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“ENTRE A CRUZ E AS ARMAS”: A VIRADA MORAL DA EXTREMA DIREITA

BRASILEIRA (2010 A 2018)

Argus Romero Abreu de Morais (PDS-FAPERJ/UFRJ)


argusromero@yahoo.com.br

Os horrores da ditadura não são inumanos: são


profundamente humanos – e nisso repousa seu poder.
Qualquer sistema de governo baseado em leis arbitrárias,
extorsão, tortura, escravidão encontra-se ao alcance da
mão de nossos sistemas democráticos.

Alberto Manguel
(Os espiões de Deus, 2000, p. 190)

Considerações iniciais

Durante a conquista das Américas, a expressão “entre a cruz e a espada” condensava a


difícil situação dos povos originários em relação ao genocídio e etnocídio praticados por
aqueles que se colocavam como representantes de Deus e da civilização. De um lado, a cruz;
do outro, a espada. Religião e grupos armados – estatais ou privados – estiveram, na maior parte
das vezes, unidos na conquista de novos fiéis e territórios no Novo Mundo, disseminando o
imaginário da guerra como forma de conversão ou eliminação de infiéis e resistentes.
“Os índios das Américas somavam não menos do que 70 milhões, ou talvez mais,
quando os conquistadores estrangeiros apareceram no horizonte; um século e meio depois
estavam reduzidos tão só a 3,5 milhões”, assevera o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (1969
apud GALEANO, 2007 [1970]), p. 38). Para o filósofo e linguista Tzvetan Todorov (2019
[1983], p. 74), “[...] em 1500 a população do globo deve ser da ordem de 400 milhões, dos quais
80 habitam as Américas. Em meados do século XVI, desses 80 milhões, restam 10”. “Se a
palavra genocídio foi alguma vez aplicada com precisão a um caso, então é esse”, pois trata-se
de “um recorde [...], não somente em termos relativos [...], mas também absolutos, já que
estamos falando de uma diminuição da população estimada em 70 milhões de seres humanos.
Nenhum dos grandes massacres do século XX pode comparar-se a esta hecatombe”, destaca
Todorov (2019 [1983], p. 74).
Séculos depois, considerando as disparidades notórias do contexto histórico e das
instituições nacionais do terceiro milênio, com novas fés, leis e regime político, bem como

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considerando não mais o olhar “de baixo” – a contrapelo – dos povos originários, mas pela
perspectiva “de cima” do poder estatal, está em curso uma nova tentativa de aproximar religião
e política no Estado brasileiro. Nesse intuito, os símbolos da “cruz” e das “armas” têm sido
condensados em um discurso com novas pretensões “civilizatórias” no país, projetando, mais
uma vez, a anulação sistemática de qualquer resistência à sua expansão dentre os excluídos. Em
nossa fala, focaremos na relação entre os discursos ultraconservador militar e fundamentalista
cristão na constituição do discurso político da extrema direita brasileira contemporânea.

1. O corpo conservador: entre a segurança nacional e a defesa da moral (1985 a 2018)

Segundo Alonso (2018), a chegada da extrema direita ao poder marca o fim da Nova
República brasileira, iniciada em 1985, com o encerramento da Ditadura Militar. Se em fins da
década de 1980 havia demandas sociais por cidadania política, em 2018, as ruas estavam
tomadas por cidadãos clamando por justiça divina, família patriarcal e nacionalismo bélico.
Apesar das fragilidades da abertura democrática – lenta, gradual e restrita –, a Constituição
Federal de 1988 (CF/88) passou a garantir direitos e justiça social (ALONSO, 2018).
“Esse horizonte normativo vem esboroando desde os protestos anticorrupção de 2011,
quando as ruas deram pistas de que parte do país preferia outro rumo. A árvore
ultraconservadora deu seu maior fruto agora, mas não é nova”, ressalta Alonso (2018, p. 54),
relembrando que já em 1989 o presidenciável Enéas Carneiro (do Partido da Reedificação da
Ordem Nacional/PRONA) representava a extrema direita brasileira, tendo conseguido a 3ª
colocação em 1994. Apesar de ter perdido espaço em 1998, seu legado foi determinante para
que novos nomes viessem a ocupar esse lugar. O evangélico Anthony Garotinho (do Partido
Democrático Trabalhista/PDT), com um discurso vinculado a Deus e Pátria, conseguiu 17%
dos votos em 2002, novamente o 3º lugar. Em 2006, o fundador da Democracia Cristã (DC),
Eymael, representou o campo, mas sem tanto sucesso. Em 2010, juntamente com Levy Fidelix
(do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro/PRTB) e Pastor Everaldo (do Partido Social
Cristão/PSC), também presentes em 2014, Eymael almejou mais uma vez angariar o eleitorado
conservador focando na moral e nos bons costumes. Esse trajeto eleitoral, apesar de irregular,
demonstra-se consistente, fundamental para que, em 2018, a convergência entre nacionalismo
beligerante, antielitismo e moralismo hierarquizador elegessem a extrema direita (ALONSO,
2018).
O primeiro aspecto aparece a partir de 2011. Com o início dos protestos anticorrupção,
houve o recrudescimento do uso de símbolos nacionais no espaço público, como o hino, a

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bandeira e suas cores. Essa simbologia plena de binarismos está presente na oposição entre
nacionalistas e globalistas, que ressignifica a ameaça comunista da Guerra Fria no contexto
multipolar contemporâneo; entre pátria e classes, em que a primeira pauta-se na estratificação
e homogeneização nacional, prescindindo de quaisquer divisões internas que possam legitimar
conflitos, além de reduzir as diferenças sociais a talento e esforço individuais; e entre pátria e
partidos políticos, isto é, entre a verdade absoluta e os debates ideológicos (ALONSO, 2018).
Encarna-se também uma espécie de antielitismo ao opor a elite “esnobe” e
“intelectualizada” ao “homem comum” de classe média. “Esse éthos do homem comum não se
ancora no carisma de líder excepcional. Ao contrário, se enraíza na representatividade. Sua
força emana do compartilhamento de hábitos com a média dos brasileiros” (ALONSO, 2018,
p. 51). Ancorando-se no imaginário do homem à antiga, pai de família e líder de clã, formula-
se o ideal de mito político, aquele que “é gente como a gente” (ALONSO, 2018, p. 51).
No que se refere ao moralismo hierarquizador, tem importância central a participação
das igrejas evangélicas. Na esfera pública, buscam dominar, principalmente, pautas vinculadas
à educação, como o Escola Sem Partido, opondo-se à “contaminação ideológica” da sociedade
por ideologias como igualdade de gênero e combate à homofobia. No espaço privado, centram-
se no patriarcalismo, reforçando as hierarquias de gênero pela “superioridade inata masculina”
(ou “masculinidade hegemônica”, Cf. CONNEL, 1995), oriunda da sua suposta virilidade
congênita, biológica, típica das posições de mando. Às mulheres, caberiam as posições de
subordinação: as funções domésticas e maternais (ALONSO, 2018). Consequentemente,
pautam-se pela defesa da heterossexualidade compulsória (BUTLER, 1990).
De acordo com Rocha (2021), a retórica do ódio atual remete à reação de setores
militares iniciada ainda em meados da década de 1980 no país, na esteira da abertura política
encampada por Ernesto Geisel (1974 a 1979) e do processo de redemocratização com João
Batista Figueiredo (1979 a 1985). Entre 1985 e 1988, esses grupos escreveram o Orvil (“Livro”
escrito ao contrário), documento-chave que busca apresentar o ponto de vista da instituição
sobre a história brasileira do século XX e, com isso, reagir às denúncias do Projeto “Brasil:
Nunca Mais” (BNM) em relação à prática sistemática da tortura e de outras graves violações
aos direitos humanos durante o Regime Militar (1964 a 1985) (ROCHA, 2021, p. 248).
Baseado na Doutrina de Segurança Nacional (DSN) e escrito em uma linguagem
apocalíptica e plena de clichês, o Orvil relata a existência de uma suposta ameaça comunista
permanente no Brasil, ancorando-se na Guerra Fria para legitimar o uso da força contra grupos
considerados subversivos, os “inimigos internos”, incluindo a necessidade de tomada do poder

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político. Tal documento contém o modelo narrativo militar ultraconservador contemporâneo e
funciona como fonte dos seus principais argumentos (ROCHA, 2021).
“Iniciadas em março de 2015, e ampliadas em abril, agosto e dezembro do mesmo ano,
as manifestações de rua da direita explodiram em março de 2016, revelando ao país uma
organização sólida de grupos conservadores”, assevera Rocha (2021, p. 34, grifos do autor).
Para entender esse processo, devemos considerar (a) o crescimento ideológico da Direita nos
anos 1990, com a produção e difusão de obras com o objetivo de polemizar e desconstruir
estrategicamente os ícones de esquerda; (b) a ocorrência imprevista de uma “fissura geracional”
que alinha parte dos jovens crescidos durante os quase quatro governos do Partido dos
Trabalhadores/PT (2002 a 2016) aos princípios ideológicos da Direita, gerando uma associação
inédita no país entre establishment, sistema político e Esquerda; (c) o aprofundamento desse
conflito geracional em decorrência da difusão das tecnologias digitais (ver também MOITA
LOPES & PINTO, 2020), as quais potencializaram a criatividade, a irreverência e a conexão
entre os membros dessa juventude de Direita; (d) a disputa pela ocupação das ruas – espaço-
símbolo dos movimentos de Esquerda – por grupos conservadores e reacionários, que, embora
iniciadas em 2013, passou a ser mais visível a partir de 2015 (ROCHA, 2021).
Para Miguel (2018), a extrema direita brasileira atual organiza-se em torno de três eixos
políticos, os quais se atravessam formando novas composições, quais sejam: (1) a ideologia
libertariana: associada à ultraliberal “escola econômica austríaca”, defende que o Estado deve
ser mínimo e, em contrapartida, que o mercado e seus mecanismos são constitutivamente justos.
Desse modo, entende a plenitude das relações sociais por uma visão contratual alicerçada no
direito de propriedade, dissolvendo os laços de solidariedade social em prol da competição
individual. Para esses grupos, a liberdade – representada pelo mercado – tem como principal
inimiga a igualdade – representada pelo Estado –; (2) o fundamentalismo religioso: organizado
como força política a partir do início dos anos 1990, tem seu crescimento associado à expansão
de certos setores das igrejas neopentencostais, os quais fundam-se na “percepção de que há uma
verdade revelada que anula qualquer possibilidade de debate” (MIGUEL, 2018, p. 21), opondo-
se, principalmente, à legalização do aborto e às políticas de gênero e fomentando o crescimento
do poder dos líderes religiosos na estrutura estatal e empresarial. Sua “agenda moral” e
capilaridade nas periferias das grandes cidades conquistou parte significativa do eleitorado da
Esquerda política. Por último, (3) o anticomunismo: presente no período da Guerra Fria, quando
Cuba figurava como principal representante comunista das Américas, ganhou novos ares com
o bolivarianismo venezuelano. Recentemente, o ideário político passou a ser associado ao
petismo, expressão vinculada ao Partido dos Trabalhadores (PT).

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Consoante Gallego (2019), apesar das diferenças entre os grupos, o eleitorado da
extrema direita brasileira apresentaria as seguintes características: (I) rejeição da política, tendo
a corrupção como aspecto argumentativo central; (II) antipetismo e antiesquerdismo, como
representantes do comunismo, da negação do trabalho, do aparelhamento do Estado, da
agenda LGBTI+ e da defesa dos criminosos; (III) anti-intelectualismo, no sentido de leitores e
propagadores de fake news via ferramentas digitais como o WhatsApp; (IV) política como
dogma/verdade absoluta, confundindo, comumente, opinião com informação por meio de
uma lógica fundamentalista e hiperpersonalista do conhecimento; (V) militarização da vida
pública, entendem que os militares seriam os ordenadores sociais frente ao suposto caos atual
por representarem valores como hierarquia, disciplina, autoridade, força, masculinidade e
carisma; (VI) emoção do ódio, uma vez que transformam seus adversários em inimigos
(GALLEGO, 2019). Ademais, “[a]s novas direitas se fortalecem no mundo online, nele
adquirem sua estética e se apresentam com uma forma jovial, lúdica, ‘bacana’, divertida,
explorando inclusive o ridículo político, fazendo uso de uma linguagem pop, sedutora, leve, no
formato da palhaçada” (GALLEGO, 2019, p. 130, itálicos da autora).
Dito isso, seria possível encontrar uma espécie de ponto de virada na história recente do
país a partir do qual possamos avaliar o crescimento da presença das pautas morais na cena
pública nacional? Consoante Lowenkron (2013), em análise anterior ao contexto atual e,
portanto, não vinculada a ele, destaca que a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado
Federal que tratou da pedofilia, a CPI da Pedofilia, realizada em 2008, impulsionou o
crescimento do debate moral na política brasileira em fins dos anos 2000. Com o objetivo de
“investigar e apurar a utilização da internet para a prática de crimes de pedofilia”
(LOWENKRON, 2013, p. 305), a investigação legislativa posicionou-se, por vezes, como o
“delegado do país” na defesa dos valores morais nacionais.
A Comissão convocava constantemente a imprensa para divulgar os trabalhos realizados
pela CPI da “sociedade”, das “crianças” e da “família”, voltada para “um bem coletivo e
unânime” (LOWENKRON, 2013, p. 310). “A pedofilia é 5% doença e 95% safadeza” (apud
LOWENKRON, 2013, p. 315), afirmava-se. Em suas falas, os parlamentares utilizaram-se de
termos como “crime”, “tara”, “vício” e “chaga” para descrever o pedófilo. A transmissão de
vídeos de pornografia infantil em rede televisiva nacional chocava e angustiava a população,
ao mesmo tempo em que a associação entre CPI e mídia contribuía para a teatralização da luta
do bem contra o mal (LOWENKRON, 2013).
Dessa maneira, ao longo dos trabalhos da Comissão, houve a constante tentativa de
mobilizar a arena pública das emoções em prol da “caçada ao pedófilo”, ao “inimigo da

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família”, potencializando a sua persuasão pela comoção e promovendo o seu engajamento pela
indignação coletiva. Fomentou, com isso, uma espécie de “cruzada antipedofilia” como
movimento nacional de preservação da sacralidade da infância (LOWENKRON, 2013).
A antropóloga percebeu, ainda, as estratégias para se estabelecer o pedófilo como o
“monstro contemporâneo”, “como limite mais extremo de toda anomalia, combinando o
proibido e o ininteligível, transgredindo os limites não só da lei, mas da classificação”
(LOWENKRON, 2013, p. 305). No dizer de Preciado (2020, p. 2), o monstro é “aquele que
vive em transição. Aquele cuja face, corpo e práticas ainda não podem ser considerados
verdadeiros em um regime de conhecimento e poder determinados”.
Além dos atores políticos, as disputas classificatórias mobilizaram especialistas,
operadores do direito, órgãos de mídia e grupos religiosos em discussões sobre violência e
exploração sexuais, pornografia infantil e pedofilia. Essa integração entre diferentes campos do
saber potencializou a circulação e impacto dos sentidos sobre a pedofilia na sociedade como
um todo, oscilando entre o “caso político” e o “caso de polícia” (LOWENKRON, 2013).
O ponto que queremos destacar é que, a partir de 2011, essa memória coletiva da
“caçada ao pedófilo” passa a ser reaproveitada estrategicamente em discursos parlamentares
conservadores na Câmara dos Deputados no intuito de associar a homossexualidade à pedofilia
e de enquadrar discursivamente o recém-proposto Kit Escola Sem Homofobia como política
educacional pública de estímulo à sexualização das crianças. Dessa maneira, deslocam e
transferem os sentidos das investigações sobre crimes sexuais contra crianças e adolescentes e,
com isso, o choque emocional da sociedade – o medo e a angústia – para os debates sobre as
medidas de combate à homofobia nas escolas.
Pode-se considerar, então, 2011 como o ano em que ocorre o que chamaremos de
“virada moral” do discurso político da extrema direita brasileira atual, quando representantes
do ultraconservadorismo militar e de uma espécie de batalha moral nacional passam a produzir
uma inflexão paulatina entre o discurso pró-Ditadura Militar e o discurso fundamentalista
cristão. Em paralelo, criam imaginariamente o lado oposto da “trincheira”, fundindo as lógicas
binárias da guerra militar e da cruzada religiosa via condensação simbólica do “inimigo
vermelho” com o “monstro homossexual”.
Passam, assim, a combater de forma quixotesca tanto o comunista, contrário à ordem
social, quanto feministas e grupos LGBTI+, transgressores da ordem patriarcal, simplificando
retoricamente o corpo simbólico do subversivo. Em especial, a figura do(a) professor(a) –
escolar e universitário(a) – emerge como ponto de convergência potencial para esses sentidos,
tornando a educação um campo de batalha privilegiado para grupos intolerantes no país. Em

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2016, consolida-se como espetáculo e estética essa fusão discursiva em votos pelo impedimento
do mandato presidencial de Dilma Rousseff (PT), quando “ungem-se politicamente” as
principais vozes da reação conservadora para as Eleições Presidenciais de 2018.

2. Sexualidade, discurso de ódio e pânico moral no Brasil (1975 a 2019)

Em 11 de novembro de 2018, Antônia Urrejola, relatora da Comissão Interamericana


de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA), manifestou
preocupação com o aumento dos discursos de ódio no país contra a população LGBTI+, os
defensores dos direitos humanos, os imigrantes e solicitantes de refúgio, a liberdade de
expressão e as universidades. Para a relatora, “[h]ouve avanços, mas encontramos um país que
não conseguiu abordar e resolver as principais dívidas históricas com a cidadania, o problema
estrutural de desigualdade e a discriminação profunda” (REDAÇÃO RBA, 2018, p. 1). Em
seguida, complementa, “[q]uem utiliza discurso de ódio está contra o ser humano. O discurso
de ódio encoraja e incita, com consequências muito sérias” (REDAÇÃO RBA, 2018, p. 1).
Para António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, o ódio “compromete a
coesão social, desgasta valores compartilhados e pode criar a base para a violência, retardando
a causa da paz, da estabilidade, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana”
(GUTERRES, 2019). A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, por sua vez,
define crimes de ódio como “violência e ofensas motivadas por racismo, xenofobia, intolerância
religiosa ou preconceito contra a deficiência de uma pessoa, orientação sexual ou identidade de
gênero” (FRA, 2022). Para a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância: “[O
discurso de ódio] representa graves perigos para a coesão de uma sociedade democrática, a
proteção dos direitos humanos e o Estado de Direito. Se não for resolvido, pode levar a atos de
violência e conflito em uma escala mais ampla” (ECRI, 2022).
O sistema jurídico brasileiro está alinhado ao Sistema Interamericano de Direitos
Humanos, tendo o Governo ratificado a Convenção Americana sobre Direitos Humanos – o
Pacto de São José da Costa Rica – em 1992, e aceitado a sua competência em 1998 (SCHÄFER
et al., 2015). O documento ressalta que “[a] lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra,
bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência” (OEA, 1970 apud SCHÄFER et al., 2015,
p. 144). Em 2014, o país assinou a Convenção Interamericana contra Todas Formas de
Discriminação e Intolerância, a qual responsabiliza os Estados-Membros da Organização dos

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Estados Americanos (OEA) a trabalharem em prol da “erradicação total e incondicional de toda
a forma de discriminação e intolerância” (OEA, 2013 apud SCHÄFER et al, 2015, p. 147-8).
Consoante Schäfer et al. (2015), o discurso de ódio se caracteriza por incentivar o
“repúdio ao diferente”. Ao induzir a violência – física e simbólica – contra grupos excluídos e
torná-los inimigos públicos, configura-se também como fato criminoso, afetando a dignidade
daqueles a quem se direciona. Tem como foco acionar o pânico moral e despertar o medo
coletivo contra uma transformação social em processo que possa prejudicar o status quo do
grupo dominante, responsável por essas ações violentas e criminosas (SCHÄFER et al., 2015).
Não obstante, o sistema jurídico brasileiro ainda carece de uma tipificação legal dos
crimes de ódio, o que significa a ausência de uma caracterização mais específica dos limites e
punições relacionados à veiculação de ideologias racistas, sexistas, antissemitas ou
homofóbicas pelos próprios agentes de Estado no exercício das suas funções democráticas,
ocasionando uma reação em cadeia na sociedade. O instrumento jurídico no qual podem-se
arvorar denúncias a esse respeito seria o Artigo 3º, Inciso IV, da CF/88, que “estabelece a
promoção do ‘bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação’” (BRASIL, 1988 apud SCHÄFER et al., 2015, p. 150).
A despeito disso, políticos conservadores têm se aproveitado da prerrogativa
constitucional de defesa da liberdade de expressão para continuarem a incitar preconceitos e
violências contra tais grupos. Ancorados nessa brecha legal, pode-se notar o aumento desse tipo
de discurso em falas parlamentares desde o projeto de decreto legislativo conhecido por “Cura
Gay”, de 1999, que buscava associar a orientação de gênero às doenças mentais, incentivando
a “cura de homossexuais” por tratamentos de cunho psicológico (SCHÄFER et al., 2015). Tal
projeto tinha por objetivo “sustar a aplicação do parágrafo único do art. 3º, bem como a do art.
4º, da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99, de 23 de março de 1999, que
estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual”
(SCHÄFER et al., 2015, p. 152).
Em 2014, por exemplo, um Deputado Federal publica em seu Twitter: “A podridão dos
sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a (sic) rejeição” (apud SCHÄFER
et al., 2015, p. 150). Butler (2021 [1997]) sustenta que a linguagem é ação, dada a sua natureza
performativa. Pela repetição e calcificação de significados, produz efeitos sobre os
interlocutores, orientando seus pensamentos e ações no mundo. Se nos possibilita falar, torna
possível também silenciar ou agredir o outro. Se nos permite criar laços de confiança e
colaboração, pelos discursos de ódio, nos permite também destruí-los, de modo que a injúria
torna-se responsável pelo apagamento, humilhação e menosprezo da alteridade. A inversão

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argumentativa da culpa produzida pelo parlamentar é típica da intolerância, em que a subversão
da norma seria supostamente gerada por quem sofre as ações violentas e não por aqueles que a
causam, sendo as vítimas categorizadas como “seres abjetos” ou “repulsivos”. Isso legitimaria
as iniciativas dos “cidadãos de bem”, transformando o agressor em agredido, o culpado em
vítima, a opressão em correção e o autoritarismo em liberdade (cf. MORAIS, 2019; 2021).
Ao analisar a denúncia realizada pelo Ministério Público Federal (MPF), o Ministro
Luís Roberto Barroso, relator do Inquérito 3.590 no Supremo Tribunal Federal (STF), concluiu
que “essa lei [sobre crimes de ódio] não existe. Existe até um projeto de lei em discussão no
Congresso Nacional. De modo que, por mais reprovável que se considere essa manifestação no
plano moral, eu penso que não é possível tipificá-la penalmente” (apud SCHÄFER et al., 2015,
p. 150). Em vista disso, a acusação não pôde ser aceita pelo STF e o processo foi arquivado.
Embora nunca tenha sido aprovada nenhuma lei específica em relação aos direitos da
comunidade LGBTI+ no Congresso Nacional, o poder judiciário parece ter tomado para si a
missão democratizante em relação aos direitos sexuais. Na década de 1990, houve o
reconhecimento jurídico de direitos previdenciários e fiscais para casais homossexuais. Em
2011, por decisão unânime, o STF reconheceu a união estável homoafetiva. Em 2013, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) considerou dever dos tabeliães realizarem uniões estáveis
e casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Em 2018, o STF julgou procedente o
reconhecimento da identidade de gênero das pessoas trans. Todavia, a exclusividade do
caminho jurídico para o reconhecimento desses direitos – o que pode ser chamado de cidadania
sexual – expressa a fragilidade dessas normas, uma vez que são mais fáceis de serem alteradas
do que as leis, que pressupõem maioria parlamentar e controle jurídico (QUINALHA, 2018).
“Os sentidos atribuídos aos corpos, os papéis sociais de gênero, os desejos afetivo-
sexuais, as estruturas familiares e as relações de parentesco foram disputados e ressignificados
com a progressiva politização do privado operada pela contestação cultural e dos costumes”,
assevera Quinalha (2018, p. 221). A organização dos movimentos feministas e LGBT em 1975
e 1978, respectivamente, trouxe inúmeras conquistas relacionadas à cidadania sexual no Brasil.
Minou-se, com isso, os padrões de família, a gramática moral, os ideais de virilidade e de
masculinidade no país, desconstruindo a determinação do corpo pelo seu destino biológico,
centrado na anatomia humana e na sua função reprodutiva. Em paralelo, iniciaram-se as reações
conservadoras, sendo a ofensiva atual a maturação desse backlash (QUINALHA, 2018).
Para Quinalha (2018), com o lançamento do Programa Brasil Sem Homofobia, em 2004,
cujo objetivo era criar meios oficiais para o combate à violência e ao preconceito contra a
população LGBTI+ nas escolas, o Governo Federal passou a atuar na formação de educadores

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em relação às temáticas de gênero e sexualidade. O Kit Escola Sem Homofobia, de 2011,
material educativo com fins de conscientização da diversidade sexual, é fruto dessa política
pública. Logo em seguida ao seu anúncio, passou a ser chamado pejorativamente de “Kit Gay”
pela Bancada Evangélica, para a qual havia uma tentativa do Governo de fazer propaganda e
apologia da homossexualidade no espaço escolar.
Com a repercussão das acusações, a Presidente Dilma Rousseff (PT) cedeu em relação
à implementação do material, suspendendo a sua distribuição e se manifestando publicamente
contra medidas que pudessem interferir na vida privada das pessoas. Embora tenha reafirmado
a importância de se respeitar as diferenças e de se combater a violência contra esses grupos,
esse recuo aumentou o poder de pressão do fundamentalismo religioso na política, inaugurando,
com isso, o principal “espantalho moral” das Eleições de 2018 (QUINALHA, 2018).
Na esfera parlamentar, o pânico moral passou a se manifestar pela proposição de
projetos relacionados ao combate à “ideologia de gênero”, “expressão pejorativa que procura
designar um conjunto de ideias que naturalizariam comportamentos e identidades supostamente
desviantes, mesmo nas crianças” (QUINALHA, 2018, p. 213; ver SCHULTZ, 2020, sobre essa
questão no colégio Pedro II). Essas iniciativas passaram a fomentar um estado de guerra
imaginário entre os cidadãos de bem, tidos como defensores dos valores da família
heterossexual e religiosa, e os inimigos, contrários às normas e instituições tradicionais.
Para Aragusuku (2020), o Programa Brasil Sem Homofobia, de 2004, e a criação do
Conselho Nacional LGBT, em 2010, fomentaram propostas análogas nas esferas municipal e
estadual no país, gestando uma rede nacional – ainda incipiente – de políticas públicas LGBT
(ARAGUSUKU, 2020). Somadas às crescentes mudanças culturais em relação à sexualidade,
com a “expansão dos coletivos e movimentos LGBT, eclosão das Paradas do Orgulho, novas
identidades e sociabilidades, difusão midiática e acadêmica” (ARAGUSUKU, 2020, p. 110),
havia um cenário favorável à conscientização dos direitos sexuais na sociedade. No sentido
inverso, “este novo cenário gerou um processo de reorganização de grupos conservadores na
arena legislativa, que passaram a exercer uma forte ofensiva política contra a ‘degradação’ da
moral, dos valores tradicionais e dos costumes sexuais” (ARAGUSUKU, 2020, p. 111).
Em 2003, declara Aragusuku (2020), inicia-se o uso do termo “ideologia de gênero” na
Câmara. Até 2014, contudo, há uma baixa frequência de sua ocorrência, ainda restrito a grupos
conservadores católicos. Nesse período, não se propôs nenhum projeto legislativo remetendo à
temática, embora tenha havido 15 pronunciamentos com a expressão, crescendo de 1 por ano
em 2003, 2004, 2007 e 2010 para 3 em 2013 e 8 em 2014. De 2015 a 2018, massificou-se o seu
uso, quando a Bancada Evangélica passou a dominar as ações a esse respeito, com 160

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pronunciamentos – 30 em 2015, 48 em 2016, 50 em 2017 e 23 em 2018 – e 16 projetos
legislativos, em que apenas 3 destes não diziam respeito à instituição escolar. Em paralelo,
ocorreu a pulverização de siglas partidárias que passaram a se utilizar da expressão, chegando
a 16. Por fim, em 2019, o combate à “ideologia de gênero” adquiriu status de política pública
no novo Governo Federal (ARAGUSUKU, 2020).
Destarte, em 2015, o termo “ideologia de gênero” unifica os diversos antagonismos
relacionados às práticas e costumes sexuais, produzindo um discurso único que condensa
temáticas como aborto, homossexualidade e família (ARAGUSUKU, 2020). Torna-se, assim,
um forte instrumento semiótico em relação ao público conservador brasileiro, pois organiza e
passa a indexar a agenda político-discursiva desse grupo parlamentar desde então.
Em suma o impulsionamento da agenda moral no país a partir de 2010 está atrelado à
reação (1) ao aprofundamento das mudanças socioculturais e à consequente desestabilização
jurídica, política e artística dos padrões de sexualidade e gênero; (2) à organização de
movimentos coletivos na sociedade civil, os quais pressionavam pela incorporação das suas
demandas por partidos políticos, fundações e associações de natureza profissional, sindical e
acadêmica; (3) à tentativa de elaboração de leis e à implementação de políticas públicas
especializadas nas esferas municipal, estadual e federal (ARAGUSUKU, 2020).

3. Análise lexical e discursos de ódio

As investigações da linguagem têm bastante a ganhar com o uso de computadores, uma


vez que, “[e]m primeiro lugar, são consistentes. Os computadores não se cansam, e assim
podem fazer tarefas tediosas [...] de modo eficiente e confiável. Em segundo lugar, permitem
maior abrangência na quantidade de dados que se pode lidar” (BERBER SARDINHA, 2004,
p. 85). A seguir, faremos uma pequena revisão dos trabalhos de análise de corpora voltados
para linguagem de ódio para situar nosso empreendimento analítico na pesquisa existente.
Gitari et al. (2015) desenvolveram a Abordagem baseada em léxico para detecção de
discursos de ódio em relação à raça, nacionalidade e religião. Para tanto, organizaram um
corpus com 500 parágrafos coletados em fóruns online, blogs e seções de comentários em
resenhas de notícias, dividindo os léxicos em três categorias: Sem ódio; Ódio fraco e Ódio forte.
Os resultados mais significativos ocorreram quando incluídos aspectos semânticos, de ódio e
temáticos. Davidson et al. (2017) produziram uma ferramenta virtual semelhante, com base no
uso ferramentas computacionais em um corpus de 24.802 tweets, divididos em três grupos:
discurso de ódio, linguagem ofensiva ou nenhum dos dois. Em conclusão, consideraram que os

11
métodos lexicais são eficientes para a identificação de termos ofensivos. No entanto, é preciso
aumentar a precisão da sua identificação, visto que apenas uma pequena parte dos tweets da
plataforma Hatebase foram enquadrados por programadores humanos nessa categoria.
Bassignana et al. (2018) desenvolveram o Hurlex, o léxico multilíngue de palavras de
ódio, com o objetivo de desenvolver uma metodologia de análise de palavras que podem causar
danos a pessoas ou grupos, com especial enfoque na análise do ódio e da misoginia. O léxico
da investigação é composto por mais de 1000 palavras italianas e foi dividido em 3 categorias
de ofensa – depreciativo (claramente ofensivos e com valores negativos, por exemplo,
calúnias), estereótipos (destinam-se a ferir pessoas e grupos vulneráveis) e palavras
consideradas neutras (por exemplo, metáforas, no sentido de figura de linguagem) – e 17
categorias de contexto de cada palavra. Para os pesquisadores, ainda é preciso compreender
melhor os padrões regionais e culturais de análise, embora esta abordagem semiautomática –
qualitativa e quantitativa – tenha avançado em direção à detecção de discursos de ódio em
línguas menos representadas.
Augenstein et al. (2019) utilizaram o aprendizado de máquina para apontar os principais
qualificadores de homens e mulheres em 3,5 milhões de livros – 11 bilhões de palavras –
publicados entre 1900 e 2008. Os autores chamaram a atenção para como verbos negativos
associados à aparência são usados 500% a mais para mulheres do que para homens; adjetivos
positivos e/ou neutros relacionados ao corpo são 200% mais associados a mulheres do que a
homens; descritores masculinos positivos são mais comuns quando se trata de descrever suas
personalidades e comportamentos.
Já o THREAT-DEFUSER (2020, s/p) desenvolve uma nova abordagem multidisciplinar
para a guerra híbrida, isto é, ameaças que se utilizam de métodos para amplificar a fragmentação
e criar o caos nas sociedades, como o uso da linguagem para atacar as vulnerabilidades
percebidas, notadamente aquelas associadas ao terrorismo, nacionalismo, populismo, migração
e mudança climática. Busca-se, com isso, avaliar “como a linguagem é baseada em gênero,
racializada e classificada para desencadear reações emocionais nas populações e exacerbar
clivagens de conflito nas sociedades” (THREAT-DEFUSER, s/p, 2020). Para tanto, aproxima
a Linguística Cognitiva da Linguística de Corpus para analisar palavras-chave e investigar o
seu comportamento em corpora de referência (FIDLER & CVRČEK, 2018).
Em nosso caso, baseamo-nos em uma metodologia de análise de discursos de ódio a
partir do tratamento de notas taquigráficas da Câmara dos Deputados. Em parceria com o
Laboratório de Ciência de Dados e Inteligência Artificial da Universidade de Fortaleza
(LCDIA/Unifor), coletamos 922 pronunciamentos vinculados ao campo político da extrema

12
direita brasileira no período de 2000 a 2018. “Para a automatização do processo de coletas, fez-
se necessário a criação de web scraping ou, como é popularmente conhecido, um crawler, com
o qual é possível obter a extração de dados de uma determinada página web seguindo os
protocolos HTTP e HTTPS” (NEVES et al., 2022, no prelo). Na sequência, “foram utilizadas
bibliotecas da linguagem python, como por exemplo a requests, responsável por realizar as
requisições ao site da Câmara dos Deputados para o download das notas taquigráficas” (NEVES
et al., 2022, no prelo). Essa metodologia nos permitiu conseguir baixar todos os arquivos
desejados na linguagem PDF. Contudo, ainda estamos desenvolvendo novos métodos de coleta
que possam dar conta de transcrever para texto aqueles anteriores a 2000, disponíveis em
arquivos de imagem. Em vista disso, o nosso recorte cronológico contempla esses dezoito anos.
Para nós, diferentemente da terminologia parlamentar, discurso remete tanto a um saber
socialmente construído – o que Gee (1990) chamou de Discurso com letra maiúscula – como à
articulação enunciativa desse saber pelos sujeitos em condições situadas no intuito de produzir
sentidos entre interlocutores – o que o mesmo autor chamou de ‘discurso” com letra minúscula
– (FABRÍCIO & MOITA LOPES, 2019; 2020). Para Bourdieu (2003, p. 119), “os campos se
apresentam à apreensão sincrônica como espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas
propriedades dependem das posições nestes espaços, podendo ser analisadas
independentemente das características de seus ocupantes (em parte determinadas por elas)”. Se
campo remete a essa estruturação social das relações, discurso, para o sociólogo francês, se
refere às tomadas de posição nesses espaços, direcionando-se aos interlocutores em situações
concretas e atribuindo valores aos bens simbólicos dessas falas, que concorrem com outras
posições nesse campo com fins de persuadir os ouvintes (BOURDIEU, 2003).
Interessa-nos avaliar como itens lexicais relacionados aos campos militar e religioso
oscilam nos dados ao longo desse período, além de compreender quais conceitos fundamentam
sua ofensiva moral. Com esse propósito, dividimos os pronunciamentos coletados em uma base
de dados com 499 falas realizadas de 2000 a 2010 – contendo 283.012 palavras – e outra com
423, realizadas de 2011 a 2018 – contendo 151.355 palavras –, considerando 2011 como a
“virada moral” nesse discurso político.
Feito isso, selecionamos 20 palavras-chave relacionadas à representatividade
ultraconservadora militar e fundamentalista religiosa, seguindo o debate teórico das duas
primeiras seções da nossa fala, e consultamos comparativamente a sua presença nesses dois
subcorpora, além de termos investigado o número de pronunciamentos em que elas são
utilizadas. Almejamos contemplar tanto as preocupações em relação às preferências lexicais do
campo religioso no discurso da extrema direita quanto as suas estratégias para o fomento à

13
violência e fraturas sociais. Para a contagem de palavras, utilizamos o programa AntConc
(ANTHONY, 2022). No que se refere à recorrência dos termos ao longo de 2000 a 2010 e de
2011 a 2018, colocamos as palavras na ferramenta “localizar tudo” do Excel (EXCEL, 2021),
modo pelo qual o programa identificou o número de células em que o item buscado ocorria.
Cada célula delimita um pronunciamento.

4. Análise lexical dos campos religioso e militar no discurso da extrema direita brasileira

Nos anos 1990, posições ultraconservadoras militares raramente ecoavam em ampla


aceitação, dentro e fora do Parlamento. Em 2011, o chamado “Kit Gay” acabou por funcionar
como um “gatilho” para o ativismo conservador religioso, o qual paulatinamente se fundiu ao
primeiro, expandindo a aceitação social de ambos. Abaixo, podemos ver tanto a variação nas
ocorrências das palavras-chave pesquisadas quanto o peso proporcional delas em cada
subcorpora. Em “pronunciamentos”, destacamos em quantos pronunciamentos elas ocorrem.

Tabela 1: Comparação lexical entre campo cristão e o campo militar

Fonte: Elaborada por Morais & Moita Lopes (2022, no prelo)

Podemos notar a forte presença do campo militar nesse discurso, como demonstram as
duas primeiras colunas tanto das palavras-chave quanto dos pronunciamentos. Comparemos,

14
por exemplo, nódulos *sex* e milit*, os quais contam com o maior número de ocorrências para
cada campo discursivo avaliado. No caso de *sex*, temos 53 (0,001%) ocorrências lexicais de
2000 a 2010 e 285 (0,01%) de 2011 a 2018, aumentando a representatividade em dez (10) vezes,
como pode-se notar pela diminuição de um zero, ou seja, de uma casa decimal. No quesito
pronunciamentos, cresce de 17 (3,4%) para 67 (15,8%), respectivamente. Quando passamos a
milit*, temos 2265 (0,08%) ocorrências lexicais para o primeiro período e 531 (0,3%) para o
segundo, diminuindo, ainda, de 372 (74,5%) pronunciamentos para 174 (41,1%), demonstrando
que, embora se mantenha a forte presença das pautas militares em suas falas ao longo dos 18
anos considerados, há um equilíbrio crescente a partir de 2011 com o discurso religioso. Esse
mesmo padrão se reproduz ao longo da tabela.
A palavra “família”, cerne simbólico do que Alonso (2018) definiu como moralismo
hierarquizador, passa de 120 (0,004%) ocorrências no primeiro período para 197 (0,01%) no
segundo, aumentando também a sua presença no número de pronunciamentos, com crescimento
de 36 (7,2%) para 88 (20,8%). A palavra Deus, utilizada 88 (0,003%) vezes no período de 2000
a 2010, foi utilizada 197 (0,007%) vezes de 2011 a 2018. No que se refere às identidades de
gênero, associadas à “ideologia de gênero”, todos os termos demonstram crescimento. Por
exemplo, Gay – excluindo os usos de Kit Gay – passa de 24 (0,0008%) para 173 (0,01%) usos
e de 8 (1,6%) para 54 (12,7%) pronunciamentos, semelhante a LGBT, Lésbica(s) e Travesti.
No caso do campo militar, embora se mantenha hegemônico, tal discurso diminui
proporcionalmente de importância, equilibrando-se com o religioso, o qual lhe permite a
expansão da sua representatividade política, bem como o impacto e circulação das suas
declarações na esfera pública brasileira. A palavra-chave Força(s) Armada(s) cai de 799
(0,02%) para 216 (0,01%) usos e os pronunciamentos de 267 (53,5%) para 118 (27,8%). A
palavra Exército diminui de 643 (0,02%) para 143 (0,009%) ocorrências. Outro movimento
parece ser interessante, o aumento das palavras-chave vinculadas ao debate sobre a
Democracia/Ditadura Militar.
A palavra democracia cresce de 182 (0,006%) para 209 (0,01%) usos e mantém 105
pronunciamentos para cada período, com a diferença de que aumenta sua importância
proporcional no recorte de 2011 a 2018, saindo de 21% para 24,8% de representatividade. Em
paralelo, a palavra Ditadura aumenta de 140 (0,004%) para 157 (0,01%) usos e de 69 (13,8%)
para 82 (19,3%) pronunciamentos. O crescimento das ocorrências do item lexical Democracia
não significa apoio a este regime político. Ao contrário, representa um aprofundamento do
autoritarismo do seu discurso concomitante ao fundamentalismo. Para a extrema direita, há uma

15
inversão semântica que considera a Ditadura Militar como um regime democrático e a
democracia brasileira como uma Ditadura (NOBRE, 2020).
Conforme Nobre (2020, p. 2), para esses grupos políticos, “primeiro precisa destruir
para depois poder construir, e o que vai construir? A real democracia. A democracia falsa é a
da Constituição de 1988”, uma vez que ela “acabou com a ditadura militar, o modelo do que é
uma democracia [...] – todos os partidos e governos que vieram depois são de esquerda. E essa
é a falsa democracia” (NOBRE, 2020, p. 2).
Em síntese, a partir de 2011, a potência discursiva do ultraconservadorismo aumenta
com acusações reiteradas contra grupos progressistas de corromperem valores sagrados,
condensados na infância e na família, transitando entre as denúncias contra a corrupção política,
o pecado religioso, o transtorno psiquiátrico e o crime. Desde então, bandeiras vermelhas e
arco-íris se encontram na formação do inimigo público brasileiro, unificando e simplificando o
“espantalho moral” dos distintos discursos conservadores, que se sentem os únicos
representados pela bandeira verde e amarela, símbolo da segurança nacional e patriarcal.
De um lado, tal discurso resiste a qualquer suposta afronta à propriedade privada, à
hierarquia entre os grupos e à desigualdade social; de outro, a qualquer ação que possa colocar
em xeque a leitura fundamentalista da tradição cristã. Na convergência entre ambos, o conceito
de “família” passa a ser significado como símbolo absoluto da propriedade patriarcal, definindo
a “casa” – o oikos, no grego – como o território natural do chefe masculino e seus subordinados,
mulher e filhos, tendo a cruz como arma e a arma como objeto sagrado. Por esses meios, a
guerra espiritual tem ganhado cada vez mais força política no país, fazendo com que conflitos
físicos e metafísicos se entrelacem no constante combate ao subversivo e ao infiel.

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