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CENTRO EDUCACIONAL BELDANI

FILOSOFIA E HISTÓRIA

PROF. MARCOS SILVA

EMANUEL OLIVEIRA DE ASSIS DOMINGUES


MARIA ELIZABETH FARIA PEREIRA

ANÁLISE DO FILME “A ONDA” (2008)

BARÃO DE COCAIS – MINAS GERAIS


28 DE ABRIL DE 2022
Introdução
Parafraseando Virginia Woolf, grande escritora britânica, “De tudo que existe,
nada é tão estranho como as relações humanas, com suas mudanças, na sua extraordinária
irracionalidade”. E dessa forma podemos iniciar a percepção da trama presente no longa
denominado A Onda (2008), que de forma aparentemente sutil e com grande semelhança
com a realidade de seu público-alvo, representa a natureza humana de ser totalmente
irracional e conseguir ser facilmente induzido e controlado. Em um país de primeiro
mundo como a Alemanha, que acabara de sediar a Copa do Mundo de 2006, o contato
com estrangeiros acaba por ser praticamente inevitável, mas, de alguma forma, mesmo
após anos de grandes avanços e melhoras nas questões sociais, os movimentos de cunho
extremistas continuam a rondar pela Europa com o avanço de ondas migratórias e
descontentamento com governos de oposição.
Primeiramente, para que o cenário seja analisado de forma contundente, deve-se
caracterizar o que chamamos de um governo fascista: de forma geral, o fascismo é um
regime autoritário com concentração total do poder na mão do líder do governo. Esse
líder deveria ser cultuado e poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os
representantes da sociedade. Além disso, o fascismo defende uma exaltação da
coletividade nacional em detrimento das culturas de outros países. Além de totalitários,
os governos fascistas objetivavam expandir seu território através de conflitos
internacionais e, para isso, realizavam altos investimentos na produção de armas e
equipamentos de guerra. Para garantir a manutenção de seu governo, os líderes fascistas
controlavam os meios de comunicação de massa, por onde divulgavam sua ideologia e
controlavam todas as informações disseminadas.
Dessa forma, com as informações apresentadas, iremos analisar de forma crítica
a maneira que a obra cinematográfica nos apresenta a uma possível realidade distópica
em que os jovens estavam cansados de seu atual governo e atual situação e, mesmo após
um passado sombrio em seu próprio país, acabam por criar uma sociedade descontrolada
que foi tomada por pensamentos extremistas, fazendo assim com que a pessoa que assista
reflita sobre a facilidade em que nós humanos, quando estamos em situação de fraqueza,
nos agarramos em qualquer ideologia ou pensamento que nos prometa uma nova vida,
uma renovação, e, assim, percebamos que os acontecimentos do século passado tiveram
solo fértil para ocorrerem.
Desenvolvimento
Apesar de assemelhar-se com uma obra de ficção criada somente para os cinemas
bávaros, A Onda trata-se de uma retratação em longa-metragem do experimento “A
Terceira Onda”, em que um professor americano quis ensinar, na prática, como seus
alunos poderiam ser coagidos a serem cúmplices de um regime extremista. Dessa forma,
descobrir que os ocorridos no filme, apesar de terem adições para que se tornasse atraente
narrativamente, foram reais, demonstra o quanto estamos vulneráveis psicologicamente e
que existem aqueles que, mesmo na atualidade, conseguiriam iniciar movimentos
extremistas e angariar forças através dos novos recursos, muitos deles não presentes no
passado nazifascista.
Na sala, Wenger é pedido que lecionasse sobre autocracias, um assunto que para
ele que havia visto de perto anarquias era maçante. Por isso, ao ver que seus alunos
somente estavam ali pois o outro professor responsável não lhes agradava, resolve inovar
e não somente passar folhas e escrever no quadro, ele resolve mostrar na prática como
um regime autoritário era caracterizado. Aparentemente inofensivo no início, o
movimento começa a ganhar força com o passar da semana, com a nomeação de A Onda,
criação de uma saudação, logotipo, sites e a entrada de cada vez mais membros no
experimento.
Porém, mesmo que no momento em que se passe o acesso às informações é
extremamente fácil e rápido, o movimento começa a tomar rumos que Wenger não
imaginaria, com pichações do logotipo da Onda por toda cidade, exclusão daqueles que
estão por fora, obediência sem contestar, ataques violentos e até um dos membros
utilizando uma arma contra aqueles que seriam traidores do movimento. Assim, algo que
deveria ser didático, demonstrou da pior maneira que é sim possível que a Alemanha, ou
qualquer outra nação, viva algo como o nazismo novamente, desde que um líder utilize
de uma ideologia e da manipulação em um momento oportuno.
Um grande momento demonstrado no filme é quando Wenger, sabendo do rumo
que seu experimento estava tomando e nas consequências que ele já estava presenciando,
resolve convocar uma reunião. Nela, somos induzidos a acreditar que o movimento seria
levado em frente pelo discurso do líder, que dá ao povo aquilo que eles querem ouvir e,
ao ser questionado por Marco, pede que ele seja levado ao palco e que façam o que achar
melhor. Mas ali temos a revelação, onde ele questiona “Entendem o que está acontecendo
aqui?”, tentando trazer o pensamento crítico de seus seguidores e dar um ponto final
naquilo que estava indo longe demais.
Jovens rebeldes que acham que são especiais e melhores do que os outros,
excluindo aqueles que não concordavam com a mesma ideologia, ferindo-os. Esse é o
resumo de Wenger do que ocorreu. Com um terreno fértil para ideologias que dão ao povo
acalento justamente naquele momento em que necessitam, excluindo aqueles que
atormentam o cotidiano ou o sentimento de pertencimento de uma nação ou mesmo de
um grupo, é sim possível a ascensão de governos autoritários. Jovens são extremamente
influenciáveis, o que corroborou no escalonamento do movimento, que mesmo apagando
as individualidades de cada um por “um bem maior”, era um preço justo pelo que estava
por vir para aquela minoria.

Conclusão
A obra cinematográfica serve de alerta, principalmente para aqueles que possuem
um poder mínimo de persuasão e influência, pois os mesmos motivos que levaram à
ascensão de Benito Mussolini e Adolf Hitler no século XX podem trazer à tona novos
regimes totalitários, ainda mais em momentos de crise e em países onde os nativos estão
descontentes com o governo ou com medidas adotadas por ele. O experimento teve
consequências locais, mas se continuasse, poderia se espalhar por toda Alemanha e até
pela Europa, causando devastações inúmeras e podendo acarretar em conflitos locais ou
mesmo aqueles semelhantes às Guerras Mundiais.
Conforme o termo criado por Hannah Arendt, a Banalidade do Mal seria a
capacidade das pessoas de verem atos condenáveis de forma comum e seguirem
ideologias de forma fanática sem medir consequências, como ocorrido no Holocausto.
Dessa forma, conforme também retratado no filme, o ser possui uma grande capacidade
de ser influenciável, perdendo sua razão e criticidade apenas por encontrar em uma
ideologia um acalento para seus sofrimentos. Tornando-se seres não pensantes, aqueles
que possuem capacidade de liderar podem se aproveitar e criar as condições perfeitas para
a eclosão de um sistema totalitário.
Por fim, torna-se necessário que sejamos seres mais críticos e que possuem sua
própria capacidade de julgar movimentos que podem possuir características nazifascistas.
Karo foi a personagem da trama que percebeu o andamento daquele experimento e
começou a lutar para que ele logo tivesse um fim, antes que fosse tarde demais. Devemos
agir como ela para que mudanças sejam feitas e seja possível aprender com o passado
para que os eventos nele ocorridos não se repitam no futuro, até mesmo de forma mais
agravante.

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