Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA

FILHO”

Gabriel Luiz Gonçalves da Silva

Resenhas Antropologia

FRANCA
2019
1) Minority Report – Diretor: Steven Spilberg – Estados Unidos: 2002

Não há crimes em Washington a seis anos, isto graças ao impressionante sistema


criado para monitorar as pessoas e prever quando elas irão cometer crimes. Quando isso
acontece a polícia entra em ação e prende o futuro criminoso que não chega a cometer o
crime.

Tudo parece até que o chefe da Divisão Pré-Crime (Tom Cruise) entra na lista dos
futuros assassinos e sabendo que será preso por isso, ele começa uma corrida contra o
tempo para descobrir o que irá acontecer e porque irá matar alguém.

Todo o filme dirá em torno desta investigação que termina com o assassinato que ele
mesmo previu. Ele é preso e depois sua esposa o ajuda a sair e identificar outro líder do
sistema como sendo o culpado e manipulador do sistema.

A discussão no âmago do filme está centrada na questão: alguém pode ser realmente
condenado antes mesmo de ter cometido um crime¿ Nessa linha de raciocínio podemos
chegar a duas conclusões: sim ou não. Ao se pensar no enredo do filme percebe-se que os”
pre-cogs”, aqueles que preveem os crimes não falham e que, portanto, pode se assumir sua
previsão como uma prova de um crime. Porém, se desligar da frase: mas a pessoa não
cometeu um crime, fica difícil. Pensando no nosso ordenamento jurídico atual, as leis e,
portanto, as sanções só podem ser previstas após o acontecimento de um crime, nunca
antes, bem como uma pessoa só pode ser presa caso seja condenada por um crime, fique
provado que ela o cometeu, com isso, considerando a nossa mentalidade jurídica atual,
julgo que não seria provável que a sociedade e em particular os juristas aceitassem essa
condição de condenação Pré-Crime. Contudo, deve se levar em consideração que o Direito
está sempre em constante movimento, evoluindo conjuntamente à sociedade, assim, não
seria impossível, que em um futuro onde os crimes fossem realmente previsíveis, que o
ordenamento jurídico e a própria sociedade modifiquem-se para aceitar essa condição.

2) Trash: a esperança vem do lixo- Diretor: Stephen Daldry- Brasil: 2014

Este recente filme nacional trouxe as telonas, novamente, a discussão sobre


desigualdade no Brasil, a violência, a corrupção e a milícia, dessa vez através da vida de
três meninos catadores de lixo em um lixão do Rio de Janeiro, após que estes encontram
uma carteira com um papel dentro, que faria a vida desses três meninos darem uma
reviravolta.

Atrás dessa carteira estavam diversos policiais já que, o papel dentro da carteira
continha uma informação sensível sobre dinheiro sujo que havia sido roubado de um
político importante. Dessa forma, como capangas do político, a polícia corrupta faz de tudo
para encontrar essa carteira, passando por cima de direitos fundamentais e da dignidade da
pessoa humana.

Mais uma vez esse filme está gritando para chamar atenção a diversos problemas de
ordem social, político e econômicos do Brasil. Primeiramente devemos olhar para a
situação das crianças que deixam de ir à escola para ficar catando objetos no lixão para
talvez conseguirem arranjar algum dinheiro para comprar comida. Admitir que uma
situação como essa ocorra é admitir a falta de um futuro sólido para o país, um futuro
melhor, um futuro em que a miséria e as condições pelas quais esses meninos e toda uma
população tem de passar para que possam sobreviver.

Essa falta de assistencialismo está intimamente ligada com a questão da exclusão,


fortíssima nesse país. Parece que essa parte da população não faz parte da nação, que são
realmente excluídos do país, principalmente quando a questão é assistencialismo
governamental, em que estes não têm voz, são simplesmente ignorados por políticos
corruptos que usam do dinheiro potencialmente destinado a ajudar essas classes
marginalizadas para o seu próprio consumo.

Outro problema recorrente que também está apresentado no filme é o abuso de


poder da polícia e como essa age, em regiões periféricas e mais pobres como se não
existissem leis, como se ela fosse soberana sobre todas as suas decisões e pudesse dispor de
qualquer atitude para conseguir o que quer. O fato de a polícia brasileira ser uma das mais
violentas do mundo atesta a isso, e no filme, um dos meninos é de certa forma torturado
para se obter alguma informação. Infelizmente isso se torna legítimo porque não se há um
repúdio ativo e efetivo da sociedade com relação a isso, principalmente quando se
considera que quem sofre com a maioria desses abusos é na verdade a parte “excluída” da
sociedade, uma parte que tem pouca voz e que, portanto, não consegue combater esse terror
de forma institucionalizada.

3) Elysium- Diretor: Neill Blomkamp- Estados Unidos: 2013

Esse filme futurista trata da vida na terra no ano de 2154, em que boa parte da terra já foi
consumida de forma predatória e então, a elite mundial “cria” para eles um novo mundo,
Elysium, uma espécie de satélite que orbita a terra. Porém, de certa forma eles não
abandonam a terra, continuam a explorar todos os seus recursos, principalmente os
humanos; continuando a abusar da terra como uma gigante fábrica, enquanto essa elite vive
segura, saudável e confortavelmente alguns quilômetros na órbita da terra.

A trama da envolve começa com um trabalhador de fábrica que sofre um acidente de


trabalho e recebe uma sentença de somente mais cinco anos de vida. Dessa forma, ele vai
tentar a todo custo chegar a Elysium onde existem meios para se curar qualquer doença.
Esse é o sonho de muitos, porém, poucos são autorizados a subir a esse “paraíso” e o
contrabando é uma tentativa constante, contudo, sem qualquer pudor, a Comandante de
Elysium escolhe por matar todos aqueles que tentam fazer a travessia.

De certa forma essa situação se assemelha de forma atormentadora ao que hoje se passa
entra a Europa e a África, em que uma quantidade enorme de refugiados procurando uma
vida melhor tenta fazer a travessia através do Mar Mediterrâneo e são muitas vezes
impedidos por autoridades de países europeus que mandam de volta as embarcações a seus
países de origem. Ainda, muitos morrem tentando fazer essa travessia, afogados com os
naufrágios ou das péssimas condições que são obrigados a acatar para conseguir chegar a
Europa.

Ainda o filme contém uma feroz crítica a divisão estamental que se tem na sociedade atual,
em que os donos dos meios de produção se veem com direito de explorar a força humana
para o seu enriquecimento, se apropriando da produção de outros e vivendo
confortavelmente em cima desse fato, enquanto que aqueles que realmente produziram
estão marginalizados e vivendo em péssimas condições. Aponta também ao fato de que a
elite guarda tudo aquilo que é de melhor para ela, saúde, alimentos, segurança e
esquece/ignora o resto do mundo, o que infelizmente é uma prática muito comum
atualmente, em que se tem classes extremamente marginalizadas, vivendo na miséria e com
pouca ou nenhuma perspectiva de ajuda por parte daqueles que condicionam sua posição
como “excluído”.

Você também pode gostar