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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Curso de Direito

O ABANDONO DOS MORADORES EM


CONDIÇÃO DE RUA E SUAS
CONSEQUÊNCIAS NA SOCIEDADE

MICHAEL WILLIAM CYPRIANO

São Paulo - SP

2019
2

O ABANDONO DOS MORADORES EM


CONDIÇÃO DE RUA E SUAS
CONSEQUÊNCIAS NA SOCIEDADE

Artigo científico apresentado à Universidade Estácio de


Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para
conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso.

Orientador: Prof. Fernando de Alvarenga


Barbosa; Prof. Jorge Alves.

São Paulo - SP

Campus Conceição

2019
3

Dedicatória. . .

“Está escrito que “Amor é a lei, amor sob vontade”. Aqui há um Arcano
Velado, pois no idioma grego ΑΓΑΠΗ1 - Amor, tem o mesmo valor numérico que
ΘΕΛΗΜΑ2 - Vontade. Por isto nós compreendemos que a natureza da Vontade
Universal é Amor”.
Liber CL - De Lege Libellum3

A G∴D∴G∴A∴D∴U∴ e a todos IIr∴ espalhados pelo Universo, meu T∴F∴A∴!


Ao meu Sagrado Anjo Guardião por sempre estar ao meu lado em todos os
momentos e por me instruir na minha Verdadeira Vontade!
A meus pais, Jorge Adolfo da Silva Cypriano e Darcy Cypriano que me
geraram e mantiveram em mim a humildade, ética e a moral;
Aos meus amados filhos Israel William Cabral Cypriano e Leon Miers
Cypriano, por causa de vocês, nunca desisti de lutar;
A minha Esposa Janaina Galassi Barros Cypriano, que me acompanha nesta
jornada;
A Guy-Christian Collet que em minha infância em Paraty - RJ me levou a amar
a Antropologia e a Arqueologia através de seu Entusiasmo!
A Fernando Korkievicz Z“L4 ; Rabino Yacov Kadoch Z“L. A memória bendita
dos mesmos que me despertaram e sempre me estimularam, mesmo quando eu já não
acreditava mais em mim.
A José Pinheiro - Z“L - que quando eu em meus 22 anos morando em Esteio -
RS, me tirou da condição de morador de rua e me formou Instrutor de Auto Escola da
Cabana Auto Escola.
A Pedro Pietroluongo e Alexandre Nascimento, meus instrutores nesta longa
jornada chamada A∴A∴, a esses incansáveis estudiosos de Thelema, meus sinceros
agradecimentos!

A Santa Ordem Astrum Argentum5 - A∴A∴ que me fez reencontrar o meu


Sagrado.

1
Do Grego, Ágape;
2
Do Grego, Thelema;
3
Disponível em https://www.hadnu.org/publicacoes/198-liber-cl-vel-uma-sandalia-de-lege-libellum, acessado
em 23/03/2019
4
As duas letras correspondem a uma abreviatura em hebraico da expressão “zicaron lebrachá”, que significa
«bendita a sua memória». Quando é utilizada, quer dizer que a pessoa já faleceu.
4

RESUMO:

O presente artigo tem por objetivo questionar sobre a problemática do


abandono dos moradores em condição de rua, visto que as leis que deveriam tutelar
esse assunto e mesmo colocadas em praticas, não cumpre totalmente seu papel,
somado a sociedade por preconceito ou por uma proteção de sentimentos, assume uma
“atitude blasé”, o Estado não cumpre seu papel e cobra em “Ultima Ratio”. O Dever
que o cidadão não pode devolver por culpa exclusiva do direito não empregado, mas
cobrada com todo vigor. A permanente sensação de abandono e falta de estudo, que
por sua vez influencia diretamente na falta de bons empregos e salários dignos
empurra o cidadão não tutelado a ter que fazer uma escolha, crime ou mendicância,
que o faz também ir ao desespero e as drogas, o Direito e sua aplicabilidade a partir
dessa premissa devem ser repensados. Diante desse cenário, a ideia de direito e sua
aplicabilidade, devem ir de encontro à ideia de um “Mínimo Existencial”. Além disso,
a falta de aplicabilidade, rigor técnico e específico do Poder Judiciário ao lidar com a
matéria impede a aplicação do direito e a uma atitude rigorosa desnecessária ao pobre
desgraçado, já não assistido corretamente, caracterizando assim um Estado de Exceção
a essa temática.

Palavras-chave: Direito ao Mínimo Existencial. Dignidade da pessoa humana.


Direitos da personalidade. Direitos Humanos. Sociologia do Direito. Antropologia
do Direito.

Sumário:

1. Introdução. 2. Desenvolvimento: 2.1 O Morador em Condição de Rua; 2.2 A Coisificação


Humana; 2.3 A responsabilidade do estado no mínimo existencial; 2.4 Consequências deste
problema social; 2.5 Resolução da Problemática; 3. Conclusão; 4. Referências.

5
Disponível em https://www.astrumargentum.org.br/ acessado em 23/03/2019
5

1. INTRODUÇÃO

A condição de um morador de rua, em sua trajetória de vida,


macula os padrões sociais e políticos, nos levando, assim, a um olhar
sociológico e crítico. A atitude “blasé” de quem passa na rua e não se
importa com esta temática, nos faz questionar sobre nossa própria
existência humana. O desenvolvimento frenético e mal administrado de
uma cidade, as promessas políticas e a corrupção nos empurraram a uma
sociedade hipócrita e indiferente ao que chamamos em Filosofia de “A
Coisificação Humana”. Nos faróis da cidade, ou embaixo de marquises e
pontes, um ser humano igual a mim ou a você detentor de Direitos e
Deveres pena em uma vida miserável e humilhante. O complexo de
salvador, intrínseco dentro de algumas pessoas, move a ajudas
humanitárias em forma de marmitas e cobertores, esmolas e ou palavras
amigas que muita das vezes agradecido ou amaldiçoado pelo
entorpecimento da situação cachorra em que se encontra o ajudado. O
presente trabalho tem o propósito de reconhecer a necessidade da ciência
do direito se dedicar cada vez mais ao tema, uma vez que, o ser humano
que está em condição de rua e os excluídos devem ser resgatados, pois sua
situação reflete cada vez mais no ordenamento jurídico. Por conseguinte, a
pretensão foi meramente analítica sobre as alternativas que o Estado pode
ter para proteger os direitos destes cidadãos sem restringir o uso e a
liberdade destes.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O MORADOR EM CONDIÇÃO DE RUA.

A condição de se nascer humano, nos leva a uma premissa de pertencimento e


a uma falácia de dominação. Pertencemos a uma sociedade onde Direito é atrelado a
6

Deveres, e a tutela desse mesmo somente deve ser utilizada num provocamento6
(Princípio da Inércia Processual ou de Jurisdição), esse atrelado a livre motivação do
Juiz7, e a Liberdade de utilizar-se ou não desse direito por parte de quem sofre.
Elementar que há Direitos que não precisa de uma provocação da pessoa que sofre
(intrínseco a pessoa que sofreu a violação), onde o próprio estado tutela
obrigatoriamente8 (“no caso do Direito Penal é, conceitualmente, o jus persequendi, ou
jus accusationis, a investidura do Estado no direito de ação, que significa a atuação
correspondente ao exercício de um direito abstrato, qual seja, o direito à jurisdição.”) 9.

A condição de morador de rua é uma mistura de decepção, pobreza, desistência


e outros agravantes (imputado ao indivíduo). Esta situação se dá, pois onde há uma
10
visão de "isso não é problema meu!" (no caso do senso comum) , atinge sua
integridade em todo o processo em si. Impor a uma pessoa que está fragilizada, uma
escolha, é tão desumano como "pular" por cima dele quando o mesmo está dormindo
na sarjeta.

Segundo Michel Mollat (1989, p.5); historiador Francês:

O pobre é aquele que, de modo permanente ou temporário,


encontra-se em situação de debilidade, dependência e humilhação,
caracterizada pela privação dos meios, variáveis segundo as épocas e
as sociedades, que garantem força e consideração social: dinheiro,
relações, influencia poder, ciências, qualificação técnica,
honorabilidade de nascimento, vigor físico, capacidade intelectual,
liberdade e dignidades pessoais. Vivendo no dia a dia, não tem
qualquer possibilidade de revelar-se sem ajuda de outrem. 11

Sociologicamente, é uma culpa exclusiva da própria sociedade que em um


momento de “Atitude blasé” 12, não utiliza a humanidade latente em cada ser humano,
a premissa de pertencimento e também não cobra de uma forma mais eficaz nossos
governantes para que haja uma solução.

6
Artigos. 2o. (do Antigo e Novo CPC) e Art. 262 do CPC Antigo e demais Artigos do Novo CPC, a seguir: Art.
139, ( e incisos), 203 e parágrafos, 226, I, II, III, 292, Parágrafo 3o., 297, 347, 355, 356, 357, 360, etc... A viger
em 16 de março de 2016.
7
Artigos. 370 e 371 do NCPC, (Artigos 130 e 131 do Antigo CPC).
8
Artigo 129 C.F /1988
9
Andrade Karla Karênina e Cavalcante Carlos; http://www.ambito-
juridico.com.br/pdfsGerados/artigos/4739.pdf; acessado em 23/03/2019.
10
Coisificação Humana.
11
Mollat, Michel. Os pobres na idade Média. Tradução Heloisa Jahn. Rio de janeiro: Campus, 1989.
12
Segundo Simmel, o distanciamento das relações afetivas e pela intelectualização.
7

O conceito básico de Ubuntu13 nos ensina que devemos estar abertos e


disponíveis as outras pessoas, não preocupado em julgar essas como boas ou más,
aceitando-as como parte da humanidade a quem eu também pertenço. A meu olhar
antropológico, houve uma ruptura paradoxal em algum momento onde um ser humano
olha para o outro numa visão de homem selvagem numa época onde impera a
humanidade.

Tomas Hobbes (1984) sentenciou em seu livro O Leviatã que o “homem


não é um ser Social” 14, contrariando Aristóteles, que disse:

...Assim, o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas


e os outros animais que vivem juntos. A natureza, que nada faz em
vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra, que não devemos
confundir com os sons da voz. Estes são apenas a expressão de
sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais são,
como nós, capazes. A natureza deu-lhes um órgão limitado a este
único efeito; nós, porém, temos a mais, senão o conhecimento
desenvolvido, pelo menos o sentimento obscuro do bem e do mal, do
útil e do nocivo, do justo e do injusto, objetos para a manifestação dos
quais nos foi principalmente dado o órgão da fala. Este comércio da
palavra é o laço de toda sociedade doméstica e civil... 15.

A Humanidade, nesta então “Atitude Blasé” força o excluído a viver em um


16
“estado selvagem” , mesmo que esse estado seja inconsequente e cobrado pela
17
"ultima Ratio” .

2.2 A COISIFICAÇÃO HUMANA

A Antropologia Filosófica, em várias abordagens tem como pergunta basilar


uma problemática enorme quanto ao conceito de “Humano”, Pois não há um, mas uma
pluralidade de significados. Muitas dessas contraditórias graças à miscelânea de
autores e suas ideias divergentes. A Física da antiga Estoá, numa visão de Giovanni
Reale sentencia:

O logos que penetra o universo se manifesta, em particular medida, na


alma humana que é fogo ou pneuma – uma parte do fogo ou pneuma

13
Em Xhosa/Zulu: lit. “Eu sou o que sou pelo que nós somos todos”.
14
HOBBES, Thomas. O Leviatã. Col. Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril, 1984.
15
ARISTÓTELES. Política. Tradução do grego, introdução e notas (apud) do Prof. Mário da Gama Kury. 3 ed..
Brasília: UNB, 1997. p. 317 ISBN: 85230001109.
16
Neste caso, Sem Lei.
17
“Ultima Razão, Ultimo Recurso” O Direito Penal.
8

cósmico – e é dividida em oito partes: os cinco sentidos, uma parte


destinada à fonação, uma à reprodução, e a parte racional chamada de
“hegemônico”, ou seja, que domina as outras. 18.

Dizendo com isso que “Humano” é o ser que utiliza a razão.

Também chamado de Objetificação, ou tornar-se um objeto, a Coisificação


Humana é um termo recente na Filosofia e na Sociologia, precisamente no início dos
anos de 1970, onde a expressão significa em sua plenitude “um individuo a nível (ou
comparado) a um objeto”. Um processo Pós-Moderno em que nos transforma em
coisas, um exemplo prático é o fato de olharmos para uma mulher, (no caso de um
homem) onde o verbo deveria ser amar, e não olhamos com os olhos do amor, pois
não a olhamos como um ser humano, e sim um ser coisificado, a coisa comemos o
indivíduo amamos. Neste diapasão chegamos à conclusão que a Coisificação Humana
se dá pelo fato do gradualismo do processo de internalização egóica19. Ou o homem
descontruído. Em minha tese, o homem que não sabe o que é 20, e não sabe ao que se
dá. 21
Epicuro e seu Hedonismo determina que o bem supremo ou o fim último da
ação é sempre o prazer, a humanidade não encontra prazer, seja estético ou espiritual
ao ver outro ser humano passando por aquilo que a pessoa que vê, em tese não gostaria
de presenciar ou passar.
É evidente que o termo objeto de nosso estudo é uma criação e evolução do
22
Filosofo Karl Marx, onde o ser humano vende a sua “Força de trabalho” ,
transformando-se assim numa coisa.
Em contraponto, cito o Filosofo Emmanuel Mounier (1950):
“A pessoa é o homem em sua integral e essencial dignidade, a pessoa não
23
pode ser reduzida, independente do que ela faça” .

18
Reale, Giovanni. História da filosofia: filosofia page antiga, v. 1 l Giovanni Reale. Dario Antiseri; [traduteo Ivo
Storniolo]. - São Paulo: Paulus. 2003. Pag. 284
19
Neste caso relativo ao Ego, ao prazer interno de servir aos sentidos, não se importando com mais nada.
20
Relativo a obter um conhecimento científico da natureza e dos poderes do seu próprio ser.
21
Relativo à sua Verdadeira Vontade.
22
Karl Marx e a divisão social do trabalho.
23
MOUNIER Emmanuel. Le Personnalisme, PUF, coll. Que Sais-je ?, n° 395, 1950
9

2.3 A RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO MÍNIMO


EXISTENCIAL.

O Estado mínimo parte da premissa em que o mesmo interferirá o mínimo


possível na economia do País, mas neste caso “in loco”, o estado possui
responsabilidade para o mínimo essencial de vida de seus cidadãos e principalmente
aos que mais precisam.

Neste ponto chamo a razão da Dignidade da Pessoa Humana, ou o


conjunto de princípios e valores que tem a função de garantir que cada
cidadão tenha seus direitos respeitados pelo Estado. 24

Principio fundamental da República Federativa do Brasil no art. 1º, III da Constituição


Federal de 1988:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana. 25

Seguindo ainda na mesma lei em seu Art. 3º intitulado “objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil”:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,


sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 26

Em TÍTULO II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, CAPÍTULO I,


DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS:

24
Disponível em https://www.significados.com.br/dignidade-da-pessoa-humana/ acesso em 24/03/2019.
25
C.F /1988 - TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm acesso em 24/03/2019
26
C.F /1988 - TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm acesso em 24/03/2019
10

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

...

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à


pena de reclusão, nos termos da lei;

Ainda em seu CAPÍTULO II, DOS DIREITOS SOCIAIS:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,


o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) 27

Suelen Pereira Coutinho do Nascimento28, em seu texto de artigo comenta:

Quando falamos em mínimo existencial, é importante nos lembrarmos do Título II –


“Garantias e Direitos Fundamentais”, da Constituição Federal. Nesse Título
encontramos direitos tão fundamentais, sem os quais não conseguiríamos viver. Por
isso, o mínimo existencial está ligado à ideia de justiça social. 29

E continua..,

O mínimo se refere aos direitos relacionados às necessidades sem as quais não é


possível “viver como gente”. É um direito que visa garantir condições mínimas de
existência humana digna, e se refere aos direitos positivos, pois exige que o Estado
ofereça condições para que haja eficácia plena na aplicabilidade destes direitos. 30

Tiramos então a conclusão que o Mínimo Existencial é em tese à parte em que


o Estado presta condições materiais necessárias para que seus cidadãos tenham uma
vida digna, mas como uma pessoa em condição de morador de rua poderia ter uma
vida digna?

27
C.F /1988 - CAPÍTULO II, DOS DIREITOS SOCIAIS, disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm acesso em 26/04/2019
28
*Suélen Pereira Coutinho do Nascimento é advogada em São Paulo-SP, formada pela Universidade Paulista -
Unip., disponível em https://antoniopires.jusbrasil.com.br/artigos/121940660/minimo-existencial-x-reserva-
do-possivel acesso em 26/04/2019
29
https://antoniopires.jusbrasil.com.br/artigos/121940660/minimo-existencial-x-reserva-do-possivel acesso
em 26/04/2019
30
https://antoniopires.jusbrasil.com.br/artigos/121940660/minimo-existencial-x-reserva-do-possivel acesso
em 26/04/2019
11

É certo que em muita das vezes, o indivíduo que vive nesta situação é baseado
num complexo que envolve escolhas pessoais, brigas familiares, uso de drogas (uma
temática que também o Estado deveria intervir pelo bem coletivo), problemas
psiquiátricos (com o fechamento dos antigos Hospitais Psiquiátricos, a sua maioria
veio morar em condição de rua.), doentes e desvalidos abandonados pelos familiares e
por fim pessoas que migraram de uma cidade a outra em busca de melhor vida, e com
a decepção da economia, preconceitos e outros acabaram por uma infelicidade vinda a
ser morador de rua.

2.4 CONSEQUÊNCIAS DESTE PROBLEMA SOCIAL.

A condição sociológica desta problemática acaba por fim no aumento da


violência, pequenos delitos, furtos, assassinatos, roubos e outras situações em que
fazem o Estado agir em “Última Ratio”, causando para o Estado a oneração de um
patrulhamento ostensivo; aumento de insegurança por parte dos cidadãos que não
estão nesta condição; da população carcerária, das doenças e acima de tudo a
imposição de penas severas, seja em Direito Penal ou maior ainda na condição humana
da pessoa que vive nesta degradação.

O dinheiro gasto com segurança é muito maior do que gasto com a educação e
com a manutenção do mínimo existencial, deixando bem claro que a má administração
do dinheiro público e de políticas de acolhimento e ressocialização do indivíduo sendo
mal administrados oneram os cofres públicos e gera um efeito cascata sobre outros
aspectos entre eles assistência social e saúde e isso inclui a saúde mental.

Crack e outras drogas também são uma constante no aumento vertiginoso de


moradores de rua, cada cidade do país possui uma cracolândia, onde existe um
acúmulo enorme de pessoas numa situação parecido com os filmes de “zumbis”.
Ações na Cracolândia são corriqueiras, onde a Policia Militar sempre age em
operações para prender traficantes.

Daniel Silva, de 26 anos, que também é usuário de crack, vive com a


companheira em um espaço entre a grade e o portão de uma loja, na região da
Cracolândia. Ele explica o motivo de não ir para um albergue: “Eu não gosto de
12

ficar separado de quarto com a minha esposa. Lá tem quarto de homens e de


mulheres. Eu sou dono da minha vida, não gosto de regras”. 31

O preço do imóvel onde se situa uma cracolândia também é afetado, pois com
o aumento da insegurança os preços despencam trazendo prejuízos enormes a donos
de imóveis na região.

2.5 RESOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA.

Todo País de nosso Planeta em algum momento de sua história já passou por
situações iguais ou até piores onde houve alguma resolução através de intervenções do
mesmo.

Exemplo:

A Finlândia conseguiu tirar da rua e reintegrar os sem-teto, sendo generoso em


suas intervenções, desde o começo com investimentos pesados em habitações
permanentes, sem cobrar ou impor quaisquer condições, valorou a assistência social
ajudando-os a administrar a vida pessoal através de programas sociais, intensificou
questões mais complexas como vício em drogas e desemprego.

"Começamos concedendo a eles um apartamento com um contrato que


lhes dá os mesmos direitos que qualquer inquilino. E, se eles precisam
de mais apoio, também é oferecido", diz à BBC Juha Kaakinen,
gerente da Fundação Y, que oferece 16.300 moradias a sem-teto na
Finlândia. 32

Atualmente no Brasil, de acordo com o IPEA33 possuímos até a data de


2018, 101 mil moradores em situação de rua.

31
http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/07/cresce-o-numero-de-moradores-de-rua-em-sao-
paulo-e-no-rio-de-janeiro.html acesso em 26/04/2019
32
Baseado na reportagem da BBC - https://www.bbc.com/portuguese/geral-39453230, acesso em
26/04/2019.
33
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
13

Uma pesquisa publicada pelo Ipea com base em dados de 2015


projetou que o Brasil tem pouco mais de 100 mil pessoas vivendo nas
ruas. O Texto para Discussão Estimativa da População em Situação de
Rua no Brasil aponta que os grandes municípios abrigavam, naquele
ano, a maior parte dessa população. Das 101.854 pessoas em situação
de rua, 40,1% estavam em municípios com mais de 900 mil habitantes
e 77,02% habitavam municípios com mais de 100 mil pessoas. Já nos
municípios menores, com até 10 mil habitantes, a porcentagem era
bem menor: apenas 6,63%.34

Interessante notar que a mesma pesquisa alerta:

...para a necessidade de a população que vive nas ruas ser


incorporada ao Cadastro Único para Programas Sociais
(CadÚnico) e, assim, obter acesso à transferência de renda
e habitação, por exemplo. Apenas 47,1% da população de
rua estimada estavam cadastradas em 2015. 35

No Brasil, temos uma situação complexa de moradores de condição de rua


gerada por alguns erros administrativos, entre eles: O fechamento de Hospitais
Psiquiátricos, onde o governo em vez de dar assistência aos afetados pela decisão agiu
de modo irresponsável ao mandar esses pacientes que não se socializam para casa, este
ato acabou por culminar em abandono por parte dos familiares onde os mesmos
acabavam deixando os seus em condição de rua e abandono.

Também temos a situação da migração ocorrida pela má administração pública


de alguns estados e cidades fazendo a pessoa, muita vezes sem condições financeiras,
profissionais e com baixa escolaridade migrar para cidades grandes onde o fim é
sempre a rua. Com esta problemática a pessoa chega numa cidade pra recomeçar a
vida e não possui local fixo para se manter ou estabilizar levando o mesmo a mendigar
e ou se prostituir e isso é um agravante para o aliciamento dos mesmos por traficantes
e ou trabalhos em condição análoga à escravidão.

34
Disponível em -
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29303&catid=10&Itemid=9,
acesso em 26/04/2019.
35
Disponível em -
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=29303&catid=10&Itemid=9,
acesso em 26/04/2019.
14

A pessoa se sujeita a essa situação, pois não possui meios próprios e


competências necessárias à sua manutenção mínima.

Uma Solução plausível seria:

 Investimentos em educação de qualidade e isso incluem melhores salários a


sua categoria.
 Investimentos em programas de ressocialização e integração dos mesmos.
 Cadastro eficaz e um rígido controle para evitar fraudes e outras
problemáticas contra o dinheiro Público.
 Casas de albergue e acolhimento onde não separasse a família.
 Tratamento eficaz e assertivo com inclusão de matérias menos acessível a
classe mais pobre, tipo Psicanálise, Hipnose clínica, Acupuntura,
programação Neuro Linguística, entre outros.
 Abatimento ou isenção total de tributos ao empregador que contrata
pessoas neste cadastro.
 Bolsa auxílio de no mínimo 01 (um) salário mínimo para que haja uma
manutenção digna à pessoa, sendo o gasto controlado e bloqueado a
bebidas, cigarros etc.
 Combate mais eficaz ao crime seja ele qual for.
 Inclusão de matérias de ensino médio, ou cursos presenciais
obrigatórios de Gestão Financeira Pessoal, Administração
Pessoal e Projeto de Vida.
 Assistencialismo ao morador de Rua com Sopão, cobertores,
comida, ração para seus animais (pois a maioria dos moradores
de rua não aceita ajuda baseado na premissa que os albergues
não aceitam seus animais e ou são muitos severos em regras).
 Investimentos e estudos mais profundos em mapeamento e
possíveis soluções, dando oportunidades a Antropólogos,
Cientistas Sociais, Serviço Social e outros.
 Combate sério e duro contra a corrupção, pois esse é a maior
raiz dos problemas de nosso País.

Baseado nesta Solução haveria uma mudança radical na situação


dos moradores em condição de rua.
15

3 CONCLUSÃO

A dor de se dormir na rua é tão humilhante que dói em todo o ser, em toda a
alma. Privações são uma constante, sonhos são cortados e ao meu olhar antropológico
é equivalente a um sacrifício a um deus ou demônio que sustenta todo esse organismo
podre e hipócrita chamado Sociedade.

A Sociedade é hipocritamente fora da lei, mas mesmo assim sobrevive, a custa


de sangue de mendigos sacrificados na rua, de lagrimas de prostitutas usadas ao bel
prazer egoísticos de uma sociedade doente e sádica. Na verdade, perdemos o rumo,
esquecemo-nos de nosso objetivo e de nosso questionamento máximo, "o que estamos
fazendo aqui?". Ainda me questiono como pode um ser humano dormir na rua,
debaixo de marquises ou no vão de uma ponte? As perguntas são tantas, mas a que
mais dói é: Como pode outro ser humano ver e nada sentir, ou nada fazer? Na
verdade, quase nada podemos fazer, pois não somos salvadores de ninguém, nossas
esmolas só fomentarão mais e mais a miserável condição degradante em que esse ser
se encontra. A condição de morador de rua, mendigo ou prostituição existe desde a
aurora do homem. Haverá algum dia que não teremos mais mendigos na rua? Uma
pergunta na terceira pessoa do singular do futuro do indicativo, quase sempre sem
resposta, mas sempre deixa um vácuo, uma angústia no espírito do Filósofo e do
Antropólogo!
16

4 REFERÊNCIAS

HOBBES, Thomas. O Leviatã. col. os pensadores. são paulo: ed. abril, 1984.

Mollat, Michel. Os pobres na idade Média. Tradução Heloisa Jahn. Rio de


janeiro: Campus, 1989.

MOUNIER Emmanuel. Le Personnalisme, PUF, coll. Que Sais-je ?, n° 395,


1950

Reale, Giovanni. História da filosofia: filosofia page antiga, v. 1 l Giovanni


Reale. Dario Antiseri; [traduteo Ivo Storniolo]. - São Paulo: Paulus. 2003.
Pag. 284

SIMMEL, G. A Metrópole e a Vida Mental. In: O fenómeno urbano. VELHO,


O. G. (org.). 4.ed. Rio de janeiro: Zahar, 1979.

EM MEIO ELETRÔNICO:

https://www.astrumargentum.org.br/

https://www.significados.com.br/dignidade-da-pessoa-humana/ acesso em
24/03/2019.

https://antoniopires.jusbrasil.com.br/artigos/121940660/minimo-existencial-x-
reserva-do-possivel

https://www.bbc.com/portuguese/geral-39453230

FOLHETO

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ. Normas para elaboração de projeto


de pesquisa e monografia. Rio de Janeiro, 2005.

Agradecimentos:
A pessoa de Michael William Cypriano, que um dia foi meu inimigo e hoje luta ao
meu lado!

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