A fascinação humana por heróis é algo intrínseco à sua natureza. Desde
a antiguidade até os dias atuais, esse encantamento é notório. Basta uma rápida conferida na literatura, música, cinema, pintura, religião e política; para confirmar tal tese. Mas, de onde vem essa inclinação humana por ídolos? De acordo com a teologia cristã há duas razões: A queda no Éden que gerou no homem toda sorte de males, tais como: medos, ansiedades e ambiguidades, bem como o desejo insaciável por redenção a partir daquele momento –; são as razões ontológicas desse fetichismo. Em especial, muitos ídolos-heróis têm surgido no campo da política. O século vinte foi prova inequívoca e factual desta realidade; os regimes totalitário-nacionalistas são exemplos. Tais messias-políticos são erigidos como salvadores do povo, trazendo em suas agendas políticas, resoluções de todos os problemas sociais e políticos da nação. No brasil e na América Latina, o messianismo político tem suas raízes históricas na cultura monárquica vinda de Portugal e Espanha, um tipo de regime político que fazia com que o rei virasse uma espécie de “salvador da pátria”. A figura de um “messias político” ficou no imaginário da população como um homem bom, abnegado, que poderia fazer tudo pelo bem comum, unindo o país em torno de um objetivo comum. Aproveitando-se dessa cultura, políticos populistas das mais diversas bandeiras ideológicas, apresenta-se como o salvador messiânico. Bem, mas o que é messianismo político? Podemos definir como a tendência coletiva de esperança em um único indivíduo como solução de todos os problemas, um líder que será capaz de trazer a salvação e mudar os rumos da história. Partindo das definições acima, podemos fazer uma leitura honesta do atual quadro político brasileiro. Estamos presenciando nos últimos anos polarizações político-partidárias sem precedentes históricos. Todo esse cenário radicalizações, propiciou o terreno ideal para o surgimento do “messianismo político” em terras tupiniquins. Forças políticas estão digladiando-se na arena pública pelo poder, cada qual com o seu político-salvador e o programa escatológico-político. Mas, o que a Bíblia pode ainda diz sobre tal assunto? Há um caso emblemático e pedagógico em 1 Samuel 8. 1-22; onde podemos extrair valiosas lições para o discipulado cristão. O texto bíblico em tela apresenta a insatisfação do povo Israelita com os filhos de Samuel, estes eram juízes, então responsáveis pelos liderança política da nação. Porém, estavam agindo de forma ímpia e injusta diante de Deus e do povo, não seguindo o exemplo de piedade do pai (Samuel), mas, se corrompendo por meio de subornos, sendo omissos com as necessidades do povo, bem como não julgando as causas com justiças. A reação do povo foi pedir um líder como os das nações vizinhas, queriam um rei e o estabelecimento da monarquia política. Na prática, estavam tentando resolver seus problemas, mas para isso, usaram os mecanismos errados. Não quero aqui, de modo algum, minimizar os males sofrido pelo povo, contudo, pretendo mostrar que mesmo em meio a incerteza e crises políticas, precisamos sempre depositar nossa esperança última em Deus. Os israelitas mesmo sendo advertidos das imperfeições onde predomina o regime político monárquico, ainda assim, mantiveram suas esperanças últimas no rei (1Sm 8.7-20). Algumas lições podem ser retiradas deste trecho bíblico; em primeiro lugar: o poder político é transpolítico (vindo de fora), doado por Deus (Rm 13.1). Por isto, o Estado na pessoa dos representantes e membros do poder público, devem dirigir o povo com responsabilidade, visando sempre, o bem- comum na convivência em sociedade. Quando não agem assim, o povo sofre. Em segundo lugar destaca-se um fato na passagem em análise, facilmente e de modo natural em muitas situações ruins e boas da vida, transferimos nossa esperança última (Escatologia) para a ação e responsabilidade puramente humana; em detrimento da ação divina. Em entrevista à revista época negócios no ano de 2016, o filósofo britânico Roger Scruton, ao responder uma pergunta sobre a frustação com líderes de esquerda e a ascensão de líderes de direita na América Latina, responder que o ideal é que não se deposite esperança política em pessoas e famílias, mas, no governo das leis. A resposta de Scruton é sensata, democrática e politicamente alinhada ao bem comum. O pensador com sua afirmação, deixa em evidência a relevância de conquista como: liberdade, igualdade e fraternidade - depois positivados nos textos constitucionais. Tal governo das leis, inibe (Não impede) a subida ao poder de déspotas e o governo da Cleptocracia (Governo de ladrões). Em suma, como afirmou certo doutor da Igreja: “a fé cristã deve prestar um serviço à política, pois, libertar o homem da irracionalidade dos mitos políticos, que constituem o verdadeiro perigo do nosso tempo”. Precisamos a cada dia, fugir da “secularização do pensamento cristão- escatológico”, que surge de tempos em tempos, como uma “profecia política de salvação”. Neste sentido, política e escatologia devem estar separadas, nas suas respectivas esferas. Nossa fé deve estar focada numa escatologia cristocêntrica, na esperança do reino de Deus e, não apenas em um reino humano.