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Reflexão filme Babel

No âmbito da unidade curricular análises da realidade, foi proposto a


visualização do filme Babel, e que a partir deste, refletíssemos sobre algumas
questões nas quais foram nos levantadas:

1. as mensagens principais do filme: que fenómenos sociais consegue


identificar?

2. considerando o conceito de fenómeno social total, desenvolva as seguintes


ideias, recorrendo a exemplos do filme:

● a realidade social é muito complexa e dinâmica


● qualquer facto social é multidimensional
● perspetiva sociológica: ver para além da fachada – tendência
desmistificadora da investigação sociológica, ir além do senso comum e das
interpretações oficiais
● necessidade de romper com a ilusão da transparência da realidade, com a
familiaridade do real social, controlar os juízos de valor
● ver o geral no particular e o estranho no familiar (como se o estivéssemos
a ver pela primeira vez)

A visualização deste filme permite sobretudo, ter uma visão holística


relativamente ao caos e questões que decorreram durante o enredo, sendo assim
tínhamos noção das diferentes versões e perspetivas. Uma visão holística é um
fator muito relevante na perspetiva sociológica, na medida em que tudo pode ser
para além daquilo que aparenta ser à primeira vista. É por meio desta visão mais
global dos fenómenos e dos acontecimentos, que nos permite romper com
situações que muitas das vezes acarreta interpretações adulteradas, que geram
injustiças ou consequências negativas que não aconteceriam, se tivéssemos
mais atenção e tentássemos compreender tudo de forma mais atenta e ampla.
O filme inicialmente retratou muito as questões relacionadas à pobreza,
normalmente nas cenas que decorriam em Marrocos, um país africano, neste
local vimos a violência sendo usada com recorrência e pouca dignidade humana.
Pela forma como foi representado, apercebi-me que o país não possuía bom
estigma perante outros países pelo mundo, e é importante levarmos isto em
conta quando analisamos determinado contexto, analisando a imagem que ele
carrega consigo e os problemas sociais existentes, que teve grande ênfase pela
forma como as pessoas viviam e eram tratadas pelas autoridades e pelos
estrangeiros.

Inerente ainda a pobreza, algo muito forte durante todo o filme foi a
presença das autoridades, que normalmente acabavam por suscitar diferentes
modos de operar, consoante a pessoa com quem estabeleciam algum tipo de
diálogo ou ação. A polícia ao mesmo tempo que apenas seguia ordens de
pessoas superiores a elas, acabavam por cometer descriminação. Ao falarem
com pessoas do próprio país, de classe baixa e em situações insalubres, tinham
uma postura mais rígida, enquanto com os estrangeiros brancos, além de
receber ordens de forma agressiva, não mantinham uma postura rígida ou de
imposição de mínimo respeito entre ambas as partes, mas sim de passividade
perante pessoas que consideravam de alguma forma ser superior a eles.
Considero que isso é só o exemplo de como a reprodução social acontece, e
como as pessoas cometem determinados padrões de comportamento, sem nem
se aperceberem daquilo que estão a estigmatizar.
Durante todo o filme ocorreu um caos central, que referia-se ao acidental tiro
disparado pelas crianças marroquinas, na turista estadunidense, que não
conseguia ter acesso a ambulância ou algo que a ajudasse naquele momento,
vemos por aí que as condições de acesso à saúde não eram boas, e se não eram
boas para uma figura que tinha um posição de “superioridade” naquele contexto,
imaginemos quais condições de saúde teria a própria comunidade marroquina.
Ao decorrer do filme começava a me aperceber de como todos aqueles
diferentes momentos e diferentes personagens de diferentes partes do mundo,
interligam-se de alguma forma, mostrando assim como a vida em sociedade é
complexa e dinâmica, algo que atenuou-se ainda mais com os fenómenos
associados à globalização. Mas ao mesmo tempo que vemos um processo de
globalização que valoriza o mundo enquanto uma aldeia global, também
assistimos o crescimento de pensamentos sobre soberania de umas pessoas
sobre as outras, e podemos afirmar a partir disto como os factos sociais são
multidimensionais, na medida em que é como um efeito dominó, de uma coisa
que alastra consigo outras diversas situações.

Exemplo disto temos a ama das crianças brancas, que por ser uma mulher
de cor comparativamente às crianças, é vista de forma diferente, e como o facto
de ser uma mulher mexicana, trás consigo os estigmas que os mexicanos
carregam nos estados unidos. A criação de um muro que divide os territórios,
dizendo de forma direta e escancarada “VOCÊS NÃO SÃO BEM VINDOS AQUI”,
mas ao mesmo tempo quando querem mão de obra barata, recorrem a quem?
justamente a essas pessoas que se submetem a viver ilegalmente em um país
que não é seu, longe das suas famílias e da sua cultura, em troca de um salário e
qualidade de vida minimamente melhor.
Ao mesmo tempo vemos uma realidade completamente oposta, mas não
necessariamente desconexa dos acontecimentos, já que como disse
anteriormente, a vida social é complexa e dinâmica, mas não significa que
dentro da sua complexidade e diferenças, que elas não se relacionem. Vemos
uma jovem asiática que acabou de perder a mãe, e apesar de muito rica, isso
não foi o suficiente para a manter viva, muito menos foi o suficiente para curar a
dor da filha ao perder a mãe. No final do filme descobrimos que a arma utilizada
pelas crianças no disparo acidental, foi dada pelo pai da jovem asiática,
levantando a questão de “quem é a culpa?”, a culpa seria dele que deu a arma?
ou das crianças que dispararam? o filme não mostra o resultado final, mas numa
lógica da sociedade que temos hoje em dia, sabemos que numa guerra entre a
elite e a classe baixa, quem vence é a pessoa que for capaz de comprar a vitória,
é inocente quem é visto pela sociedade como inocente, quem é culpado é quem
é visto como culpado, como marginal, como terrorista. Algo claramente
demonstrado quando o caso ocorrido era tratado mundialmente como um ato
terrorista, quando na verdade se tratava de duas crianças que cometeram um
equívoco, e que obviamente, não deveriam ter uma arma em suas mãos.
Algo que me suscita uma grande incógnita na minha cabeça, é como as
pessoas possuem uma visão tão simplista no que toca os fenómenos sociais,
principalmente porque eles são resultados de construções normalmente
históricas, de um conjunto de fatores que levaram essas pessoas aonde
chegaram. No caso de Marrocos refletir porque aquele lugar é assim hoje não é
uma tarefa difícil, basta sabermos que é um país africano, a construção por si só
desses países foi feita sob uma base de violações, de guerras, de transgressões
que vão muito além daquilo que consideramos atos desumanos. As vidas
escravizadas, as vidas tiradas, as vidas violadas, e as vidas que ainda nos dias
de hoje sofrem dos estigmas associados a uma construção histórica, que fez
com que a imagem dessas pessoas fossem de pessoas indignas. Como
conseguiram distorcer tanto a história? e colocarem as vítimas em posição de
vilas tão facilmente? Como temos a tendência de ouvirmos e vangloriar, só o
lado das nações “vencedoras”, mas não compreendemos que o caminho até a
supremacia foi feito de forma tão desumana?

Esse filme a princípio me gerou tantas dúvidas e inquietações, mas se


pararmos para pensar em tudo, numa perspetiva de ver o geral no particular, e o
estranho no familiar, conseguimos fazer inúmeras análises. Não respondi as
perguntas de forma enumeradas, muito menos em ordem cronológica, mas
espero ter respondido a todas de forma mais clara possível, dando exemplos dos
acontecimentos e levantando alguns conhecimentos prévios que tenho sobre
determinados contextos abordados no filme. A parte mais surpreendente é como
tudo se conectou, de Marrocos ao México, do México aos Estados Unidos, dos
Estados Unidos a Tóquio, e em como somos facilmente enganados por uma
mídia que é comprada, em como as injustiças se perpetuam e regeneram-se.

Aluna: Pamella Rodrigues Silveira - 3220660


UC: Análise das Realidades Socioeducativas.

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