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RIO DE JANEIRO
2021.1
INTRODUÇÃO
A peça está estruturada em cinco atos e escrita em prosa. Embora nesse período
ainda não tenha surgido a figura do encenador, Diderot começa a trazer um
pensamento sobre a cena como algo a mais que a simples reprodução do texto.
Nos monólogos, Diderot propõe a defesa de uma causa (no caso da peça a virtude)
o que dá ao texto uma qualidade de tratado moral e também uma forma do autor se
fazer presente em cena, expressando por meio do personagem suas idéias.
O teatro é considerado uma ferramenta para comunicar ideias que tem a ver com a
sociedade de cada época. E nesse espetáculo, o teatro, foi utilizado para favorecer
a moral e fortalecer a virtude, tendo assim um viés moralizante, um olhar moral
sobre a vida das pessoas-espectadoras, a platéia, poderia impactar para o bem. O
novo gênero traz conflitos de amor, educação dos filhos, relações entre as classes
sociais e são relatados de forma que desses conflitos a platéia possa extrair alguma
reflexão moral de aplicação prática, algo que possa ser levado para a vida cotidiana.
O que é verdadeiro para todo o teatro liberadamente mostrar uma ação geral
exemplar [...] porque, exposta no palco, sob o olhar de centenas ou milhares de
espectadores que a decifram como sua própria ação - uma ação que lhes é comum -
a obra passa a significar a história destas centenas ou milhares de espectadores.
Fala por eles e em seus lugares. Exprime literalmente sua comunidade. Reflete o
acordo social, político, que fundamenta essa comunidade (BERNARD DOT, 2010.
pag 369).
Na trama, Dorval, o protagonista, está apaixonado por uma mulher, Rosali, com a
qual a princípio não poderia se relacionar uma vez que é a noiva e o grande amor de
seu melhor amigo, Clairville, cuja irmã, Constance, por sua vez, está apaixonada e
deseja casar-se com Dorval. Ele precisa decidir se continua na casa deste amigo,
onde está hospedado e onde encontra-se regularmente com Rosali ou se vai
embora. A situação se resolve quando Rosali e Dorval descobrem que são irmãos.
Um dos principais questionamentos levantados é em relação ao que é desejado pela
pessoa e o que é desejado pela sociedade. Deve-se ser fiel aos sentimentos ou abrir
mão deles, sacrificar-se e honrar a amizade e a reputação? Deve-se entregar ao
amor ou trair relações pessoais? A fala abaixo ilustra o dilema:
"DORVAL - Afinal o importante é o que as pessoas vão achar ou o que é correto
fazer? Mas no fim das contas, por que eu não veria Clairville e a irmã dele? Será que
não é possível deixá-los sem ter que revelar o motivo da partida?... E Rosali? Vou
embora sem vê-la?...Não, neste caso, o amor e a amizade não impõem os mesmos
deveres, sobretudo em se tratando de um amor insensato, ignorado por todos e que
é preciso sufocar... Mas o que é que ela vai dizer? O que vai pensar?...Amor, sofista
perigoso, eu te entendo." (DIDEROT, 2008. Pág. 36)
O texto parece retratar a figura do nobre falido (Clairville) que se propõe a trabalhar
e a se adaptar ao novo cenário econômico enquanto sua noiva (Rosali) acredita ter
perdido a herança e assim não poder casar-se mais. Ou seja, à parte o sentimento,
sugere-se que o casamento também seria uma solução financeira para Clairville.
A meritocracia também é abordada quando se faz menção sobre o enriquecimento
do pai de Dorval e Rosali, que teria acontecido nas Antilhas após ser enviado para lá
pela família da mulher que amava. Aqui tem-se o relato de uma transição histórica e
uma ascensão econômica e social a partir de novas oportunidades.
A peça também traz questionamentos sobre a desigualdade social e econômica e
sobre como pessoas das classes menos favorecidas são tratadas. Essa abordagem
vem com o personagem André, empregado do pai de Rosali e Dorval, que chega
antes deste e relata as condições à qual foram submetidos na viagem.
Outro tema emergente é a possibilidade de casar-se por amor, de fazer escolhas
sentimentais próprias. Esse costume também surge com a revolução industrial e
rompe com os modos anteriores de casamentos articulados por interesses familiares
ou políticos. Embora tenham um conflito para seguir ou não seus corações, os
personagens estão diante dessa possibilidade de escolha. Nenhum dos casamentos
é imposto ou negociado. Há uma identificação de vínculo e afinidade como na fala
de Rosali:
"ROSALI: (...). Os traços, o espírito, o olhar, som de voz tudo nesse objeto doce e
terrível parecia responder a não sei que imagem que a natureza havia gravado em
seu coração…como não o amar?... o que ele dizia era o que eu pensava. Ele nunca
deixava de criticar aquilo que ia me desagradar. " (DIDEROT, 2008. Pag. 46)
Consideração final
Bibliografia