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Resumo
Palavra-chave: Análise; Sociedade; Existencialismo.
INTRODUÇÃO
1968
motel. O massacre chama a atenção da polícia, forçando o Trio Ternura deixar a
favela.
Buscapé passa tempo se juntando a um grupo de jovens para fumar
maconha, fotografar os amigos e ficar próximo de Angélica, mas todas suas
tentativas de se aproximar dela são frustradas.
Dadinho muda seu nome para Zé Pequeno e, junto com seu amigo de
infância Bené, estabelece um império do tráfico de drogas eliminando toda a sua
competição, com a exceção de um traficante chamado Cenoura.
Uma relativa paz chega à Cidade de Deus quando Zé Pequeno está no
comando, pois evita chamar a atenção da polícia eliminando o aparente problema
local, matando um dos Caixa Baixa, que cometia crimes na área.
Zé planeja matar seu concorrente, Cenoura, porém é impedido por Bené,
que é amigo de Cenoura. Bené era o único homem que impedia Zé Pequeno de
atacar os negócios de Cenoura. Após a morte de Bené, Zé Pequeno estupra a
namorada de Mané Galinha e mata seu tio e irmão. Galinha, procurando vingança,
se alia a Cenoura. Depois de matar um dos homens de Zé uma guerra entre as
duas facções começa envolvendo toda a Cidade de Deus.
Zé Pequeno faz Buscapé tirar fotos dele e da sua gangue e ganha
notoriedade com isso. Buscapé se surpreende quando Zé manda que ele pegue a
galinha que fugiu. Enquanto Buscapé se prepara para capturar a ave, Cenoura
aparece e um tiroteio começa entre as duas gangues e, mais tarde, a polícia
intervém.
Mané Galinha é morto por Otto, um menino que havia se infiltrado na
gangue para vingar a morte de seu pai. Zé Pequeno e Cenoura são presos.
Buscapé fotografa tudo. Os Caixas Baixos cercam Zé e o matam em vingança de
seu amigo. Buscapé tira fotos do corpo de Zé e leva ao jornal.
A partir desse contexto e cenário, a filosofia nos ajuda a compreender
certos tipos de comportamentos e indivíduos, dentro de uma determinada
sociedade.
ANÁLISE ANTROPOLÓGICA
1969
“paz” aos moradores. Mas para isso determinadas convenções precisam ser
respeitadas.
Sobre o direito do mais forte “O mais forte não é suficientemente forte para
ser sempre senhor”. É uma convenção social aceitável que transforma a
obediência em dever e ceder a essa força, em certas circunstâncias, é uma
necessidade e prudência. Zé Pequeno utiliza-se da violência para se estabelecer,
na linguagem da violência, manda o mais cruel, em alguns momentos o próprio
“senhor” traficante entende sua fraqueza e cede espaço para não acabar morto.
Apesar daquela comunidade viver em contextos humanamente ruins
comparados aos da cidade urbana, a escravidão voluntária é algo que chama
nossa atenção. Apesar de viverem assim tem assegurado algo que lhe interessa:
relativa paz e rendimentos mesmo que ilícitos, mas compartilhado em várias
famílias. Portanto, há ganhos secundários (garantia de subsistência) em
submeter-se a esta escravidão ao tráfico e a violência local.
Segundo Freud (1996) o ser humano é como um animal dotado de razão
imperfeita e influenciado por seus desejos e sentimentos, a contradição entre
esses impulsos e a vida em sociedade gera, no ser humano, um tormento,
percebemos que Zé pequeno é tomado pelos impulsos e faz de tudo para
alcançar seus objetivos naquele lugar, indo contra os preceitos de uma vida em
sociedade.
1970
Para Kant “O homem é a única criatura que precisa ser educada” (1991,
p11) Esta educação é importante, pois humaniza e desenvolve sua capacidade
cognitiva dando vantagens para a sobrevivência da espécie. Enquanto a disciplina
o conforma às leis da humanidade, e a selvageria coloca o homem na
independência de qualquer lei. O personagem Zé Pequeno tenta se impor de
forma violenta, demonstrando falta de reflexão sobre seus atos, o que mostra a
necessidade de educação deste personagem para que ele possa entrar em
harmonia com as leis humanas e tornar-se um “verdadeiro homem” pela educação
(p.15).
A educação para Kant tem o papel de humanizar, delegar ou fazer
reconhecer traços inerentes a humanidade e também desenvolver certas
qualidades que de outro modo se deixadas à vontade não seriam desenvolvidas.
Claro que a natureza “selvagem” do homem luta por espaço, mas a educação é
um passo a mais no sentido da humanização, portanto “a natureza humana será
sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela educação” (p.16).
O esclarecimento é um processo de emancipação da ignorância, no sentido
de avançar ao entendimento, para o autor existe uma comodidade em ser menor,
ou seja, ser dominado pelo outro ou simplesmente seguir regras. Para o homem é
difícil desvencilhar-se dessa menoridade, desta falta de autonomia, em outras
palavras, sair da caverna da ignorância exige esforço. O esclarecimento é um
processo lento, contínuo e racional.
O meio social Cidade de Deus não é um lugar em que a racionalidade é
estimulada, mas sim a estrita obediência, dificultando o esclarecimento. Vemos
que os jovens daquela periferia anularam o processo de aperfeiçoamento e
adiaram o esclarecimento quando se negaram a refletir.
Em Cidade de Deus entendemos que um bom caminho para isso é permitir
que cada homem utilize sua própria liberdade na construção da sua consciência
moral, isso libertará o gênero humano da menoridade da ignorância, da maldade,
dos impulsos destrutivos. Fazer um uso público de suas idéias e expô-las com um
grau de liberdade é um caminho para o pensamento livre e exercício da dignidade
humana.
1971
conseguiu se libertar da caverna e sua ganância não o dominou, percebeu que há
um mundo sem a criminalidade, fora da caverna (obscuridade/ilusão).
O homem que está preso a sua ganância e ao poder não consegue se
libertar facilmente, pois precisa abrir mão de muita coisa, precisa fazer um esforço
mental, uma escolha e seguir rumo a claridade de idéias.
Assim como no mito percebemos na obra uma série de oposições
semânticas: bem X mal, riqueza X pobreza, poder X submissão. Estes contrastes
aparecem nas interações entre os personagens, entre a comunidade, entre cidade
e favela. Os personagens Dadinho X Buscapé se contrapõem, apesar de no início
estarem aparentemente destinados ao mesmo fim. A interação de poder e
submissão e ao mesmo tempo envolvendo a riqueza entre a gangue de traficantes
e sua escalada sanguinária por poder e dinheiro. Esta dinâmica termina
novamente com outra oposição, vida X morte. No mito da caverna, apesar de às
vezes não parecer, sempre existem dois lados, e, portanto existe escolha.
CONSIDERAÇÕES
1972
momento, entre o bem X mal, poder X submissão, vida X morte, criminalidade X
dignidade. As identidades são mutáveis de acordo com as possibilidades e
determinantes sociais e o cinema reflete bem como isso acontece.
Em Kant percebemos o quanto a educação pode contribuir para a
humanização do indivíduo em “homem verdadeiro” e o que conseqüentemente
acarreta ao exercício de sua liberdade. O personagem Zé pequeno, em seus
delitos e desejo por matança percebemos como a falta de educação para auxiliar
no controle dos instintos primitivos pode trazer conseqüências ruins. O caminho de
todo homem é emancipar-se, ou seja, libertar-se das ilusões da ignorância, do erro
e da destruição moral. Através da educação pode aperfeiçoar-se e esclarecer-se
a fim de que verdadeiramente exerça o pensamento livre e vivo dignamente.
Em Rousseau entendemos que o homem pode chegar a submeter-se a
escravidão por garantia de subsistência, na favela Cidade de Deus os moradores
tolerava o crime a guerra e a violência, pois por meio do tráfico asseguravam seu
lucro. E o transtorno em conflitos com a polícia e transição de uma gangue para
outra também trazia em decorrência disso “paz” local. A comunidade aceitava este
“pacto social” e elegia uma soberana Cenoura/Zé Pequeno, por entender que esta
é a melhor maneira de viver e para a conservação de todos.
Verificamos que em Cidade de Deus este pacto não é satisfatório pois não
há igualdade de direito a todos, os donos das bocas são truculentos, agem
seguindo por seus próprios estímulos e não pedem opinião a ninguém; resolvem
os conflitos com mais conflitos e na força, os moradores não reivindicam melhorias
e não tem coragem de enfrentar a situação. Neste sentido entendemos que as
relações de poder e também humanas em Cidade de Deus são desiguais e
precisam ser emancipados, trabalhados pelo senso dialético e reflexivos. O
homem em Cidade de Deus precisa sair desta “caverna”, mesmo achando que lá
dentro está bom, na verdade lá fora é bem melhor, é a vida verdadeira, mas que
demanda vontade e esforço tanto individual quanto coletivo.
REFERÊNCIAS
1973
MARX. Karl. Manuscritos econômicos e filosóficos. Trad. Octávio Alves Velho.
In: FROM, Erich. Conceito Marxista de Homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 7ª.
Ed. Texto: Primeiro e terceiro manuscritos. p. 89-102 / 110-127.ano 2004
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_de_Deus_(filme)
1974