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SUPLEMENTO TEOlÓGICO

PALAVRA AO LEITOR p.3

TRIBUNA.
Paulo W. Buss
,
Segundo Slmposlo InternaclOnal de Lutero
~9
~ .:.
J~I
:.:. ~.:...;: p. 5

ARTIGOS
A Missão de Deus .:. p. 9
Leonardo Neitzel "", - "
A Igreja na Cidade :~..r. :~..::.:.~ p.25
Reinaldo M. Lüdke
As Portas da Cidade ,. •.; "..••...•.,
Augusto Kirchhein
Barnabé ·..·
Reinaldo M. Lüdke
· · l ~ ,~ p. 60

LITURGIA

DécimoLitúrgica
Dança Culto Cantate. no ICSP "' ~ ...•~~;/
'!t1L ,. :~
..................•...................... ..!./..•... ~ p. 87
p. 69

MÚSICA
~..f......•........... p. 101
A Oração de Habacuque ......•.................................................................
Meu BomJesus, Eterno Rei L./
tr::·:L p. 102

LIVROS RECEBIDOS c. ..;. ~; ::; p. 105

No. 15' ·/ANO 15 • No. l' • 2000


INSTITUTO CONCÓRDIA
DE SÃO PAULO
EDUCANDÁRIO OFICIAL DA IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL

Ano 15 • Número 1 • 2000


.-\

o tema geral que pre,j


da Vox Concordiana é miss?c -
reflexões sobre o assunto
VOX CONCORDIANA - SUPLEMENTO TEOLÓGICO são de Deus"). Os outros ~. .. _._
tarefa da pastoral urbana e ~. ~.
tir sobre a missão urbana er:-
Revista teológica semestral publicada pela naldo M. Lüdke (JlAlgreja L?=~:-' ::
Congregação de ProÍessores da Escola Superior de Teologia uma diagnose da atuação
do Instituto Concórdia de São Paulo.
banos brasileiros. Os nÚme: - ~ -=-

relevantes para as congrep;~::~ --


Editor nas. Com base em uma obr?, .~::
DeomarRoos Kirchhein faz comparações :C::?-=
pistas para uma pastoral m':.'., ..
Congregação de Professores nabé"), o rev. Reinaldo ~1. L'.:: -:--
Ari Lange, Cláudio L Flor,
desenvolvimento da miss?c, .... __.~-:
David Coles W., Deomar Roos,
Erní W. Seibert, Leonardo Neitzel, Outros eventos que oc:"-::
Paulo W. Buss, Raul Blum. reflexos nesta edição da Fc: __=: .. '
seção Tribuna, tece coment?~~-~. ~~ _
Os artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores.
donal de Lutem. O prof. R2'.:~ ::.
as mensagens do Culto CalL<-=- -'- .
Por fim, dois arranjos music~~ .:' -= :

ACEITA-SE PERMUTA COM REVISTAS CONGÊNERES da congregação, além das se:' < -
mero da Vox Concordiana.
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA Ao leitor, boa leitura:
INSTITUTO CONCÓRDIA DE sAo PAULO
Caixa Postal 60754 " 05786-990 São Paulo, SP
Fone: (11) 5841-7652 fi Fone/Fax: (11) 5841-7529
E-mail: icspest@uol.com.br

Ano 15 e Número 1 III 2000


Vox CONCORDIANA
ao:
o tema geral que predomina nos artigos do presente número
da Vox Concordiana é missão. O prof. Leonardo Neitzel contribui com
R~ ~" reflexões sobre o assunto indicado pelo título do seu artigo (li A Mis-
_ I'lEMENTO TEOLÓGICO são de Deus"). Os outros dois artigos e o estudo bíblico enfocam a
tarefa da pastoral urbana e foram discutidos em reuniões para refle-
tir sobre a missão urbana em diferentes partes do Brasil. O rev. Rei-
- c,ublicada pela na Ido M. Lüdke ("A Igreja na Cidade") apresenta uma perspectiva e
~, :<.a Superior de Teologia
,ce São Paulo.
uma diagnose da atuação das congregações da IELB em centros ur-
banos brasileiros. Os números e conclusões das suas reÍlexões são
relevantes para as congregações da IELB, principalmente as urba-
nas. Com base em uma obra de um cientista social, orev. Augusto
Kirchhein faz comparações, reflexões! questionamentos e aponta
- -::Professores
pistas para uma pastoral urbana da IELB. No estudo bíblico ("Bar-
., L. Flor,
nabé"), o rev. Reinaldo M. Lüdke enÍoca o trabalho de Barnabé e o
c -·,1ar Roos, desenvolvimento da missão urbana na cidade de Antioquia.
<do Neitzel, Outros eventos que ocorreram na EST também deixam os seus
,,1Blum.
reflexos nesta edição da Vox Concordiana. O prof. Paulo VI. Buss, na
seção Tribuna, tece comentários sobre o Segundo Simpósio Interna-
. =-:,a.bílidade dos seus autores. cional de Lutem. O prof. Raul Blum compartilha a ordem litúrgica e
as mensagens do Culto Cantate em celebração aos 52 anos do ICSP.
Por fim, dois arranjos musicais inéditos e a dança litúrgica para uso
. ~.E\'ISTAS CONGÊNERES
da congregação, além das seções tradicionais, completam este nú-
mero da Vox Concordiana.
.-- :=:t TEOLOGIA Ao leitor, boa leitura!
::::-, DE SÃO PAULO
: - '--"90 São Paulo, SP
::'ax: (11) 5841-7529 Deomar Roas
... com.br
Editor
~~<LetO 1• 2000
Vox CONCORDIANA 3
SEGUNDO SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LUTERO
Paulo W. Buss

"Comunhão e Separação no altar do Senhor". Sob este tema re-


alizou-se/ nos dias 19-23 de julho de 1999/ o segundo Simpósio In-
ternacional de Lutero promovido pela Escola Superior de Teologia
do Instituto Concórdia de São Paulo.
Lutero dedicou muito tempo e muito espaço em seus escritos à
doutrina da Santa Ceia. Afastando-se do conceito predominante em
sua época que via a Ceia como um sacrifício que nós oferecemos a
Deus/ Lutero/ numa verdadeira IIrevolução copernicanall/ restabe-
lece a perspectiva teocêntrica que percebe o que Deus faz por nós
neste meio da sua graça. Dessa maneira/ só podemos nos aproxi-
mar do sacramento com fé para receber o que Deus ali nos quer
oferecer. Vindo com fé/ diz Lutero, "sentirás quão alegre e opulento
banquete de casamento e regalo teu Deus preparou para ti sobre o
altar.1I (OS IA35-6)
Lutero sabe que a Santa Ceia é o l/sacramento da comunhão/
do amor e da l..mião//. Não obstante/ foi justamente essa doutrina
que ocasionou algumas das maiores polêmicas e rompimentos em
que se viu envolvido. Primeiramente/ Lutero teve que tomar posi-
ção e se distanciar do ensino católico romano sobre o sacramento.
Em seguida/ vieram à tona as diferenças com os entusiastas e re-
formados. É bem conhecido seu debate com Zwínglio no Colóquio
de Marburgo/ em 1529. Diante dessas polêmicas/ é preciso ressal-
tar que Lutero jamais buscou a polêmica e que ele era avesso ao
sectarismo. Mas ele certamente concordaria com Hermann Sasse
de que na igreja de Cristo lia busca da verdade e a busca da união
são uma só/ como na oração sumo-sacerdotal de nosso Senhor por
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TRIBUNA-----------------------------

sua igreja a petição à fim de que todos sejam um' está inseparavel- ca. Uma diferença básica na a._
mente ligada ·com a precedente 'Santifica-os na verdade'" (Hermann ficas, mesmo que não exp~:.::
Sasse, Isto é o Meu Corpo, trad. Mário L. Rehfeldt, Porto Alegre, Con- trar a profundidade do desa..:nI-
córdia, 1970, p. 249). O rev. Luisivan Strelo'..", ..::-
Os preletores do segundo Simpósio Internacional de Lutero se lho na Santa Ceia: Benefício e
aprofundaram nos escritos de Lutero sobre a Santa Ceia e explora- de Lutero sobre o sacrame-:'~ ---
ram o significado de sua posição e de seus debates para os dias atu- tando o doce evangelho prese- -
ais. O dr. Robert Rosin, da LCMS, iniciou a série de palestras do do a atenção para distorçõe-
simpósio falando sobre "Lutero, a Ceia do Senhor, e Roma". Enfati- apontadas por Lutero para eH-
zou a necessidade de interpretar as afirmações de Lutero em seu "O Princípio Escriturísricn .-:~
contexto. Visando tornar compreensível a polêmica de Lutero com
Roma, o preletor passou em revista o desenvolvimento da doutrina
Ceia" foi o tema desenvolYi~~ _ .
rana da Venezuela. Coles de:T'.or-
do sacramento do altar na Idade Média. Nesse desenvolvimento, sistente e fiel ao princípio esc:r:.
destacam-se idéias chaves como transubstanciação, concomitância, tólicos romanos e reformados - ~
comunhão sob uma só espécie, a missa como sacrifício. Quando ado secundariamente por ele
Lutero percebeu que a Santa Ceia é o evangelho, ele entrou em con- maneira, a realidade que se e..'1Cn
flito, de maneira progressiva, com estes conceitos medievais. Cada sacramento é bem mais comple
vez mais, a palavra, e especialmente as palavras da instituição se damental no emprego do prind":-
tornaram o centro da teologia de Lutero sobre a Santa Ceia. É nessa tinção entre lei e evangelho e
palavra que ecoa o evangelho: "dado e derramado por vós para re- to. O preletor concluiu afirmar--
missão dos pecados". pa lugar central e fundamental r
Na palestra seguinte, o dr. James Nestingen, da ELCA, abor- Lutero, todavia, empregou es:e r-~
dou o tema "Zurique e Genebra: Problemas da Reforma em Rela- guindo entre questões fundame:"-~
ção à Presença Real". Nestingen examinou as controvérsias com os O Prof. Albérico Baeske, da ~
reformados, identificando as divergências específicas entre lutera- sobre o tema" A Comunhão Esca:'iJ
nos e reformados. Para isso, delineou em primeiro lugar a contro- dos textos bíblicos de Marco:::>c..-=: __

vérsia com Zwínglio e suas conseqüências e, em seguida, os pro- ~com "um desdobramento COIT'
blemas entre luteranos e João Calvino. A questão da presença real auxílio de Martinho Lutero". Sa.....:
de Cristo na Santa Ceia revelou-se como um obstáculo intranspo- que vem no futuro já está pres
nível entre calvinistas e luteranos. Calvino estava disposto a afir- rica fonte de consolo para os a:-.~
mar uma presença real de Cristo na Ceia mas esta presença aconte- mesmo tempo, essa comunhão
ceria espiritualmente pela fé. Com Calvino, a questão também en- e concretos na vida do cristão :-.0 ~
tra na área da cristologia. Os luteranos respondem a essa contro- Uma reação às preleções c
vérsia com dois artigos da Fórmula de Concórdia: artigo VII afir- BRA. Ele relacionou o conteúd
mando a presença real e artigo VIII definindo a questão cristológi- da !ELB. Chamou a atenção par
6 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA
..-~
---------------------------------TRIBUNA

• : .'5 sejam um' está inseparavel- ca. Uma diferença básica na hermenêutica e presuposições filosó-
~~jca-os na verdade'" (Hermann ficas, mesmo que não expliquem toda a diferença, ajudam a ilus-
~. Rehfeldt, Porto Alegre, Con- trar a profundidade do desacordo.
O rev. Luisivan Strelow, da IELB, falando sobre "Lei e Evange-
, : ~io Internacional de Lutero se
lho na Santa Ceia: Benefício e Ofício" passou em revista os escritos
,_: :::obre a Santa Ceia e explora- de Lutero sobre o sacramento analisando conceitos centrais, ressal-
- c: :::eusdebates para os dias atu- tando o doce evangelho presente na Ceia e, por outro lado, chaman-
<cíou a série de palestras do do a atenção para distorções do sacramento e salientando as razões
C::3. do Senhor, e Roma". Enfati-
=
apontadas por Lutero para excluir pessoas da participação na Ceia.
c ?iirmações de Lutero em seu "O Princípio Escriturístíco de Lutero na Polêmica sobre a Santa
'_--e1 a polêmica de Lutero com Ceia" foi o tema desenvolvido pelo dr. David Coles, da igreja Lute-
:esenvolvimento da doutrina
rana da Venezuela. Coles demonstrou que Lutero, além de ser con-
_C:::.ia.Nesse desenvolvimento, sistente e fiel ao princípio escriturístico em suas polêmicas com ca-
-_':;-,.Dstanciação, concomitância, tólicos romanos e reformados, não deixou de ser também influenci-
-_':':;5a como sacrifício. Quando ado secundariamente por elementos da tradição e da razão. Desta
- c::-.'angelho, ele entrou em con- maneira, a realidade que se encontra nos escritos de Lutero sobre o
e ~~e5 conceitos medievais. Cada
sacramento é bem mais complexa do que às vezes se imagina. Fun-
'-;: 3.::: palavras da instituição se damental no emprego do princípio escriturístico em Lutero é a dis-
, _ -c:~-J sobre a Santa Ceia. É nessa
tinção entre lei e evangelho e a combinação de palavra e sacramen-
e derramado por vós para re- to. O preletor concluiu afirmando que o princípio escriturístico ocu-
pa lugar central e fundamental na doutrina eucarística de Lutero.
estingen, da ELCA, abor-
e: ~ '\
Lutero, todavia, empregou este princípio de maneira sadia, distin-
- :: ~emas da Reforma em Rela-
guindo entre questões fundamentais e aspectos menos importantes.
--u .ou as controvérsias com os
O Prof. Albérico Baeske, da IECLB, compartilhou suas reflexões
>':ias específicas entre lutera- sobre o tema" A Comunhão Escato1ógica'!. Iniciou com uma análise
- _ eln primeiro lugar a contro- dos textos bíblicos de Marcos 14.15 e 1 Coríntios 11.26 e continuou
:-cias e, em seguida, os pro-
e:
com "um desdobramento comunitário-pastoral dos mesmos com
_~questão da presença real auxílio de Martinho Lutero". Salientou que, na ceia do Senhor, aquele
_ • :~-_J um obstáculo intranspo- que vem no futuro já está presente para os comungantes, o que é
= : ~--ino estava disposto a afir- rica fonte de consolo para os angustiados e desesperançosos. Ao
= -:~?::11aS esta presença aconte- mesmo tempo, essa comunhão com o Senhor traz reflexos presentes
= .--:no, a questão também en- e concretos na vida do cristão no mundo.
-~ ~espondem a essa contro- Uma reação às preleções coube ao dr. Manfred Zeuch, da UL-
Concórdia: artigo VII afir-
~ e:
BRA. Ele relacionou o conteúdo das preleções com a realidade atual
- = :::-.:ndo a questão cristológi- da IELB. Chamou a atenção para diferentes estudos recentes empe-
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TRIBUNA-----------------------------

nhados em determinar o sentido do sacramento. Desafiou os pre-


sentes a levar a sério o contexto teológico em que \·i\-ernos e desta-
cou a necessidade de dialogar com a teologia atuallLa linguagem
que esta emprega. Fazendo referência aos estudos apresentados no
simpósio e a outras pesquisas! Zeuch abordou a quest2ícoda institui-
ção divina da Santa Ceia! a questão da presença de Cristo no sacra-
mento e os efeitos salutares do mesmo! e concluiu com uma anãlise A MISS_-\O
da relação entre palavra e Santa Ceia.
Um bom número dos cinqüenta participantes registrou a sua
avaliação do simpósio. Muitos destacaram o alto nível teológico das
preleções e sua relevância para a igreja de hoje. Visando disponibili- I. A MISSÃO DE DEUS
zar o rico conteúdo das palestras a um público mais amplo! quere-
mos publicar as mesmas em futuro próximo. Vale lembrar que al-
Para definir missiologia. e =- -=~
guns palestrantes retrabalharam e aprofundaram alguns aspectos
de suas pesquisas após a realização do simpósio. Deus a partir da Escritura e ~~:~.c ~
Além das palestras! cabe ressaltar outros momentos significati- Isto é o que tentamos fazer n.:::;. -: c ~
vos do simpósio. Um destes foi o culto de abertura em que foi pre-
gador o presidente da IELB! Rev. Carlos W. Winterle. Além disso!
devoções dirigidas pelo Rev. Paulo R. Teixeira deram início às ativi- 1. Missio Dei - Obra do Espint
dades de cada dia. Finalmente! os debates em grupos e em plenário
A Missio Dei é a obra di\-ír.? ?:. =

tiveram uma importância toda especial.


A Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São salvar pecadores e trazê-los F?.ê ::
Paulo planeja continuar promovendo futuros simpósios sobre a teo- IIPorque o Filho de Homem \-e==.: _s
logia de Lutero. A previsão é de continuar a realizar os mesmos a IIV'111d/I . d e QC
o! porem! a p emtu . =-==-.' ~
cada três anos. Desde já! incentivamos os leitores a planejarem sua do de mulher! nascido sob a
participação no próximo simpósio. Estamos convictos de que temos lei! a fim de que recebêssemos? :..=-.:
muito ainda a aprender com Lutero e que seus escritos podem ser- das três pessoas da SantíssirrL': -=-::-~--:
vir de motivação para refletirmos e para encontrarmos a direção a Rm 5.8; Jo 3.1-7)6). Esta obra ~~.' -=-=-i

seguir em relação a questões complexas que confrontam a igreja em por Martinho Lutero em sua e· -: .=.
nossos dias.
Apostólico: Deus! o Pai criot,:
mundo; e Deus! o Espírito Sal"'.::~::

1 Professor na Escola Superior de Teologi.' c

8 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


: .o,cramento. Desafiou os pre-
o::~co em que vivemos e desta-
:eologia atual na linguagem
, :'.:]5 estudos apresentados no
ê :·:Jrdou a questão da institui-

:ê',resençade Cristo no sacra-


e concluiu com uma anãlise A MISSÃO DE DEUS
Leonardo NeitzeP
~_-
.'irticipantes registrou a sua
_:"rn o alto nível teológico das
- ':,2 hoje. Visando disponibili- I. A MISSÃO DE DEUS
, ~_"Úblico mais amplo, quere-
,._-,,:imo. Vale lembrar que al-
.-_~iundaram alguns aspectos Para definir missiologia é necessário antes definir a missão de
:<mpósio. Deus a partir da Escritura e do papel da igreja na missão de Deus.
-.'.tros momentos significati- Isto é o que tentamos fazer nas páginas que seguem.
:'e abertura em que foi pre-
___:-\V Winterle. Além disso,
- -=- 2~\~eiraderam início às ativi-
1. Missio Dei - Obra do Espírito Santo
~~.~em grupos e em plenário
A Missio Dei é a obra divina através da qual Deus veio em Cristo
=~-,stitutoConcórdia de São salvar pecadores e trazê-l os para a comunhão com ele e sua igreja:
._~.iroSsimpósios sobre a teo- "Porque o Filho de Homem veio buscar e salvar o perdido" (Lc 19.10).
__
'.?ir a realizar os mesmos a "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nasci-
. _:-leitores a planejarem sua do de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a
- ··-JS convictos de que temos
lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos" (GI4.4,5). É a obra
c::",.
- .-_.cseus escritos podem ser-
encontrarmos a direção a das três pessoas da Santíssima Trindade do princípio até o fim (d.
. ~'_:,e confrontam a igreja em
Rm 5.8; Jo 3.1-7,16). Esta obra da Trindade está claramente expressa
por Martinho Lutero em sua explicação dos três artigos do Credo
Apostólico: Deus, o Pai criou o mundo; Deus, o Filho, resgatou o
mundo; e Deus, o Espírito Santo santificou o mundo.

1 Professor na :escola Superior de Teologia, São Paulo, SP.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 9


ARTIGOS-------------------·------------

A Santíssima Trindade é o começo bem como o conteúdo da o Espírito Santo de:-:.c=-=-<.- '-_
(Jo 20.22,23; At 1.8). Atr2'.2~
Missio Dei. George Vicedom chama isto de obra indivisível, "0 mais
alto mistério" revelado na Escritura: Deus envia o Seu Filho; O Pai e te do pecador e o traz à. ~c e::-_-
Filho enviam o Espírito Santo, sem dissolver a Trindade. Deus é ao através do uso da pala\T_'. :
verdadeira e na expecta tF ,c _-
mesmo tempo o que envia e o enviado. Em cada pessoa da trindade
Ao mesmo tempo o Espi:":=_ .~
Deus age em sua totalidade. A palavra Dei na frase lvlissio Dei de-
outros com um desejo arde:--
sempenha o papel de um genitivo possessivo e atributivo ao mesmo
(FC, SD, IV,8)0; Ap IVHl . ~_ -
tempo. Isto implica dizer que a missão de Deus é por natureza divi-
quenos cristas" para os OlC_ :-
na e pertence a Deus.2 Foi projetada e trabalhada pela oikol1omia da ser confessionais sem confe~ ~--
Trindade (Ef 1.10; 3.9).3
A Missio Dei é divina; também não permite a interferência do
homem. Acontece extra 110S! no sentido de que não permite qualquer
participação da parte do homem. Este é só o recipiente ou beneficiá-
2. A Igreja e a Missio Dei
rio da graça de Deus. Exclui qualquer tipo de justiça hurrtana (i.e. Martinho Lutero define .~
obra praticada por homens). Não pode ser manipulada ou domesti- tes e ovelhas aue ouvem a ,,- :=
-'-

cada por indivíduos em um contexto geográfico ou social específi- sua igreja pela obra do Espi',-: = _ ::::.

co. É "negócio" próprio de Deus (Os 3.9; At 4.12)! e seu caráter é são reunidos para formar a ,--"
universal por natureza (At 1.8; Mt 28.16-20). e o perdão de pecados atra','c:, _-.-_
Os méritos de Cristo, por causa de sua completa obediência ao congregatio sanctorum na q'_:,:u _ ~ :
Pai, são atribuídos ao pecador (justificação objetiva). É um ato de estar em comDanhia de De.o :-
-'-

pura graça (sola gratia) por Jesus Cristo (solus Clzristus), recebido so- Credo, 38, 45, 53, 54, 62). "(1:->:: .
mente pela fé (sola fide) (justificação subjetiva). Isto é claramente en- em sua pureza e os sacrac.C- - _
sinado através da Bíblia (sola Scriptllra). As Confissões Luteranas evangelho, ali está a igrejaU
descrevem claramente o "divino drama da redenção" de acordo com resultado e o propósito da _'~_::_::
a Bíblia (Rm 3.21-28; CAI IV; Ap, IV). rol a igreja é nada mais que '.=-=- _:-;::
A Missio Dei é revelada a nós através da linha vermelha que per- início ao fim permanece pc_.
passa de Gênesis, através do Livro da Lei, dos Profetas, dos Evange- a igreja de volta ao evangeL-: .
lhos, das Epístolas! até Apocalipse. Alcança seu cume na morte e volta a sua missão".6
ressurreição de Jesus Cristo. Acontece na expectativa da parolisia entre
o "já" e o "ainda não".
4 KOLB, ErwinJ. "Confessing the Faith
MO, October 1994, p. 357.
5 SCHERER, James. "Luther and Ivlissi: .
2 VICEDOM, Georg. Tlie Mission of God - An Introductiol! to n TlIeology of lvlissiol!. St. Louis, MO:
n, m. I, May 1994, p. 24.
Concordia Publishing House, 1965, pp. 5-7. 6 KOSCHADE, Alfred. "Luther on ",ris":
3 Irad.: "que desde o princípio do mundo tem sido escondido em Deus que criou todas as coisas por Iappert, ed., Philadelphia, 1965, p. :':'
Jesus Cristo".

Vox CONCORDL1NA Vox CONCORDIANA


10
------------------------------ARTIGOS

, 'd o da
_~.':-,
~eu o Espírito Santo desempenha papel fundamental na Missio Dei
,, ,._~, "o mais (Jo 20.22,23; At 1.8). Através do evangelho ilumina o coração e men-
.::..,. ~, "): O Pai e te do pecador e o traz à fé em Jesus Cristo; preserva-o na fé cristã
..." - - -,- Deus é ao através do uso da palavra e sacramentos; fortalece o crente na fé
[' ,
'oessoa da trindade verdadeira e na expectativa da parousia (terceiro artigo do Credo).
Irase
, • r'
iVliSSLO , Dez 'd e- Ao mesmo tempo o Espírito Santo aumenta no crente o amor por
. e I~tributivo ao mesmo outros com um desejo ardente e vontade de servir e fazer boas obras
" ~_',::e, por natureza d'lVl-. (FC SD, 1\1,8,10; Ap IV,141). Lutero enfatiza que os cristãos são "pe-
Dela
1
oikol107lzia da quenos cristos" para os outros. Robert Kolb diz: "Nós não podemos
ser confessionais sem confessar a fé'/.4
.. :-:1ite a interferência do
,.c não permite qualquer
- reci-oiente
" ou beneficiá- 2. A Igreja e a Missio Dei
justiça humana (i.e.
'''aniDulada ou domesti- Martinho Lutero define a igreja como o rebanho de l/santos cren-
.l
tes e ovelhas que ouvem a voz do seu Pastoril (AS/ XII). Ele reúne a
. -:' ilfico ou social específi-
sua igreja pela obra do Espírito Santo através da palavra. Os crentes
"'ct ,:1,.12), e seu caráter é
são reunidos para formar a igreja, na qual eles têm a palavra de Deus
e o perdão de pecados através da palavra e Sacramentos. A igreja é a
-." completa obediência ao
congregatio sanctorzmz na qual os cristãos têm todas as bênçãos de
,.:.:'

oD]ehva}.
1" \ E/ 'Um ato d e
estar em companhia de Deus e com o próximo (CA VII); CM/ O
·.·.5 C1zristlls), recebido 50-
. Isto é claramente en- Credo, 38, 45/ 53, 54/ 62). "Onde quer que o evangelho seja pregado
em sua pureza e os sacramentos administrados de acordo com o
,.:0,5 Confissões Luteranas
evangelho, ali está a igreja" (CA VII). A igreja é ao mesmo tempo o
'edenção" de acordo com
resultado e o propósito da lVlissio Dei. James Sherer diz: 'Tara Lute-
rol a igreja é nada mais que um instru.mento em uma missão que do
.c. ia linha vermelha que per-
início ao fim permanece por causa do próprio Deuslf•5 IfChamando
~ -=_ dos Profetas/ dos Evange-
a igreja de volta ao evangelho/ Lutero estava chamando a igreja de
::nça seu cume na morte e volta a sua missão".6
-=<cectativa da parausia entre

4 KOLD, Erwin J, "Confessing the Faith: Our Lutheran Vvayof Life", in COllcordia Joumal, Saint Louis,
MO, October 1994, p. 357.
Or lv1issioll, St. Louis, MO: 5 SCHERER, James, "Luther and Mission: A Rich but Untested Potential", in lv1issio Apostolica, vol.
n, m, 1, May 1994, p, 24.
~m Deus que criou todas as coisas por 6 KOSCHADE, Alfred, "Luther on Missionary Motivation", in Tile Lutilerall Quarterllj, Theodore G.
Tappert, ed., Philadelphia, 1965, p, 238.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 11

11I
ARTIGOS---------------------------------

Tendo recebido perdão, salvação, liberdade, a Trindade Santa, Para Vicedom, nãc :-.0' _:- • ..:.

fé, paz, santificação e todas as bênçãos, os crentes são enviados ao "Deus tem que fazer tud ~
mundo com um propósito - ser testemunhas da salvação através do sempre, Deus só faz a su:,:·~·
Senhor Jesus Cristo; ser o bom fermento no mundo. O Espírito San- se torna um instrumentc'.
to cria a fé através da palavra e fortalece as testemunhas em sua fé e Martinho Lutero diz:'
testemunho ou confissão. A fé recebida é uma fé dinâmica, ativa, Nós vivemos na ter!',: ~-:
que confessa: aos outros. Caso contrárlc' ~:' -
A fé é obra divina em nós, que nos transforma novamente nos gera ção e nos deixar morrer (1:-:-." -
de Deus, e mata o velho homem, torna-nos pessoas completamente di- nos deixa viver aqui para c' . _.
ferentes no coração, ânimo, mente e todas forças, e traz consigo o Espí- fazendo por elas o que ele}2:
rito Santo. Oh! fé é coisa viva, diligente, ativa, poderosa, deforma que Do que foi dito cheg:,c:-:- :
lhe é impossível deixar de estar constantemente fazendo o que é bom. recipiente e difusora da salc -~<o .
Igualmente, afé não pergunta se boas obras devem ser praticadas, mas
nha um papel crucial na .\I:.=.:
antes que alguém pergunte, afé já asfez e está constantemente em ação
priedade de Deus a seu sec:~~' ..
(FC, SD, IV, 10,11).
missionária por essência e L'. __ ::-"
Chamada para participar na Missio Dei, a igreja é uma igreja
testemunhar o evangelho v.•.. ' .
que confessa (At 4.19,20; 5.29,32) ou proclama (At 5.42; 8.4), como é
não pode ser distraída por fu.T. ~ c c: ~ ~
também uma igreja que serve7 (At 4.32-35; 6; 11.27). Martinho Lute-
"A igreja é a portadora, m3.S ~'? .
ro diz: "Eu creio que Jesus Cristo ." é meu Senhor, pois remiu a mim,
a todos os homens. Ela pode s::: .:.'
homem perdido e condenado, me resgatou ... para que eu lhe pertença e viva
submisso a ele em seu Reino e o sirva ... " (CM/ Credo, 3-4). jamais ousar impor limites" ':.-=
A igreja e a missão têm sua fonte em Deus. Uma não é indepen- o evangelho, não tenho de "l-c: '-:"c:
dente da outra. George Vicedom escreve:8 obrigação; porque ai de mirr- :'-=- :- =

Se é verdade que Deus deseja a missão, uma vez que é ele mesmo A igreja ou é uma igreja que :,'. _:. .:ê

1uto. "A' Igreja


. so/.eXIste e \'1'.'",::'
, .-"
quem leva a cabo a missão, então a igreja só pode ser vaso de Deus e
ferramenta se ela se rende inteiramente ao propósito dele ... A igreja não mar outros ao arrependimec:. c: ~
é chamada para decidir se ela continuará a missão ou não. Ela só pode
decidir por si se ela quer ser igreja.
9 Idem, Ibidem, p. 116.
10 KOSCHADE, Alfred. "Luther on \Lcc
Tappert, ed., Philadelphia, PA, 1963.: _
7 PREUS, Robert D. "The Confessions and the Mission of the Church", in The Springfielder, vol. 39, 11 VICEDOM, Georg. The Missioll
m. 1, June 1975, p. 20. dia Publishing House, 1965, p. 37.
B VICEDOM, Georg. The Mission of God - AI11nlroduction 10 a Theology of Mission. St. Louis: Concor- 12 KOSCHADE, Alfred. "Luther on \L·.~
dia Publishing House, 1965, p. 6. Tappert, ed., Philadelphia, PA, 19V ~-.::.:

12 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


-----------------------------ARTIGOS

liberdade, a Trindade Santa, Para Vicedom, não há nenhuma dúvida de que na Missio Dei
: ' : s, os crentes são enviados ao
"Deus tem que fazer tudo". "Isto está fora de qualquer dúvida. Mas,
: :~'.'~m.has da salvação através do sempre, Deus só faz a sua obra na medida em que o seu mensageiro
-::'~o no mundo. O Espírito San- se torna um instrumento.9
- =.=e as testemunhas em sua fé e Martinho Lutero diz:10
:, ja é urna fé dinâmica, ativa, Nós vivemos na terra para nenhum outro propósito do que ser útil
aos outros. Caso contrário seria melhor para Deus tomar nossa respira-
· -::ilsforma novamente nos gera
ção e nos deixar morrer assi1l1 que batizados e começamos a crer. Mas ele
'- : 05 pessoas completamente di-
nos deixa viver aqui para que nós possamos levar outras pessoas a crerj
, 's forças, e traz consigo o Espí-
fazendo por elas o que ele fez por nós.
,- :diva, poderosa, de forma que
Do que foi dito chegamos à conclusão de que a igreja, corno
. ' ':emente fazendo o que é bom.
recipiente e difusora da salvação (resultado e propósito), desempe-
:.75 devem ser praticadas, mas
nha um papel crucial na Missio Dei. Está em missão sempre; é pro-
_:: " está constantemente em ação
priedade de Deus a seu serviço buscando e salvando pecadores. É
missionária por essência e natureza. A missão primeira da igreja é
_ ,':'0 Dei, a igreja é urna igreja
,,'~'JClama(At 5.42; 8.4), corno é testemunhar o evangelho da salvação através de Jesus Cristo. Ela
, -= : :'-33; 6; 11.27). Martinho Lute- não pode ser distraída por funções secundárias. Corno diz VicedomY
:eu Senhor, pois remiu a mim, "A igreja é a portadora, mas não a mestra desta mensagem dirigida
. para que eu lhe pertença e viva a todos os homens. Ela pode se colocar a serviço do reino mas deve
=.'\1,Credo, 3-4). jamais ousar impor limites a ele." O apóstolo Paulo diz: "Se anuncio
'= -=~~'Deus. Urna não é indepen- o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
- _ : :='-e:3 obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho" (lCo 9.16).
,':~ o uma vez que é ele mesmo
j
A igreja ou é urna igreja que proclama ou não é uma igreja em abso-
, .~só pode ser vaso de Deus e luto. "A igreja só existe e vive enquanto está ocupada sempre a cha-
'_-"ropósito dele ... A igreja não mar outros ao arrependimento e trazendo-os à fé"Y
, -.' missão ou não. Ela só pode

9 Idem, Ibidem, p. 116.


10 KOSCHADE, Alfred. "Luther on Missionary Motivation", in TlIe LutlIeran Quarterllj, Theodore G.
Tappert, ed., Philadelphia, PA, 1965, p. 236.
- :'2 Church", in TlIe Springfielder, vol. 39, 11 VICEDOM, Georg. TlIe Mission of God - An Introduction to a TlIeology of Mission. St. Louis: Concor-
dia Publishing House, 1965, p. 37.
of Mission. SI. Louis: Concor- 12 KOSCHADE, Alfred. "Luther on Missionary Motivation", in TlIe Luthemn Quarterly, Theodore G.
Tappert, ed., Philadelphia, PA, 1965, p. 232.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 13


---
ARTIGOS------------------------------

A igreja tem duas cidadanias: a divina e a humana. Ou, nas pala- Missiologia é o est._: -
vras de Vicedom, tem uma vestimenta divina e uma vestimenta hu- com a humanidade atl'Cc-_C
mana; é s1li generis, comprometida com Deus; ela é colocada num na sua palavra e recebidr ~-_
contexto cultural, geográfico e social. Não testemunhando do seu O t' .' L/IlP'i'"
nro'pr['O __ tel~.i,-,~-:; - Ll--;jl d ..t.-L. •." ~~'.

Deus, ela se torna nada mais que qualquer outro tipo de instituição do pecado do hotnem,L' .' L .

social no mundo. N8_0testemurJ'tando em contexto hurnano (de ma- imensa bondade, tOl11i7r":".
neira contextualizada a entender sua comunidade e fazer-se enten- Ivara dar-lÍles vida etemo ,:
der), não sendo incarnacional em seu ministério (]o 1.14; FI 2.5-11) que, incorporados na
ela perde seus ouvintes e a tarefa dada a ela por Jesus de ir a todas as testemunho da sua
nações (Mt 28.19). O mundo é o meio ambiente da igreja militante. muitos e diferentes
J
conte::' .
Ela é colocada aqui com claro e definido propósito de proclamar (kerys- Ivectativa do Cristo
50, euangelizomai) para o mundo perdido a mensagem de redenção
em Cristo, ser e estar junto a urna congregaç8_o dos redimidos.
A igreja continua a sua missão em obediência; urgência e vigi- 2, Implicações da Definjçâ
lância por causa da ruína do homem e a parollsii7 (Mt 10; Ef 6.10-20). Uma vez aue a lVIissic :=_ "-
Ela desempenha sua missão em gratidão à sua salvação, em alegria, seres humanos, com base Li. -~i.' .
louvor e ao mesmo tempo em humildade, debaixo da cruz. Está com- 'r'
textos espeClIlCos, 1'd'loma e
pletamente consciente e atenta do comando dado pelo Cristo vitori- i
O' da e rpcebirl
A
'po" tnrl
~ V c.. ~~.. - •••• -"-
ô.~
~ -!- ..I...
,'1
_1.._h •..• _~_
oso: "Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também ~ I/'.I'/! 1/ --." ',":
entre o ]à e o nao Eune::,
vos envio" (Io 20.21). O apóstolo Pedro diz: "Vós, porém, sois raça
estudos teológicos. ~vlissick:c::~
eleita, sacerdócio real, nação
_ santa, ~povo de proDriedade
_ l exclusiva
de relacionar o estudo de
de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos cha- nalr1Ura
.l' :.A" ~ 11'Un'i rnulltextn fOi" ,---- -
J....l. - '-- - -I,.. - "-' --- - - - - - - - - ...-

mou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9) . • " I l' I A '

gla esuenar a QlSlanCla entre:


diato", e o "contexto transfe~~_c .
nada ao estudo do atodi"\ .. _
H. O QUE É MISSIOLOGIA versos contextos culturais P
dem ser úteis à MissiologicL .~..
I. Definição ~isciplina
1.., ~ ~lb'-anr.-ente
(~b nl"rc':'-·-.
1. f.t-'~-Cu"---- -- ..
.,.If' . l' "
lV11SS1010g1â se relaCIOna cc;:;
Do estudo da Bíblia, da experiência de vida cristã, da trajetória
forma a outra"? Ernst R.
ministerial e dos estudos no programa de doutorado em Missiolo-
gia no Concordia Theological Seminary de Fort Wayne, apresento a zes para clarificar o aSSDJltc':
seguinte definição da Missio Dei. Sei, porém, que não é completa, Nós precisamos usar a:-,
mas em processo assim como Deus continua me conduzindo na sua cializados como lingÜística, iL=.. c

obra: '- l \- 1, 1.
rompcl~'-a'-l"Ta "-'eto'r'ca
.1 '" 1. DOph,-.,
1.: '-"--.!..'-'."

14 Vox CONCORDIANA Fox CONCORDL4NA


------------------------------ARTlGOS

~êlae a humana. Ou, nas pala- Missiologia é o estudo da ação misericordiosa e soteriológica para
..' .. :Evina e uma vestimenta hu-
com a hunzanidade através de seu Filho Jesus Cristo conforme revelada
.. :~L Deus; ela é colocada num
na sua palavra e recebida por fé através do poder do Espírito Santo - que
"\~ão testemunhando do seu
o próprio Deus, tendo visto sua criação decaída e condenada por causa
-',:er outro tipo de instituição do pecado do homem/ providenciou por seu Filho unigênito, enz sua
contexto humano (de ma-
. :=::rl imensa bondade, tomar sobre si mesmo os pecados de todos os homens,
~..mllmidade e fazer-se enten-
para dar-lhes vida eterna através da sua morte e ressurreição - de forma
"ninistério (Jo 1.14; Fl 2.5-11) que, incorporados na farnília de Deus e na comunhão dos crentes, dêem
'. :c ela por Jesus de ir a todas as testemunho da sua salvação até os confins do mundo, inseridos nos
?mbiente da igreja militante. muitos e diferentes contextos geográficas/ lingÜísticas e sociais, na ex-
.. t"ropósito de proclamar (kerys- pectativa do Cristo exaltado até que ele venha.
a mensagem de redenção
c.::·egacãodos
. u' redimidos .
. :....obediência, urgência e vigi- 2. Implicações da Definição
-: o parausia (Mt 10; Ef 6.10-20).
Uma vez que a Missia Dei é a ação de Deus em benefício dos
.:J à sua salvação, em alegria,
... ~e. debaixo da cruz. Está com- seres humanos, com base na palavra revelada dada em tempo e con-
.. ,C:ldo dado pelo Cristo vitori- textos específicos, idioma e contexto determinados para ser a enten-
~..Pai me enviou, eu também dida e recebida por todas as idades e contextos, e com implicações
- . .-. - diz: "Vós, porém, sois raça entre o "já" e o "não ainda" - isto faz da Missiologia o centro dos
J de propriedade exclusiva estudos teológicos. Missiologia é llma disciplina holística pelo fato
de relacionar o estudo de Deus comunicando sua eterna e imutável
~:üdes daquele que vos cha-
luz" (1 Pe 2.9). palavra num contexto em constante mutação. É tarefa da Missiolo-
gia estreitar a distância entre o "contexto original", o "contexto ime-
diato", e o "contexto transferido" da 1nalavra de Deus. Está relacio-
nada ao estudo do ato divino de trazer o supracultural com os di-
versos contextos culturais. Para este fim, outras áreas de estudo po-
dem ser úteis à Missiologia. Ao tratar-se da Missiologia que é uma
disciplina abrangente, perguntas que surgem às vezes são: "Como a
. ie vida cristã, da trajetória Missiologia se relaciona com as outras disciplinas? O que uma in-
. ~e doutorado em Missiolo- forma a outra"? Ernst R. Wendland nos provê com algumas diretri-
_~e Fort Wayne, apresento a zes para clarificar o assunto:
- . :'ém, que não é completa, Nós precisamos usar as ferramentas providas por campos espe-
.. ",a me conduzindo na sua cializados como lingüística, inclusive análise de discurso, literatura
comparativa, retórica poética, antropologia cultural e sociologia.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 15


,-------------------------------------------
- -- - ~-

Claro, muitas das pressuposições seculares e teorias modernas asso- mar Missiologia de reI .:>.:- :~ ~"
ciadas a tais disciplinas devem ser substituídas e/ou repudiadas. separadas de uma da c::: '
Mas os seus métodos básicos e descobertas são muito úteis, proven- siologia do seguinte mc.::~
do uma estrutura de contextualização dentro da qual um exemplo Missiologia é, da
particular da Bíblia - uma única palavra (por exemplo, chesed) ou sob a qual todas as discc
um livro inteiro (por exemplo/ O Cântico dos Cânticos) - podem ser blica, sociologia e lingiii:-:
observados de maneira melhor corretamente interpretados.B de Deus de Ilbuscar e sal~'"
Alan Tippet tem uma descrição abrangente das dimensões de l/razão para existirll. As:-!:'- _."
Missiologia que pode ser resumida em quatro partes: Teologia, An- de salvar) pode ser entel1d,,~ '
tropologia, Comunicação e Estratégia (Tetsunao). Segundo a sua teo I,oglcas,
. como a " eSSe71Ci.'::
A '

definição, a Missiologia ocupa lugar central no estudo da Teologia. (teologia) e suas partes o: i ~:-,'
As demais disciplinas são circunstantes e servem à Missiologia. A Wilhelm Andersen e:,<:,
revelação divina foi dada tão somente para ser proclamada e com- deixa de ser igreja se não
partilhada com o pecador. Ela tem em vista a salvação dos seres gia se perder seu caráter :.~:::.:-
humanos. Porém/ se não é transmitida não pode atingir o seu objeti- "Teologia, compreendida (. ~ ,~.:
vo soteriológico, pois a Teologia não acontece no vácuo; ela é a co- existir do que acompanhar:::::, , _
municação de Deus ao homem. Assim, Antropologia; Comunicação, A tarefa, e ao mesmo te:",' ,
Estratégias, etc./ são servas da Missio Dei no sentido de que trazem cas hoje, é ir sempre ao COE':;! ,
questões e outros elementos humanos importantes à proclamação diretiva: "Qual é a relação I":.' - c
do Evangelho. dada como enciclopédia de c:" ,~;
Qual é/ então, o lugar da Missiologia como ciência ou disciplina a Santa Bíblia. Não é neutra. e :::-':,
no currículo teológico? Esta questão foi debatida por mais de um de morte para os que se peL~:::-:','
século, e eu não tenho nenhuma intenção de trazer aqui uma solu- vida para aqueles que são :::=:
ção para o caso. Porém, é importante notar que ela não pode ser continua:
uma disciplina periférica aos estudos teológicos e às atividades da ... as sagradas letras n: : ,,' c
igreja. Missiologia é a corda que liga todas as disciplinas teológicas. pela fé ern Cristo Jesus. Toá: ' .~':
Não se pode estudar Teologia Sistemática, História da Igreja, Her- para o ensino, para a reprec:::= .
menêutica, Teologia Prática, Litúrgica, sem se estudar Missiologia. justiça, a fim de que o hon::
Missiologia é o raisol1 d'étre da teologia. "Permeia" todas as discipli- habilitado para toda boa obr.' ~-:-
nas e é ao mesmo tempo independente delas. Uma vez que chama-
mos a Teologia de rainha das disciplinas teológicas, podemos cha-
14 BUNKOWSKE, Eugene W. "Trends I;-
1, May 93, p. 16.
15 BOSCH, David J. TrnnsfoJ'lIling Ivl!s:'.
13 WENDLAND, Ernst R. "Cultural and Theological Specificity in Lutheran Missiology", in Missio Books, p. 494.
Apostolica, vol. III, 111'. 1, May 1995, p. 21. 16 Idem, Ibidem, p. 494.

16 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


------------------------------ARTIGOS

.. Ees e teorias modernas asso- mar Missiologia de rei das disciplinas teológicas. Não podem ser
, ..:·stituídas e/ou repudiadas. separadas de uma da outra. Dr. Eugene Bunkowske descreve Mis-
. :"tas são muito úteis/ proven- siologia do seguinte modo:
ientro da qual um exemplo Missiologia é/ da perspectiva bíblica/ mais como uma IIgalinhall
,"ra (por exemplo/ chesed) ou sob a qual todas as disciplinas teológicas - inclusive a antropologia bí-
.:'J dos Cânticos) - podem ser blica/ sociologia e lingÜística - vivem/ movem e têm o seu ser. O desejo
:,:nente interpretados.13 de Deus de "buscar e salvar o perdido" (Missiologia) dá à teologia uma
..'rangente das dimensões de IIrazão para existir". Assim Missiologia (desejo gracioso de Deus e ação
~~'-luatro partes: Teologia/ An- de salvar) pode ser entendida como a "cola" que une todos as disciplinas
. ~,c iTetsunao). Segundo a sua teológicas/ como a "essência central" de todo IIconhecimento sobre Deus"
::rLtral no estudo da Teologia. (teologia) e suas partes ou disciplinas.H
~:::-s e servem à Missiologia. A Wilhelm Andersen escreve: !IDa mesma maneira que a igreja
:::-}Jara ser proclamada e com- deixa de ser igreja se não for missionária/ teologia deixa de ser teolo-
~-- vista a salvação dos seres gia se perder seu caráter missionáridl•15 Ou como diz Gensichen:
-ão pode atingir o seu objeti- "Teologia/ compreendida corretamente/ não tem outra razão para
c .:.~mtece no vácuo; ela é a co- existir do que acompanhar criticamente a Missio Deill•16
~"'ültropologia,Comunicação/ A tarefa/ e ao mesmo tempo desafio para as disciplinas teológi-
~'. i no sentido de que trazem cas hoje/ é ir sempre ao coração da palérvra de Deus com a pergunta
:- lmportantes à proclamação diretiva: IIQual é a relação com a 11/1issioDei?'/ Pois a Bíblia não foi
dada como enciclopédia de convicções e práticas religiosas/ mas como
~~.:tcomo ciência ou disciplina a Santa Bíblia. Não é neutra e estática em seus resultados: É cheiro
~ ~L debatida por mais de um de morte para os que se perdem; aroma de Cristo ou fragrância de
de trazer aqui uma solu- vida para aqueles que são salvos (2eo 2.14-17). O apóstolo Paulo
.~ "Cotarque ela não pode ser continua:
:c"clÓgicose às atividades da ... as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação
~~'asas disciplinas teológicas . pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e Útil
. . -leal História da Igreja/ Her- para o ensino, para a repreensão; para a correção, para a educação na
:;ern se estudar Missiologia. justiça/ a fim de que o homem de Deus seja peifeito e perfeitamente
Permeia" todas as discipli- habilitado para toda boa obra (2Tm 3.15)6).
~~._~.elas.Uma vez que chama-
... ?s teológicas/ podemos cha-
14 BUNKOWSKE, Eugene W. "Trends In Missiology Today", in Missio Apostolica, St. Louis, voI. I, m.
1, May 93, p. 16.
15 I30SCH, David J. Trnnsforming Mission- Pnrndigm Slzifts in Tl1eology ofMission. Maryknol: Orbis
.~.t.· in Lutheran Missiology", in lVlissio Books, p. 494.
16 Idem, Ibidem, p. 494.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 17


~,
---------,-<~_.._-,-------------------------------

111. DESAFIOS PARA A MISSIOLOGIA LUTERANA DE HOJE gia Luterana, do qU2~ ::~L' ~
que continue como cr",":c: ~
Levando em conta as muitas e diferentes teologias de missão e 6. A Missiologia L~:':C:~"
tendências no mundo de hoje! as constantes mudanças do contexto tizando os ensinamen:=::, ::- _
humano e o crescimento dos estudos culturais e antropológicos, re- namento entre a dou::::- c :' _
laciono abaixo alguns desafios para a Missiologia Luterana sem qual- cerdócio Universal de t=:: '
quer intenção de ser exaustivo e prover respostas para os mesmos. 7. A Missiologia lu:::, ..
1. A Missiologia Luterana tem a tarefa de deixar a Bíblia, Lutero de Missiologia não coe:
e as Confissões luteranas falarem sobre os fundamentos e a motiva-
pensamento e prática r::~::-:c,:'~~
ção para a Missio Dei. Estes precisam estar no centro de nossa fé e informação úteis e nece::,::,:,
prática da Missiologia hoje. mesmo tempo, as Socied~:::" -
2. Para a Nlissiologia Luterana, o diálogo e a prática missiológi- am estar contentes com c ",:"'- .:-.
) necessitam ser analisados à luz dos três solas de Lutero - sola
ca hoie
bém em contribuir para ê; :ç "" ,
gratia, sola lide, sola Scriptura. íntima com frentes de mi::::0:= _~
3. A Missiologia Luterana vê a Missiologia como uma disciplina 8 A Missiologia LuteLo:" ,_',
abrangente, não limitada a disciplinas seculares, mas que faz uso processo da globalização c'. o :,

das descobertas científicas básicas como ferramentas para comuni- com alegria a evolução de :::~:::
cação do evangelho, desde que permitidas pela palavra de Deus. nas que dizem respeito a FO: ~c: q

4. A Missiologia Luterana faz distinção clara entre a missão pri- entre as igrejas luteranas ?:
mária da igreja e seus vários objetivos ou funções (adoração, educa- da IELB e o Concílio Lute?:' ,
ção, serviço, comunhi'io, testelm.mhof serviço, administração). Ten- 9. A Missiologia Lute?:' o

do suas atividades focalizadas no cumprimento de Mt 28.16-20; Mc armadilhas da contextuaL:-: c .


16.15-20;At 1.8;Jo 20.21.22 e outras sedes doctrinae da missão, a igreja Porém, ao mesmo tempo :'~ .. :-0
não admitirá entraves ao livre curso do evangelho. Não permitirá dar a responder pergunta:::-=- ~
que os meios na Míssio Dei se tornem fins em si mesmos. textualizado ou encarnad.: :--~,'
5. A Missiologia Luterana precisa continuar enfatizando a theo- de um evangelho social n?
logia cmÓs de Lutero na proclamação da mensagem da salvação, em Grande Comissão em um ::'..
vista dos perigos e danos do triunfalismo humanol da deificação lho verdadeiramente bíbll.: ~ cc ..

"humana", dos "mercadejadoresfl do evangelho (2Co 2.17), e do jogo cantena f arma. li? (T'lppet::'. - c:-~'_
de números que tantas vezes se pratica na missão. Para a Missiolo- 10. A Missiologia Lute:::
gia Luterana, a mensageIn da cruz é e continuará sendo escândalo e te a mudança do centro de:::,: . -
loucura para os que se perdem, mas poder de Deus para a salvação atual e redefinir sua descl'l: ~~
de todo aquele que crê (lCo 1.18-2.5).O Cristo crucificado, ressurre- missão da igreja. Missão r~.. _
to e vitorioso Salvador continuará o centro da pregàção da Missiolo- de missionários a terras .
18 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA
--------------------------------ARTIGOS

~:A LUTERANA DE HOJE gia Luterana, do qual ela não arreda um milímetro sequer - ainda
que continue como ofensa ao "sábio e entendido deste século".
--entes teologias de missão e 6. A Missiologia Luterana precisa continuar examinando e enfa-
c:Ltesmudanças do contexto tizando os ensinamentos de Lutero com resDeito
l ao estreito relacio-
: _~~Llraise antropológicos, re- namento entre a doutrina e prática do Ministério Público e do Sa-
.:~iologiaLuterana sem qual- cerdócio Universal de todos os Crentes.
- _ --espostas para os mesmos. 7. A Missiologia Luterana precisa '.,rer as Sociedades Luteranas
_::'~}de deixar a Bíblia, Lutero de Missiologia não como um preenchirnento de lacuna em nosso
- _~S fundamentos e a motiva- d·e pesqmsa
. e
pensamen t O e pratIca
/ ... mlSSlOnêIrlaj
/' mas como IOntes
r

_~t2X no centro de nossa fé e


informação úteis e necessária à igreia em sua tarefa missionária. Ao
L.' )

mesmo tempo, as Sociedades Luteranas de Missiologia não deveri-


~~:Jgoe a prática missiológi- am estar contentes com o empenho puramente acadêmico, mas tam-
~;três solas de Lutero - sola bém em contribuir para a pesquisa e prática missionárias em ligação
íntima com frentes de missão, seminários e congregações.
-_~~ogiacomo uma disciplina 8 A Missiologia Luterana precisa estar atenta aos resultados do
- ~eculares, mas que faz uso processo da globalização em algumas áreas; e ao mesmo tempo olhar
_ :erramentas para comuni- com alegria a evolução do processo em outras áreas, principalmente
_~2_S pela palavra de Deus. nas que dizem respeito a parcerias em missão e educação teológica
clara entre a missão pri- entre as igrejas luteranas ao redor do mundo (por exemplo, o caso
- _ funções (adoração, educa- da !ELB e o Concílio Luterano Internacional, ILC).
-'-'"iço, administração). Ten- 9. A Missiologia Luterana necessita estar alerta com respeito às
: :::11ento de Mt 28.16-20; Mc armadilhas da contextualização do evangelho em algumas áreas.
irinae da missão, a igreja Porém, ao mesmo tempo; necessita contribuir mais nesta área e aju-
cyangelho. Não permitirá dar a responder perguntas como: Como obter um Cristianismo con-
:_-.:em SImesmos. textualizado ou encarnado sem cair num sincretismo e demandas
,-bnuar enfatizando a theo- de um evangelho social na obra missionária? flComo levar avante a
_-:-ensagemda salvação, em Grande Comissão em um mundo multi-cultural, com um evange-
_-__c' humano, da deificação lho verdadeiramente bíblico em conteúdo e culturalmente signifi-
_ ;e1ho (2Co 2.17), e do jogo cante na forma"? (Tippet in Tetsuanao).
-_ê rnissão. Para a Missiolo- 10. A Missiologia Luterana precisa acompanhar cuidadosamen-
_~:nuará sendo escândalo e te a mudança do centro do crescimento do Cristianismo no contexto
~_ -:-:de Deus para a salvação atual e redefinir sua descrição dos termos "enviado" e "receptor" na
--sto crucificado, ressurre- missão da igreja. Missão não pode ser mais vista apenas como envio
pregação da Missiolo- de missionários a terras distantes, mas como empreendimento do
Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 19
ARTIGOS-----------------------------

dia-a-dia do cristão individualmente e da igreja como um todo ali volvida nas atividades_-:'::
na comunidade social e no contexto onde se encontram. A Missiolo- blicos com grande varie:,:::::- .:c
gia necessita continuar desafiando a igreja no (re-)direcionamento em nossa casa. Eles ceE;c=-,'::-:' ':c -
de seus investimentos de finanças e recursos humanos na obra da em minha vida e me alL.-:'.':·'
missão. Por exemplo:17De acordo com uma pesquisa, mais que 90% chamado ao ministério e:", ~~,- -
de todos os missionários estrangeiros e 87% de todas missões fun- Tendo experimentacL ','~:':
dadas ainda estão sendo alocados para o obra missionária em países fico maravilhado com a <:'~'.,' ,
onde 60% ou mais das pessoas já se identificam como cristãos. Em de todos os pecadores, dê'. :'. ,
contraste, menos que 1,2% de fundos para missão e obreiros estão Acredito que a Missio Df; r:~::-,.' : .-
sendo enviados para as 1,3 bilhões de pessoas que vivem nas partes A confissão de Martinho L',.:::-:'
menos evangelizadas do mundo. Isto levanta uma pergunta crucial nau minha. própria confiss~, --
::' u' ,

sobre o desequilíbrio de recursos e a necessidade de recolocá-los mais me. remIU ... para" que eu c::: ~'-::--:
.
estrategicamente . reIno, e o Slfva ...
11. A Missiologia Luterana necessita tomar em consideração a Após a formatura no::e-' ::' '-:
mudança do mapa religioso mundial. Em séculos passados o Cristi- comissionado para iniciar 2, :':' .0 o ~

anismo era visto como superior ou exclusivo em relação a outras capital do Ceará, costa do nc:' - -é ~:::

religiões. Hoje, os clamores por liberdade religiosa em vários países ximadamente dois milhões.~:::
vê o Cristianismo apenas como outra entre tantas" fés". ado com uma maravilhosa. ê::': '::.::
Diante desses desafios pressentimos a Missiologia Luterana bas- ambiente luterano no qual i.::-c :::
rente da minha cultura de u.. :...:::,
tante ocupada ao longo deste novo século; acessando, refletindo, se
çoando nosso ministério e ré.:' " ..
expandindo, provendo diretrizes e sendo o ponto referencial na Mis-
tornaram o bom fermento, c: =-:'..•.,.-
sio Dei como esteve ao longo do tempo. Nas palavras de Newbigin:
"A igreja deve em cada geração estar pronta a renovar sua tradição Após oito anos naquele: _ ~:" -
sob a luz da palavra de Deus," ao programa de mestrado 5 'T ::
Wayne. Aqui fiquei pouco m :'.:::-" _
de Deus, alguns dos quais es: "..
IV. MEU LUGAR COMO ALUNO E SERVO DA MISSIOLOGIA Tendo completado os e:: :',': ' :
chamado para servir na miss ~., -,
te do Brasil, Recife, que tell'L:'-:':: c,

Eu nasci em uma família cristã de quatorze irmãos e fui chama-


za. Ali vivemos uma experie:',::. -
do à fé cristã através do batismo. Meus pais eram cristãos compro-
rar uma congregação antiga
metidos com a obra do Senhor e sempre mantiveram a família en-
auditivos e atuar na expans?: ,':.5
gregações em subúrbios dis::=- 'c.:O
17 SCHERER, James. "Lutherans and the Great commission: Some Lessons and an Unfinished Task", tremendamente abençoado e :-' ' '.:
in Missio Apostolicn, vá!. UI, m. 1, May 1995, p. 15. pois de dois anos por um cha,=-:' , ::-,
20 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIAl'hi
-----------------------·--------ARTlGOS

" -=da igreja como um todo ali volvida nas atividades da igreja. Devoções familiares e estudos bí-
. :.2 se encontram. A Missiolo- blicos com grande variedade de hinos e canções era uma constante
,==:reja no (re-)direcionamento em nossa casa. Eles certamente exerceram uma grande influência
~-=.::ursoshumanos na obra da em minha vida e me ajudaram a decidir ir para o Seminário e ser
,",:.1110. pesquisa, mais que 90% chamado ao ministério em 1978,
~ e 87% de todas missões fun- Tendo experimentado bênçãos sem fim em minha vida cristã,
.,obra missionário. em países fico maravilhado com a obra da Santíssima Trindade em benefício
:2:i.tificam como cristãos. Em de todos os pecadores, da minha família e de mim pessoalmente.
~.'é1.ramissão e obreiros estão Acredito que a Missio Dei me encontrou e me preservou na fé cristã.
:'25soas que vivem nas partes A confissão de Martinho LuteIO no Segundo Artigo do Credo se tor-
.e-;anta uma pergunta crucial nou minha própria confissão também: "Eu creio que Jesus Cristo ...
, .::essidadede recolocá-los mais me remiu ... para que eu lhe pertença! viva submisso a ele em seu
•. I1
reIno, e o SIrva...
.0 ~ tomar em consideração a
:2, Após a formatura no Seminário Concórdia da IELB (1978) fui
séculos passados o Cristi-
-=-~-~-l
comissionado para iniciar a missão da igreja na cidade de Fortaleza,
-= :lusivo em relação a outras capital do Ceará, costa do nordeste do BrasiL Esta cidade tem apro-
.. ~e religiosa em vários países ximadamente dois milhões de habitantes. Ali fui ricamente abenço-
-=~-':retantas "fés". ado com uma maravilhosa esposa e três filhos, Vivendo longe do
ambiente luterano no qual fora criado, numa cultura bastante dife-
Missiologia Luterana bas-
. S "o

o .::olJ; acessando, refletindo, se rente da minha cultura de origem, Deus compensou a saudade, aben-
çoando nosso ministério e reunindo alí um rebanho de Héis que se
. ~.:-'o ponto referencial na Mis-
:--..:
as palavras de Newbigin: tornaram o bom fermento, comprometidos na Missio Dei.
n ta a renovar sua tradição Após oito anos naquele lugar Deus me chamou como estudante
ao programa de mestra do (S.T.M.) no Seminário Concórdia de Fort
Wayne. Aqui fiquei pouco mais de ano, sendo ensinado pelos servos
de Deus, alguns dos quais estão hoje junto a ele na igreja triunfante.
S ERva DA MISSIOLOGIA
Tendo completado os estudos do programa de mestrado, fui
chamado para servir na missão de Deus em outra cidade no nordes-
te do Brasil, Recife, que tem mais ou menos a população de Fortale-
',.é1.torzeirmãos e fui chama-
za. Ali vivemos uma experiência mista que consistiu em reestrutu-
- . :.' :,'eiseram cristãos compro- rar uma congregação antiga, atuar em sua escola para deficientes
. ~e mantiveram a família en-
auditivos e atuar na expansão missionário. em duas pequenas con-
gregações em subúrbios distantes da sede. Era trabalho desafiador,
c :~'e Lessons and an Unfinished Task", tremendamente abençoado e gratificante, mas roi interrompido de-
pois de dois anos por um chamado que aceitei da Escola Superior de
Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 21

I
_"-RTIGOS-------------------------------

Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo (um dos dois Seminá- temente que a família ter:' ~-c
rios da IELB), onde tenho trabalhado desde 1991. Nesse Seminário, nutrida na palavra e treiL'_-.:
em sala de aulas, em companhia dos colegas da faculdade, em ativi- tem chamado.
dades missionárias com os alunos, o Senhor tem alargado meus ho- Toda a glória pertence :- e.
rizontes na Sua missão.
O Programa de Doutorado em Missiologia tem sido uma bên-
ção e um desafio para mim. Tem me ajudado a reunir e relacionar BIBLIOGRAFIA
meus conhecimentos e práticas prévias de missão com novas áreas
de pesquisa na Missio Dei. Tem fortalecido em mim a compaixão
BOSCH, David J. TransfoJ'
pelo que a Bíblia, Lutero e outros pais luteranos escreveram e con-
of Mission. MaryknoL .'.;'~ - .
fessam sobre o lugar da família na Missio Dei. Tem me forçado a
pesquisar áreas novas no estudo de Missiologia. Tem me ajudado a BUNKOWSKE, Eugene \\-. -=-~o:
ampliar a compreensão da Missio Dei a partir da pesquisa de campo Apostolica, A Journal (:+ T': o' ~

relatada, que buscou saber sobre a prática e as implicações da mis- voI. I, no. 1, May 1993 ~-:.---:
são da igreja no e através do lar no contexto nordestino, especifica- BUNKOWSKE, Eugene \Y. ~~c'.
mente no Ceará e Fortaleza. Tem sido o objetivo da pesquisa saber Missio Apostolica, voI. 3 :0.: -
como ocorre o processo da proclamação do evangelho através dos FRANZMANN, Martin. Se'::'
laços de família, parentesco, compadrio, vizinhança e demais relaci- Lutheran Church - Misso_.o_~
onamentos em Fortaleza. Ênfase tem sido dada ao estudo do povo e
da cultura da região, à experiência ministerial do candidato e à re- KOLB, Erwin J. "Confessing ::-:: o
cente pesquisa de campo ali desenvolvida. in Concordia Journal, Sail-.: -:... _
Continuarei sempre aluno e servo na Missio Dei. Oro para que KOLB, Erwin J. "The Five C>~:-
Deus possa continuar me guiando nesta tarefa; que esta pesquisa Christian Witness" irL\~."
possa ser uma grande ferramenta: útil na missão de Deus em Forta- 1994, pp. 75-82.
leza. Oro para que Deus continue me usando como seu instrumento KOSCHADE, Alfred. "Luthc:
no Seminário em São Paulo - treinando servos de Deus que irão
Lutheran Quarterly, ed. 1L::c
compartilhar o evangelho entre os diferentes contextos culturais no pp.224-39.
Brasil e em países onde o Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB)
está presentemente comprometida no trabalho de missão. Sou grato PREUS, Robert D. "The Ccr:.;-c:--:--. -
a Deus por ter chamado meu filho mais velho a começar seus estu- ch", in The SpringfieldEi' -':. -
dos no Seminário em São Paulo neste mês de fevereiro passado. SCHERER, James. "Luther 2:-.:
Minha família e eu somos gratos a Deus por nos proporcionar tantas tial", in Misso Apostolic -".
oportunidades para estudo da sua palavra na igreja e em casa, em SCHERER, James. "Luthel?:"
companhia de outras famílias em suas casas, e podendo comparti- Lessons and an Unfinisl-.e.:' -:-.:
lhar o evangelho com parentes, amigos e vizinhos. Acreditamos for-
1, May 1995, p. 15.
22 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA
-------------------------------ARTIGOS

c-~:-' Paulo (um dos dois Seminá- temente que a família tem seu lugar na Missio Dei e necessita ser
:~esde 1991. Nesse Seminário, nutrida na palavra e treinada dentro do propósito no qual Deus a
'.. ~legas da faculdade, em ativi- tem chamado.
~2nhor tem alargado meus ho- Toda a glória pertence a ele somente.

':~:ssiologiatem sido uma bên-


- ;cjudado a reunir e relacionar BIBLIOGRAFIA
~:~de missão com novas áreas
. 'cecido em mim a compaixão BOSCH, David J. Transforming Mission - Paradigm Shifts in Theology
~:.luteranos escreveram e con-
of Mission. Maryknol, NY: Orbis Books, 1991.
~ ,issio Dei. Tem me forçado a
:~ssiologia. Tem me ajudado a BUNKOWSKE, Eugene W. "Trends In Missiology Todat', in Míssio
Apostolica, A JOllrnal of tlze Llltlzeran Society for Missíology, SI. Louis,
,~Fartir da pesquisa de campo
~' '~ica e as implicações da mis- voI. 1, no. 1, May 1993, pp. 7-17.
~exto nordestino, especifica- BUNKOWSKE, Eugene W. "Mission Work: The Lutheran Wat', in
.~;objetivo da pesquisa saber Missio Apostolica, vaI. 3, no. 2, November 1995, pp. 64-70.
do evangelho através dos FRANZMANN, Martin. Seven Thesis on Reformation Hennenelltics.
vizinhança e demais relaci- Lutheran Church - Missouri Synod, CTCR, 1965.
: ~:.odada ao estudo do povo e
,~-isterial do candidato e à re- KOLB, Erwin J. "Confessing the Faith: Our Lutheran Way of Life",
in Concordia JOllrnal, Saint Louis, October 1994, pp. 357-67.
l',3. Missio Dei. Oro para que KOLB, Erwin J. "The Five Great Commission and Contemporary
- -:2', tarefa; que esta pesquisa Christian Witness" in Missio Auostolicu,
I voI. 2, no. 2, November
:L missão de Deus em Forta-
...
1994, pp. 75-82.
:'3ndo como seu instrumento
KOSCHADE, Alfred. "Luther on Missionary Motivation", in The
.. ~'J servos de Deus que irão
Llltheran Quarterly, ed. Theodore G. Tappert, Philadelphia, 1965,
: ,l"2ntes contextos culturais no
pp.224-39 .
.~.=aLuterana do Brasil (IELB)
PREUS, Robert D. "The Confessions and the Mission of the Chur-
:l':.balho de missão. Sou grato
. .:' '.e1ho a começar seus estu- ch", in The Springfielder, voI. 39, no. 1,June 1975, pp. 20-39.
-::l11êsde fevereiro passado. SCHERER, James. "Luther and Mission: A Rich but Untested Poten-
~ ~- ::>r nos proporcionar tantas tiar', in Misso Apostolica, voI, 2, no. 1, May 1994, pp. 17-24.
;~'l'ana Igrep e em casa, em SCHERER, James. "Lutherans and the Great Commission: Some
- :?sas, e podendo comparti- Lessons and an Unfinished Task" in Missio Apostolica, voI. 3, no.
izinhos. Acreditamos for-
1, May 1995, p. 15.
Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 23
ARTlGOS------------------------------

TETSUNAO, Yamamori & TABER, Charles R. eds. Chrístopaganísm


01' Indígenous Chrístíanity? Pasadena, William Carey Library, 1975.

THE BOOK OF CONCORD - The Confessíons of the Evangelícal Lutheran


Church. Translated and edited by Theodore G. Tappert.
Philadelphia, Fortress Press, 1959. INTRODUÇÃO
TIPPET Alan. Introductíon to Míssíology. Pasadena, William Carey
Library, 1987. De acordo com o cen~: :-:::
VERKUYL, Johannes. Contemporary Míssíology - An Introductíon. Brasil era de 75%. A pre':::-~.~:-~~c
que, pelas Últimas infornl.?~o .:c ~ .,-'
Grand Rapids, William B. Eerdmans Publishing Company, 1978.
Em 1960 a populaçã.c '_'"~':- ': . .=:

VICEDOM, Georg. The Míssion of Cod - An Introductíon to a Theology sou para 110 milhões de ê<. _
of Míssion. Saint Louis, Concordia Publishing House, 1965. estar beirando os 130 mill-.,~::: o ~ - .

WENDLAND, Ernst R. "Cultural and Theological Specificity in Lu- para a igreja cristã brasileiE" ~_:::
theran Missiology", in Jvlíssío Apostolica, voI. 3, no. 1, May 1995, característicos de uma rea.~~,~ ..~
pp.20-29. especial, também, para a ISl":::.? -=-'
que, com características ber::'.l".~ "-
terras brasileiras, propõe-se ,: ,
nos, orientada pelo seu lernê ~.::
Como IELB não temos r::'.. ~~
nos. Nossas congregações c:::~.?~~_
dos da zona rural, ou seus ce~ ~:::
dades. Na verdade, a igreia ,~c .::
dades, especialmente nas :::e~. c ~

quadro muda um pouco en".:~~ .


deste.
....Não nos preocupamc:- ~".' .. ~
gamzamo-nos como IgreJas H>~'-
os aos anseios, preocupaçÔe.:: :: .' e
No entanto, reunimo-I' . e. c. :~

Urbana para debater nOS52•.


cidade. Queremos comprei:C~~ - e~
Queremos ter mais clarez a :'-..~. ~ =

1 Coordenador nacional do Program" ~:7-

24 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


--------------------------------ARTIGOS

=- =l'lesR. eds. Christopaganism A IGREJA NA CIDADE


- -: William Carey Library, 1975. Reinaldo M. LÜdke1
,"1$ ofthe Evangelical Lutheran
-:~?Theodore G. Tappert.
INTRODUÇÃO
. Pasadena, William Carey
De acordo com o censo de 1991, a taxa de urbanização média no
Brasil era de 75%. A previsão para o ano 2000 estava ao redor de 80%
_ ~ :,-siology - An Introduction.
que, pelas últimas informações estatísticas, confirmou-se plenamente.
_: Publishing Company, 1978.
Em 1960 a população urbana no Brasil era de 32 milhões. Pas-
- .j~nIntroduction to a Theology sou para 110 milhões de acordo com o censo de 1991. Hoje deve
=,lblishing House, 1965. estar beirando os 130 milhões. Isto representa um desafio tremendo
- -::-.-eologicalSpecificity in Lu- para a igreja cristã brasileira que, em sua estrutura, apresenta traços
lCI7, vol. 3, no. 1, May 1995, característicos de uma realidade rural. Isto representa um desafio
especial, também, para a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB)
que, com características bem rurais e, após 100 anos de atuação em
terras brasileiras, propõe-se a avançar em direção aos centros urba-
nos, orientada pelo seu lema "avançando com gratidão a Deus".
Como IELB não temos muita vivência nos grande centros urba-
nos. Nossas congregações organizaram-se a partir de luteranos oriun-
dos da zona rural, ou seus descendentes, que migraram para as ci-
dades. Na verdade, a igreja da zona rural transportou-se para as ci-
dades, especialmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste. Este
quadro muda um pouco em algumas cidades da região norte e nor-
deste. Não nos preocupamos muito em compreender as cidades. Or-
ganizamo-nos como igrejas luteranas nas cidades, muitas vezes alhei-
os aos anseias, preocupações e necessidades dos centros urbanos.
No entanto, reunimo-nos nestes Fóruns Regionais de Missão
Urbana para debater nossa missão urbana. Queremos compreender a
cidade. Queremos compreender melhor os habitantes da cidade.
Queremos ter mais clareza sobre nossa missão na cidade.

1 Coordenador nacional do Programa de Evangelização e Mordomia da IELB,

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 25


Para tanto, valemo-nos de subsídios da Igreja Católica Romana.
social e, os que se de0.~,::.:'__
O setor de "Estruturas da Igreja" da CNBB, com participação do
são litúrgico-sacramET::' __-.:' -
Instituto Nacional de Pastoral, organizou um seminário de estudos P·or ISSO, e/ urgente. :c~-:c:. ~ .
sobre "Presença e organização da Igreja na cidade" (15 a 17 de se-
ja no "urbano".
tembro de 1992), com participação das arquidioceses de São Paulo,
Campinas e Belo Horizonte (até 97 já aconteceram mais três seminá-
rios, reunindo talrtbém outras cidades). Grande parte da análise a
respeito da realidade da cidade tem, como pano de fundo as três
cidades citadas. Como resultado desses seminários são publicados
os livros A Presença da Igreja na Cidade. O primeiro foi organizado Se, por um lado: a c: _~.c,:: -
pelos padres Cleto Caliman (estudou teologia em São Paulo, Roma religião na cidade mu.dc·._ ~>_
e Muenster, professor
- ~ da PUC-MG, atualmente é diretor
de Teologia como está em jogo uma :,,:.- --
do urbano.
do ISTA - Belo Horizonte) e Alberto Antoniazzi (doutor em filosofia
pela Universidade Católica de Milão, professor do departamento de Segundo Gabriel
Filosofia e Teologia
u da PUC-MG e diretor do Instituto Nacional de raízes, de suas tradições -
b""
em e/ certo que a ClüaC2
. 1 ' S_S'::_
Pastoral).
A partir de análises feitas sobre a realidade da cidade e sobre a sobre a cidade é positl\T
presença da igreja na cidade queremos, igualmente, avaliar e proje- ve e se reforça o espíritc· - --
tar a missão urbana da IELB. renova e renova as suas :~.::-:: _.::
b'lr' i5"
ne . r.stuuos ~a GeiOiC;;
.1

Por outro lado, an2'lllsc.~·.- -


A IGREJA NA CIDADE
que 1na-ovl"Temosm~is
, _ l'''--
(L~ _, c c, _. _
explicação religiosa é 2 e\:: -
membros da sociedade. :::2:::- __~- :' -
A cidade mudou. Compreender a cidade (pós-) moderna não de não se vê mais de m3.ne~..:: c ~. -
é tarefa fácil. Mais difícil ainda é compreender a cidade brasileira.
ção - através dos quais c:; ;"
Segundo o Pe. Cleto Calir:.lI.an"ela tornou-se, em sua organização mem seus valores e define::- -
interna, complexa e 'polinucleada' e, sob muitos aspectos, fragmen-
tada e caótica, espelho de estruturas sociais injustas e desiguais". mais religiosos. Faz muite ~c:·_-.:
explicação do mundo e
Para o Pe. Caliman a ação da igreja, ou ação pastoral nas cidades
cesso de formação do Eu -:.- c -=
também está defasada e fragmentada numa variedade desconcer- Para Benedetti, nas se:_
tante de atividades e iniciativas, em sua maioria, desarticuladas
a concepção de vida e de rn.L.·.C• - =-.0:.
entre si. Segundo ele, a pastoral urbana não está conseguindo inte-
processo de socialização re21:= - - : -
grar suficientemente três elementos que devem ser trabalhados: a
lia, igreja, estado, escola.
evangelização: a sacrarnentalização (liturgia) e a pastoral social. vida e o mundo. No munde
Ele completa dizendo que II alguns evangelizam sem preocupação
integração do indivíduo à Ü.:::.?: :
26 Vox CONCORDIANA
Vox CONCORDIANA
------------------------------ARTIGOS
- ~ia Igreja Católica Romana. social e, os que se dedicam ao social às vezes esquecem da dimen-
'=:'\BB,com participação do são litúrgico-sacramental da fé ...".
- ','.um seminário de estudos
Por isso, é urgente repensar a presença e a organização da igre-
, na cidade" (15 a 17 de se-
ja no "urbano".
'~'quidioceses de São Paulo,
__·~teceram mais três seminá-
. ~ Grande parte da análise a A RELIGIÃO NA CIDADE
.-,::l10 pano de fundo as três
_~ :;eminários são publicados
Se, por um lado, a cidade mudou, também podemos dizer que a
.J primeiro foi organizado
religião na cidade mudou. Há novas formas de religiosidade, assim
-~'.ogia em São Paulo, Roma
~.'.. =·MG, atualmente é diretor como está em jogo uma tentativa diferente de compreender o mun-
do urbano.
":~iazzi (doutor em filosofia
Segundo Gabriel Le Bras, "0. cidade liberta o homem de suas
, iessor do departamento de
- ~.~.do Instituto Nacional de raízes, de suas tradições, sobretudo da tradição religiosa; mas tam-
bém é certo que a cidade suscita a inovação". No final, seu juízo
_c::"idade da cidade e sobre a sobre a cidade é positivo: "é nas cidades que se forma, se desenvol-
ve e se reforça o espírito novo, do mundo e da Igreja; a Igreja se
, . ..;ualmente, avaliar e proje-
renova e renova as suas práticas nas grandes cidades" (Le Bras, Ga-
briel. Estudos da Sociologia Religiosa, p. 223).
Por outro lado, analisando a realidade das cidades, constatamos
que não vivemos mais num mundo religioso; num mundo no qual a
explicação religiosa é a explicação total da realidade para todos os
membros da sociedade. Segundo Luiz Roberto Benedetti, a socieda-
:.Ja.de (pós-) moderna não de não se vê mais de maneira religiosa: os mecanismos de socializa-
.-..~ender a cidade brasileira.
ção - através dos quais os indivíduos se integram à sociedade, assu-
.1-se,em sua organização mem seus valores e definem sua identidade dentro dela - não são
-.- , :11uitosaspectos, fragmen- mais religiosos. Faz muito tempo que a religião deixou de ser "a"
- :iais injustas e desiguais". explicação do mundo e da vida humana (quem sou EU?). Este pro-
, -'Lçãopastoral nas cidades cesso de formação do Eu - quem eu sou - é um processo religioso.
'.:.ma variedade desconcer-
Para Benedetti, nas sociedades tradicionais (opostas às complexas)
c ,.:. maioria, desarticuladas
a concepção de vida e de mundo está ligado à socialização primária - o
. -'30 está conseguindo inte-
processo de socialização realizado pelas instituições primárias: famí-
c:jevem ser trabalhados: a
lia, igreja, estado, escola. Todos" falam" a mesma linguagem sobre a
_'.rgia) e a pastoral social. vida e o mundo. No mundo moderno o processo de socialização - de
. zelizam sem preocupação integração do indivíduo à vida social- é cada vez mais realizado por
Vox CONCORDIANA
Vox CONCORDIANA 27
••
ARTIGOS- ------------------------------

instâncias secundárias; isto éj por instâncias de livre escolha dos indi- exus e pombas-gira 53.'== =-. ': .
=

víduos, na atualidade, especialmente a televisão. Cada vez mais per- são enfrentados e pos l':~~_-:~ : C:

dem importância as agências de socialização primária: família, igreja, Também precisa 5e~ :'.:
estado e a própria escola. Já na sociedade industrial/urbana esta sociali- urbano, por trás dessa re_:..:::~.__
zação torna-se secundária, isto é, fica na esfera da escolha pessoal. Ou religioso, há muitas care:'.=.: C.

seja, educar o indivíduo não é dar-lhe um quadro de valores, mas torná-lo que clamam por soluçãc
livre para escolher. A visão de vida e de mundo fica no campo da esco-
lha pessoal. Ouve-se; inclusive; o depoimento de muitos pais que não
querem batizar seus filhos sob o pretexto de que eles devem escolher REFLEXÕES PARA CO.\fPRE'<=
sua religião quando crescerem. Assim; todos os valores, também os IGREJA NA CIDADE
religiosos, ficam na esfera da escolha pessoal, subjetiva. Não há um
compromisso com a comunidade social como um todo. O conceito é Valemo-nos, também
mais ou menos este: a igreja é para rezar, a escola é para estudar, o que busca algumas categC'::~_~='-:-
trabalho é para trabalhar. Assim, religião tornou-se um assunto priva-
a cidade e formular um FI': ..:::c:::
do, que tem a ver com escolhas pessoais. E os critérios são, novamen- reflexões são, igualmente. ===':-
. ::
te, subjetivos. Não existe mais uma verdade religiosa. Segundo Bene- 1) Público e privado. De .__
:· :'
detti, a verdade religiosa passa pela hermenêutica da situação. O que catolicismo, a religião está :-~. C: ~ ~::

vale é o gosto pessoal, a satisfação pessoal, a esfera íntima, a sensibili- ticam a religião na esfera f a=-='
=' .
dade (pode ser uma igreja, mas também pode ser o shopping center).
a fé cristã para suas prátiC?c5~:_. :.
Isto também explica o fenômeno do trânsito religioso pois, no
cas (igreja, ou religião! é um:': =:..
conceito popular, todas as religiões são boas e contêm verdades. A
tece o que se poderia cham2.::,:'";
verdade não é monopólio de ninguém. Giorgio, Paleare, em O Deus
fazem da religião uma e5cC':':".::::
Fragnzentado, dá exemplos desse trânsito religioso numa favela de
do de escolher uma religiã.c =-"':-:
São Paulo: "O político de hoje me garante alguma coisa, eu voto
lhe r uma parte das crenças o::- :'. :-

nele, a religião me ajuda, então esta é a religião boa para mim". Ou aI), ou da escolha de elemen:.:: -:-:
ainda: "Era da Igreja Católica, passei pela umbanda e fiquei crente
turados segundo o gosto \.é', , __ ~
por dois anos. Agora faz seis meses que não freqüento mais nada. a um sentimento intimista. Sç~=::
Mudei de católica para crente porque queria resolver um problema . . .
Não foi resolvido nada. Saí". e sem compromIssos com 2,: - .-=--=-

2) Rural x urbano. Não 52 :.-:-


Verifica-se no mundo urbano uma mudança decisiva no papel
"rural" e "urbano" como ',:-=:-.=' ::::-
da religião: a função da religião - construir mundos de sentido, dar
significado ao mundo (em outras palavras, fornecer certezas) - trans- há "leis" rigorosas que regL~e:':- -=

forma-se em mecanismo de controle das incertezas e em resposta No caso do Brasil precisan-=.,:s:::.::


localizada a carências localizadas. Os demônios são as incertezas. de urbanização, que faz p\__ ,~?::: ~-
Contra eles estão protegidos os crentes, os eleitos. Na umbanda, os 13 milhões em 1940 para ceI': ~ :.'

28 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


------------------------------ARTIGOS

,-,'-=ias de livre escolha dos indi- exus e pombas-gira são controlados, domesticados; na cura divina
-':21evisão. Cada vez mais per- são enfrentados e postos fora de combate.
-_.::':'lçãoprimária: família, igreja, Também precisa ser dito que, por trás deste contexto religioso
. _ 'ndustrial/urbana esta sociali- urbano, por trás dessa religião subjetiva, por trás de todo o trânsito
, esfera da escolha pessoal. Ou religioso, há muitas carências, sofrimentos e ansiedades humanas
"!(Idm de valores, nzas torná-Ia que clamam por solução.
.~',mdo fica no campo da esco-
~',entode muitos pais que não
~J de que eles devem escolher REFLEXÕES PARA COMPREENDER E ORGANIZAR A AçÃO DA
:Cldosos valores, também os IGREJA NA CIDADE
:'2ssoal, subjetiva. Não há um
__' como um todo. O conceito é
Valemo-nos, também, de reflexões do Pe. Alberto Antoniazzi,
--:::':n'!a escola é para estudar, o
que busca algumas categorias de análise para compreender melhor
_... tornou-se um assunto priva-
a cidade e formular um programa de ação pastoral urbana. Estas
-.:: E os critérios são, novamen-
reflexões são, igualmente, importantes para a IELB.
c . : :de religiosa, Segundo Bene-
1) Público e privado. De um modo geral, mas especialmente no
c:,-:-.c-,enêuticada situação. O que catolicismo, a religião está na esfera privada, ou seja, as pessoas pra-
'~. _ ,0,L a esfera íntima, a sensibili-
ticam a religião na esfera familiar e paroquial, mas não" transferem"
. -:.-.. pode ser o shopping center).
a fé cristã para suas práticas profissionais, políticas, sociais ou técni-
30 trânsito religioso pois, no
, ~_.•..boas e contêm verdades. A cas (igreja, ou religião, é uma coisa; o dia a dia é outra coisa). Acon-
tece o que se poderia chamar de privatização da religião. As pessoas
_ ." Giorgio, Paleare, em O Deus
fazem da religião uma escolha pessoal. Não simplesmente no senti-
, c, religioso numa favela de
do de escolher uma religião bem definida; mas no sentido de esco-
c _::?,nte alguma coisa, eu voto
lher uma parte das crenças e práticas de uma religião (adesão parci-
, - ~ .:_.-eligião boa para mim". Ou
al), ou da escolha de elementos e fragmentos de várias religiões, mis-
,. c_,:ela umbanda e fiquei crente
turados segundo o gosto do consumidor, ou da redução da religião
_' .~.:2 não freqüento mais nada.
a um sentimento intimista, sem manifestações coletivas ou públicas
. :.,:eria resolver um problema.
e sem compromissos com a coletividade.
2) Rural x urbano. Não se deve aceitar facilmente os conceitos de
Inudança decisiva no papel
o
"rural" e "urbano" como universais e absolutamente válidos. Não
- c.-.lir mundos de sentido, dar
- . :S, fornecer certezas) - trans- há "leis" rigorosas que regulem a passagem do rural para o urbano.
- os incertezas e em resposta
No caso do Brasil precisamos estar atentos à velocidade do processo
:_2111Ônios são as incertezas. de urbanização, que faz pular a população das cidades de menos de
.'S eleitos. Na umbanda, os 13 milhões em 1940 para cerca de 110 milhões em 1991, enquanto a

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 29


ARTIGOS---------------------- _

população rural oscilou entre os 30 a 40 milhões no mesmo período, 2) Na passagem do n_~~-,c_c


.:' ,
permanecendo quase estável. Uma das conseqüências é que muitos cepção e a experiência soe::' -__ : _ . -.
dos atuais habitantes das cidades nasceram no campo e estão mar- população vive a maior F2:~::..
cados por uma mentalidade rural, que provavelmente não será con- O momento de encontrar-~2 : -.
servada pelas novas gerações. socialização, do sentir-se g",,:- '= -_
minicais também vão ao enc:. :.:.
A influência da origem rural ou urbana é evidente também no
as de se encontrarem. Inver~_c:-:.'_-::=
campo religioso. Segundo análise do Pe. Antoniazzi, a grosso modo,
"espíritas kardecistas e protestantes tradicionais são urbanos (no multiplicidade de contatos ""~~ 'cc.' -=

semana, submetido a um ri::::.-: <'::-~


Brasil de hoje); pentecostais e católicos contam com alta porcenta-
gem de fiéis de origem rural ou interiorana" (p. 82). Diante disso, procura mais o encontro, a C:~-:" -.:'
Pe. Antoniazzi sugere refletir sobre pastoral na cidade, ao invés de timidade, o refúgio tranqÜilo:'
pastoral urbana. dade rural a igreja é o centrc:.= :.
Ele também destaca oposições, em nível humano ou cultural, igreja é um dos muitos "sen:; _~
entre o rural e urbano.
1) A sociedade rural pode ser vista como regida pela tradição,
pela experiência acumulada no passado. O fato se justifica pela rela-
tiva estabilidade da sociedade rural, onde as mudanças são lentas SUGESTÕES PARA UM PROC; ..-'<.'-
ou raras. Já a sociedade urbana moderna (que se instala a partir da
revolução industrial e se difunde mundialmente nas últimas déca- Pe. Alberto Antoniazzi ir<'::::
das do nosso século) é voltada, preferencialmente, para a inovação. A sando a elaboração de um prog-' -: c
experiência deixa de ser o saber acumulado para tornar-se "experi- pano de fundo a realidade da L.::.:. ,
mento", risco, busca do novo. As pessoas deixam de ser profunda- seguintes reflexões:
mente integradas nas pequenas comunidades rurais e se acham ex- 1) No nível da pessoa. A r",,3:: ; , :-
postas à "multidão solitária" da cidade. Buscam individualmente a que a pastoral leve em conta, :::-:-:::
realização subjetiva. Também no campo religioso, pautam a condu- tividade e valorize a particiF2ç~. ::
ta pela emoção, pelo gosto, pela busca de respostas imediatas às novas a) Deve-se levar a sério a :c':-- cc =--

angústias e anseios pessoais. A religião é escolhida (ou abandonada) éis, mesmo que ela possa se E'.:::- .'-::
não sob a pressão da sociedade ou da tradição, mas a partir da expe-
das dos conteúdos objetivos 6: c: ::.
riência vivida. O ser humano urbano não se preocupa com a doutri-
b) A pastoral - em suas ,:~:'-::~
na pura. O que vale para ele é a sensação de bem estar. Se isso é
quética, social ...) - deve estar ,':c::' ~c~
verdade, Antoniazzi questiona a ação pastoral da igreja, cuja ênfase
totalidade, evitando acentuar:",'
recai sobre a "reta doutrina" e sobre a "disciplina". Ele conclui: "A
juízo de outros.
pastoral do meio urbano, de hoje e de amanhã, deve partir da subje-
tividade, da valorização da pessoa, logo, do reconhecimento do plu- c) A pastoral deve oferece: c .
ralismo, da participação. lecer uma ligação entre sua fé '" :
30 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA
------------------------------ARTlGOS

-:::milhões no mesmo período, 2) Na passagem do rural para o urbano, mudam também a con-
, ,.,:-conseqüências é que muitos cepção e a experiênciasocial do espaço e do ternpo. No mundo rural, a
, c:eram no campo e estão mar- população vive a maior parte do tempo em contato com a natureza.
- ,.::'.)rovavelmente não será con- O momento de encontrar-se com outras pessoas é o momento da
socialização, do sentir-se gente. Assim, os encontros religiosos do-
,::bana é evidente também no minicais também vão ao encontro da necessidade natural das pesso-
as de se encontrarem. Inversamente, o ser humano urbano vive uma
~2. Antoniazzi, a grosso modo,
-:.. :radicionais são urbanos (no multiplicidade de contatos e de relações durante os "dias úteis" da
semana, submetido a um ritmo stressante. No "fim de semana" não
_,:- contam com alta porcenta-
procura mais o encontro, a comunidade, a massa; prefere mais a in-
::~~crana" (p. 82). Diante disso,
- c ' ~:,-toralna cidade, ao invés de
timidade, o refúgio tranqüilo, o afastamento dos outros. Na socie-
dade rural a igreja é o centro de convergência. Na grande cidade, a
-=~-:.-, nível humano ou cultural, igreja é um dos muitos "serviços" que a cidade oferece.

c:a como regida pela tradição,


:.:'. O fato se justifica pela rela-
',-de as mudanças são lentas SUGESTÕES PARA UM PROGRAMA DE PASTORAL URBANA
, ::<~la(que se instala a partir da
,~-,iialmente nas últimas déca- Pe. Alberto Antoniazzi indica algumas linhas de reflexão, vi-
, ' ,:c'.cialmente, para a inovação. A sando a elaboração de um programa de pastoral urbana. Tendo como
,' ..:ado para tornar-se" experi- pano de fundo a realidade da Igreja Católica Romana, ele propõe as
" ..~.:-asdeixam de ser profunda- seguintes reflexões:
.:'Jades rurais e se acham ex- 1) No nível da pessoa. A realidade urbana contemporênea exige
'=-ê buscam individualmente a que a pastoral leve em conta, antes de tudol a emergência da subje-
.' religioso, pautam a condu-
__o .:" tividade e valorize a participação da pessoa.
=-. -=respostas imediatas às novas a) Deve-se levar a sério a experiência religiosa subjetiva dos fi-
. 2 escolhida (ou abandonada) éis, mesmo que ela possa se manifestar em formas bastante afasta-
~~"dição,mas a partir da expe- das dos conteúdos objetivos da experiência cristã.
-~.)se preocupa com a doutri- b) A pastoral - em suas diferentes dimensões (litúrgica, cate-
c ' o.çãode bem estar. Se isso é
o
quética, social ...) - deve estar atenta à pessoa em sua integridade ou
~-",storal da igreja, cuja ênfase totalidade, evitando acentuar demasiadamente um aspecto em pre-
disciplina". Ele conclui: "A
juízo de outros.
, -::~-:",ênlhã, deve partir da subje-
..:, do reconhecimento do plu- c) A pastoral deve oferecer ao indivíduo uma ajuda para estabe-
lecer uma ligação entre sua fé e sua vida cotidiana.
Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 31
ARTIGOS-------------------------------

d) A pessoa não se realiza a não ser no relacionamento com ou- A PRESENÇA DA IELB ~',~~
tras pessoas. A ação pastoral deve promover esse relacionamento,
levando em conta a realidade social da cidade e das pessoas. Missão urbana, a E '-.::
2) No nível do grupo. Antoniazzi afirma que há comunidades e
movimentos que procuram orientar toda a vida e atitudes dos seus
membros (comunidades pentecostais). No outro extremo estão os
católicos afastados da prática religiosa de qualquer comunidade ecle-
sial. Mantêm contatos raros por ocasião de batismos, casamentos ...
Entre os dois extremos, além de outros grupos específicos, está a
grande massa dos praticantes, que reduzem o contato com a comu-
nidade eclesial à missa dominical. Diante desse quadro, o desafio é:
a) Melhorar a qualidade das celebrações litÚrgicas dominicais. ~ - -. -.-...

b) Levar o maior número possível de católicos a acrescentar, à


missa dominical, ao menos um encontro semanal de reflexão e par-
tilha da experiência de vida, em que num pequeno grupo cada um
possa confrontar a palavra do evangelho com a existência cotidiana. --
c) Transformar os encontros em 1/ grupos de vivência'l, com mo-
mentos de oração e solidariedadel sustentando de modo específico
a experiência cristã de seus membros, e articulando-os com a vida
paroquial.

2 Fontes de pesquisa: IEGE 96


IELB).

32 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


------------------~-~-- --------------ARTIGOS

~c ser no relacionamento com ou- A PRESENÇA DA IELB NA CIDADE


-2 promover esse relacionamento,
da cidade e das pessoas. Missão urbana, a !ELB nas capitais brasileiras:2
_zzi afirma que há comunidades e
~ê,r toda a vida e atitudes dos seus
- ~::Ü5). No outro extremo estão os
=~='sade qualquer comunidade ec1e-
~:asião de batismos, casamentos ...
-=-YU.trosgrupos específicos, está a
.. 2 reduzem o contato com a comu-

_ Diante desse quadro, o desafio é:


. :ê:ebrações litúrgicas dominicais.
_:::clvel de católicos a acrescentar, à
='Jntro semanal de reflexão e par-
~-~1enum pequeno grupo cada um
c ";2:elho com a existência cotidiana .
grupos de vivência", com mo-
. C'-', ii
-=-sustentando de modo específico
_-~-rcs, e articulando-os com a vida

37.256.599 60 + 37 75 15.426

2 Fontes de pesquisa: IECE 96 (populaç50 das capiL1is brasileiras) e estatística 1997 (informações da
IELB).

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 33


ARTIGos----------------------------

População brasileira (1996) 157.079.573 a) Como devemos estL.ê_ ..' ~


Nas capitais 37.256.599 = 23,71 % b) Quais são as melhore:: ê<~ -.
IELB (Estat. 1997) 215.000
c) Quais são as melhore.:: e~::
Nas capitais 15.426 = 7,17%
660 na congregação?
Pastores na IELB (jan 99)
Pastores ativos 540 d) O Projeto MacedônÍ2 ~:::::-~.
Pastores nas capitais brasileiras 75 = 13,80% abordagem?
5) Escrever a história da :..• ~~.
gregação na cidade:
REFLEXÕES PARA A AçÃo PASTORAL DA IELB NAS CIDADES a) Quais são os problemêé.:::. c
(ASSUNTOS PARA A REUNIÃO DOS GRUPOS) b) Que ajuda podemos c;",>: =2

estes problemas?
1) A pastoral urbana é uma pastoral para leigos, nos quais é 6) Elaborar o planejamerc :~ ~
preciso acreditar e investir: a) Nível 1: Visando a prer.c.:c ~.o.
a) Não somente na esfera da paróquia ou da família (privado); b) Nível 2: Visando o en\'c.'> ==-=-2
b) Mas testemunhando Cristo e vivendo como cidadãos com- e no bem-estar da cidade.
prometidos com o bem social geral;
c) E assumindo seus papéis na sociedade (público).
2) Comparar as sugestões de Pe. Antoniazzi para elaboração de
um programa de pastoral urbana, no nível da pessoa e do grupo,
com os principais objetivos e metas do PEM (Programa de Evange-
lização e Mordomia Cristãs).
3) As informações estatísticas da IELB mostram que o PEM tem
tido boa aceitação em pequenas e médias cidades, bem como na zona
rural. Já em vários centros urbanos maiores o programa não tem
tido o mesmo sucesso. Será que esta realidade está ligada à visão
dos líderes ou à falta de um melhor planejamento do trabalho nos
centros urbanos maiores?
4) Se é verdade que nas grandes cidades as pessoas não têm
muita preocupação com a tradição, com doutrina pura, mas estão
mais preocupadas em solucionar seus problemas e seguir uma reli-
gião que lhes proporcione satisfação e bem estar pessoal, pergunta-
mos:

34 Vox CONCORDIANA
Vox CONCORDIANA
--------

--------------·------------------ARTIGOS
157.079.573
a) Como devemos estrutura r o trabalho da IELB?
37.256.599 = 23!71 %
215.000 b) Quais são as melhores estratégias de abordagem das pessoas?
15.426 = 7)7% c) Quais são as melhores estratégias de integração das pessoas
660 na congregação?
540 d) O Projeto Macedônia seria! portanto! uma boa estratégia de
75 = 13!80% abordagem?
5) Escrever a história da nossa cidade e a história da nossa con-
gregação na cidade:
~-:-~:\.-\L DA IELB NAS CIDADES a) Quais são os problemas da cidade?
= ~5 GRUPOS) b) Que ajuda podemos oferecer para amenizar ou solucionar
estes problemas?
_-~~oralpara leigos! nos quais é 6) Elaborar o planejamento da ação da igreja na cidade:
a) Nível 1: Visando a preparação da congregação;
_~:ruia ou da família (privado); b) Nível 2: Visando o envolvimento da congregação na salvação
--i\-endo como cidadãos com-
-= e no bem-estar da cidade.

- ~: -:iedade (público).
"'"ntoniazzi para elaboração de
:-: nível da pessoa e do grupo!
-, ~.I PEM (Programa de Evange-

- : IELBmostram que o PEM tem


_ -- - _~_as cidades! bem como na zona
-~ :naiores o programa não tem
- c ~::. realidade está ligada à visão

-: -_~lanejamentodo trabalho nos

--::-cidades as pessoas não têm


-:Jm doutrina pura, mas estão
: -=- _:- Droblemas e seguir uma reli-
bem estar pessoal, pergunta-
-=

Vox CONCORDIANA
Vox CONCORDIANA
35
ARTIGOS--------------------.------------

As PORTAS DA CIDADE igreja católica já redirecic:·:-:. -.


CLE. Vale lembrar tambér': ::_é: .
Augusto Kirchhein1
volvem projetos adaptado:,- ' .
No meio deste emarc\l~'.é'.~' .' é:
IELE pode se inserir? Que"? . :.-.. -
INTRODUÇÃO

Pretendo aqui trazer algumas reflexões. Mais do que afirmarl A CIDADE SOB O OLHAR DE . <

vou perguntar. Quero, à luz da sociologia, apontar como a religiosi-


dade tem se manifestado nas cidades. Para tanto, vou me valer de
Apresento fragmentos:.,:,
um texto do sociólogo Reginaldo Prandi e fazer intervenções que descreve as posturas adote",::.:':-"
julgo oportunas. Com isso, indicarei algumas portas que podem nos tras urbanos. Sua descrição é'.-'-::. _
conduzir ao meio urbano para urna evangelização efetiva. EI como missas e opções ideológicas T: - c -
pano de fundo, aponto para a necessidade de uma ec1esiologia bem A Realidade Social das Religi5,': ".' ~
definida na IImentell de uma igreja que se '/pensa" voltada para a cidade e o mundo/'.
cidade. As implicações teológicas desta fala compete a outra pessoa . 1) 110 Brasil contemportiicê " :
elernentos estruturais e simbó! c~''-.:
ou para o debate posterior,
dade são tipicmnente racionais ..i- .
AIELB é uma igreja de migração. Surgiu nos assentamentos de
prios da civilização ocidental íJi.'.~
colonos alemães no sul do país no início do século. Assim como ou-
giões francamente voltadas par.i :.
tras igrejas do ramo protestante históricol ela "veio de navio". Os
experimentando aqui grande s::._ .. : __.
primeiros passos se deram no campal ao lado dos agricultores. Ago- densamente mágicas revela llííl.i ..
ral quando os brasileiros se concentram nas cidades, ela busca mar- fico das sociedades modernas,._: ._.: -
car presença nestes espaços onde já aconteceu e vem acontecendo forma ao originário cristianismc .
uma grande expansão dos novos movimentos religiosos (neopente- daI ao próprio catolicismo pós- t >
costalismo ou pentecostalismo autônomo), representados por igre- religiões que se firmam em cOllce:',_C• _

jas que vieram" de avião/' trazendo na mala a proposta bem defini- sobrenaturall e que são corrente
da de trabalhar ao lado dos operáriosl migrantesl ex-agricultoresl mais tradicionais, quase pré-cnp:::. -.
comunidades de periferia, enfim o homem ao mesmo tempo agente ões de seguidores o que se dá, é i'.
e vítima do processo de urbanização. Atenta para este fenômeno, a regiões e cidades mais desenvoL-:'," .
Mircea Eliade no livro O ~:
dois conceitos (sagrado e o F:'. ~''':
1 Pastor da IELB em Florianópolis, Se. Formado em Jornalismo (1992, Unisinos), Teologia (1993,
Seminário Concórdia) e acadêmico do curso de Ciências Sociais (UFSC). Trabalho apresentado no
Fórum de Missão Urbana da IELB em 17 de junho ele 2000, em Novo Hamburgo, RS. 2 Reginalelo Praneli é professor ele sociolc::c

36 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA


-------------------------------ARTIGOS

- CIDADE igreja católica já redirecionou sua atuação. Do mesmo modo a IE-


eLE. Vale lembrar também que movimentos não-cristãos já desen-
Augusto Kirchhein1
volvem projetos adaptados ao urbano.
No meio deste emaranhado de propostas religiosas, por onde a
IELE pode se inserir? Que porta escolher para entrar na cidade?

- _:exões. Mais do que afirmar, A CIDADE SOB O OLHAR DE UM CIENTISTA


__:jia, apontar como a religiosi-
:: Para tanto, vou me valer de
Apresento fragmentos de um texto de Reginaldo PrandP que
~_êndi e fazer intervenções que descreve as posturas adotadas pelas igrejas e movimentos nos cen-
- :~umas portas que podem nos tros urbanos. Sua descrição ajuda a identificar estratégias, compro-
,,--?tngelização efetiva. E, como missos e opções ideológicas. Trata-se do primeiro capítulo do livro
_ - - de de uma eclesiologia bem
_ ~_ -'L
A Realidade Social das Religiões no Brasil, cujo título é "As religiões, a
cidade e o mundo".
-:2 se "pensa" voltada para a
- <ê, rala compete a outra pessoa 1) "O Brasil contenzporâneo é um país moderno, no sentido de que os
elementos estruturais e simbólicos lzegemônicos constitutivos desta socie-
dade são tipicamente racionais, burocratizados, dessacralízados, isto é, pró-
~urgiu nos assentamentos de
:_J do século. Assim como ou- prios da civilização ocidentall/loderna capitalista. Contudo, algumas reli-
giões francamente voltadas para práticas religiosas de caráter mágico vêm
~ico, ela "veio de navio". Os
experimentando aqui grande sucesso. Esse retorno a concepção e práticas
".) lado dos agricultores. Ago- densamente mágicas revela uma reação ao modelo desencantado caracterís-
" nas cidades, ela busca mar- tico das sociedades modernas, cujos conteÚdos desnzagicizados"
/J deram
, :,Jn'Leceu e vem acontecendo forma ao originário cristianismo da Reforma e muito depois, em certa medi-
~~}lentosreligiosos (neopente- da, ao próprio catolicisnlO pós- Vaticano II, l'v1edellin e Puebla. Pois essas
- ~-:10),representados por igre- religiões que se firmam em concepções tradicionais da relação corn o rnundo
-- ~11éllaa proposta bem defini- sobrenatural, e que são correntemente consideradas próprias de sociedades
~. migrantes, ex-agricultores, mais tradicionais, quase pré-capitalistas, vêm conquistando legiões e legi-
-~-"-2mao mesmo tempo agente ões de seguidores o que se dá, é bom frisar, tarnbém e principalmente, nas
_':'c:entapara este fenômeno, a regiões e cidades mais desenvolvidas do País." (Prandi, p. 23)
Mircea Eliade no livro O Sagrado e o Profano destaca que o esses
dois conceitos (sagrado e o profano) são modalidades de ser no
<51TlO (1992, Unisinos), Teologia (1993,
:iai5 (UFSC). Trabalho apresentado no
em Novo Hamburgo, RS. 2 Reginaldo Prandi é professor de sociologia da USP e trabalha com sociologia das religiões.

Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANA 37


ARTlGOS------------------------------

'1"" ,. 7; : cn'
mundo, situações existenciais assumidas ao longo da história. Se- rlaO-} e<"gloc,v.
gundo ele, o sagrado precisa ser entendido: 'visibilidade social slto I\?:,_-

1 - Em oposição ao profano; duta. O


2 - Homem toma conhecimento dele a partir de uma revelação;
3 - Ele só passa a existir mediante manifestação (hierofania); Jas
-: ,....,

4 - É uma realidade que não pertence ao nosso mundo (isso é o SClSpopluaçoes:


1- n(/ <: "''1flV r-t:n
profano); ! lHvJ1v Fv! Ll HiA

5 - Portanto, é o "outra coisa"(ganz andere). Nesta lógica as cul- cal' outras . Jforma,c;
.. -

turas trabalham e "pensamfi o mundo. Atribuem significados sagra- truir outros


dos a lugares, objetos e pessoas. A partir de uma revelação, "aquilo"
passa a ser /I outra coisa", Se torna sagrado. Contém outro significa- P~qtll
do diferente do aparente. bllÍrítOS "Dara
, a
A Reforma Protestante deu o primeiro passo para o mundo oci- iSSCitiroll o
dental se dessacralizar. É o que muitos chamam de secularização ência do
(abrir portas ao profano). Lutero é tido por muitos como o pai da
modernidade porque alavancou fundamentos para o estado moderno
(separado da igreja e do estado)? O que chama atenção dos pesqui-
sadores, é que religiões com concepções de mundo liencantada" es-
tão ganhando cada vez mais espaços, especialmente nas cidades,
tidas como centro da racionalidade.
2) liA cidade em que vivernos, isto é, aquilo que se pode chamar de meio
urbano no Brasil contemporâneo, guardadas as exceções daqueles muitos 11nC 1"i(Õe
iUL"!'~U
I"' l' ff)
rtt-l-H'c-
i
recônditos aglomerados ainda não plenamente atingidos pelo processo de ças nas relações ele
integração urbana nacional em curso rápido, esta cidade, já o disse, é a trabalho
.. nito-especializnc!o_:
cidade rnoderna, e por ser moderna é profana; sua civilização é desencanta- {rIU? creSCICl111;

da, no sentido que l'vlax Weber atribuiu a esta palavra; ela prescinde do de trabalho era
apelo ao sobrenatural. Suas instituições, sellS governos, mercados, escolas, f'lcredit0va~cp
" v'
/71'P locrn
h, -I, '--''-, ~1
- ,,~__ ' (.~v
meios de comunicações, tudo é não-religioso. Não há um espaço indispen- Vimos tm.cassarCi!l .J

sável para deus nos lnais importantes momentos da vida quotidiana. O saúde! o tra!1sporte
modelo ideal do novo homem e da nova mulher da nova cidade é um modelo mento. l'vIas
'<ou1i1i'c(f,-,
ri" fJ ! y~~vL..:. _~V
l.-·~V",
1!vb(lií(O
-~, . v, v_i

t'lOp!!d,117""a~'o
'>,
r /1'
mmlllaS
3 o filósofo Roberto Romano, professor da UNICAMP, articulista da FSP, prefacia urna obra históri-
ca, Da Liberdade do Cristão, de Lutero, publicada pela UNESP em edição bilíngüe. Neste seu texto .. ~ diesae1
coso 1::, ./
/'17

destaca o papel fundamental de Lutero na secularização. têm onde ficar, ;;

38 Vox CONCORDIANA 170x CONCORülANA


--A"RTIGOS

-,:.05 ao longo da história. Se- não-religioso.:


. "' ,_Li
-= __--do'
•....• 'Oisibilidade

a partir de uma revelação; se tem de nossas


-:~ I1nnifestação (hierofania); jas (católicas) ficaram
:.:''1ceao nosso mundo (isso é o sos populaçoes/
1-arl{lCp'
Jl,,:..~~~JJ_ (Ji'!C1Ud
,'" a
Nesta lógica as cul-
. - -: andere). rnr ..
~"' Ol{,L{'/"'{7C; vj fOl'111,nc
''''"'V ri" ,_,
"'v ,-voy "'),'m:'tudo
V'I P~ ,~,
! ' L ~ (~
, , ,Atribuem significados sagra- rtulr OUiroS aeILSeS;jOrmn
" de uma reve 1açao,
_'.'~tE - 11 aqUI'1o 11 O que não faz sen tido
~~.srado. Contém outro significa-

_,_~'l1eiropasso para o mundo oci-


.... citos chamam de secularização ê11cia a,o Espíritc: SarLtC}ri) e o
-= tido por muitos como o pai da ao murtdc; e de glorificar a DetLS fle) 11-LLlrLclcJ.
.: -'ementospara o estado moderno 3\) •..
'J ;

= que chama atenção dos pesqui- tros urbanos aue


; ôo-Y'{ruitaJ1'l .
en1
::,.:;Ôes de mundo "encantada" es- hr"'7c
1..-'
iL'pZ'J"'c;
<J..-....-
~ V...-.
T'}'!
-"- ..
{lu" niico
LJ:'-
·..-v!.·

:-':;05, especialmente nas cidades, nessas cidades. A

aquilo que se pode chamar de meio ~4s (xrandes levas de 7nig-rantes


,~,!das as exceções daqueles muitos -
pos nao '",
11111ZtO alS t anres
' .' o
tzn/zaíIZ UJIlfl

.:J!lPl1te atingidos pelo processo de ças nas re!açoes de trabalho 710 campo as
'7pido, esta cidade, já o disse, éa trabalho nlfo~eS17eci(llizados
I da
, : sua civilização é desencanta- mia crescimn, ri própria soclcdaue
.. i' a esta palavra; ela prescinde do •
de - 1)
traÍJalilO era requenao" .. A'jncla, que a
, ,'_,~ ~:;e1iSgovernos, rnercados, escolas, acre d'ztava-se que . lOgo
i .,
ízaverza,
o
. ;:oso. Não há um espaço indispen- vÍnlos fracassarern todos os planos de
,,'zomel1tos da vida quotidiana. O sall~d'
.e, ° rrri/7,sporte,- coletivo,
" a
ullzer da nova cidade é um modelo mento,lvIas tmnbém há
d a popu!açao
,-, liJ'üana de .
rl)OpzlJaça-n
, .I-L- to+nl
l,,~r,-, d'nc
J !-{-!L.'
L.. ririnr/o'·
l-'n_~~~",-t:..-u.

fa,mílias brasileiras
'c articulista da FSP, prefacia uma obra históri·
. c:.",UNESP em edição bilingüe, Neste seu texto Ç05. E desde já 71ão terno
.J-~"t"-d t'i )1" II -:--. ;-:..c::\
.e/h OJLC "cal. 1-" Lvi
Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIANil
".-~,c _. .

91 a 96 ficou na ca~?:-CC
percebeu metade dos nasciITLe~-. ~: :
a lctentida- crescer maIS,
atentas a que as pessoas estzio _.
sé} trata- Vocês concordêC"C:
id_erlti~ illOS a If fazer" nÚssó c
l'
ms- são! até porque
sirnbólicos evangelizar~ é a sua e5:=~~-:_'
lhando-se em Cristo.
congregações do
nas cidades, O
no mundo (ecleslolc'gi? -
l 1a GlSCUSSan
lJma arrlD ,. --
1 • "'i 1,.. ••
pel SOCIal e pOlltlC() rle5L~
atividades seculares.
var o mundo; para ir CYc.
os Estamos chegando.
bUÍII10S para que os
, ,
na terra; a
n-in1eir-"
t 1..•..
,..:10
LI ,,__
,_ j L •••..1. .•
a nossa própria crítica
() trabalhador zas; tal\Tez fruto das rLC>::·=,2
liturgia; [:S
cidade a dulo; puxaram de um e:<lc::-_- .
/ .
COisa se (ill/ r10 Illlll1rrlO; tivermos consciência
estreita, C 1Jrbariâ. Basta idéias fomos treinados
é1I1alisar os ( corrtirl1.1a= sociedade brasileira e se
fi CàlYlt.JC)S,
l. g:ados e
C.J certos pontos! entrarernc
toclos os a arquitetura; a forma- no anonimato,
Se de taf-o qUJ'sa",,,,, r,"
~ .1. ~ J .. _~ ••••.•.J...J __t._·'-..-': '~ ~~

-r"lJOP
corn {)ÇlT
~ ~\ aHg~~nol "i1~1-;"7--~
;::;_~1cH1LCc

para tlm contato temos de realmente enC?Ll?_


estressante, da violênci'L.:=. 2.
realidade dos profissionaiS
1999 a
2sse índice ele 1998~o acréscilYtO 4 Ata da nona reunião da diretoriz, ";:'._._
caderno de atas de abril).
Oj6 irlcli\/ícl'uo por C(Jn- 5 Os números são polêmicos. Muitos dê':'-'
\legetati~/o elO -Brasil d~e em áreas consideradas urbanas. Erri

40
1lox (~'ONCORDIilI'..;rA Vox CONCORDIiiNA.
---------. ----ARTIGOS

nas cidades, Ele é 91 96 f' ('. ~,~ ~,.-:J,~ ,-,,~" ~ ,-1- n'~ '-;:;n -.~n~~~ 1
a lC,jU_ na llnv C~L~;lll.l:jarlnOllrtem a
LaSa. u.t" 1...::...;1 LelitOf ele!
urbano percebeu . d d '. ,., ., r-.. . ,
meta e os 1l_aSClme11tc:se CrlJltC:S (10 110550 l00\/00 UêDOlS.
-" se ela cjJu_er
.
reClrperar a ide11tida- • , •• r
crescer maIS! precIsa canalizar esrorços nas ".
ur!Janasf pOIS e ,a 'i '
Igrejas, atentas a que as pessoas estão se 5
não só trata- Vocês concordarão
rlell-i começare-
_-~l~nas
irtstitllições sÊic~iderlti- tE:n'lC)S fÓrl.lllS de ITlÍS-
errrpresas c115- - t" " . ~., ....,.-. "-' .' 1 ...-

I' --'/.".-
sao, a ..e porqlle Igreja seULn~üssao
r" ••.••• :- T-:-v-,..-
evange 1zal, e a Sl1,t essenClCL Ul1.,ctVeLo CiLUIUUJlUU q1..tea l..L.LD, espe-
- ,,!,"?
l\tlssaOí rlO serltlOJJ ete
•.••...-:i-,.....,..~.!-:-..--~...--J "'" _ ,.." T"'[71 TI

lhando-se ern Cristo; quer servir e procurou fazer isso até hoje nas
polítIca Oll congregações do interior, bastaria entrar corn este IneSl1lO espírito
ri-:ç. ~c; r<or(·p-.lpt~mo"'J -
- ...u t..~_,__ I.
t. tJ ....
!..~ ••...t_ ..:...:..
..'...l. ..!.. na' ('idarie~Lh V D~o1:·!tJnl;-:.-
_<....1 -- .i 1 LL
n
....1-\707
G LGL. ~"•.--,
TI:::;nri.~S.8 c'r-'!-rl("'PYir';1n rir.1çrl"P~.""
-'-:......
U-,-",-, ~-'j---, ..,,~.,,~.t''3A,,---," G_c -o.:..-)a. t. --~

r'~irlgLlé111 110 mUl1do (eclesiologia) e para o 1:1-1Ur1.d~o. corriO furtdamerltal


( • I'~

ql.le Iaz e~xlgerl- uma ampla discussão de nossa compreenscio em torno do nosso pa-
Gll cuJtural.
pel social e político nesta nação brasileira., Ncio se trata de priorizar
erll. parte,. satista- atividades seculares, Simplesmente assumir~se no mu.ndo, para sal-
Sêtl1110d_o d_elidar com
"\'a1"o
.L m'U'1u-n
'- ..•.. 1
-'-"f 1 '~..I.._- ll"
Dc'll"'r-1 •~ ('nnTr;~ , ----'-- (')
--'--, .•..•- ••. '-" p r-:;:ir~
~r~~~-'~" ~J- e-r
.~ P
_~11117. nn
1~ _~~ ~
í--YPLl.í"-' dI'V" .
EstalYl.OS cllegando élOS 100 arlOS ill.stitlIiçàtJ. ql1.e coritri-
'bu]/mo"
---'- o pa"ri "'l'P
~..!..c_Li ns, b"''1S1·bi1·\~j<:O
1 ........•..... 1.U,_ - --".•.......•..
-'-. "';""'''<:26n'''
'.J t..:.. '. T)1'6r;"~.n"r)ç; [::171"'-,
;.4••.....•
"':-:..-'<....1--...:...l.1. ...-_ ..:. -'-"_",--..I..uC1.:..l.I.. •...•......

a nossa própria crítica para id_entificarrnos 1105308 e Í11certe-


zas; tal\lez fruto das 110ssas teí)lÓgicas
'-' qLle/ C01Y1l; llill_ pên~ --'- ....

dulo, puxaram
l de um extremo ao outro o no mundo". Se não
-=·()Sse fec11a ()tl; llJJ rrLÍrârrlo!
tÍ'vermos consciência de qlH2 ~ f(;TrrlCl f01TtOS forrn,ad_os; à ltlZ de que -
ltrbarlâ. Basta •1ae1as
1/· f'ornos t,'~ d" ",.- "-. ;~"O:" ~,~L -'·r.lr'~-1- ~ ~~.nl;, ~ ~
leu la ,o", iJafn ct "Iru;:,bo.u,L o,jLJ \..','LtCH:llLebàHetLi.SarrlO" G _

a lirLgllagerrt (coll.tin_lla~ sociedade brasileira e se não estivermos a. rever e mudar


ucarn.pos! gados e cel '·t os poru.osf t"· '~
ell1arelllOS
-I-
r10~ C1 ;d~ao_e
1 '~~ •• '~ '.1..~~ ..-." .. -, _ .' ';:;n
~njl POlLQ:j ~i.".1.e llOS. 111êl11telat.;
a a.rql.Iitetllra; a fornla~ no anonimato,
airld_a 'verrt COITl o
Se de fato quisermos agir e brilhar :nas cidades comprm:"r1etidos
-~':reso±e:r~e(:etn certa resistêrt-
com o ê\7angelhof sinalizartdo o reirioj éUltecipa11do o 31TL()r/ a justiça,
temos de realme11te erlcarar o l-iOlYtêlTl frlltC) o_e tllYta rotirla
estressante; da violência, rc)tas d_e tráfico; da
qtle 110 a110 (te realll·da d' t-···'
'e aos pro",-lssl011êtlS OL() seXl).: corrllDcão
~. -, ecorlôrrlica e ~Doli-
.
, ~ 5 " ,
centO, ""pIlcanao
1998/ o acréscin10 4 j~-,.ta da nona reunião da diretoria nacional di:1 IELB/ 2000: eU! 20/0--1/00; In{onnej 101/2000
i11Cii\líd_110 Dor C011- caderno de atas de abril).
I
5 Os números são polênÜcos. l'víuitos deÍendem que 75 por cento da brasileira reside
d.o Brasil de en1 áreas consideradas urbanas. En11920 erarn apen(:5 por cento.

Vox CONCORDI/lNA, Vox CONCORDIANA 41


----------------
- ~-
~ -- -
--- -

de sua intimidade!
,~ l.-u - Ar ()
1ól"fH1ÇC .J

e gozar a
cstarrH}S 1108 di=
, .
va que se t1eseJIyola no {s_"
l-7Ública
Na ver(lcuiei eles
1//)""'j' l--lCu, C
pu n·:r-/-nr"lí) ....• ~_A_~.L:·
LOLL: bG LOfLbt:

Por exemplo, (i
se cottzüortar
i nUI1-1e noz

hoie
) se fetn quando
, se ~i!
quando se lJixarn lllonz
Nosso ponSaVell?Zen te pelo
nas ruas e
pode- '11,~j'L'OY
I i--l--I
i'':;';/'I~
..-l-{L-
J
{.:ia '~11P 1;'7 i-'
•. t ..t~, J...f" •.... ,n .. v~_

re- uso coletivo. 11yfas f?ssn 717(: .


err.,_ r 1/'71 Í'
pa. r a ",.we q "I" d
IlfJ fzoJJzcnz co~ tJe10
I menos
quadrado de
,
acao a ()'u'''J'ef:.;:,
l..-. o·· r·,,·í
\..-!..Ljf.. "L

Úzvasão ~ie {erras


f
cidadania. E e
tos

se refere a
,,-;~ ,-1n " 1~
Q pO •..aXílOS H- defesa
-' contr(l a nin.
'IX
a VlO,cnCla"
na
r'J-'['111{'j
t-1,,1-1U
11el,/'O'I)"0
ó" >.] •••• d.u"
,..,'••

rnente uni desconhecidoj o


fI0J11eHI e passear, onde se
relaCI011aY~·se de hojel poder reconhecer 05
de m1'la mesma ou
~ " ""1
L01110 e 110SS2Vei

São ;\"11.110, ed. HLJCITEC; 2000, pp. 11-12. 011alS espaços

llox l~ONCORDIAI\IA
1JJYlâ lógica de sua intimidade;
1 ' /' •
ateí1tar para 71Iwnçaf o que ;u vai
e an'7ar ~'l·
ó'--'''--'' "I eY17eri$17f"i"
-"'~r '~''--'.. '~~~'~

va que se
vida IvÚblicn voLte
' ter
7\ T "'-f
Clli~a- l"ja Verú([[1e/ elES

C()11dições Ivública, . e isto se


sorlr-tOS: , ln~laglrla- LJ Por exen7plo; a
c.p cnl~lpL07/ff7Y p J~,l.-~~~'
1'101!ll~I'·U'--'
p~?íf7cn '
Ilào só 11afolga)!: de l..-'''-' '--, J.', ' }-}. A,"1íiJ'P
t;,-' I.t,~, _l..J;....,~ •.~'~

7 ':0 o fOH'-o -! 11/: C/J


110j"" S" ••...,,1 qLu""iv c"-.

quando se pI:rarn
-: ;
pOl1savernlel1Tc
nas n!(lS e calçarias sÜo
menor idéia de que
1150 coletivo, lVlas essa J1zcsnzü

para saber qual a diferença entre U1na


DCt-:S
'-- ..'\..\..'-
....
::n
--'-'-"-..' co- 't-'1p]t'"'l.
fJ'-'~U
't1t"PT1{"lC
li '-'Jt--Uv
'1nl!1'fn
Lt~l~l.-t~,-,
f1111tY c.p
:"-;~~'"--- v_

senl 7)iSibi~
e objetos eu/u preservaçllo
Z71.vas[fo Terras

cidadonia, -p, e
tos de
r:11D
"<..-l'-{.\..-

~ 1•
a pOG.errlOS 11=
da ir!.felicida- a VlO/fnera

tem a 'ler com o trilha veriQ:osa


! LJ do assalto e do
mente um desconhecido; o
passear/ onde se divertir.
, .
de hoie/
reine lonar-se j "nnder .... reconhecer - o.~
-

uma. mesma OLi

COlno é ,voss{vel .fazer-se ver, se


1110 desejaclo/ ser
-:':1ulu, cd. r-rUCITEC, iODO; pp. 11-12. Ol1ms espaços

/i ':!

- .._--------------
-~-~~ - ---
---._--- ...
ARTIGOS-----------------------------

[l7!l/ se ngre,OaVrllllj
..:...", (1(11
,
ueles es?)czços
, ..••.
L~ ,
U10 !presen res nas CllalJlactas I ' .
SOCIed a d~es
Ifbaixof! custo o

tradicionais {jue marcaram


J;
110S50 vassado recente? Deles a socied,'lde •
urba- m:ils l-10
'"-'''- .•.. 1.
rTu."P :i
-1 -- .

na de feição rnetropolitema reproduziu fnlsificaçi5es que ailUia assim, quan-


receber Í11strllcão.
d,.· 1.'
o jli!1ClOna/il, aestmmn-se 1'.'
eXCilis/VriJiZeme aos mwto ,
pOliCOS que poaem
IvIais 11.0 final
• 1~'

pagar por esta espécie de acesso privatizado ao espaço privado construído ~pessoas tan1Derri
eeollndo IJ" Y'lndoio
v ó !.-" ,; U L-l-
(f,', 'Je"(Vt' "'ih7>n
l-U tu/V lyU /-"L Vd-CU. portarrler~to g.u_€
nhamos uma
it _,
próvria o.
igreja católica do aggiorrlalTleIlto
~U deixou de procluzír al-
gZl11S desses importantes as pessoas podimn periódica e ritual-
rílO l1istórico 11ão con:~e
ISSO recorro a 1.1111Otl tl"C: ": ::--
111e11-re (e o ritlLal1nente é futLâanzental)
_I (luarecer,
l' se i
t1nresel1tar se represen-
f .. - ., I • , . .c donça; professor
"ar: as prOClssoeSj as rezas vesperalS; as !a0í11nJu7s e terços; as grandes jestas
paroquiais, Não bastasse; o rito sem nenhuma pompa e etiqueta do q.lle fez llrrLd sigrtifica'
, " ••
carOtlCZS1110 COl1 tetnpora
/," 'J:' "
neo JOl) le!?}1 ao c(u1n vez lnazs. d'~es ln. teressal1 te. A etz-. ça; em seu_texto /1
Jno histórico no B
queta é lnuito ilnportante para rz relação C0J11o outro, e é através Lia
f .,., ae
par"uw 1
uma mesma ' "
etiqueta que se jonnam ,. /
vmC1liOS rle 1 "d
z entzaaae.." são d_o protesta11tisr.cLc l-~~~
-
Ç.)uanâo
, J
C{lua
,.
liIll jaz o que quer, ou o que amar que /l1e seJCimms vantaJoso, 1 '7' . , dade. Pelo fato
DellS e COIYLa
o que é pior, não há f1osszbi:id,7(!e se ter referências para (l auto-expressão
públíca do indivíduo, a lii!W representação destrói a virtualidade da
outra, numa relaçfio perversa que ., só pode levar o homem à solidfio.
,
\TO. Basta reparar ria erlC'··
Dre se eriterlo_eITl
Acredito que o homem que hoje busca a religÚIo está também e princi- J,

palmente procurando o seu comportmnent? que também possa


, ~sem
donea.
1
levar em con t a a presença J' ' ',.! , /
LiO Outro,' uasta ele estar 50. t,~ o mesmo que vdzer
,:j'

nup
~1 pie
.•"'-''-' ou \...-~·~·~III
010 PYOCI"" l'prnnl1drw
""'~. 1~_.It...0r'\/I}-"}-""'-! r'
"t- ~/,,,,\..Y!l1eYOilJ1"n
Li',1"} ,ól.-·j.. "/.Y~·'-' "i07'
('1'11 L-o- ~ •...• II(1Uerl sou7 Onde
~ { •

esta. " quem .:í'


me alga SOll eu;'.- f, u
.r-.
que iWO e mmto ~u /' • , 1 • I~
alJereme I I '-
c a quesrao
7 Trabalho apresentado no
rnrm;ncfa 11p7nnsirnll{71jc;p
L.!~\,,/'-""··l./L.:-~·~t' f'
~,-,~rl :-~.••...""',--, c;imflrres
t{;cnicas do sociedade ma-
•...•...
"" •. J'í ....-.0- '- .•.. 0- de Brasileira de Socic)logiJ,
aerna
.1 as
' 02U7lS
i! • os vOüres
,- nao ., ••• J J ~te acesso, 11 (P ran-
(l nzenor ;üOSSlul1Ut{1CAe ..J 8 O texto parte parte de urn rC'L-~ t .,

este autol~ llTI1técnico inglês CI:;:,


di; pp. 26-27) impossível qualquer sucesso d,~:-.:--
//\Tiver é corrvi\rer/f I afirm_ou I"vIário QUÍllta11a. O 1101nen1l1rbano 11l.aisrenloto rne parece () exito di:'
puritanisll10 poderÚ
k ter
sanila ' espaços ae ,,~ C011\71'/211Cl!l. " trocar 1'd/'elas, con-
'r- \.2l.ler 111teragll",
'. ça faz unta retrospectiva histÓric't
viver. Este era um dos Drincipais DaDéis que as igreiasc· ) no interior
J...•.. .1.."':"
ao Brasil. Conclui que dentro Ô'_-
relação a atuaçJo no mundo. lhr,;
cumpriam. Juntavam o povo nos finais de semana para uma convi-
L ~ - do ser hU111ano. O outro crrv21''2(L, ~'::::.
",'" '"'"' /' 1 ~ í
venCIa; o que durante a sel'nana nao era pOSSIVel. LaGa um passava apocalíptico do pÓs-miIenisrrtc' -=..:::-

1 1'" n .. uma "ação!! que não 'vai alén1 eLe: 2~--


quase
- que
- lSOLao.oCUIGanCO •
de sua -;lavoura e 1_'
1'" ~ • 1
DIchareao. :::lerIgreja IlSuas incursões na
mas contentam-se Ú'í2qÜentel1Clent.:
na cidade é perceber a necessidade do ser humano de se relacionar.
expectativa de que as illudança:::.
TenlOS de admitir que multos '--'.: sinwlesmente
" uma içye,in ,porque lá não tC111 condiçÓes de, por si :..;(\ ri:::"
en.con.tra111 o
qente .. ~" .'
h lá. ' alrlda. d~erÍl1aze-lo
, -OC:
L
- ~, C0111 se~u_rarlça
<J
, um
e SOb 9 O texto não foi publicado ainclz~.~~~.:_

--------~
44 Vox CONCORDIANA Vox CONCORDIAJ"!Jl
---------ARTlGOS

nas clznmadas sociedades


? Deles a sociedade llrba- -<Y'\a;s
.u.:..L.. Q1" ''''0 '"
U ""-iL-!Lli 1--,~~-
0LLbLd
í"i1Yi
u __:__
=_;_

"zcnções que ainda assimr quan- receber instrução.


70S muito poucos que podem
I\1ais 110 firia1
.. no espaço privado construido

,',xnento deixou de produzir al- nhamos uma das


~:;o!Zs podiam periódica e ritllal-

,':erl se apresentar se represen-


, , ::ihas e terçosf as grandes festas d011caf
, -OI'l){essor
l
pompa e etiqueta do au'e
1 fez
_."-J '1n"';:j
L_ .l __ i:5 ()'pifi,-;:jHv:~
"I' b-l~~~----,,-...~ ..-..
::2 mais desinteressante. A eti- ça, errl sell text() fI L)anornnza
com o outror e é através da íno histórico no Brasilfl/8
'i7i7m vínculos de identidade. -- __.L:
d- ~_
~ao o pIOleStallLl;:'ili\) .• l. '

que lhe seja mais vantajosor dade. Pelo fato de -orÍr.nar


, 'c':ências para a auto-expressão DetlS e COil1a irlstitcliç~:io/ rias Sllas decisê1es c~protes-
destrói a virtualídade da tantiSIrlO aca-ba ele r.ftesn-tcJ E.e n-n;r/:;::;T'':(''~(~ rr~.~~~: ..• COletl-
..:,,1' o 71O!lZemà solidão. \/0. Basta reparar rlã eriOrri'-liciade
'clivião
ó está também e princi-
. prp se ent:c~q-!(:iprYí //lPO'lt'ir:n~c:ll
.•.• -' -L---o~\..~~~_~"--' p
..•..!.-_ ••.....
..l.-_ __
'il.
Men-
..ortmnento que também possa ct'on"ê1
"5'" seml J \...-_J_ -
rlf-l"'YJl1CITin
'-' •..-1. ..•.. í PT:r-pr~~::::
.•..•..•..
_..!_ "-'-••.....
.L..:..~:.
•..•.• - ..•.. - -...?

. Estar só. É o l11esmo que dizer


ta crucial: fiQuem sou? Onde
o. é muito diferente da questão ,....---.-----.,,-
7 Trabalho apresentàdo no grupo de trab;:tlho ~;obr~~ r () IX Brasiíeiro da Socieda-
, 'Si técnicas da sociedade mo-
de Brasileira de Sociologia, de 30 de agosto a 3 de seterúbrc de 1999/ na. l)FRC::'/ Porto
/.--h..~ -i
~c,;l1iL'I:'';(lL.Je
-_ ,,-, >- - L.-.- l-J.J
L1'0(lLCO""O" • JL aI
(Pr~n- 8 O texto parte }.Iéu'te de urn relato extraídu de Uln livre: de ThoEl(lS E~vb':-tl1k. A VÚta !lu H. as!!,. onde
este autor, unl técnico ern lTlcc,1nicél, que andou Rio de Jan.ei ;'C; :::,Il-t1846, Z',YEdiou COlno
ilnpossível qualquer sucesso das D1issões protestanLes nu Brasil: i'(jurnltc' n;ais conheço este pO'i/O,
~~;Üntana. O homem urbano lT!ais renloto fne parece o êxito de qualquer 111issão protrstantc entre ele ... I",,-'-enhu111 I11etodisffiO ou
puritanisrno rigoroso poderá florescer nos trÓpic(ls". entre oLlLrib coisas, I\'iendon-
lnteravir. b . trocar idéiasf con- ça faz unla retrospectiva histÓrica das correntes te()l{igiGl~ dentro dos ]:Jrotest.?!ntisrnos que \'ieranl
- '.~ ''-'11°
- _c_
iareiac
·-t'--C <-to -b ) o _lro l'Ilt'erior
"'<o
, - ao Brasil. Conclui que dentro do protestantislno tr,Kliciclui dois carninhus foranl t0111aaOS en-l
relação a atuação no 111undo. UlTI prega () Cristo e ("J.gC)l\1.Jf histórico, presente nas realidades
.2 se.mana para uma conV1- do ser hUDlano. O outro enverec1.t:-! pela trilha do Cri~to di::-;tar:te do n:.undoi -'-'UITlI112ssia.s do reino
'-~"-í-Tel
- __ .=-".I::;':;\~. Cada
~_ TTI
LI p~ssava
a __ apocaliptico do pÓs-milenisITlo",Este Ü1tilTl:J. Lllna conrorrnista; lÜrtitando-se a
tllna /Jação" que não vai a.lénl da espera pi:1f.si\'B. n1ilênio 2 clcixCl o rnundo a SUd prÓpria .~orte.
clra e bicharedo, Ser igreja "Suas incursões na prática política, sendu indj\/iduaIi':-it?':-i, n.3.o Je\'~uTl nenhLllT~ projeto de lDudança
-2l hu_mano de se relacionar. n1dS contentarrl-se freqÜenten-tente COITt (} d,~u:'u 'l:;orn te~te!nunhc: do , Nãc~ 'vão alélTl da
expectativa de que as mudanças para Inelhor sÓ ,~,cir~io :..:ornu rüiif'nlc) porque (I hOIlI.e.lTl depra\'ado
simplesmente porque lá não ten1 condiçÜcs d(::\ por si sÓ, ll1elhcirar fi D1tIl1::ic\" 16}
com segurança e sob um 9 O texto não foi publicado ainda. Tenho cornigo e {:1ispnnÜ,Üiz ..j-lD ;, q1..lel11 se interessar.

Vox CONCORDJANA Vox COI\TCORDIiL\JA.


<!!lI
li
se fecllarãoj rf'tas Darecerrl
l estar desti- ;I •• __

rellglOes e
a abrigar os 1~11tir[10S \Titoriar~J)s Cll1e serrtT)re terao rerrla- trabalham COIn
ft2Scentes, ele tln1a boa
dlIra rililirn.etrican"-~el-
e dos órgãos qlle ai11da ceIe-oram , Bach e ITlanter o grtlFiQ cce:- .._
~nelallTllllla
Stlgere a liberdad~E"--
elrt eS-Olflttlais
co:rryu_11jdades l restritas e I011yeo o risco de sofrer
de ct-· ,".'
. lspersas geograrlcamente ~-
nele. ::Jao COrI1tl- No entanto;
nidades ClIios li11icos , lélCOS
~ sào a tradicã.o orecaríarrle11te n1artti=
;, .L
daI ela sllrge COn-L(}
(1;:1
"-'"--~
- P?;-- P(1)Pf?-.
-"-'r --y_. _._•..~.,....-... ~ .•..'-~u -~ ° pspírito
"hr~l1vel·l1·bern':"ld-c> --. ---"- o'n
-.
estará ~oreserLtey;;
.. (p, 16)
os ielbiar10s rlão se reSllrftarl1 a /I con=
e arnarltes de tlr(iél boa retórica d_e púJpito e crrrlfin
Ó n']c>
1L_ ••......
~ •• , •..••...
cele}Jran1 Bacll e Ha:rtdel.f1
meSill.O (ILle
e desunião, atrEfvés dela o ser
e perceben- de [)eu_s, J/(J cristãc: p
.rlorflerl1 m,oc'lí2rrUJ CCirrLOalglléul C()rrlllITla íde11tidade fragiliza= sa ser red_escoberto,
nr'pfprú111
r ....
_..~.....
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percliclo errl rfLeÍo ao IYll11Lcll1 sectllarizadoj por ve-


zes/ artSelEt por cliretrizes segtlrarl(;a e o façan1 conclujr nos aponta
~ esta
110call1ir~ho qt12111ê falta llrfll/portc:// seguro onde li\rre d_ocristã().
(triCorar S"LlàS e SetlS 2í lLesta irlsegu.rarlça a11da Sedell.to
confortável ê deixar ou-
anátemas,
trczs t'lvHtaS ..P~ por "S5
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err\leredaui. Fil()sofiasf idéias, metidos COUl o
_________ • ~ .~· __ •• ·_~" __ ·~A
ensaiar alguns
10 Stuan I-Ia.U H(.) liYl"() A Cultural ni? Fós-lvIodcrJzidade (Rio de Janeiro, DP&::A Editora,1999), ta de acesso à
10-13, distingue trés concepçoes de identidade do sujeito ao longo da história ocidental: 1)
do ilrullinsmo: i1. pessozi. hUITtÚnJ entendidé1 con10 UIYl iiindivíduo totaln1ente (entrado, uni-
ficado, dote:do elas capacicliH:ie:sde razão, de consciência ç ele ação, cujo 'centro' consistia num ser\lÍr li\lre/ \TOI1JJ.-itário e _-
nÚcleo interior, ( essa era. u.rna concepçã.o TI1UltO indiyidualista do sujeito e de
sua identidade;; l<.efi:~te d COITtplexidade do rrulndo rnoclerno. P.~quele nÚ- -' -; -
cleo inte~tiur ele· n~G é rúais autÔnorno e auto-suficiente/ n1C1S fonnado na rela.ção con-l as rnetlda 11êtO ('S}rn
outra.s pessoas, ()Ll seja, o "eu" é Ionnado na interação sociedade. identidade costura
C0111 2: /I p,,-
I'.Jestor Becl(
(ou 'par2t usar luna 111.et2..forarr'tédícd, ;sutura') o sujeito à estrutura." O slIjeito fica fragmentado e

~O~'p05t~'1i(:':~~1;~
a~l~~~:]
1tida de5 Íl~,~ze:5~~~~~:t'~;~r:~:~i~~1~1~~;O~~,d~~i~~i~.~~~[:orna -5e urna
celetn?,ç30 111ó\7el' fcrrnad,q e trarlsrornlada continualnenLe eln rela.ção às rorrnas pelas quais 50-
11 Roberto Ron-lano, 110
IDOS ]'epresentacLr5 ou nos sisterúas culturais que nos rodeiaiTt. (.,,) /J..~ identidade
unific:ida. segura. e cc~erente é unta fantasia. fi
12 Beck, Nestor. SI)ciedndc 1.: .:......

EditOL1, 1988, p. / ';.i.

Vox CONCORDIANA
Vox COJ.VCOR.DI.AIVll
-(C p-~_. p --,I •...•.-..-J
:-".~. 'ê Q ~
~lldu pa~'-C_In _tirar uesn-: <

religiões e até IELE?)


sempre terão renlà- trabal11arn COITt
e amantes de uma boa
celebram Bach e
n1al1ter o gru_po c()esc) e
--'35 pensa viver nelal numa
sD_gere a -lIDe!
., ri- ,
M-t:tOJ::'
yç.strittic
_L p
'\-.1.-1011iJP
5--
l..J
o risco de sofrer
camente nele. São comu-
No entanto f
,- -'P":::1ri~~
tJl_,--~ arn P11te
~H_~ _ m~.a~n..~
ti-
daI ela surge C01TlO ci
·'er liberdad_e O espírito do
mana em paz CO:rlSlgOf
com Deus. Neste
.:_:~~~-~os
rlão se reSllTftall"1 a Il corl-
1 ,'" 1 ,1'1' para C011'1. os brasileircis
_~_:laOl1ZlretOflca 0_2 plllplto e
i! grntin que motivem
-i' 1 A.- 1 '''''' lYteSIT1..O qu~e ela possa
O_lSSOlllçao e aeSll111aOl
Cientes disso e Derceben- ~ de Deus, "() cristãc; é
- -', ,-,-o "i; ,1 Dl-1 ti c1 ~ a' D lera .ri 11:'7 a-
''Y\ -.
;.;. b. ~J..l.L t.O•. b.1.1
J...\..A.'l",..

sen-l oferecer liberd_a=


•••.• .1.
"-A Cl ...,.. .••.. L.J
sa ser redesco·bertof celebrad.{J
ç;c,,'" , -l'~~;'~~a;nn"r
l""'C,"'_U allLct v/ y ... v'" .J ~ >;;;::,-
COlno
':,22:tlrarlca e o facarrl C011Cltlir
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;1111 fJvortp"
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~b onele
••..-~~- J. _.1 ---
li\rre do cristão. NtJITi 111Llrldcj
irlsegu.rarlça arlda secteriTO rrtü os cl.l1tos tênl S€1J
cOllfortá"vel é deixar Otl-
arláten1êls! ele\Ta o pertSarrleIl.t{) e a
prontas. b por esse
Filosofiasl idéiasl partir deste sigrlificati\T(] legadci . ". CJ

il1etidos com o 2'vZil1gelho do C:ristc:


ellsalar algll11s passos para tIrrta
{l.{jode Janeiro, DP&i\ Editora)999); ta de acesso à cidad.e é a vivêncin
.~ujeito ao longo da histÓria ocidental: 1)
éllH /lindi\·'íduo total1nente centrado, uni- 11ÓSe erltre nós se
e de aç2.o, cujo fcentrcy' consistia nunl servir livre,
-'cc;ão muito individualista do sujeito e de
->.jdade do rnündo rtloderno. Aquele nú- ceber qlle a IELB é
_~hciente, rl1as fornlad.o na relaçã.o C0111 as
a sociedade, "-lJ.,. identidade costura
;_~:Jn1
metída C0111 l-tOIYle:ns: rn.as
~strutura..;; O sujeito fica fragrrtentado e
Nestor Beck alerta~/a:12
e nào resolvidas. 3) Sujeito pós-moderno.
'TÚZElente, i\ identidade torna-se uma
/I

enl relaçã.o ás formas pelas quais so-


~·_::-~:isque nos rodeiaITI. (...) p.~identidade 11 Roberto ROITlanOr no prefácio da
..~~"~
fantasia." 12 Beck, t·Jestor .. Sociedade [ Educaçâo - Esfudo(: ConcÓrdia
Editora, 1988, p.
"\;'0X COiVCORDIA.1--lA ..
Vox CONCORDIANA

ARTIGOS------------------------- --------

IlOS rnodelo religioso


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, , IvÚblicos
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J I ele UlIZ CO! I

estar fla reproduzem nas


Sf)CC;rrc) e talizbrim de outras
Ivastos COlno

J1lClS- ,
laeão,' os catolicisl1'lOS. , o
Assim; no
al.I 1983) criatn-se

71í'ic,:
t7celera- VVv/

tâneia e (l lil"urçria
o
A1 {-, ;; .í;..;..:(' l-': rt7~~
-1'1 f--
e, ljilSe v {/OinlL-(!, eSdl Lei'"
vro~ grupo. E isto reduz
C01IlO sen- lHO de seus 1nernbros.

l'.Jão é na
dotaíto de

." -<

a partzczpar ao grupo i7li~: _


sentimentos
varar-se da esposa
I .! varí1 I"

oci/-/-" 1'a"I'." Hv
•.. l-.•• r~1 "'1'
r:c ,,! /7Íc
A.-~t."L-'
f'"
~h.J
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çao e sOüre as quals

48 Vox CONCORDIANA
modelo reliçioso
o
C':JrrHJ a de Leisrdg,. aSSll= de dar se;izt!'do c'oJ71pleto à ItleSnzo l)or-
órfàc1s e d~es- ",
que o sentlao
d,a 'd' -,
cz ' nele rU70 e rell/510SOI
'" !f]';rn -oyt~nfa_
",l-",[ •..,v l l-- i V)

n,o. Mas a presença nzassiva conlradi-


çãor mostra benz como se J sentL.O:
(ie . 'd'
a cidade n{io Ivrecisa cida~ie
deserda e descmwara,