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RIO DE JANEIRO
2021.1
INTRODUÇÃO
Quando Brecht começa a escrever sobre teatro épico ele sabe que não está
inventando algo novo, que elementos como o distanciamento estão presentes já na
história do teatro. Ser o inventor de algo novo não é o objetivo. Segundo Dort, a
forma como Brecht escreve está vinculada a dois princípios muito importantes. O
primeiro princípio é que a produção teórica dele está totalmente ligada à prática, seja
em algo que ele mesmo montou ou em que ele assistiu. Já o segundo princípio é
que os apontamentos das obras de Brecht não são fechados em si, muito pelo
contrário, é aberto ao questionamento, está sempre disponível para a crítica. É como
se ele colocasse um problema em cena para quem assiste pensar sobre. Nunca é
um veredito.
Esse tipo de teatro que Brecht propõe, ele vai em oposição às unidades de tempo,
espaço e lugar propostas na Poética de Aristóteles e que foram retomadas pelo
classicismo francês. Ao assistir uma peça na forma dramática, a sociedade daquela
época era levada a se identificar com a personagem que ali estavam assistindo.
"O ator ocidental esforça-se por aproximar o espectador tanto quanto possível dos
acontecimentos que estão sendo representados e das personagens que estão
representando.”(BRECHT,1978, pág 58)
E isso é algo que você não vai ver em Brecht. O que diferencia a forma épica da
dramática é como os elementos estruturais teatrais aparecem na hora da
encenação. Então, o palco, as interpretações dos atores, a relação plateia e ator vão
se modificar drasticamente.
"O objetivo dessas tentativas consistia em efetuar a representação de tal modo que
fosse impossível ao espectador meter-se na pele das personagens da peça. A
aceitação ou a recusa das palavras ou das ações das personagens devia efetuar-se
no domínio do consciente do espectador, e não, como até esse momento, no domínio
do seu subconsciente"(BRECHT,1978. Pág. 55)
Já na forma de teatro épico, Brecht resgata uma comunicação direta com o público e
atores, esse resgate é chamado de “quebra da quarta parede”. Quando o ator fala
com o público, ele automaticamente está rompendo com o espaço fechado em si
mesmo. Então, o espectador não fica hipnotizado com a obra. Ao se deparar com a
ação relatada ali no palco através dessa “quebra de quarta parede”, ele é convocado
a pensar sobre, a questionar, a se perguntar sobre o que é e o que não é, ou seja,
ele é totalmente consciente enquanto assiste. Como podemos ver na peça Santa
Joana dos Matadouros quando os ‘boinas pretas’ cantam seu hino de guerra eles
"Atenção, atenção, atenção! Eis ali um homem falido. Vede esta moça reduzida a
trapo! E o pranto deles não foi ouvido. Calem-se as buzinas, cesse o ronco dos
motores! Pelo amor de Deus, alguém atenda os sofredores![...] Pois o vosso número,
pobres da terra De tão horripilante Fará do governo o nosso ajudante. Em frente,
pois, ao assalto, o coração sem rancores! Pelo amor de Deus, alguém atenda os
sofredores”(BRECHT, 2001. Pág. 61)
Então, se a cena é de amor, o público pode entender e sentir raiva, outra pessoa
angústia,etc. E isso contribui bastante para o processo de desalienação, tendo em
vista que é preciso que a plateia estranhe e se distancie daquilo que está vendo. Ao
se distanciar das convenções compartilhadas da sociedade, ela pode criar um
próprio pensamento sobre e se questionar e não mais pensar e concordar
simplesmente por algo ser assim há muito tempo.
"o artista representa acontecimentos que contêm uma forte tensão emocional;
todavia, o seu desempenho jamais denota qualquer calor. [...] Estamos perante a
clara repetição de um acontecimento feita por terceiros, perante uma descrição, na
verdade, engenhora.”(BRECHT, 1978. Pág. 58)
"[...]E enquanto estiverem pensando, verão que é Ele a solução definitiva: ambições
altas, sim; vulgares, não. Disputar um bom lugar lá em cima, e não aqui embaixo. O
importante é ser o primeiro no céu, e não na terra, que não resolve. Aliás, vocês
mesmos estão vendo como é precária a felicidade terrena. Ela é inteiramente incerta.
A desgraça cai sobre nossas cabeças de repente e sem explicação, como a chuva
que nos molha sem que ninguém seja culpado. Haveria acaso uni responsável pelas
suas desgraças? ”(BRECHT, 2001. Pág. 11)
A realidade em que Joana se encontra não deixa ela ver o que realmente está
fazendo aqueles trabalhadores estarem passando dificuldade. Mas no decorrer da
peça, Brecht através do recurso de descer a Joana nas profundezas faz com que ela
passe a se questionar sobre o que ela estava pensando e sobre o que é no
momento. Em um determinado momento ela pergunta ao personagem Bocarra
“Mister Bocarra, por que o senhor fechou as portas do matadouro? Eu quero saber a
razão.”(BRECHT,2001, Pag 20). Aqui há uma vontade dela de entender o que de
fato levou os trabalhadores a estarem naquela situação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS