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Como se fazia um deputado

1. Breve Biografia do Autor e Outras Obras

França Júnior foi um dramaturgo brasileiro do século XIX, nascido em 1838 e falecido em
1890. Além de dramaturgo, foi também advogado, jornalista e político. Sua obra teatral é
marcada por uma abordagem crítica e satírica dos costumes e da política brasileira da época.

Entre suas outras obras, destacam-se peças como "Meia Hora de Cinismo", "Maldita
Parentela" e "As Doutoras". França Júnior é reconhecido por sua habilidade em retratar a
sociedade e os costumes do Brasil imperial com humor e perspicácia.

2. Breve Sinopse da Peça

A peça se passa na fazenda do Major Limoeiro, onde ocorre uma eleição para deputado. O
jovem formado em direito, Henrique, chega à fazenda de seu tio e se envolve nas tramas
políticas locais. A trama aborda temas como o voto de cabresto, manipulação política e a
presença de escravos na sociedade.

3. Questões Abordadas

A peça explora a corrupção eleitoral, a influência dos coronéis e a falta de liberdade de


escolha dos votantes. Também aborda a relação entre poder e manipulação, bem como a
exploração do trabalho escravo.

Voto de Cabresto: A prática do voto de cabresto, retratada na peça, envolvia a manipulação


dos eleitores por parte dos coronéis políticos. Essa estratégia de controle, baseada em favores,
ameaças ou coerção, ainda ecoa em algumas regiões do Brasil. Mesmo com avanços
democráticos, a influência dos poderosos nas eleições persiste, seja por meio de compra de
votos, clientelismo ou outras táticas.

Manipulação Política: A peça revela como os políticos eram criados e como a população era
muitas vezes manipulada. A falta de liberdade de escolha dos votantes é um tema central.
Hoje, ainda enfrentamos desafios semelhantes, como a disseminação de notícias falsas, a
polarização política e a influência de grupos de interesse.

4. Relação com o Contexto Atual

A manipulação política e a busca pelo poder são temas atemporais. A presença de escravos na
peça, embora naturalizada na época, nos faz refletir sobre como nossa sociedade evoluiu e
como ainda enfrentamos desafios relacionados à igualdade e aos direitos humanos. O paralelo
com o filme “Assassinos da Lua das Flores” nos mostra que, mesmo em contextos diferentes,
a busca pelo poder e as consequências de nossas ações continuam a moldar nossa história.

Em resumo, Como se fazia um deputado nos convida a questionar e compreender nossa


própria sociedade e política, lembrando-nos de que, embora o tempo tenha passado, muitos
desses dilemas persistem.

5. Análise Crítica

Visões Naturais da Sociedade do Século XIX:


A presença de escravos na peça, caracterizados apenas como trabalhadores braçais,
reflete a realidade da época. Essa visão naturalizada da escravidão, sem críticas
explícitas, nos mostra como a sociedade aceitava essa prática como parte do cotidiano.
Hoje, recriminamos essa visão, mas é importante reconhecer que era uma realidade
histórica.
Exploração do Voto de Cabresto:
A peça revela de forma criativa como o voto de cabresto era executado. Os coronéis
políticos manipulavam os eleitores, controlando seus votos por meio de favores,
ameaças ou coerção. Essa prática ainda ecoa em algumas regiões do Brasil, mostrando
que a manipulação política persiste ao longo do tempo.
Comédia e Moralidade:
O texto é intencionalmente cômico, mas a comédia daquela época não é avaliada com
a mesma graça pela sociedade atual. Partes que seriam engraçadas no século XIX
podem ser percebidas como moralmente questionáveis hoje. Isso nos faz refletir sobre
como nossos valores e senso de humor evoluíram.
Paralelo com “Assassinos da Lua das Flores”:
O filme de Martin Scorsese, Assassinos da Lua das Flores, também aborda temas de
poder, manipulação e atrocidades cometidas em busca de mais influência. O paralelo
entre a peça e o filme nos mostra que essas questões são atemporais e continuam a
ressoar em diferentes contextos.

"Como se fazia um deputado" revela-se uma obra que transcende sua época e ecoa até os dias
atuais, demonstrando uma profunda compreensão das dinâmicas políticas e sociais que
continuam a moldar a sociedade brasileira. Uma comparação interessante pode ser feita com
o recente filme de Martin Scorsese, "Assassinos da Lua das Flores", que narra a história de
um sobrinho de um poderoso homem que é convencido por seu tio a cometer diversas
atrocidades em busca de mais poder para sua família.

Ambas as obras abordam temas de corrupção, manipulação e abuso de poder, mostrando


como indivíduos ambiciosos podem ser facilmente cooptados por sistemas políticos e sociais
corruptos. Em "Como se fazia um deputado", o protagonista é influenciado por figuras
políticas corruptas que o levam a trair seus próprios princípios em busca de poder e status. Da
mesma forma, no filme de Scorsese, o protagonista é seduzido pelo glamour e pela promessa
de ascensão social, cedendo à pressão de seu tio e se envolvendo em atividades criminosas
para garantir o sucesso de sua família.

No entanto, é importante reconhecer as limitações da comédia de costumes do século XIX em


sua capacidade de dialogar com as sensibilidades e valores da sociedade atual. O humor da
época pode parecer datado e até mesmo ofensivo para os padrões modernos, especialmente
quando se trata de questões como a representação de escravos e a naturalização da corrupção
política.

Sua observação sobre a visão naturalizada da presença de escravos na peça como meros
trabalhadores braçais, sem qualquer crítica social, é pertinente e revela como a comédia da
época muitas vezes reproduzia e reforçava as hierarquias sociais e as injustiças existentes. No
entanto, é importante avaliar a peça em seu contexto histórico e reconhecer seu valor como
um reflexo das realidades e das mentalidades da época.

Em suma, "Como se fazia um deputado" é uma peça que oferece uma visão fascinante e
reveladora da política brasileira do século XIX, ao mesmo tempo em que nos desafia a refletir
sobre os problemas e desafios enfrentados pela democracia e pela cidadania nos dias de hoje.
Sua análise crítica incisiva e sua habilidade em explorar questões políticas e sociais
complexas garantem sua relevância duradoura como obra de teatro satírica e provocativa.

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