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RESENHA CRÍTICA

RANCIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. São Paulo: Editora WMF Martins


Fontes, 2012. P. 07 – 26. Por Artur Ferreira da Silva. Direção Teatral. 2019.2.
Jacques Rancière é um filósofo francês nascido na década de 1940, em “O
Espectador Emancipado” convida a uma reflexão sobre a figura do espectador de
teatro a luz de conceitos desenvolvidos em “O Mestre Ignorante”. Nessa primeira obra
Rancière desenvolvera dois conceitos fundamentais dos quais lança mão para essa
análise no campo da arte o de embrutecimento e emancipação. Numa síntese rápida
poderia se dizer que um é oposto ao outro. Enquanto o embrutecimento diz respeito
a uma hierarquia entre as inteligências que as torna dependentes, a emancipação diz
respeito a uma equidade entre as inteligências.
Voltando-se a questão do teatro ele se remete as concepções platônicas que
fortemente recriminam esta arte. O que o autor faz é expor essas críticas platônicas e
propor usa-las a nosso favor, para uma recondução do teatro a uma certa condição
de “virtude original”.
Quando se pensa no espectador, encontra-se um paradoxo que diz respeito
justamente a sua necessidade para a existência do teatro. Não há teatro sem
espectador. E, sendo espectador aquele que olha ou seja, aquele que ignora o
processo de produção, aquele que não conhece no sentido inicial da palavra, também
precisamos de um teatro sem espectadores. Evidentemente sua proposta não é que
se façam as dramatizações diante de assentos vazios, mas uma ressignificação do
ato de ver de quem assiste.
O pensamento de que o corpo vivo em ação no teatro disperta a vida no corpo
do espectador reside no centro destes pensamentos, como no sentido da consciência
política no teatro brechtiniano e no sentido de engolir o espectador no teatro da
crueldade. Existe ai uma ideia de que o espectador deverá passar por uma experiência
sensível de coletividade.
Considerado dessa forma, o espectador não é um sujeito passivo nunca, ele
compõe o espetáculo dando significado a ele sempre. E somando-se a isso o conceito
de emancipação, ou seja, de igualdade das inteligências torna-se possível que esses
sujeitos troquem entre si suas experiências nesse sentido. Cabe então um
pensamento da cena que considere o espectador como um produtor do sentido da
obra e não como simples contemplador ou “entendendor das mensagens”.

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