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1 I NTRODUÇÃO
Este trabalho versa sobre o surgimento e a evolução dos cinemas na cidade de São
Paulo e sua relação com o público paulistano. Contextualizase o cinema como sala de
exibição, porém sua forma e sua produção também são consideradas, já que influenciam
diretamente a relação cinema/público. Nossa experiência de cinéfilo e o convívio com
cineastas, estudantes e professores de cinema justificam a escolha do tema.
Esta metodologia foi feita e refeita com o objetivo de analisar a participação dos
cinemas para o desenvolvimento do lazer coletivoartísticocultural de São Paulo. Propõe o
planejamento de futuras políticas públicas de cinema, apresentando sugestões e possíveis
soluções, todas exemplificadas. Contribui, desta forma, para que animadores sócioculturais
e outros profissionais que possam utilizar a linguagem cinematográfica sejam incitados a
intervir pedagogicamente, por meio de um entrelaçamento das informações históricas e
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técnicas com questões críticas pertinentes, acerca do cinema. Procura provocar reflexões,
buscando um debate que vai além do contexto do cinema, abarcando também a Educação.
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2.1 Cinema – primeiras descobertas
Creditamos o seu invento a dois irmãos franceses, Auguste e Louis Lumiére, que
ratificaram uma série de tentativas anteriores. Mais do que a dinâmica do movimento real
(CAPUZZO, 1986), o grande achado de Auguste e Louis foi o de inserir o seu aparelho – o
Cinematógrafo Lumiére na ascendente indústria do espetáculo. Mostraram uma visão
empresarial excelente: após as sessões científicas pela França e o início das apresentações
comerciais no decorrer de 1895, no ano seguinte iniciaram o envio de seus operadores
(filmadoras e projetores no mesmo aparelho integrado a fitas documentais filmadas pelos
próprios irmãos), alugandoos ou abrindo mercado através de representantes espalhados por
todo o mundo (BARRO, 1996).
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2.1.1 Cinema ambulante (1896 – 1906)
Esta fase foi marcada “pela recepção negativa do espetáculo cinematográfico e pela
heterogeneidade dos espaços de exibição” (SOUZA, 2001). Os exibidores ambulantes
apresentavam as vistas em diversos locais como confeitarias, salões de café, teatros e casas
de espetáculos e as exibições podiam ser acopladas à inúmeros outros espetáculos como:
atrações circenses, shows de mágica, encenações, aparições curiosas e bizarras e
apresentações musicais (ARAÚJO, 1981). Foi a partir destes locais que surgiu o gosto
embrionário do paulistano pelo cinematógrafo. Os filmes muitas vezes eram toscos, a
imagem trepidava e o barulho do aparelho incomodava, mas mesmo assim, fascinava e
encantava o público. Os estrangeiros residentes aqui no Brasil viam nas vistas importadas a
oportunidade de rever as paisagens e costumes da terra natal.
No começo do séc. XX, o cinema passou a ser um divertimento mais estimado pelo
povo. Era um espaço mais democrático, pois, nas salas onde aconteciam as exibições
cinematográficas só existia diferença entre o ingresso do adulto e da criança. Um dos meios
mais importantes para a divulgação do cinema foi a sua aparição em locais populares como
os cafésconcerto, que associavam a consumação de bebida e comida com a exibição.
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espetáculo. O espanhol tinha a exclusividade das principais produtoras européias além de
controlar a maioria das salas paulistanas.
O cinema sempre foi enxergado pelos países estrangeiros como arma imperialista
“assumindo importância nas relações comerciais dos europeus e norteamericanos com os
mercados periféricos ou coloniais” (SOUZA, 2004, p.87). Sempre houve uma invasão com
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Informações fornecidas por André Gatti por meio de entrevista concedida em 14/09/2004.
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Cinéfilo em sua raiz grega significa “amigo do cinema”.
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interesses econômicos subjacentes aos interesses da arte e do desenvolvimento artístico
cultural brasileiro. Por conseqüência, “os espectadores tiveram, desde o início, o seu
imaginário moldado pela imagem vinda de fora” (SOUZA, 2001.). Antes da 1a guerra,
foram exibidas principalmente as fitas do velho mundo. Com a guerra ocorrida na Europa, a
produção européia ficou estagnada.
Aproveitandose deste fato, as produtoras dos EUA criaram uma teia de distribuição
de seus filmes, infiltrando agências em quase todas as grandes cidades brasileiras,
associandose aos cinemas exibidores, que faziam, depois, o papel de intermediários para
os cinemas de bairros e do interior. Em 1916 pela primeira vez os norteamericanos
exportaram fitas em maior quantidade do que franceses e italianos (SOUZA, 2004). A
indústria cinematográfica de Hollywood se fortalecia cada vez mais, produzindo filmes que
faziam sucesso em todos as classes e para todos os gostos. Os filmes americanos eram na
sua quase totalidade ficcionais, mitificados, ritualizados pela figura do ídolo, utilizandose
de maniqueísmos, mas que eram extremamente eficientes para atrair os espectadores.
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A construção do Cine República na década de 20 iniciava a época dos grandes
Palácios, indicando o cosmopolitismo que nesse período invade a capital bandeirante,
inserindoa entre as grandes metrópoles culturais do mundo (PINTO, 2004.). As grandes
produtoras americanas tiveram um papel essencial para esta evolução, possuindo, inclusive,
algumas importantes salas com o seu próprio nome (SIMÕES, 1990). O cinema se tornava
cinematográfico, expressão utilizada até hoje como algo grandioso. Principalmente os
palacetes da Cinelândia (Av. São João com a Ipiranga) eram considerados o que hoje
seriam os grandes teatros que exibem óperas e espetáculos de dança e música. A
arquitetura, a decoração, o conforto e as inovações tecnológicas atraíam a burguesia e seu
prazer pela ostentação. Passou a ser um programa de luxo da elite paulistana.3
É importante a menção, neste mesmo período, dos cinemas de bairro, que iam se
propagando pelos arredores do centro, e que tanto serviram para a difusão da 7a arte às
camadas mais pobres. É bem verdade que as produções exibidas retratavam um mundo bem
diferente da sofrida realidade, mostrando luxo e riqueza, dandolhes uma fantasia
anestésica. O Brás foi o principal dentre os bairros, sendo considerado o 2o centro
cinematográfico, com alguns cinemas de luxo (mais acessíveis que os do centro).
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salas mais famosas. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não foi a televisão que
esvaziou as salas, e sim a facilitação dos transportes e a popularização do automóvel. São
Paulo, até por suas características geográficas, não possuía muitas opções de lazer ao ar
livre. No momento em que o transporte foi popularizado, somandose a construção de
rodovias ligando São Paulo às diversas cidades do litoral e do interior, assim como de
outros estados, o turismo de final de semana começou a ser praticado mais comumente,
diminuindo cada vez mais as idas ao cinema. O fechamento de diversas salas foi quase que
imediato até porquê o negócio “sala de cinema” possui uma porcentagem muito baixa de
lucro: aproximadamente 4,5%.6 No período de 19551970, o público de cinema anual na
capital diminuiu em 62%.7
Depois que a televisão se popularizou na década de 708, o cinema já não era mais o
que tinha sido. A televisão, ao mesmo tempo em que competiu com o cinema, pode ser
enxergada como propagadora de filmes, mantendo vivo o hábito de assistilos e criandoo
em locais onde não havia salas. Além disso, ela se apossou daquela carga crítica negativa
que o cinema possuía de ser um grande meio cultural de massa. Entretanto, as imagens dos
filmes exibidos em TV “são apresentadas reduzidas, cortadas nas margens, aceleradas (25
fotogramas em vez de 24 por segundo) e oferecidas com grande abundância e dispersão ao
olhar distraído do espectador” (COSTA, 1989, p.15).
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Primeiramente o exibidor divide a bilheteria com o distribuidor. Dos 50% do distribuidor, uma
parte vai para o produtor. Dependendo do local, o distribuidor cobra uma cota mínima, para o
exibidor lucrar somente quando passar desta cota mínima. Por estas razões que a verticalização do
negócio diminui os custos. (Informações fornecidas por André Gatti por meio de entrevista
concedida em 14/09/2004.)
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Fonte: SEADE apud SIMÕES, 1990.
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O advento da TV foi em 1950, mas somente no início da década de 70 que a televisão passou a ser
a maior opção de lazer do paulistano.
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Pesquisa da folha de São Paulo – 3.2.86 (CAMARGO, no prelo).
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paulistanos possuíam vídeocassete. Dez anos depois, uma outra pesquisa encomendada
pelo SescSP, apontou o aparelho em 46% das casas. Estes dados refletemse na freqüência
do paulistano ao cinema. A pesquisa SescGallup de 1979 mostrava que 20% dos
paulistanos freqüentavam salas de cinemas ao menos uma vez por mês, índice que caiu para
9% em 1996 (CAMARGO, no prelo) “Na pesquisa de 1996, ainda, quando colocados
diante das alternativas de local de assistência aos filmes, apenas 6% mencionaram as salas”
(CAMARGO, no prelo):
A partir de 1964, vários cineclubes foram utilizados como “fachada” para reuniões
revolucionárias contra a ditadura militar instalada recentemente no Brasil. Quando, em
1985, a ditadura acabou, “os partidos clandestinos de esquerda e outras organizações não
necessitavam mais dos cineclubesbiombo” (GATTI in RAMOS, 1997, p. 130). Neste
momento, os cineclubes começam a se profissionalizar, tais como o Bixiga, o Oscarito e o
Elétrico. Os filmes que eram exibidos em bitola de 16mm, cada vez mais escassa no
mercado, passaram a ser exibidos em 35mm, semelhante à dos cinemas comerciais. Com
isso, foram perdendo, aos poucos, sua essência. Nos anos da neoglobalização, os cineclubes
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[...] praticamente deixaram de existir ” (GATTI in RAMOS, 1997, p.130). Os poucos que
restaram, hoje, estão à mercê de iniciativas esporádicas e individuais. 10
Para entendermos o que são filmes de arte ou alternativos, utilizaremos Mello (in
GOMES, 2004) e sua classificação generalizada, dividindo as películas em três tipos:
Hoje em dia os cinemas de arte são mais conhecidos como cinemas alternativos, mesclando
filmes “alternativos” e “híbridos”, porém sem o engajamento culturaleducativo de um
cineclube. Em São Paulo, a quase totalidade destes cinemas se encontra no centro e nos
bairros onde vive a população mais abastada. (Arteplex, CineSesc e Cinearte são alguns
exemplos.)
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Existem atualmente outras formas de associações fazendo uso da linguagem cinematográfica
como o cinepsiquiatria, utilizando o cinema para debates acerca da psique humana. Há também
algumas vídeolocadoras que exibem importantes festivais de cinema para incitar o debate.
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2.1.6 Multiplex
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Informações fornecidas por André Gatti por meio de entrevista concedida em 14/09/2004
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3 C ONCLUSÃO
Não poderíamos falar de toda a história do cinema, de sua evolução, de seu enorme
futuro como entretenimento, da decadência das antigas salas gigantescas, da sua atual
situação, sem tentar apontar soluções.
O cidadão paulistano trabalha em média dez horas por dia. Somando a estas, as três
horas aproximadas que ele gasta no transporte, não sobra nem tempo, nem dinheiro para
que ele possa ter acesso a um lazer que traga engrandecimento pessoal. A televisão e a
rádio FM passaram a ser as únicas opções, utilizadas como subterfúgios para suportar a
volta ao trabalho. Em São Paulo, esta condição é exacerbada pela falta de espaços
democráticos onde coexistam uma diversidade de público e de produção cultural, em
comparação com o Rio ou Salvador.
Com estas questões, propomos uma política pública de lazer intermediada pelo
cinema, que venha abarcar pontos essenciais, objetivando:
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modernidade compulsória, onde a imagem se sobrepõe a palavra ou qualquer outra forma
de expressão. O conhecer desse paradigma da linguagem moderna, que têm o cinema como
um de seus mecanismos, pode, e deve, servir para uma discussão consciente sobre a era da
reprodutibilidade técnica em que vivemos. Visamos com isso criar uma perspectiva crítica
no espectador, que se faz capaz de saber como, o que e porque tal artifício foi utilizado no
filme, suas intenções e entrelinhas.
B) Uma reorganização espacial dos cinemas de São Paulo (com um proposto equilíbrio
pedagógico).
Não basta também levar o cinema à periferia, através do sistema multiplex e todo o
seu conteúdo cinematográfico industrial. Deve haver uma preparação consciente, tornando
o espectador contestador, indagador, possuidor de ferramentas que o façam analisar
conjunturalmente o filme – micro e o mundo – macro com um senso crítico e ético. Seria
essencial que o poder público pudesse viabilizar a distribuição de filmes produzidos com a
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participação das comunidades em questão, além de apoiar iniciativas já existentes de
organizações nãogovernamentais12 (BOTELHO, 2004).
O cinema quase sempre foi reflexo do mundo social, político, econômico e cultural.
Paralelamente, ele também serve para quebrar todo o sistema vigente. Sua utilização como
forma de explodir paradigmas deve vir desde a escola, encarada como um laboratório
intermediado pelo animador cultural, que recorre a experiência do cineclube (MELLO in
GOMES, 2004), trazendo assim o verdadeiro sentido ao cinema.
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O “Nós do Cinema” é um exemplo de organização nãogovernamental que há três anos promove
a inclusão social dos jovens de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro através do cinema.
Cria novas oportunidades a estes jovens, oferecendolhes cursos profissionalizantes em todas as
áreas da produção cinematográfica e experiência prática ao participarem de produções próprias e
estágios em grandes filmes.
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4 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 1981.
BARRO, Máximo. A primeira sessão de cinema em São Paulo. São Paulo: Tanz do
Brasil, 1996.
BENJAMIM, Walter (Org.) Obras escolhidas. São Paulo: Ed. Brasiliense. p. 165196.
CAPUZZO, Heitor, Cinema. A aventura do sonho. São Paulo: Ed. Nacional, 1986
CCSP. Núcleo de Cinema e Vídeo. Dante Ancona Lopez criador do cinema de arte em
São Paulo. São Paulo, 2003.
GALVÃO, Maria Rita Eliezer. Crônica do Cinema Paulistano. São Paulo: Ática,1975.
GATTI, André. Cineclube. In: RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz felipe (Org.)
Enciclopédia do Cinema Brasileiro. São Paulo: Senac, 2000. p. 128130.
MELLO, Vítor Andrade de, Cinema. In: GOMES, Christianne Luce (Org.) Dicionário
crítico do Lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. p. 3540.
SIMÕES, Inimá. Salas de cinema em São Paulo. São Paulo: Secretaria Municipal de
Cultura de São Paulo, 1990.
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SOUZA, José Inácio de Mello Souza. Imagens do passado. São Paulo e Rio de Janeiro nos
primórdios do cinema. São Paulo: Senac, 2004.
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