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Filme In Time: O Preço do Amanhã

Jeudy Aragão

O filme In Time: O Preço do Amanhã é uma história como qualquer outra envolvendo a desigualdade
social provocada pela discrepância na distribuição de renda. Poucos detêm mais recursos do que
podem efetivamente gastar, enquanto muitos vivem na miséria porque possuem apenas o mínimo
para sobreviverem. A diferença está em justamente mudar algo físico, o dinheiro, por algo abstrato, O
TEMPO, o que causa a sensação de que a premissa é menos previsível, pois embora nós
conheçamos a jornada do sujeito que vive na pobreza, lutando a cada dia para conseguir continuar
vivo (ou colocar comida dentro de casa), ao nos depararmos com um elemento intangível, não
sabemos o que esperar de início nem como essa dinâmica irá se desenvolver.
O protagonista Will Salas é uma pessoa adaptada às circunstâncias da sua Zona de Tempo, mas
insatisfeito com ela e possuidor do potencial de mudar o status quo devido ao seu ímpeto de agir, ao
invés de se conformar. Ao se deparar com um personagem de outra Zona, chamado Henry
Hamilton, infeliz com sua quase imortalidade, Will é agraciado com mais de um século de vida a
usufruir, contudo, antes que pudesse celebrar, uma tragédia acontece em sua vida, a morte
prematura da sua mãe e graças a essa tragédia e à percepção de como funciona aquela sociedade, ele
decide fazer algo a respeito e acaba se tornando uma espécie de “justiceiro” ao descobrir o real nível
de desigualdade vivido entre as chamadas Zonas de Tempo.
Graças ao avançado estado tecnológico em que vivem, as pessoas param de envelhecer fisicamente
aos 25 anos, mas não deixam de se tornar mais maduras. Contudo, a expectativa de vida é tão baixa
na Zona de Tempo onde o protagonista vive, que ao atingirem a idade limite mencionada, a maioria
não vive mais do que um ano, em média. Há pessoas com mais de 50 anos vividos, porém, com a
mesma aparência externa de alguém com 25 anos, ou seja, os anos passam, mas o corpo permanece o
mesmo. Assim, torna-se impossível identificar visualmente uma pessoa mais velha, visto que o que
nos auxilia a presumir a idade de desconhecidos é justamente sua fisionomia.
Porém, a questão mais pertinente de toda a obra é basicamente o valor da vida. Aqueles que
possuem mais tempo, são relevantes socialmente. Possuem recursos, influência e principalmente,
poder. Já os que vivem um dia de cada vez, são segregados, condenados a pagarem altos custos para
manterem uma sociedade que os despreza e em seguida os descarta.
Aumentando progressivamente o custo de vida dos mais pobres, aqueles que não conseguem se
sustentar imediatamente morrem, às vezes no meio da rua, em plena luz do dia. Isso impede o
aumento populacional, já que se todo mundo pudesse viver para sempre, supostamente, não haveria
espaço pra todo mundo, porém, provocar deliberadamente a morte de dezenas faz parecer que o
“equilíbrio” só é alcançado quando existe extrema desigualdade. Para que poucos sejam imortais,
muitos devem morrer.
A ironia disso tudo é que, análoga a noção de que “o dinheiro não traz felicidade” (epifania
alcançada normalmente apenas por aqueles que são ricos), os tidos como “imortais” não aproveitam
o vasto tempo que possuem. São tão abastados, que esquecem de usufruir dos mínimos prazeres,
como ter um mar no próprio quintal e nunca ter entrado nele, afinal qual é a pressa de viver quando
se é imortal?
Sylvia Weis, personagem muito rica, expressa em determinada ocasião que sua vida não é muito
diferente daqueles que habitam a periferia, porque os pobres morrem e os ricos não vivem,
afirmando que o relógio não é bom para ninguém. Embora nenhum indivíduo seja culpado pelas

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circunstâncias em que nasce, e obviamente a personagem é limitada pela única visão de mundo que
teve acesso, esta não deixa de ser uma compreensão desonesta de um cenário visivelmente injusto.
O relógio, de fato, não é bom para ninguém, mas ainda beneficia bastante alguns. “Não viver” e “ser
morto”, no contexto empregado, são situações completamente distintas. Essa constatação não
diminui a angústia que a personagem sente, mas comprova como a desigualdade, tida como algo
imprescindível, foi internalizada nas classes mais altas daquela sociedade, pois mesmo
inconformada com a condição em que vive, a personagem ainda menospreza os mais pobres,
achando que tudo aquilo é “natural”.
Entretanto, essa percepção de que “viver para sempre”, teoricamente é algo ruim, é realmente
pertinente, pois condiz com a necessidade básica do ser humano, mesmo que inconsciente, de ansiar
por um fim. Todo mundo quer viver para sempre, mas os poucos que alcançam essa possibilidade,
assim como o personagem Henry Hamilton, eventualmente se encontram desiludidos. Isso acontece
porque esse desejo pela vida eterna não é natural. A ambição surge porque somos
fundamentalmente incapazes de prolongar nossa existência e por causa da nossa teimosia em aceitar
certas restrições e enxergamos essa “imperfeição” como um desafio a ser vencido.
Quanto mais tempo nós vivemos, mais experiência acumulamos, até atingirmos um estado de
consciência que nos liberta de qualquer apego à existência, visto que sem a perspectiva de um fim,
tudo perde o sentido, porque, “viver para sempre”, em essência, significa não ter propósito algum, a
não ser continuar vivo. As pessoas precisam de objetivos, de obstáculos, do medo da morte, para
apreciar e valorizar cada segundo, minuto e hora. Quem não tem muito tempo, se preocupa muito
mais em não desperdiçá-lo. Em contrapartida, os favorecidos lutam para manter o status quo. Os
ricos principalmente, sob o pretexto de que prezam pela ordem.
Criminosos também agem em benefício desse modelo de sociedade. Inclusive, as autoridades
permitem suas ações porque, ao invés de tomarem o tempo daqueles que mais possuem, os
bandidos roubam do próprio povo, supostamente “contribuindo com o equilíbrio populacional”. E
os policiais (guardiões do tempo) são tão alienados, que vão atrás de um sujeito que ganhou mais
anos de vida (ou seja, não roubou, inicialmente), mas que por sua origem humilde, é visto como um
impostor. Alguém que não merece ascender socialmente. Os guardiões do tempo parecem até ter
um certo tipo de autoridade, mas é visível que eles são apenas mais um ponteiro necessário para
manter o relógio funcionando. Quem realmente detém o controle da situação, são aqueles que
possuem poder. Neste caso, tempo.
Existe toda uma forma de organização, cujo objetivo é preservar uma parcela da população sofrendo
todos dias nas ruas para que poderosos sejam imortais. A sobrevivência do mais forte agora não é
medida em força bruta e nem diretamente pelo seu poder de influência e status, mas com o quanto de
tempo você possui. E aqueles que têm pouco, supostamente devem morrer por causa da seleção
natural. Nessa sociedade, os poderosos não valorizam mais o presente, o momento atual, porque
estão sempre pensando em ganhar mais tempo, ao invés de aproveitar a fartura que já têm. Por outro
lado, os pobres não possuem o luxo de experienciar o agora, porque vivem preocupados como preço
do amanhã.
REFLEXÃO A PARTIR DO FILME IN TIME, 2011

TURMA:

Estudante:

FICHA TÉCNICA: Título: In time. Direção e roteiro de Andrew Niccol. Ano: 2011. Duração: 100’

1- Apesar de todas as conquistas da modernidade, seja na aquisição de novos conhecimentos e no


aprendizado com as experiências vividas ao longo de 25 séculos, este avanço deve ser
acompanhado pela reflexão sobre as implicações do emprego desse novo modo de vida em
benefício da sociedade como um todo. O novo modo de vida adotado, sobretudo a partir do século
XX impactou positivamente e negativamente as relações pessoais, familiares, culturais, econômicas
e sociais, entretanto, no cenário mundial contemporâneo, a certeza de que vivemos em uma caverna, como
descreveu Platão há 2500 atrás permanece atual. A partir da interpretação do filme In Time discorra, em
um texto dissertativo com, no mínimo 30 linhas, sobre a reflexão de Platão na Alegoria da Caverna
(livro VII da República) em comparação aos dias e hoje, descrevendo como podemos nos inspirar
na Alegoria da Caverna para superar obstáculos como a violência, o preconceito, as desigualdades,
entre outros problemas filosóficos da sua escolha.

Comentário:
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