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Pivetim

Délcio Teobaldo
Ilustrações
Temas Menores abandonados / Vida nas ruas / Pobreza e
violência / Trabalho infantil / Puberdade

GUIA DE LEITURA
PARA O PROFESSOR

Série Vermelha nº 21
176 páginas

O LIVRO Relato brutal de um menino de rua em luta O AUTOR Délcio Teobaldo nasceu em 1953,
pela sobrevivência. Em meio aos economicamente em Ponte Nova, Minas Gerais, e reside atu-
desvalidos, o protagonista desfia suas lembranças almente em Maricá, Rio de Janeiro. Músico,
numa narrativa sensível e comovedora, alternando artista plástico e pesquisador de culturas po-
passado e presente, poesia e choque. pulares, Délcio também atua como jornalis-
Pela voz desse narrador, emerge o espaço social das ta, diretor e produtor de cinema e televisão,
grandes cidades, que agrega diferentes tipos humanos: roteirista. Como autor publicou A filosofia
do menor abandonado ao policial corrupto, das tradições afro-brasileiras; Cantos de fé,
do comerciante (camarada ou explorador) às gangues de trabalho e de orgia – O jongo rural de
rivais em disputa por território, aos jornaleiros que Angra dos Reis e, para o público infantoju-
facultam o acesso à informação, aos velhos
venil, Isto é coisa da idade e Quatro
benfazejos, que alimentam pombos e gatos nas
tranca- dos no quarto, entre outros títulos.
praças.
A permanente ameaça da fome, a criminalidade e a
violência definem as coordenadas em que transcorre
a história de Pivetim, encadeada pelo fio da memória
e da fantasia, mas interrompida por lances de
tragédia (estupro, assassinato, sequestro, aborto). Um
testemunho dos que vivem à margem em metrópoles
marcadas pela desigualdade.
Pivetim DÉLCIO TEOBALDO

Mergulhando INTERPRETANDO O TEXTO


na temática
INFÂNCIA E ABANDONO
TRABALHO INFANTIL
O romance se inicia com a desagregação do núcleo familiar
Apesar da proibição do trabalho infantil do protagonista, abandonado pelos pais quando tinha aproxida-
e da existência do Estatuto da Criança e mente 8 anos. Tal desagregação, determinada sobretudo pela
do Adolescente, o trabalho infantil po- breza, foi desencadeada pelo roubo da bolsa de dona
ainda persiste no Brasil. Felicidade, avó do protagonista, cuja pensão sustentava os
Segundo dados do IBGE (Instituto demais familiares. O roubo, praticado pelo cunhado de Pivetim
Brasileiro de Geografia e Estatística), (com a colaboração do próprio garoto), precipita a ruína da
publicados em 2007, mais de 1,2 família: seca a fonte de subsistência e, em seguida, a avó
milhão de crianças e adolescentes de 5 morre.
a 13 anos exercem algum tipo de Pivetim passa então a viver nas ruas. Encontra abrigo em
trabalho, remunerado ou não, uma comunidade de menores carentes e infratores, que dormem
principalmente em atividades agrícolas. sob uma marquise no centro da cidade.
A certa altura, para sobreviver, Pivetim passa a fazer ‘bicos’
A fim de obter informações mais
nos restaurantes, vendendo flores e amendoins e lavando pratos.
detalhadas acerca desse grave No entanto, boa parte do escasso dinheiro obtido dessa maneira
problema, consultem-se com proveito vai embora por causa das comissões que ele tem de pagar ao pa-
os seguintes sites: trão e ao vigilante particular que o extorque, supostamente em
http://www.ibge.gov.br/home/presiden- troca de segurança. Vemos aqui o problema do trabalho infantil,
cia/noticias/noticia_impressao.php?id_ que impede o jovem de estudar e brincar, tolhendo seu desenvol-
noticia=1117 vimento físico e psicológico e o expondo a uma série de riscos.
Relatório (2008) com gráficos e tabelas
do PNAD (2006).
MUNDOS SOBREPOSTOS
A paisagem social descrita pelo romance compõem um ver-
http://www.mte.gov.br/trab_infantil/car-
dadeiro painel etnográfico de tipos urbanos, orientados por
tilha_trabalho_infantil/default.html
có- digos e valores específicos. O espaço físico é marcado pela
Site do Ministério do Trabalho e
segre- gação sócio-econômica em que se cruzam pedintes e
Emprego com Cartilha digital interativa
infratores, jornaleiros e donos de restaurante, velhos e crianças.
com informações sobre o trabalho
Ressaltam- se assim a distância e os pactos entre os
infantil e ilustrações de Ziraldo. representantes da ordem e os fora-da-lei, entre os “de
htt p://www.bbc.co.uk/portuguese/ menores” e os “sujeitos-homens”, meninos e meninas etc.
noticias/2003/030428_tperguntas.shtml Pivetim é uma espécie de figura media- dora, que transita por
Site da BBC Brasil, com respostas a vários mundos e sobrepõe perspectivas em um relato marcado
perguntas frequentes (FAQ) sobre pela alternância entre realidade e devaneio, numa espécie de
trabalho infantil. contraponto que estrutura a narrativa.

ETNOGRAFIA URBANA A CHURRASCA E AS PRÁTICAS DE EXTERMÍNIO


Etnografia é a ciência que investiga Dentre os muitos horrores a que está sujeita a população em
e descreve as práticas e saberes situação de rua, estão as práticas de extermínio, muitas vezes
dos indivíduos de determinado le- vadas a cabo por agentes da lei, contando amiúde com o
grupo apoio mais ou menos velado de alguns segmentos da sociedade.
social, seus costumes, crenças, hábitos,
tradições. Na etnografia urbana, tal
investigação toma por objeto os
espaços da cidade.

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* Os destaques remetem ao item Mergulhando na temática.
Piveti DÉLCIO

narrativos.

No caso das tribos urbanas, a cultura


grupal é definida não apenas pelo
modo de falar, de se vestir, de se
apresentar socialmente, de circular...,
mas pelo conjunto de práticas cotidianas
adotadas por seus membros. Temas
etnográficos como limites de território,
alianças e rivalidades, divisão de
tarefas, hierarquia e partilha, tabus e
proibições aparecem em Pivetim à
medida que a narrativa se desenvolve.

Deve-se sobretudo à literatura de


tradição naturalista a ficcionalização
de dados etnográficos, o desejo de
representar a sociedade de modo
abrangente, com mistura de diferentes
registros de linguagem (veja-se por
exemplo a reprodução do o jargão da
rua – fruto de cuidadosa pesquisa do
autor – e seu contraponto com a fala
“objetiva” dos noticiários de tevê, nas
passagens dedicadas à repercussão da
churrasca).

A CONSTRUÇÃO DO
CONTRAPONTO
A palavra contraponto designa
originalmente um tipo de composição
musical em que duas ou mais linhas
melódicas se desenvolvem ao mesmo
tempo de modo harmonioso. Na
literatura, o contraponto define
igualmente o recurso ao
simultaneísmo, em que sequências
narrativas se alternam em contrastes de
tempo, ponto de vista, de tom e/ou de
atmosfera. Esta técnica narrativa foi
empregada de modo notável pelo
escritor norte-americano Aldous
Huxley (1894-1963) no romance
Contraponto, de 1928. Mais perto de
nós, o escritor rio-grandense Érico
Veríssimo (1905-1975) se valeu dessa
técnica no romance Caminhos
cruzados, de 1935, livro cuja trama é
organizada a partir de vários focos

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Piveti DÉLCIO
própria avó.
Tais práticas, sobretudo quando São verdadeiros tesouros, objetos biográficos que se
ocorrem nas regiões centrais das tornam símbolos da vida de seus donos. Graças a tais objetos, o
grandes metrópoles, com frequência sujeito pode encontrar fora de si um apoio para a memória.
estão comprometidas com propósitos
de segregação social que, submetendo
o espaço público a interesses privados, Em Pivetim, vemos exemplos da técnica contrapontística no
dele retiram a população pobre. uso de flashbacks e no contraste entre cenas de violência/
Em Pivetim, o episódio da opressão e momentos mais oníricos e poéticos (como o
churrasca ilustra de modo contun- devaneio do circo, as cenas com o velho dos pombos e a
dente essa mentalidade segregacionista, mulher dos gatos etc.). Veja-se em mais detalhe a cena em
e parece aludir a um fato real ocorrido que o menino é libertado do cativeiro, imediatamente seguida
há mais de uma década na cidade do pela lembrança do muro com cacos de vidro colorido, que
Rio de Janeiro: a chacina da Calendária. brilhavam ao sol e “cantavam”, dedilhados pela chuva.
Tal tragédia ocorreu na madrugada de
23 de julho de 1993, nas imediações da
igreja da Candelária, Centro histórico
do Rio, e resultou na morte de seis
menores de rua (e de dois adultos sem-
teto), assassinados a tiro pela polícia
militar.
A notícia correu o mundo e provocou
protestos de diversos órgãos
internacionais ligados à proteção da
criança.

TRALHAS, CACARECOS, CACARÉUS


Sem referências estáveis (um
ambiente físico acolhedor e vín- culos
familiares duradouros e seguros), os
moradores de rua fre- quentemente
encontram dificuldades na construção
da própria identidade. Acossados muitas
vezes por um passado traumático e um
futuro sem perspectivas, elas muitas
vezes se limitam à frui- ção do presente
imediato, numa sucessão de momentos
descon- tínuos – o que implica enorme
ônus subjetivo.
Não é casual que muitas desses
indivíduos carreguem consigo uma série
de objetos aparentemente sem valor,
espécie de lastro para a elaboração de
uma história pessoal menos lacunar e
frag- mentária, vestígios de experiências
partilhadas que garantem um mínimo de
autorreconhecimento. Donde as tralhas
que acumu- lam, os cacarecos que
guardam com grande zelo: as fotos,
anéis e colares do Que Fedor, os
recortes do Maravilha, a embalagem do
doce que levou Pivetim a enganar a
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Piveti DÉLCIO

DIALOGANDO COM OS ALUNOS


SEGREGAÇÃO SOCIAL ANTES DA LEITURA
Nas grandes cidades brasileiras, o • Como aquecimento para a leitura, pode-se começar estimulan-
do a turma a refletir sobre o título do livro, Pivetim. Corruptela
problema da população em situação de
de “pivetinho”? Seria instigante consultar o dicionário, que traz
rua é grave e vem assumindo no verbete a conotação pejorativa do termo pivete – “menino
proporções alarmantes nos últimos que rouba, geralmente vive nas ruas ou trabalha para ladrões”
anos. Apenas no município de São (Houaiss). Verificar se o emprego da forma diminutiva reforça
Paulo, por exemplo, segundo estudo os aspectos negativos ligados ao termo (como em “doutorzi-
feito pela Fundação Instituto de nho”, “povinho”, “livreco”) ou os atenua, nomeando o
menino de rua de modo mais afetuoso.
Pesquisas Econômicas (FIPE), em 2007,
A partir daí, o professor poderia instar os alunos a expor o
revelou a existência de cerca de 18.000 que eles já sabem sobre a vida desses menores: veem algum em
moradores de rua, um crescimento de seus trajetos pela cidade? Já leram livros sobre o assunto?
mais de 100% à primeira avaliação Viram do- cumentários? Filmes? Socializar experiências.
feita pela FIPE em 2000, quando foram
registrados 8088 casos. DURATE A LEITURA
No entanto, as respostas para tal
• O autor de Pivetim soube retirar grande efeito expressivo do
uso de gírias e expressões coloquiais que estilizam o modo de
problema, dividem urbanistas, falar do povo da rua. Assó, caô, defensa, mermão,
sociólogos, políticos e a população de brodagem, churrasca, os home... são muitos os exemplos que
modo geral. Frequentemente as o aluno pode recolher ao longo do livro. O professor poderia
políticas públicas para essa população então pedir para os alunos elaborarem uma lista desses termos
se restringem à “solução” dos albergues e expressões de cunho oral, que seria o ponto de partida para
(cujo número de vagas é insuficiente e
uma pesquisa mais ampla sobre gírias. As gírias presentes no
livro definem alguma cidade ou região do Brasil? Remetem a
as condições de atendimento,
classes sociais ou a grupos específicos? São utilizadas
precárias), sem pensar em alternativas exclusivamente no am- biente urbano ou incorporam
de trabalho e habitação. elementos de extração rural? É possível “datá-las” de alguma
maneira? Elas estão em uso ainda ou já começam a ser coisa
Com relação às áreas urbanas de uso
do passado?
comum, como praças, jardins e
A partir dessa discussão, sugere-se a elaboração de novas lis-
calçadas, sobretudo nas áreas centrais, tas, que representem o modo de falar de outros grupos, locais
o discurso dos poderes públicos e épocas: o jargão policial, o médico, o esportivo, as gírias da
costuma confundir revitalização urbana elite, o internetês, expressões mais usadas por adolescentes, por
com segregação social, promovendo gente mais velha etc.
reformas a fim de expulsar os • Outro elemento que contribui fortemente para a caracteriza-
ção dos personagens são os tais “objetos biográficos” de
moradores de rua (como o cercamento cada um. Bala Perdida leva um pedaço de metal,
de praças, a substituição de bancos por supostamente o estilhaço da bala que o feriu. Que Fedor,
assentos em que não se pode dormir). carrega um envelope com documentos e fotos da família que
Desse modo desfaz-se a vocação já teve e perdeu, Mara- vilha coleciona recortes de jornal com
democrática da cidade como espaço de
imagens da família que almeja ter, e assim por diante.
emancipação, de troca e hospitalidade,
Com base nisso, sugere-se um exercício de produção
textual em que os alunos se dividam em grupos e
local de encontro entre indivíduos de componham um personagem a partir de cinco objetos que
diferentes origens, posições sociais, serão apresentados
credos, convicções..., que se
reconhecem mutuamente como
detentores de direitos e se vinculam por
meio de obrigações recíprocas.

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Piveti DÉLCIO

à classe. Cada grupo expõe sua “coleção” aos demais, que


po- dem lançar questões sobre a o dono daqueles objetos: É
ho- mem ou mulher? Qual sua idade, seus hábitos, suas
OBJETOS BIOGRÁFICOS manias? Onde guarda os objetos? Há quanto tempo os carrega
Como forma de resistir à fragmentação
etc. Após responder as questões, cada grupo deve elaborar um
retrato da personagem no qual apareçam esses objetos. A
da história pessoal (fruto da dissolução atividade se encerra com a exposição das redações num
do lar, da perda das referências painel, se possível, ilustrado por imagens dos objetos nelas
familiares e da vida sob permanente mencionados.
risco), os meninos de rua recorrem a
objetos prosaicos e ordinários sobre os DEPOIS DA LEITURA
quais projetam lembranças, • No Brasil atual, a despeito das proibições legais, algumas
experiências famí- lias ainda permitem que suas crianças trabalhem. Por
e desejos, o que lhes dá a sensação quê? Um debate pode ser proposto. A classe pode ser dividida
de pertencer à sociedade, a ilusão de em
raízes e permanência, reafirmando sua dois blocos: um deles deve assumir o ponto de vista da
identidade sempre que esses objetos família, com argumentos que justifiquem a necessidade de
uma crian- ça ou pré-adolescente trabalhar. A outra deve
são manuseados ou evocados.
rebater os argu- mentos. Assumir um ponto de vista difícil de
Segundo a pensadora francesa Viollete ser defendido é um exercício de persuasão muito produtivo.
Morin (MORIN, Violette. “L’Objet”. Para organizar a discussão, é necessário marcar o tempo de
Communications 13, 1969), esses cada aluno na apresentação de argumentos. Isso é importante
pertences aparentemente inúteis são
para que aprenda a ser conciso e organize sua fala. Pode ser
permitida a réplica e a tréplica, dependendo da decisão do
‘objetos biográficos’, encarnações gru- po. É importante lembrar que os argumentos devem
materiais de nossa memória que nos basear-se em fatos e, se possível, dados concretos.
ajudam a recompor determinado Outra proposta pode ser a discussão de como a sociedade
momento ou cena vivida. Uma foto, um pode ajudar a acabar com o trabalho infantil. O que cada
livro, uma notícia de jornal, um relógio estado, município, empresa ou loja comercial pode fazer,
velho, um folheto de viagem, uma flor coletiva ou individualmente para evitar atividades que
explorem crianças.
seca... estabelecem um vínculo
concreto, material, entre as emoções
• A leitura de Pivetim chama a atenção do leitor pela
mediação literária de dados factuais. De um lado, há o
vividas e a sombra das lembranças que objetivo de retratar a realidade com crueza, de outro, o
guardamos. Ainda a esse respeito, filtro ficcional, garantido pelo manejo de recursos como a
comenta a psicóloga social Ecléa Bosi: linguagem figurada, o ritmo sincopado das frases curtas, as
“Se a mobilidade e a contingência interrupções líricas que criam um contraponto para as cenas
de violência etc. As cenas do romance causam impacto no
acompanham nossas relações, há algo
leitor porque falam de tragédias muito concretas, mas o
que desejamos que permaneça imóvel impacto seria o mesmo se o infortúnio viesse estampado em
[...]: o conjunto de objetos que nos forma de notícia? “A dor da gente não sai no jornal”, como
rodeiam. [...] Mais que uma sensação ensina a letra de um antigo samba.
estética ou de utilidade, eles nos dão Um exercício interessante para refinar a percepção da
um assentimento à nossa posição no distância entre o registro factual e a transfiguração literária
seria com- parar, no capítulo 29, o diálogo entre os
mundo, à nossa identidade; e os que es-
sequestradores de Pi- vetim a respeito da churrasca e a
tiveram sempre conosco falam à nossa notícia de tevê no final (a co- bertura jornalística ressurge no
alma em sua língua natal. [...] capítulo seguinte o no capítulo 33). Vale a pena observar
Quanto mais voltados ao uso quotidiano detidamente as diferenças de ritmo, de linguagem e de ponto
mais expressivos são os objetos: os de vista.
metais se arredondam, se ovalam, os
cabos de madeira brilham pelo contato

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Piveti DÉLCIO

O exercício poderia prosseguir com a transposição de outra


cena do romance para a linguagem jornalística (por exemplo,
a morte de Que Fedor) e , inversamente, na transformação de
com as mãos, tudo perde as arestas e se uma notícia de jornal em um diálogo fictício entre dois mora-
abranda.
dores de rua.
• Por fim, sugere-se que os alunos pesquisem um pouco o con-
Diferentes são os ambientes arrumados ceito gentrificação (de gentry, termo inglês usado para se
para patentear status, como um décor de referir à pequena nobreza) ou “enobrecimento urbano” – que
teatro: há objetos que a moda valoriza, designa um conjunto de intervenções urbanísticas destinadas à
valori- zação imobiliária de determinados espaços da cidade
mas não se enraízam nos interiores ou
mediante a expulsão de moradores tradicionais, em geral
têm garantia por um ano, não envelhecem pertencentes às classes economicamente desfavorecidas.
com o dono, apenas se deterioram. A pesquisa poderia incluir visitas a albergues da prefeitura,
Só o objeto biográfico é insubstituível:
bem como entrevistas com urbanistas, agentes da prefeitura,
membros de associações de bairro e moradores de rua.
as coisas que envelhecem conosco nos
As informações resultantes dessa investigação poderiam ser
dão a pacífica sensação de apresentadas sob a forma de seminário ou expostos em um
continuidade. (BOSI, Ecléa. grande mural para o restante da escola.
“A substância social da memória. sob o
signo de Benjamin”. O tempo vivo da
ELABORAÇÃO DO GUIA LAIZ BARBOSA DE CARVALHO – PROFESSORA DA ESCOLA
memória: ensaios de Psicologia Social.
SUÍÇO-BRASILEIRA DE SÃO PAULO; PREPARAÇÃO FABIO WEINTRAUB;
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003) REVISÃO

PARA SABER MAIS


Livros
AMADO, Jorge. Capitães da areia (São
de um menino que, abandonado pelos pais, passa por
Paulo: Companhia das Letras, 2009).
reformatórios e vai parar na rua, onde se torna traficante de
Romance que trata dos meninos
drogas, cafetão e assassino, tudo antes de completar 12 anos.
abandonados que vivem em trapiches
Como nascem os anjos (1996), de Murilo Sales.
na cidade de Salvador, Bahia.
Riofilme. 96 min.
BAFFERT, Sigfried. Operários com dentes
Após o assassinato involuntário do chefe do tráfico no morro
de leite (São Paulo: Edições SM, 2006)
Dona Marta, Rio de Janeiro, Maguila foge da favela com
Três relatos de diferentes épocas e
Branquinha, menina de 13 anos que se apresenta como sua
lugares, testemunhando a espoliação
mulher. De roldão levam outra criança, Japa, fiel amigo de
da infância em contextos históricos
Branquinha. No meio da fuga, o trio invade a casa de um
variados.
norte-americano em um bairro grã-fino, tornando-o refém .
LINS, Paulo. Cidade de Deus. (São Ônibus 174 (2002), de José Padilha. Riofilme. 133 min.
Paulo: Documentário sobre o sequestro de um ônibus urbano na
Companhia das Letras, 2007). Zona Sul do Rio de Janeiro, conduzido por um sobrevivente
Um retrato da vida na favela carioca da chacina da Candelária.
Cidade de Deus: das origens de Cidade de Deus (2002), de Fernando Meireles. O2 Filmes. 130
conjunto habitacional popular até sua minutos.
conversão em reduto do narcotráfico. Baseado no romance homônimo de Paulo Lins, o filme sim-
Filmes plifica a multiplicidade de perspectivas do livro,
Pixote, a lei do mais fraco (1981), de narrando a história do ponto de vista de Buscapé, garoto
Hector Babenco. Embrafilme/HB Films. pobre da comunidade que resiste aos apelos do narcotráfico.
127 min.
Clássico sobre o tema da infância
desamparado, o filme conta a história

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