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Ismail descreve a fotografia como uma expressão que imprime um certo tom
de realidade. Comparando a fotografia ao cinema, ele conclui que o
audiovisual possui ainda mais força na celebração do real, por ser capaz de
expressar mais de uma propriedade do mundo visível (a imagem), e conta
com um trunfo poderoso: o movimento. A partir das propriedades básicas do
material fotográfico, o autor passa a analisar “implicações práticas”, como
propostas estéticas, em um tipo particular de cinema, que se esforça em
representar o real.
O autor analisa formas como o cinema explora a imagem tentando se
aproximar da realidade. Para ele, a janela é uma das propriedades que
contribui para o efeito de verossimilhança. Reforçando que o enquadramento,
a escolha de mostrar ou não mostrar algo ao espectador, inclui o que está
fora de quadro também como elemento narrativo. Identifica que o movimento
(tanto entre atores, quanto de câmera) é um dos elementos fundamentais
para que isso seja possível.
O movimento de câmera, trazendo os elementos que rodeiam os
personagens, além de localizar o espectador em uma narrativa, cria a ideia
de que existe um universo dentro da tela que independe da continuidade da
imagem que vemos. A imagem passa a ser uma “janela” que se abre para um
universo independente, que ao replicar a realidade, passa a ser uma imagem
dela mesma.
Para o autor, o corte é um dos elementos que pode colocar em xeque essa
semelhança entre a imagem e o real, para ele seria o “momento de colapso
da objetividade contida na indexalidade da imagem” (p.17). O corte e a
montagem poderiam agravar esse distanciamento, por serem manipulações
claramente humanas, que não indicariam realidade, e sim manipulação.
Ismail, passa então, a analisar como essa ruptura pode ser superada, através
de um método que considera que é a montagem que gera efeito de
identificação com a realidade: a “decupagem clássica”.
A decupagem é um processo de decomposição de um filme, onde cenas e
sequências são divididas em planos, fragmentos contínuos de imagem. A
partir desses fragmentos, um filme pode ser montado de forma que produza
continuidade espaço-temporal e a impressão de continuidade. A montagem é
capaz de eliminar a desordem, repetição e descontinuidade presentes no
processo de filmagem.
Ismail divide os planos em categorias definidas a partir da posição que a
câmera assume em relação a cena, se configurando como um “ponto de
vista” do espectador, tendo cada um destes pontos uma função narrativa. Na
linguagem clássica, imperando o “ângulo normal”, a câmera se posiciona na
altura do olhar de um observador, alimentando a ilusão de que o espectador
está observando uma cena que se dá em continuidade.
Elementos narrativos abrem espaço para os cortes e subsequentes
mudanças desse ponto de vista, os planos. Uma reação de um personagem,
um barulho causado por algo que não está enquadrado, a fala de outro
personagem… esses são alguns elementos que justificam os cortes e
mudanças de plano, tornando sutil o trabalho de montagem.