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All content following this page was uploaded by Ana Carolina Castanon Luiz on 16 July 2015.
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*Resenha originalmente escrita e apresentada à Profª. Doutora Simone Caputo Gomes como
trabalho final do curso de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa III (FLC0489), na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2013.
Beto ficou cego de um olho por ter escondido uma maçã debaixo da
camisa. [...] Passámos a tarde inteira no banco de urgências e não
deu em nada. O enfermeiro de serviço, sem olhar para nós, rosnou,
Sem papel de polícia não entras aqui. (ROCHA, 2010, Cap. IV, p. 43)
Foi numa terça-feira, dia em que um doutor das letras, vindo do
estrangeiro, nos visitava, que aprendi uma lição inesquecível: a
escola é o centro da formação do carácter de um homem, mas é,
acima de tudo, o lugar onde aprendemos o ódio, a desigualdade e
passamos a compreender que a pobreza é uma doença incurável.
(ROCHA, 2010, Cap. VI, p. 55)
Sem saber o que significava “campanha de voto”, dei-lhe a minha
palavra de honra que não tinha influenciado ninguém, mas a
professora me disse que eu não tenho palavra de honra. Pobre não
tem palavra de honra. (ROCHA, 2010, Cap. VI, p. 56)
Aproximei-me para certificar do que se tratava, e deparei com um
polícia chamado Raul a abusar sexualmente de Pianista. Pianista
tinha a boca amordaçada e o corpo encharcado de suor, mas mesmo
assim deu para perceber o seu desespero a gritar pela mãe.
(ROCHA, 2010, Cap. VII, p. 61)
Mirna teria feito três ou quatro abortos antes de completar dezanove
anos. Os dois últimos aconteceram no Hospital de São Vicente. [...]
Sempre dão um comprimido para acalmar a dor do corpo, mas até
hoje tenho uma dor na alma que remédio nenhum é capaz de curar.
(ROCHA, 2010, Cap. XXV, p. 170)
Para cúmulo das desgraças, eu tinha caído novamente nas garras do
doutor Apolinário, o representante do ministério público. [...] A mentira
é uma vocação crioula. Mente-se em todo lado, em todo o momento,
mas bem poucos tinham o privilégio de mentir no santuário de todas
as mentiras: o tribunal! (ROCHA, 2010, Cap. XXXIII, p. 203)
Em frente a todas as violências e preconceitos que sofreu e pelas quais
viu seus amigos passarem, o protagonista estabelece duas formas de
resistência: o sonho de mudar de vida e a marginalidade.
Desde a infância, Sérgio mostra-se um sonhador e um defensor
daqueles que se encontram na pobreza. O menino sonhava em tornar-se um
famoso jogador de futebol e ilustre advogado, mas um defensor da justiça
completamente diferente do doutor Apolinário.
Eu não era menino de um sonho mas de muitos sonhos. [...] Era difícil
para mim conjugar estes dois sonhos, o de estrela de futebol e
advogado, por isso tinha de caprichar nos dribles e de me pendurar
nos livros. (ROCHA, 2010, Cap. I, p. 17)
Tal como o homem da boina preta eu tinha um ideal. Meu sonho não
se limitava aos estádios de futebol; atravessava as fronteiras da glória
para dar voz aos indigentes (ROCHA, 2010, Cap. III, p. 30)
Meu sonho de grande estrela do futebol crescia a cada segundo:
pisaria a relva verdejante do Estádio da Luz [...] Havia de estudar –
claro que havia de estudar! Mamãe quer que eu seja um advogado,
um homem da lei de casaco e gravata! Voltaria todos os anos para
abraçar meus amigos, não permitiria que houvesse injustiça para os
mais fracos, lutaria pelos direitos daqueles que têm sido usados como
combustíveis humanos para fazer andar o comboio do progresso.
(ROCHA, 2010, Cap. III, p. 30)
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Referências Bibliográficas:
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<http://www.simonecaputogomes.com/arquivos.htm>. Acessado em: 14 Mar.
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KAYSER, Wolfgang. O grotesco – Configuração na pintura e na literatura. São
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Marginais, do cabo-verdiano Evel Rocha. IN: Via Atlântica, São Paulo, n. 22,
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<http://www.revistas.usp.br/viaatlantica/article/view/51681>. Acessado em : 11
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ROCHA, Evel. Marginais. Praia, Edição do Autor: Gráfica da Praia, 2010.
___________. Entrevista: Evel Rocha: “Sal tem todos os condimentos para ser
um cenário ideal para literatura”. A Semana, 04 Setembro 2010. Disponível em:
<http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article55969>. Acessado em : 11 Abr.
2013.
SODRÉ, Muniz & PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro:
Mauad, 2004.