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Discente: Lauro José Cardoso

Curso: Licenciatura em História

Componente: Laboratório de Ensino, Fontes e Métodos III

Resenha Crítica

Quando procuramos entender mais sobre a Lei nº 10.639/2003 e a Lei


11.645/2008, nota-se que ambas têm em teoria o objetivo de incluir conteúdos e práticas
educacionais, que em termos de História, tem sido excluída e posta de parte na maior
parte dos currículos escolares brasileiros. Nesse caso, nessa resenha, traremos debates
em torno de dois textos, o primeiro é o da Ana Cláudia Oliveira da Silva "A
Implantação da lei 11.645/2008 no Brasil: um histórico de mobilizações e conquistas"
(2016), o segundo é o de Sales Augusto dos Santos "A Lei nº 10.639/03 como fruto da
luta antirracista do Movimento Negro" (2005).
Dessa forma, é importante lembramos que, conforme Silva (2016) em termos
tradicionais, a escola sempre contribuiu para o tratamento desigual dos indivíduos, tanto
por ter educado as novas gerações compreendendo a desigualdade apenas enquanto um
dos aspectos formais do sistema democrático, e também por privilegiar a
homogeneização que, sob a aparência de promover a ascensão dos indivíduos, serve
para encobrir as oportunidades desiguais a eles oferecidas pelo sistema capitalista, per si
injusto e excludente.
Dessa forma, esses fatos não passaram despercebidos pelos educadores e
movimentos sociais, que sempre reivindicaram uma forma mais justa de tratamento das
diferenças em todos os setores da sociedade. O Estado, pressionado pela sociedade civil
organizada, estabeleceu políticas de promoção de igualdade com o objetivo de alterar a
situação desfavorável das chamadas minorias sociais, em especial, aos afro-brasileiros e
indígenas. Assim sendo, um exemplo importante é a Lei 10.639/2003, substituída
posteriormente pela Lei 11.645/2008, que obriga a inclusão de conteúdos da História e
Cultura Afro-brasileira e Indígena nos currículos do Ensino Fundamental e Médio da
Educação Básica (SILVA, 2016, p. 85).
Na perspectiva de Santos (2005), entretanto, a legislação é bem genérica e não se
preocupa com a implementação adequada do ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira, pois ela não estabelece metas para implementação da lei e não se refere à
necessidade de qualificar os professores dos ensinos fundamental e médio para
ministrarem as disciplinas referentes à Lei nª 10.639. Logo, a Lei de 9 de janeiro de
2003, acaba por fazer isso menos ainda, o que é grave, isto porque, há necessidade de as
universidades reformularem os seus programas de ensino e/ou cursos de graduação,
especialmente os de licenciatura, para formarem professores aptos a ministrarem ensino
sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
Ao que parece, a lei federal, indiretamente, joga a responsabilidade do ensino
supracitado para os professores. Ou seja, vai depender da vontade e dos esforços destes
para que o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira seja ministrado em sala de
aula. Essa lei também não indica qual é o órgão responsável pela implementação
adequada da mesma, bem como, em certo sentido, limita o ensino da História e Cultura
Afro-Brasileira às áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
Aqui, pensamos que há um erro grave nessa lei, dado que as principais críticas às nossas
relações raciais têm sido elaboradas principalmente no campo das ciências sociais e
mais recentemente na área de educação. A não consideração de que os conteúdos
referentes à História e Cultura Afro-Brasileira deveriam ser ministrados especialmente
nas áreas de ciências sociais e de educação, parece-nos um grande equívoco, pois, ao
que tudo indica, são estas áreas que estão à frente da discussão das relações raciais
brasileiras. Pensamos que tais limitações da lei podem inviabilizá-la, tornando-a inócua
(SANTOS, 2005, p. 33 e 34).
Consequentemente, segundo Silva (2016), o debate sobre discriminação e
desigualdade étnico-racial há muito vem sendo travado no Brasil, pois, primeiro essas
questões foram levantadas pelos movimentos sociais organizados, bem como por
intelectuais formadores de opinião para, posteriormente, serem discutidas por
significativos contingentes da nossa sociedade. E foram essas discussões que
culminaram em uma série de medidas que pressupunham combater preconceitos e
modificar situações desfavoráveis às chamadas minorias sociais. De acordo com Santos
(2005), levando em consideração que, os movimentos sociais negros, bem como muitos
intelectuais negros engajados na luta anti-racismo, levaram mais de meio século para
conseguir a obrigatoriedade do estudo da história do continente africano e dos africanos,
da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da
sociedade nacional brasileira. Contudo, torná-los obrigatórios, embora seja condição
necessária, não é condição suficiente para a sua implementação de fato.
Em conclusão, precisamos perceber que a obrigatoriedade do ensino das leis
10.639/03 e 11.645/08 continua sendo um tema que traz muitas dúvidas aos professores
e professoras em relação à sua implementação, uma vez que com a sua obrigatoriedade
nas escolas, não se tem, efetivamente, a diminuição das diferenças sociais e culturais
existentes na nossa sociedade. Sem esquecer que, também a valorização da cultura
africana e indígena que tanto contribuíram para a formação do povo brasileiro, não tem
a devida atenção merecida. Por isso, ao recusarmos essas raízes culturais é o mesmo que
recusar as nossas culturas ancestrais, tendo em conta que elas estão presentes em nosso
cotidiano, mas permanecem excluídas, esquecidas e limitadas, de forma equivocada, por
exemplo, às aulas de história. Dessa forma, é preciso apresentarmos estratégias, práticas
e ações com o objetivo de realizar o trabalho de implementação das leis da melhor
forma possível, em conjunto com a relação entre diferentes conteúdos e pensando em
novas possibilidades de compreensão, que cumpram seu objetivo de auxiliar os
professores e professoras, com as atividades teóricas e práticas na articulação e
implementação das leis com os conteúdos estruturantes do Ensino de História.

Referências

SANTOS, Sales Augusto dos. A Lei nº 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do
Movimento Negro. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº
10.639/03. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade, 2005, p. 21-38.

SILVA, Ana Cláudia Oliveira da. A implantação da Lei 11. 645/2008 no Brasil: um
histórico de mobilização e conquistas. In: SILVA, Edson; SILVA, Maria da Penha da.
A temática indígena na sala de aula: reflexões para o ensino a partir da Lei 11.
645/2008. 2º ed., Recife: Ed. dos Organizadores, 2016, p. 85-112.

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