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Espera-se que a mulher negra seja capaz de desempenhar determinadas funções, como
cozinhar muito bem, dançar, cantar, mas não escrever. Às vezes me perguntam: ‘Você canta?’. E eu
digo: ‘não canto nem danço’.
Conceição Evaristo
3. TEORIA DO “MITO DA NÃO VIOLÊNCIA BRASILEIRA” SEGUNDO MARILENA CHAUÍ
De acordo com a filósofa e escritora Marilena de Souza Chauí, em seu livro Sobre
a violência (2017), o “mito da não violência brasileira” corresponde à ideia de que o
povo brasileiro não tenha, em sua essência, aptidão para atitudes violentas. Há um
ocultamento na sociedade sobre fatos históricos que, segundo a história política
nacional, foram realizados “sem sangue”, isto é, “[a] narração política da ‘história feita
sem sangue’ opera como alicerce para construção mítica da sociedade brasileira como
a boa sociedade, una, indivisa, pacífica e ordeira.” (CHAUÍ, 2017, p. 37).
Essa mistificação ocorre há muito tempo. Segundo a autora, é preocupante, pois
assim são naturalizadas ações autoritárias sob o outro de modo que se repitam
frequentemente ao longo dos anos e sem questionamentos, ou seja, essas atitudes são
conservadas na sociedade a ponto de serem admitidas tranquilamente. A filósofa
expõe situações de como um mito pode ser refletido e os impactos de quando ele é
praticado:
Um mito cristaliza-se em crenças que são interiorizadas de tal maneira que não
são percebidas como crenças e sim tidas não só como uma explicação da
realidade, mas como a própria realidade existente; [...] Um mito resulta de ações
sociais e produz como resultado outras ações sociais que o confrontam, isto é, um
mito produz valores, ideias, comportamentos e práticas que o reiteram na e pela
ação dos membros da sociedade. Em suma, um mito não é um simples
pensamento, mas uma forma de ação. (CHAUÍ, 2017, p. 38).
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Para acesso ao site oficial, ver: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 01 set. 2020.
GRÁFICO 1 — PROPORÇÃO DE PESSOAS RESIDINDO EM SETORES DE AGLOMERADOS
SUBNORMAIS, POR COR OU RAÇA, SEGUNDO DADOS DE 2010. (A AUTORA, 2021).
O gráfico 1 foi criado a partir de números somados entre os municípios das
capitais brasileiras, de acordo com o Censo Demográfico 2010 do IBGE. Ele apresenta
uma proporção de pessoas residindo em setores de aglomerados subnormais: a
população branca, representada pela cor azul, possui 261,2 pessoas, enquanto a
população negra ou parda, 450,4.
Nível de instrução População branca População negra ou parda
Sem instrução 4,3 9,1
Fundamental incompleto 28,4 37,2
Fundamental completo 8 8,2
Médio incompleto 3,7 5,2
Médio completo 27,0 26,9
Superior incompleto 4,7 3,3
Superior completo 24,0 10,1
TABELA 1 — PROPORÇÃO DE PESSOAS SEGUNDO SEUS NÍVEIS DE ENSINO E COR OU RAÇA NO
BRASIL, 2018. (A AUTORA, 2021).
Os dados acima, informados pela tabela 1, são resultados de uma soma da coleta
da pesquisa realizada com pessoas na faixa etária entre 25 anos, em 5 regiões
brasileiras: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A tabela reflete claramente a