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Ensinar e Aprender Arte Contemporânea

Material de apoio para o professor de arte

Volume III

Arte e Cidade

CENTRO DA CULTURA JUDAICA


ENSINAR E APRENDER ARTE CONTEMPORÂNEA
Material de apoio para o professor de arte

Volume III

Arte e Cidade

São Paulo, 2007.

Centro da Cultura Judaica – Casa de Cultura de Israel


Rua Oscar Freire, 2500 Sumaré São Paulo SP 05409-012
www.culturajudaica.org.br
arteeducacao@culturajudaica.org.br
tel. (11) 3065 4347

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Artistas participantes deste projeto

ALEX FLEMMING

ANDREAS KNITZ

ARY PEREZ

CAO HAMBURGER

DENISE MILAN

HORST HOHEISEL

JOSÉ DE QUADROS

MARCELO BRODSKY

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Introdução
Relações entre arte e cidade no trabalho de artistas contemporâneos é o
tema que articula os folhetins que compõem este material educativo. Estas obras
exploram por um olhar contemporâneo algumas das questões associadas ao viver
nas cidades, não as retratam. Os percursos para conhecer arte, sugeridos em
cada folhetim, procuram destacar as diferentes abordagens destes artistas em
relação ao tema.

Este terceiro volume do “Material de apoio para o professor de arte”,


produzido pelo Centro de Cultura Judaica, apresenta diversos trabalhos de Arte
Pública e um filme. Estas referências possibilitam ao professor explorar com seus
alunos algumas das propostas de artistas contemporâneos para estarem mais
presentes na vida das cidades e ampliarem o acesso do cidadão comum à arte.

A partir do tema geral os folhetins se abrem para diversas questões


exploradas por estes artistas, como: Arte Pública; Arte e memória; Arte e
sofrimento; Aprendizado e superação de dificuldades; O caráter simbólico dos
monumentos; Antimonumentos; Identidade; Diversidade cultural; Coexistência;
Co-autoria; Projeto; Séries de trabalhos; Densidade de significados; Contar
histórias por meio de imagens; Relação entre texto e imagem.

Este volume traz logo após as informações sobre os artistas um novo item,
que oferece mais espaço para descrever e comentar as obras selecionadas e
situa dentro do contexto maior de cada trabalho os elementos apresentados nas
reproduções. A maioria das imagens apenas mostra registros que documentam
momentos ou aspectos específicos de cada proposta.

Sugerimos compartilhar com os alunos tais informações após uma “leitura de


obra” inicial a partir das transparências e fotos inclusas neste material educativo,
retomando o processo de leitura e discussão integrado às informações.

Recomendamos ao professor investigar o item do folhetim “Para conhecer


mais” para ampliar as propostas sugeridas e desenvolver novos percursos
educativos.

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Folhetim CAO HAMBURGER

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“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, 2006
1. Mauro com Shlomo, Zelador da sinagoga que o acolhe na comunidade do Bom
Retiro

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O DIRETOR
Cao (Carlos Império) Hamburger nasce em São Paulo em 1962. Sua mãe
descende de italianos, católicos, seu pai, de origem judia, vem da Alemanha para
o Brasil ainda criança. É sobrinho do cenógrafo, diretor de teatro e pintor Flávio
Império. Desde a infância, convive com artistas de diversas áreas.
Cao Hamburger cursa o ensino médio no Colégio Equipe, na época, um
ambiente cultural fervilhante, movimentado por shows e eventos organizados pelo
apresentador Serginho Groisman. Deste momento da história desta escola
surgem vários artistas, como o grupo musical Titãs e os artistas plásticos do ateliê
coletivo Casa 7.
Apesar de ingressar em três Faculdades (Filosofia, Geografia e Educação
Artística), não as freqüenta. A partir da experiência de um curso de cinema de
animação no SESC, em São Paulo, envolve-se profundamente com essa
atividade. Paralelo à realização de seus primeiros trabalhos nesta área, ensina
técnicas de animação para crianças e adolescentes em bibliotecas públicas e
escolas de São Paulo.
Em 1987, Cao Hamburger realiza com Eliana Fonseca o curta-metragem de
animação em massinha Frankstein Punk, de grande aceitação. Os Urbanóides,
série infanto-juvenil com bonecos animados é o primeiro de diversos trabalhos
para a TV Cultura, onde se destaca, em meados da década de 1990, com a
premiada série infantil Castelo Rá-Tim-Bum. Imprime seu toque pessoal de
dedicação e qualidade a mais de 200 filmes, de uma campanha do Big Mac para o
McDonald’s a uma série de programas para formação de agentes comunitários
produzida pelo Ministério da Saúde. Recebe em festivais de cinema e televisão
diversos prêmios nacionais e internacionais. Em 1999, estréia seu primeiro
longametragem para o cinema, Castelo Rá-Tim-Bum, O Filme, sucesso de
público e crítica.

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, escolhido como tema deste
folhetim, é seu segundo longametragem e primeiro filme para o público adulto,
onde propõe uma reflexão sobre diversidade e coexistência.

O FILME O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS


O filme conta a história de Mauro, um garoto de 12 anos, que vive em Belo
Horizonte uma vida de classe média. Nada sabe da ditadura militar que governa o
país, seu maior interesse é o futebol. Repentinamente, seus pais precisam “sair de
férias” e deixam o filho no apartamento do avô paterno, sem saber que este
acabara de falecer. Às vésperas da Copa do Mundo de 1970, que sonhava ver
com o pai, Mauro se descobre sozinho num local desconhecido. Precisa aprender
rapidamente a se adaptar à comunidade do Bom Retiro, bairro de São Paulo que
abriga pessoas de diversas culturas.

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O filme tem relação com uma história pessoal, mas não é autobiográfico.
Através desta história sobre o aprendizado de como superar as dificuldades que
surgem na vida, o diretor busca representar a infância de sua geração.
Cao Hamburger recorda que, quando criança, na época do regime militar, sua
família hospedou, a pedido de amigos, perseguidos políticos e alunos de seus pais
no curso da USP. Acusado de apoiar militantes de esquerda, o casal Hamburger
foi preso em dezembro de 1970. Sua mãe foi detida por uma semana, o pai por
duas. Os avós e os amigos da família cuidaram dos filhos do casal durante a
detenção.

Cao Hamburger se inspira, para criar O Ano em que Meus Pais Saíram de
Férias, na experiência vivida durante o período que trabalhou em uma produtora
de TV na Inglaterra, entre 2000 e 2001. Sentindo-se estrangeiro, exilado e
saudoso da riqueza cultural de São Paulo, abrigo de tantas nacionalidades, decide
mostrar isso pelo cinema.
Escolhe o bairro do Bom Retiro para local da história por representar a
mistura de culturas característica do Brasil. Na época retratada pelo filme a
comunidade era formada principalmente por judeus, italianos, gregos, árabes,
negros e nordestinos.
Com o filme o diretor tem a intenção de propiciar às pessoas um momento
para refletirem sobre a importância da coexistência: Temos que nos mobilizar para
lutar contra a intolerância. Porque não há nada melhor do que a convivência entre
as diferenças.1

Além da direção, Cao Hamburger participa do roteiro e da produção, acúmulo


de funções comum no Brasil. A fase de pesquisa e redação do roteiro, intercalada
com outros trabalhos, durou quase 4 anos. Cláudio Galperin, nascido no Bom
Retiro, foi convidado para integrar a equipe de roteiristas. Realizam para o filme
uma ampla pesquisa sobre a decáda de 70, investigam revistas, fotos familiares,
textos e filmes da época. Bob Wolfenson, fotógrafo criado no bairro, cede imagens
dos arredores de sua casa nos anos 70 para compor os ambientes e figurinos da
época. Beto Vilares, músico paulista, compõe a trilha sonora que ajuda a contar a
história. Vários consultores os orientam sobre aspectos da cultura judaica.
Nos dez primeiros dias de exibição, o filme foi visto por mais de 130 mil
espectadores. As leis de incentivo fiscal viabilizaram sua produção e finalização,
com orçamento total de R$ 3 milhões.

1
Globo Video Chat com Cao Hamburger, 02/11/2006 (disponível na internet).

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“O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, 2006
2. Mauro sozinho no apartamento de seu avô
Fotos: Beatriz Lefèvre

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REFLEXÃO E DISCUSSÃO
Professor, assistir ao filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e
discuti-lo com seus alunos pode ser uma oportunidade para estudarem o cinema
como forma de arte que atualmente atinge milhões de pessoas. Considerando a
escala de produção e distribuição e o esforço de criação coletiva desta forma de
arte, muitos se referem a ela como uma indústria.
Apesar de nos referirmos ao filme como uma criação de Cao Hamburger,
em entrevistas, ele sempre se refere ao trabalho como fruto de uma equipe de
criação, citando, entre outros, os roteiristas Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani e
Anna Muylaert, o diretor de arte Cássio Amarante e o diretor de fotografia Adriano
Goldman. Destaca também a importância da escolha do elenco e da “química”
que surge entre os atores para o sucesso de sua criação.
A coexistência entre pessoas e culturas diferentes é um dos temas de que
trata esta história e também um aspecto presente na equipe que o criou. Assistir
ao “making-of” do filme, de 30 minutos , é um modo prazeroso de perceber o
esforço coletivo empregado em sua criação. A leitura do cartaz do filme, dos
créditos finais e de matérias publicadas sobre “O Ano …” são também referências
para conhecer as diversas pessoas empenhadas em sua realização.
Para prosseguir o estudo sobre a importância da coexistência,
recomendamos consultar o material educativo produzido pelo Centro da Cultura
Judaica para a ação educativa da exposição “Coexistence”, disponível no site do
projeto indicado no item “Para saber mais” deste folhetim.

TEMAS

• APRENDIZADO E SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES


• CONTAR HISTÓRIAS POR MEIO DE IMAGENS
• DIVERSIDADE CULTURAL E COEXISTÊNCIA

SUGESTÕES PARA A LEITURA DA OBRA

1. Observar e discutir com a classe a transparência (anexa) com a


reprodução do cartaz de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias,
explorando o que essa imagem, escolhida como chamada para o filme, conta
sobre a história e o modo como nela se integram texto e imagem.

2. Assistir ao filme com os alunos e depois conversar sobre os aspectos


que consideraram mais interessantes. Aprender a se cuidar sozinho e a contar
com a ajuda dos outros podem ser temas instigantes para mobilizar uma
discussão.
 O filme pode ser abordado por diversas disciplinas, por exemplo: História
pode trabalhar com as questões relacionadas ao período da ditadura no

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Brasil; Geografia, com a diversidade cultural e a miscigenação; Português e
Literatura podem discutir as sinopses curta e longa do filme; e Arte, investigar
aspectos como a construção das cenas, a interpretação dos atores ou a
relação entre a trilha sonora e as imagens.

 Para trabalhar com os alunos sua atenção em relação a como a história é


contada, recomendamos voltar a observar com eles alguns dos trechos do
filme a que seus comentários se refiram.

3. Observar o trecho do início do filme onde ao vir para São Paulo o carro
dos pais do menino ultrapassa um caminhão do exército, repetindo este trecho
algumas vezes.

 Pedir aos alunos que se imaginem segurando uma câmera e que anotem
quantas vezes teriam que mudar de posição para conseguir filmar todas as
tomadas de cena, desde que o fusca da família se aproxima do veículo até
quando o ultrapassa, momento em que Mauro brinca de atirar com o dedo no
caminhão .

ABORDANDO OS TEMAS PROPOSTOS


Conversar com os alunos sobre como Mauro aprende a superar as
dificuldades para aprender a se cuidar, a tomar decisões, a relacionar-se com os
outros pode ser um estímulo para que falem das próprias dificuldades e discutam
sua concepção de aprendizado.
Saber da relação da história com a experiência de vida do diretor e como esta
o levou a iniciar o filme possibilita que compreendam como a arte também pode
se inspirar em memórias de situações difíceis.
A história do filme se passa nos anos 70, inspirada no período em que os
pais do diretor foram aprisionados pela ditadura militar. Embora tenham sido
detidos por menos de duas semanas, sua memória de criança de 8 anos guardou
a sensação de um desaparecimento que durou dois ou três meses, segundo seu
depoimento. Em uma de suas entrevistas2 de divulgação do filme, ele comenta:
Essa passagem é tabu na família, Raramente conversamos a respeito disso, e
minhas lembranças são meio nebulosas.
O artista Marcelo Brodsky, tema de outro folhetim deste material, trata em
diversos trabalhos de situações semelhantes vividas na Argentina num período
próximo ao da história apresentada neste filme, como o desaparecimento de seu
irmão e de diversos colegas de escola, situação que o levou ao exílio na Espanha.
O professor pode pesquisar com os alunos as semelhanças e diferenças entre as
situações vividas nos dois países.
Saber contar histórias por meio de imagens, como fazem Marcelo Brodsky e
Cao Hamburger em seus trabalhos, permite aos artistas discutir temas que

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O ano em que Cao Hamburger emocionou São Paulo in Revista VejaSP. São Paulo: Abril,
16/11/2006.

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consideram importantes, como as ameaças à diversidade cultural e coexistência
entre os seres humanos, propiciando a reflexão e a mobilização para
transformação destas situações.
O filme revela delicadeza e humor ao apresentar o contato entre hábitos
culturais diversos, por exemplo: a maneira como apresenta a tradição judaica de
cobrir os espelhos da casa com panos durante o período de luto; o choque de
Shlomo ao descobrir que Mauro não recebeu a circuncisão, quando este urina em
um vaso porque o único banheiro do apartamento está ocupado; o desrespeito
“involuntário” de Mauro, ao jogar futebol usando o xale cerimonial de Shlomo no
corredor do prédio; Mauro descobrindo que o apelido que recebeu na comunidade
judaica se refere ao pequeno Moisés, abandonado num rio e adotado pela
princesa do Egito, e percebendo que Shlomo é a sua “princesa”...

PROPOSTAS PARA OFICINAS

1. Pedir aos alunos que tragam para a escola relatos de histórias familiares
da década de 1970 e se organizem em grupos para representá-las, combinando
elementos das diversas histórias numa só.

 Após a apresentação, discutir com a classe como percebem essa época.

2. O blog do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias propõe


colecionar histórias que se passaram nesse ano. Qualquer história... divertidas,
dramáticas, bobas, familiares... sua própria ou de seus pais ou parentes.

 Propor aos alunos redigir sinopses das histórias familiares que


apresentaram, como se fossem enviá-las ao blog.

3. Propor que façam um outro cartaz para o filme, esboçando várias idéias
em desenhos pequenos e rápidos onde possam estudar a relação entre imagem e
texto, a sua diagramação. A idéia que considerarem mais interessante pode ser
desenvolvida num esboço em tamanho maior e produzido com mais vagar, para
ser apresentado e discutido com a classe.

 Recomendamos ao professor apresentar outros cartazes de cinema


como referências visuais para desenvolver essa proposta.

4. A partir de um texto pessoal redigido por cada aluno sobre como


imaginam que seria a experiência de viverem sozinhos, propor a criação de uma
História em Quadrinhos de até 3 páginas relacionada a seus textos.

 O professor bem familiarizado com o computador pode selecionar as


histórias mais convenientes para que os alunos em grupo a transformem em
animação utilizando programas básicos para animação de imagens (como o
Animation Shop ou similares).

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PARA CONHECER MAIS
SITES

http://www.oano.com.br/

http://oano.blogspot.com/

http://www.coexistencia.org.br/

PUBLICAÇÕES

HAMBURGER, Cao. Riquezas são diferenças Entrevista a Marleine Cohen in


Revista 18 São Paulo: Centro de Cultura Judaica, ano IV, n. 18, 2007. (disponível
para download em http://www.culturajudaica.org.br/)

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Um filme de Cao Hamburger - “Press
release” disponível para download no site do filme (acima indicado).

SOARES, Sandra. O ano em que Cao Hamburger emocionou São Paulo in


Revista VejaSP. São Paulo: Abril, 16/11/2006.

____________________________________

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Anexo:

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CRÉDITOS DA CAPA E TRANSPARÊNCIA

CAO HAMBURGER
Cartaz de divulgação do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 2006
Gullane Filmes
Fotos: Beatriz Lefèvre

DENISE MILAN E ARY PEREZ


Tempos da Cura, 1999
painel e escultura arquitetural instalada no Hospital Albert Einstein, São Paulo, SP
técnica mista: granito, água em movimento, poliuretano, cimento, luz artificial
Fotos: Thomas Sushemihl

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CENTRO DA CULTURA JUDAICA

Fernando Henrique Cardoso


Presidente de Honra

José Mindlin
Presidente do Conselho Deliberativo

David Feffer
Presidente da Diretoria Executiva

Raul Meyer
Vice- Presidente

Yael Steiner
Diretoria Geral Executiva

Samantha Ciocler
Programação

Rosa Iavelberg
Consultora Pedagógica do Arte-Educação

Luiza Moreira
Coordenação Arte-Educação

ENSINAR E APRENDER ARTE CONTEMPORÂNEA – VOLUME III

Tarcísio Sapienza
Pesquisa e Elaboração do Material

Vicente Emyggio
Revisão de Texto

Jun Jo Sakabe
Projeto Gráfico e Diagramação

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Realização

Apoio Cultural

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