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ÍDOLOS POLÍTICOS E O PERIGO DO MESSIANISMO

Em entrevista à revista época negócios no ano de 2016, o filósofo


britânico Roger Scruton, ao ser questionado sobre a frustação com
líderes de esquerda e a ascensão de líderes de direita na América Latina
responde: O ideal é que não se deposite esperança política em pessoas e
famílias, mas, no governo das leis. A resposta de Scruton é democrática
e politicamente equilibrada. Partindo da afirmação de Scruton, podemos
levantar duas questões aqui. O que é o messianismo político? E como
ele se manifesta?
Em resposta a primeira questão, podemos definir Messianismo político
como: a tendência coletiva de esperança em um único indivíduo como
solução de todos os problemas, um líder que será capaz de trazer a
salvação e mudar os rumos da história. Consequentemente sua
principal forma de manifestação se dá tempos em tempos, com um tipo
de “profecia política de salvação”.
No brasil e na América Latina, o messianismo político tem suas raízes
históricas na cultura monárquica vinda de Portugal e Espanha, um tipo
de regime político que fazia com que o rei virasse uma espécie de
“salvador da pátria”.
Aproveitando-se dessa herança cultural, políticos populistas das mais
diversas bandeiras ideológicas, apresentaram-se como o “salvadores
messiânicos”. Surgindo com suas promessas messiânicas permeadas de
soluções para todas mazelas e desgraças sociais. O resultado direto
destes discursos, são debates intolerantes e acalorados em defesa do
político de estimação e seu utópico programa político.
Mas, que orientação bíblica poderia nos ajudar sobre tal perigo? Há um
caso emblemático e pedagógico em 1 Samuel 8. 1-22; onde podemos
extrair valiosas lições para o discipulado cristão. O texto bíblico em tela
apresenta a insatisfação do povo Israelita com os filhos de Samuel,
estes eram juízes, então responsáveis pelos liderança política da nação.
Porém, estavam agindo de forma ímpia e injusta diante de Deus e do
povo, não seguindo o exemplo de piedade do pai (Samuel), mas, se
corrompendo por meio de subornos, sendo omissos com as
necessidades do povo, bem como, não julgando as causas da sociedade
com justiça.
A reação enérgica do povo, diante de tais sacrilégios, foi pedir um rei
como os das nações vizinhas. Samuel advertiu dos perigos, mas, os
israelitas foram relutantes não abrindo mão em busca do líder-salvador
(1Sm 8.7-20). O que podemos aprender deste fato acontecido em Israel
e sua aplicação ao nosso cenário político? Em primeiro lugar, o poder
do Estado é transpolítico (vindo de fora), doado por Deus (Rm 13.1). Por
isto, o Estado na pessoa dos representantes e membros do poder
público, devem dirigir o povo com responsabilidade, visando sempre, o
bem-comum na convivência em sociedade. Quando não agem assim, o
povo sofre. Em segundo lugar, a falta de maturidade e de senso crítico
do povo na análise das instituições terrenas, muitas vezes transferindo
suas esperanças últimas em Deus em momentos de crises, para a ação
e responsabilidade puramente humana.
A solução de Roger Scruton é correta, mas, parcial quando vista de da
ótica cristã. Que é corretamente colocada pelo grande teólogo católico
Joseph Ratzinger: “A fé cristã deve prestar um serviço à política, pois,
libertar o homem da irracionalidade dos mitos políticos, que constituem
o verdadeiro perigo do nosso tempo”. Precisamos a cada dia, fugir da
teologização da política, que ressurge de tempos em tempos, como
substituto do reino de Deus.

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