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SEMANA 36 (EXTENSIVO) | SEMANA 15 (SEMIEXTENSIVO)

UNICAMP
TEMA A PRISÃO COMO FERRAMENTA DE JUSTIÇA
A partir da leitura da coletânea, produza um texto de acordo com 1 (uma) destas situações, cumprindo cada uma das indicações:
1) Você é um estudante do curso de Direito e escreve um artigo de opinião sobre “A prisão como ferramenta de justiça”, para ser publicado
no jornal acadêmico da universidade:
a) apresentando um fato que exemplifique como o sistema penitenciário brasileiro é falho (texto 1);
b) comentando esse fato com base no conceito de justiça de Aristóteles (texto 2) e no ponto de vista do Michel Foucault (texto 3).
2) Você é um ex-presidiário que escreve uma carta aberta à nação brasileira, com uma reflexão sobre “A prisão como ferramenta de justiça”:
a) considerando as críticas do escritor Contardo Calligaris (texto 2);
b) apresentando seu ponto de vista acerca do que viveu na prisão, a partir da música “Diário de um detento” (texto ;
c) estabelecendo um diálogo com a charge (texto 5).

TEXTO 1

Segundo os dados do governo mais atualizados, o Brasil atingiu, no ano de 2016, o terceiro lugar em população em privação de liberdade no mundo.
Naquele ano, eram 726 mil pessoas nessa condição no Brasil. A maioria está encarcerada – apenas 21% cumprem penas no regime aberto e no semiaberto,
em que a presença nos presídios não é constante. A proporção de pessoas em privação de liberdade no Brasil para cada 100 mil habitantes também tem
crescido. A taxa era de 260 em 2010, e chegou a 353 em 2016.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/11/12/O-plano-do-CNJ-para-reduzir-a-populacao-carceraria-em-40. [Adaptado].

TEXTO 2

Vemos que todos os homens entendem por justiça aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir
justamente e desejar o que é justo; e, do mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir injustamente e a desejar o que é injusto.
Somente a justiça, entre todas as virtudes, é o “bem de um outro”, visto que se relaciona com o nosso próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro, seja um
governante, seja um associado. Portanto, a justiça nesse sentido não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; nem é seu contrário, a injustiça, uma parte
do vício, mas o vício inteiro. O que dissemos põe a descoberto a diferença entre a virtude e a justiça: são elas a mesma coisa, mas não o é a sua essência.
Aquilo que, em relação ao nosso próximo, é justiça, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é virtude.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. 4.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. [Adaptado].

TEXTO 3

Que as punições em geral e a prisão se originem de uma tecnologia política do corpo, talvez me tenha ensinado mais pelo presente do que pela história.
Nos últimos anos, houve revoltas em prisões em muitos lugares do mundo. Os objetivos que tinham, suas palavras de ordem, seu desenrolar tinham certamente
qualquer coisa de paradoxal. Eram revoltas contra toda uma miséria física que dura há mais de um século: contra o frio, contra a sufocação e o excesso de
população, contra as paredes velhas, contra a fome, contra os golpes. Mas eram também revoltas contra as prisões-modelos, contra os tranquilizantes, contra o
isolamento, contra o serviço médico ou educativo. Revoltas cujos objetivos eram só materiais? Revoltas contraditórias contra a decadência, e ao mesmo tempo
contra o conforto; contra os guardas, e ao mesmo tempo contra os psiquiatras? De fato, tratava-se realmente dos corpos e de coisas materiais em todos esses
movimentos: como se trata disso nos inúmeros discursos que a prisão tem produzido desde o começo do século XIX. Tratava-se bem de uma revolta, ao nível
dos corpos, contra o próprio corpo da prisão. O que estava em jogo não era o quadro rude demais ou ascético demais, rudimentar demais ou aperfeiçoado
demais da prisão, era sua materialidade na medida em que ele é instrumento e vetor de poder.
Michel Foucault. Vigiar e punir. Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/centrocultural/foucault_vigiar_punir.pdf [Adaptado].

TEXTO 4

Vários tentaram fugir, eu também quero Sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo
Mas de um a cem, a minha chance é zero Misture bem essa química
Será que Deus ouviu minha oração? Pronto: Eis um novo detento
Será que o juiz aceitou a apelação?
Mando um recado lá pro meu irmão Minha vida não tem tanto valor
Quanto seu celular, seu computador
Cada crime uma sentença Hoje, tá difícil, não saiu o Sol
Cada sentença um motivo, uma história de lágrima Hoje não tem visita, não tem futebol
Sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio
Racionais MCs. Diário de um detento. Disponível em: https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/63369/ [Adaptado].

TEXTO 5

Em geral, a severidade das penas não produz o efeito mágico de estancar a violência e o crime. Em compensação, a impunidade, ela sim, autoriza o crime
e seu crescimento. Mas tanto faz: o que importa é que a violência criminosa abaixa quando sobem não tanto as penas quanto a inclusão social e o sentimento
de pertencermos todos a uma mesma comunidade de destino.
A Justiça e o sistema penitenciário sonham em amedrontar e dissuadir do crime. Também eles sonham com a reabilitação dos criminosos condenados.
Agora, mais prosaicamente, eles têm a tarefa (menos gloriosa) de punir os criminosos de forma que a sociedade se sinta vingada e que, portanto, as vítimas
não inaugurem ciclos de vendetas privadas.
O sistema penitenciário moderno é paradoxal: nele, tanto para os jovens quanto para os adultos, a vontade de punir coexiste e rivaliza com a vontade de
reeducar. À vista do fracasso crônico de reabilitação e reinserção, é possível pensar que a intenção de reeducar seja, sobretudo, o álibi necessário de uma
punição que se envergonha de si mesma. Ou seja, queremos reeducar (e nunca conseguimos) porque nos envergonhamos de estarmos “ainda” punindo os
criminosos.
Contardo Calligaris. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/1267961-irresponsabilidades.shtml. [Adaptado].

TEXTO 6

Disponível em: https://arteemanhasdalingua.blogspot.com/2017/05/charges-sobre-sistema-carcerario.html [Adaptado].

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