboração de um banco de dados. Estes dados foram organizados em uma
planilha elaborada em Excel, que foi dividida em três pastas: a primeira para os dados
coletados no ANPCONT, a segunda para o EnANPAD e a terceira para a RCF/USP. Nestas
pastas montaram-se tabelas que continham os seguintes campos:
• Congresso – nome do congresso;
• Ano – ano de apresentação do trabalho em congresso ou de publicação na revista;
• Categoria – categorias de classificação dos trabalhos, que poderia ser: CUE ou
EPC;
• Título do artigo;
• Autor (es);
• Resumo – fez-se um “resumo do resumo”, de modo a extrair o método de pesquisa
utilizado;
• Classificação dos métodos de pesquisa – classificação dos artigos segundo os
critérios adotados pela EAA.
Concluída a elaboração da estrutura do banco de dados, iniciou-se a consulta aos
resumos dos trabalhos apresentados nos Congressos e os publicados na RCF/USP, no período
de 2005 a 2008. Por meio da técnica de análise de conteúdo, fez-se uma leitura desses
resumos, a fim de verificar qual metodologia foi utilizada na elaboração das pesquisas, visto
que, segundo a Norma da ABNT NBR 6028:2003, é obrigatório que o método seja
apresentado no resumo.
Para classificar os trabalhos quanto ao método de pesquisa, ou seja, a forma como os
dados foram coletados, utilizou-se os critérios adotados pela a EAA, que divide os métodos de
pesquisa em: empírico em base de dados ou em arquivo, experimento empírico, empírico em
campo ou estudo de caso, survey empírico, não-empírico analítico, não-empírico teórico e
outros.
Para o preenchimento do banco de dados adotou-se os seguintes critérios:
• Quando identificada descrição do método de pesquisa no resumo do artigo:
extraía-se o trecho em que mencionava o método e colava-se no campo “Resumo”
e no campo “Classificação dos métodos de pesquisa” realizava classificação
segundo critérios adotados pela EAA;
• Quando não identificada descrição do método de pesquisa no resumo do artigo: o
campo “Resumo” era preenchido com a informação: “Não menciona o método” e
o campo “Classificação dos métodos de pesquisa” com a informação: “Não
identificado”.
Finalizado o banco de dados, com o preenchimento de todos os campos, apurou-se a
quantidade de trabalhos analisados, segundo disposição na tabela a seguir:
Tabela 1: Total de trabalhos apresentados no período de 2005 a 2008.
Congresso / periódico Quantidade %
ANPCONT 44 11,83
EnANPAD 243 65,32
RCF 85 22,85
Total 372 100

4 RESULTADOS

4.1 Evolução quantitativa das pesquisas contábeis

  9
 

Com o objetivo de evidenciar a evolução das pesquisas contábeis no Brasil, no período


de 2005 a 2008, realizou-se uma busca nos anais dos Congressos ANPCONT e EnANPAD e
na RCF/USP pelas pesquisas enquadradas nas categorias: Contabilidade para Usuários
Externos (CUE) e Educação e Pesquisa em Contabilidade (EPC).
Verificou-se que o número total de trabalhos apresentados neste período foi de 372
artigos. Considerando os três eventos, houve crescimento na quantidade de trabalhos
apresentados para o período de 2005 a 2007 e uma leve queda no ano de 2008, representando
uma redução em torno de 4% em relação a 2007. Isto pode ser explicado pelo ano de 2008
ainda não ter chegado ao fim, portanto, apesar das apresentações nos Congressos ANPCONT
e EnANPAD já terem ocorrido, ainda haverão publicações na Revista de Contabilidade e
Finanças da USP.
Dos três eventos, o mais significativo em termos quantitativos é o EnANPAD. Isto se
deve, provavelmente, por ser o mais tradicional, visto que acontece desde 1976, apesar de ter
começado a apresentar trabalhos relacionados à área de contabilidade somente a partir de
1999 e, especificamente, nas categorias de CUE e EPC a parir de 2005.
Dentre as categorias CUE e EPC, observou-se que há uma concentração das pesquisas
na primeira categoria (75,5%), possivelmente, por esta englobar pesquisas de assuntos
variados, enquanto que a EPC (24,5%) abrange apenas os trabalhos voltados ao tema de
educação, ensino e pesquisa na área de contabilidade e como foi abordado anteriormente, este
tema ainda não é muito explorado pelos pesquisadores da área.
Analisando a situação das pesquisas em cada evento, em termos percentuais,
verificou-se que: no Congresso ANPCONT, 75% das pesquisas apresentadas foram
enquadradas na categoria CUE, contra 25% da categoria EPC. No EnANPAD, 72% das
pesquisas pertencem a categoria CUE e 28% à categoria EPC. Já na RCF/USP, 86% dos
trabalhos considerados fazem parte da categoria CUE contra apenas 14% da categoria EPC.
Na Tabela 2, a seguir, pode-se observar, além da evolução quantitativa das pesquisas
no período mencionado, a discrepância entre a quantidade de trabalhos apresentados nas
categorias CUE e EPC, em todos os eventos.
Tabela 2: Evolução quantitativa das pesquisas contábeis nos Congressos ANPCONT e EnANPAD e na
RCF/USP, distribuídas nas categorias CUE e EPC
Congresso/ Periódico Categoria 2005 2006 2007 2008 Total
CUE - - 16 17 33
ANPCONT
EPC - - 5 6 11
Subtotal - - 21 23 44
CUE 38 38 55 44 175
EnANPAD
EPC 12 18 18 20 68
Subtotal 50 56 73 64 243
CUE 15 30 19 9 73
RCF
EPC 3 1 4 4 12
Subtotal 18 31 23 13 85
Total 68 87 117 100 372

4.2 Pesquisas que abordam aspectos metodológicos

Considerando o fato de que ainda não há ênfase às pesquisas relacionadas ao tema de


EPC e que este trabalho discorre sobre a abordagem dos aspectos metodológicos nas
pesquisas contábeis no Brasil, fez-se um levantamento, dentro da categoria mencionada, sobre
a quantidade de trabalhos apresentados que são relacionados ao tema de metodologia, como
mostra a Tabela 3, a seguir:

  10
 

Congresso/Periódico 2005 2006 2007 2008 Total


ANPCONT - - 2 0 2
EnANPAD 1 2 1 4 8
RCF 0 0 0 0 0
Total 1 2 3 4 10
Nesta tabela pode-se verificar uma evolução da quantidade de trabalhos que abordam
os aspectos metodológicos da pesquisa no ano de 2005 a 2008, porém, esta evolução não foi
tão considerável se observado o total de pesquisas apresentadas e publicadas no período.
Das 91 pesquisas da categoria EPC, dos três eventos, apenas 10 são relacionadas a
aspectos metodológicos, o que representa, em termos percentuais, 11% do total de pesquisas
em EPC e 2,7% do total geral de pesquisas. Para o período em análise, a RCF/USP não
publicou nenhum trabalho relacionado ao tema de metodologia, o que chamou atenção tendo
em vista que a revista é um dos periódicos mais influentes da área acadêmica.
Dos 11 trabalhos apresentados na categoria EPC do Congresso ANPCONT no período
de 2007 a 2008, apenas 2 (18,2%) abordam temas relacionados a metodologia e este número
refere-se apenas ao ano de 2007, visto que em 2008 não houve apresentação de nenhuma
pesquisa sobre o assunto em questão. Já no Congresso EnANPAD, dos 68 trabalhos
enquadrados na categoria em questão, apenas 8 (11,8%) abordaram aspectos metodológicos
em pesquisas contábeis.
Entretanto, considerando a evolução anual do quantitativo dessas pesquisas no
Congresso EnANPAD, pode-se ter certo otimismo em relação aos períodos subseqüentes,
pois, exceto no ano de 2007, houve crescimento no número de pesquisas apresentadas. Em
termos percentuais, a representatividade dessas pesquisas em relação ao total de trabalhos
apresentados em EPC, por ano, foi de: 8,33% em 2005, 11,11% em 2006, 5,55% em 2007 e
20% em 2008. Portanto, como se pode observar, o ano de 2008 foi o mais significativo do
período em análise, gerando uma expectativa positiva para os anos seguintes em relação ao
aumento contínuo do número de pesquisas voltadas a esse tema.

4.3 Métodos de pesquisa mais usados nas pesquisas contábeis

Por ser a classificação metodológica das pesquisas contábeis no Brasil muito


controversa, surgiu a curiosidade de se verificar qual método de pesquisa é mais utilizado
pelos pesquisadores. Devido à diversidade bibliográfica sobre o tema, adotou-se a
classificação usada pelo Congresso Anual da EAA para identificar as pesquisas selecionadas
nas categorias de CUE e EPC dos Congressos ANPCONT e EnANPAD e da RCF/USP, no
período de 2005 a 2008. Na tabela abaixo está evidenciada a quantidade de trabalhos
classificados em cada método de pesquisa, no período em questão.
Tabela 4: Quantitativo dos trabalhos, segundo classificação adotada pela EAA
Métodos de Pesquisa 2005 2006 2007 2008 Total %
Empírico em Base de Dados ou em Arquivo 16 21 40 35 112 30,1
Survey Empírico 13 15 17 18 63 16,9
Empírico em Campo ou Estudo de Caso 4 6 6 5 21 5,7
Experimento Empírico 1 0 1 2 4 1,1
Não-Empírico: Analítico 7 1 6 8 22 5,9
Não-Empírico: Teórico 0 0 0 1 1 0,3
Outros 1 2 0 3 6 1,6
Não Identificado 26 42 47 28 143 38,4
Total 68 87 117 100 372 100

  11
 

Dos 372 trabalhos analisados, foi possível identificar nos resumos de 229 artigos
(61,6%) os métodos de pesquisa utilizados pelos pesquisadores, enquanto que em 143 artigos
(38,4%) os métodos de pesquisa não foram identificados porque não constavam no resumo ou
não estavam descritos explicitamente.
No período de 2005 a 2008, verificou-se uma preferência dos pesquisadores pelas
pesquisas empíricas, com 53,8% das pesquisas apresentadas, em relação às pesquisas não-
empíricas, com apenas 6,2%. Os 1,6% restantes - considerando o universo de 61,6% dos
artigos nos quais os métodos foram identificados - pertencem a classificação “Outros”, a qual
engloba as pesquisas que, apesar de apresentarem o método no resumo, não se encaixam em
nenhuma das classificações anteriores.
Dentre os métodos considerados, o mais adotado foi o empírico em base de dados ou
em arquivo, tanto no grupo dos empíricos quanto no universo total das pesquisas, com 30,1%
da quantidade total de artigos. Os demais métodos empíricos apresentaram a seguinte
representatividade considerando o total das pesquisas: survey empírico – 16,9%, empírico em
campo ou estudo de caso - 5,7% e experimento empírico - 1,1%. Já em relação ao grupo dos
métodos não-empíricos, o mais adotado foi o não-empírico analítico, classificado em 5,9%
das pesquisas, seguido do não-empírico teórico com 0,3%.
Um dos métodos que mais chamou atenção foi o empírico em campo ou estudo de
caso. Este foi utilizado pelos pesquisadores em apenas 5,7% dos trabalhos considerados,
todavia, em muitos casos, observou-se nos títulos desses trabalhos a presença do termo “um
estudo de caso”, quando na realidade, não é o que método descrito nos resumos representa.
Outro fato que merece destaque é a questão da quantidade de trabalhos que não
mencionaram no resumo o método de pesquisa utilizado em sua elaboração. Isto evidencia
desatenção dos pesquisadores com relação à norma da ABNT, a qual rege os aspectos formais
do artigo e ressalta que no resumo deve constar o método.

4.4 Representatividade dos métodos de pesquisa nos Congressos ANPCONT, EnANPAD


e na RCF/USP

Além da curiosidade em se verificar qual método de pesquisa foi mais utilizado pelos
pesquisadores, no período de 2005 a 2008, buscou-se também evidenciar entre os eventos
escolhidos como fonte de pesquisa, qual o método de pesquisa é predominante nos trabalhos
apresentados em cada um deles.
A tabela abaixo relaciona os métodos de pesquisa e a quantidade de trabalhos
apresentados em cada evento:
Tabela 5: Quantitativo dos trabalhos, segundo classificação adotada pela EAA, nos Congressos ANPCONT e
EnANPAD e na RCF/USP, no período de 2005 2008
Métodos de Pesquisa Anpcont % Enanpad % RCF % Total
Empírico em Base de Dados ou Arquivo 14 31,8 85 35,0 13 15,3 112
Survey Empírico 5 11,4 47 19,3 11 12,9 63
Empírico em Campo ou Estudo de Caso 2 4,5 17 7,0 2 2,4 21
Experimento Empírico 0 0 4 1,7 0 0 4
Não-Empírico: Analítico 3 6,8 13 5,4 6 7,1 22
Não-Empírico: Teórico 0 0 1 0,4 0 0 1
Outros 0 0 3 1,2 3 3,5 6
Não Identificado 20 45,5 73 30,0 50 58,8 143
Total 44 100 243 100 85 100 372

  12
 

De um total de 44 trabalhos apresentados no Congresso ANPCONT, nos anos de 2007


e 2008, 31,8% foram classificados como empírico em base de dados ou em arquivo, 11,4%
em survey empírico, 4,5% em empírico em campo ou estudo de caso e 6,8% em não-empírico
analítico. Não houve pesquisas classificadas nos métodos: experimento empírico, não-
empírico teórico e outros. Os 45,5% restantes correspondem às pesquisas enquadradas no
critério “Não identificado”, visto que não foi possível identificar o método de pesquisa, pois
não constava descrição ou esta não estava explícita.
O Congresso EnANPAD apresentou nos anos de 2005 a 2008 um total de 243
pesquisas, sendo que 35% foram classificadas como empírico em base de dados ou em
arquivo, 19,3% em survey empírico, 7% em empírico em campo ou estudo de caso, 1,7% em
experimento empírico, 5,4% em não-empírico analítico, 0,4% em não-empírico teórico e
1,2% em outros. O percentual de pesquisas classificadas em “Não identificado” foi de 30%.
Na Revista de Contabilidade e Finanças da USP constatou-se certa semelhança com o
Congresso ANPCONT, considerando os métodos de pesquisa encontrados. Assim como no
ANPCONT, também não houve na RCF/USP pesquisas classificadas nos métodos:
experimento empírico e não-empírico teórico. Do total de 85 trabalhos para o período em
questão, 15,3% foram classificados como empírico em base de dados ou em arquivo, 12,9%
em survey empírico, 2,4% em empírico em campo ou estudo de caso, 7,1% em não-empírico
analítico e 3,5% em outros. Já as pesquisas enquadradas no critério “Não identificado”
representaram o percentual de 58,8% das pesquisas publicadas neste evento, ou seja, mais da
metade desses trabalhos não mencionaram em seus resumos o método utilizado.
Verificou-se, portanto, que o Congresso EnANPAD foi o que apresentou maior
diversidade de métodos de pesquisa nas pesquisas, visto que este continha pelo menos uma
pesquisa classificada em cada método, diferentemente do que ocorreu no Congresso
ANPCONT que não possuía nenhuma pesquisa classificada nos métodos: experimento
empírico, não-empírico teórico e outros, no total dos quatro anos, bem como a RCF/USP, que
não possuía nenhuma pesquisa classificada no método experimento empírico ou não-empírico
teórico.
Além disso, o EnANPAD também foi o que apresentou o melhor resultado em relação
à quantidade de pesquisas que continham em seus resumos a descrição do método de
pesquisa. Considerando os percentuais apresentados pelo Congresso ANPCONT e pela
RCF/USP para o critério “Não identificado”, que foram respectivamente, 45,5% e 58,8%, o
EnANPAD ficou a frente, com o percentual de 30%. Contudo, esse resultado não significa
uma situação favorável, visto que o ideal seria que 100% dos trabalhos descrevessem no
resumo o método de pesquisa utilizado.
Quanto aos métodos de pesquisa e sua representatividade nos eventos, constatou-se
que os métodos: empírico em base de dados ou em arquivo, survey empírico, empírico em
campo ou estudo de caso, experimento empírico e não-empírico teórico, foram mais
representativos no Congresso EnANPAD, já os métodos: não-empírico analítico e outros
foram mais representativos na RCF/USP.
No geral, pode-se dizer que a preferência dos pesquisadores em relação aos métodos
de pesquisa é: 1) empírico em base de dados ou em arquivo; 2) survey empírico; 3) não-
empírico analítico; 4) empírico em campo ou estudo de caso; 5) outros; 6) experimento
empírico; e 7) não-empírico teórico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o exposto neste trabalho, constatou-se que há necessidade de se dar


mais ênfase as pesquisas contábeis realizadas no Brasil, principalmente com relação aos seus
aspectos metodológicos, visto que ainda há muita controvérsia nos conceitos e terminologias
  13
 

relacionados ao tema. Este é um dos grandes problemas enfrentados pelos pesquisadores da


área que por não possuírem bibliografias com um padrão terminológico em que possam se
basear para realizar suas pesquisas, muitas vezes acabam fazendo confusão no momento de
classificá-las metodologicamente.
No que tange a diversidade de classificações, terminologias e conceitos a respeito dos
aspectos metodológicos, pode-se considerar que isto acontece devido à ausência de um órgão
ou associação que pudesse dar as diretrizes a respeito destas questões, como ocorre, por
exemplo, com a regulamentação dos aspectos formais das produções textuais pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Uma alternativa para reduzir as dificuldades por parte dos pesquisadores seria as
instituições de ensino superior darem mais ênfase às questões metodológicas desde a
graduação, pois assim, os alunos poderiam assimilar mais cedo o conteúdo de metodologia e
aprender a lidar com as contradições que ele apresenta. No entanto, o que ocorre,
normalmente, é que estes alunos só passam a ter contato com temas relacionados à
metodologia quando ingressam em cursos de pós-graduação, enfrentando assim, dificuldades
ao discorrer sobre o assunto.
Além disso, há também a questão da falta de orientação aos pesquisadores, por parte
dos congressos e periódicos da área, quanto à classificação das pesquisas. Tal fato deveria ser
repensado por estes eventos, podendo até mesmo seguir o exemplo de congressos e periódicos
internacionais, como o Congresso Anual da European Accounting Association, que dá aos
pesquisadores o direcionamento necessário quanto à classificação metodológica dos trabalhos,
apresentando não só as categorias como também os métodos de pesquisa nos quais eles
deverão enquadrar suas pesquisas.
Com relação aos resultados obtidos na pesquisa, verificou-se uma evolução no número
de pesquisas apresentadas no período de 2005 a 2007, com uma leve queda no ano de 2008.
Quanto aos métodos de pesquisa, o empírico em base de dados foi o método mais
utilizado pelos pesquisadores da área contábil, considerando os Congressos ANPCONT e
EnANPAD e a Revista de Contabilidade e Finanças da USP, no período de 2005 a 2008.
Todavia, o Congresso EnANPAD foi o que apresentou em seus trabalhos a maior diversidade
de métodos de pesquisa, tendo pelo menos uma pesquisa classificada em cada método.
Além disso, verificou-se que 38,4% dos trabalhos apresentados não descreveram, ao
menos não de forma explícita, o método de pesquisa no resumo, desobedecendo a Norma da
ABNT NBR 6028, de novembro de 2003, a qual dispõe no item 3.1 que “[...] o resumo deve
ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do documento.” (grifo nosso).
Por fim, é válido ressaltar a importância das pesquisas contábeis para o crescimento
dos estudos na área, bem como a necessidade de serem observadas as questões relacionadas
aos aspectos metodológicos, visto que esse ainda não é um tema muito abordado na área
acadêmica e possui alguns problemas que precisam ser sanados para que essas pesquisas
possam evoluir cada vez mais e de forma mais estruturada.

  14
 

REFERÊNCIAS

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1
 O conceito e a classificação dos métodos de pesquisa serão abordados no item 2.5 Metodologia adotada pelo
Congresso Anual da EAA. 
2
 Este termo está no sentido de cursos posteriores a graduação, como especialização, mestrado, doutorado etc. 

  16

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