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Faculdade de Direito

Prática Penal
Profa. Thaize de Carvalho
Aluna: Jadi Beatriz dos Santos Paulo
Resenha Crítica: A espetacularização do Processo Penal no Brasil

O direito é um conjunto de normas que tem como principal objetivo garantir a proteção de
direitos individuais. Apesar disso, o direito não funciona separado ou distante da sociedade,
estando presente em todos os aspectos da vida íntima e social dos indivíduos. Essa caraterística
“pública” do direito abre diversas discussões sobre a espetacularização do direito no Brasil.
O ep. Urso Branco da série Black Mirror retrata de forma chocante, a punição de uma
mulher por um crime cometido contra uma criança. Ali, trata-se de um verdadeiro espetáculo, no
qual a ré tem suas memórias apagadas e passa por sucessivas torturas, enquanto as pessoas se
divertem assistindo as cenas que se passam em um teatro. A ré tem diversos direitos fundamentais
violados, enquanto a sociedade se diverte ao ver as cenas de extremo sofrimento. Em níveis
menores, podemos afirmar que a sociedade tem desenvolvido um certo fascínio por tais situações,
e que o estado junto com a mídia tem alimentado esses comportamentos.
O sequestro de Eloá e a intensa cobertura midiática durante os quase cinco dias em que
durou a ação, gerou grande discussão sobre a ação da polícia e a responsabilidade da mídia nesse
desfecho trágico. O caso Isabela Nardoni traz uma perspectiva diferente, aqui, uma criança foi
assassinada pelo pai e pela madrasta, a frieza e covardia que o crime foi praticado, atiçou a opinião
pública que por sua vez pressiona o judiciário por uma resposta social. Semelhante ao caso de
Suzane Von Richthofen mandante do assassinato cruel dos próprios pais, aqui o judiciário também
sofre uma pressão social e responde com a condenação dos culpados. No entanto, é um crime que
por tanta visibilidade. anos depois se torna roteiro de dois filmes, e passa a ser objeto de
entretenimento. Ou seja, um crime, que tirou a vida de duas pessoas, que é o bem jurídico mais
precioso, posteriormente, se torna arte, objeto de entretenimento.
Recentemente, a atriz Clara Castanho, vítima de estupro, escolheu ter o bebê e entregar
para adoção seguindo toda a legislação, porém, o caso veio a público, e apesar de não ter
cometido crime algum, a atriz passou a ser julgada de forma cruel nas redes sociais. Aqui a mídia
fez o papel de levar ainda mais traumas a uma mulher já havia sido violentada de diversas formas,
em nome do entretenimento. Obviamente que aqui não tem a ver com direito a informação, é
sobre a falta de ética do veículo de comunicação.
Por fim, o caso do Presidente Lula, no qual a mídia foi amplamente utilizada para
influenciar na opinião pública, de modo que isso refletisse no resultado das eleições de 2018.
Diante de todos os exemplos citados, o direito deixa de ter aquela ideia de mão invisível
que organiza, e passa a ser uma entidade que é influenciada e influencia a sociedade, de acordo
com determinados interesses, e acaba deixando de lado seu objetivo principal que é aplicar a lei
prevenindo e punindo condutas criminosas, e não legitimando injustiças. Quando a aplicação do
direito sofre interferências sociais, seja para o bem ou para o mal, a independência do sistema fica
fragilizada, é como se a recorrência dessas interferências, deixasse o direito mais sensível, menos
confiável, abrindo precedentes para injustiças, como exemplo o caso Lula, afirmou-se que não
havia provas, mas havia evidências. E um homem ficou preso 580 dias, teve diversos direitos
violados, graças ao tom sensacionalista que o caso tomou, consequentemente o apelo popular e
finalmente o objetivo final, que foi o resultado do pleito eleitoral.
A vaidade e busca pelo reconhecimento social podem interferir na aplicação do devido
processo legal. Atuar em casos de grande repercussão social pode render muitos frutos, desde a
admiração da sociedade, até a indicação a cargos públicos, mas isso só possível graças ao pacto
com a mídia nacional. São práticas estruturais, que dificilmente serão extintas da sociedade.

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