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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO CULTURAL


DISCIPLINA FUNDAMENTOS DO AUDIOVISUAL
ISADORA MENDONÇA MARCONI NICOLAU

FICHAMENTO DO TEXTO: “A janela do cinema e a identificação” e “A decupagem


clássica”, de Ismail Xavier

Ismail descreve a fotografia como uma expressão que imprime um certo tom
de realidade. Comparando a fotografia ao cinema, ele conclui que o
audiovisual possui ainda mais força na celebração do real, por ser capaz de
expressar mais de uma propriedade do mundo visível (a imagem), e conta
com um trunfo poderoso: o movimento. A partir das propriedades básicas do
material fotográfico, o autor passa a analisar “implicações práticas”, como
propostas estéticas, em um tipo particular de cinema, que se esforça em
representar o real.
O autor analisa formas como o cinema explora a imagem tentando se
aproximar da realidade. Para ele, a janela é uma das propriedades que
contribui para o efeito de verossimilhança. Reforçando que o enquadramento,
a escolha de mostrar ou não mostrar algo ao espectador, inclui o que está
fora de quadro também como elemento narrativo. Identifica que o movimento
(tanto entre atores, quanto de câmera) é um dos elementos fundamentais
para que isso seja possível.
O movimento de câmera, trazendo os elementos que rodeiam os
personagens, além de localizar o espectador em uma narrativa, cria a ideia
de que existe um universo dentro da tela que independe da continuidade da
imagem que vemos. A imagem passa a ser uma “janela” que se abre para um
universo independente, que ao replicar a realidade, passa a ser uma imagem
dela mesma.
Para o autor, o corte é um dos elementos que pode colocar em xeque essa
semelhança entre a imagem e o real, para ele seria o “momento de colapso
da objetividade contida na indexalidade da imagem” (p.17). O corte e a
montagem poderiam agravar esse distanciamento, por serem manipulações
claramente humanas, que não indicariam realidade, e sim manipulação.
Ismail, passa então, a analisar como essa ruptura pode ser superada, através
de um método que considera que é a montagem que gera efeito de
identificação com a realidade: a “decupagem clássica”.
A decupagem é um processo de decomposição de um filme, onde cenas e
sequências são divididas em planos, fragmentos contínuos de imagem. A
partir desses fragmentos, um filme pode ser montado de forma que produza
continuidade espaço-temporal e a impressão de continuidade. A montagem é
capaz de eliminar a desordem, repetição e descontinuidade presentes no
processo de filmagem.
Ismail divide os planos em categorias definidas a partir da posição que a
câmera assume em relação a cena, se configurando como um “ponto de
vista” do espectador, tendo cada um destes pontos uma função narrativa. Na
linguagem clássica, imperando o “ângulo normal”, a câmera se posiciona na
altura do olhar de um observador, alimentando a ilusão de que o espectador
está observando uma cena que se dá em continuidade.
Elementos narrativos abrem espaço para os cortes e subsequentes
mudanças desse ponto de vista, os planos. Uma reação de um personagem,
um barulho causado por algo que não está enquadrado, a fala de outro
personagem… esses são alguns elementos que justificam os cortes e
mudanças de plano, tornando sutil o trabalho de montagem.

“A motivação inicial para o corte vem de uma necessidade da


narração e, por sua vez, a visualização explícita dos acontecimentos
só é possível graças ao recurso da montagem. A sequência de
imagens , embora apresente descontinuidades flagrantes na
passagem de um plano para outro, pode ser aceita como abertura para
um mundo fluente que está do lado de lá da tela porque uma
convenção bastante eficiente tende a dissolver a descontinuidade
visual numa continuidade admitida em outro nível: o da narração”
(p.21)
Separando e organizando fatos em espaço e em tempo, a
descontinuidade causada pelo corte pode ser justificada por gerar uma
sucessão de fatos e acontecimentos que geram um sentido narrativo. No
caso da montagem paralela, onde o corte desloca o espectador de um
espaço para outro, a montagem causa o efeito de que os fatos estão
acontecendo ao mesmo tempo. Sendo assim, esse processo se dá por
necessidades narrativas.
Esses deslocamentos espaço-temporais, as elipses e vários procedimentos
de junção de fatores, utilizados no cinema, foram apropriados da literatura
clássica. Sendo assim, se configura como um modelo já assimilado pelo
espectador, que assume essa possível descontinuidade como fator elementar
da narrativa.
Segundo Xavier, o cinema dispõe de dois principais instrumentos: a
harmonia entre a narrativa e o ritmo da montagem e o equilíbrio entre as
configurações visuais. A decupagem clássica, para o autor, é a união desses
instrumentos para provocar impressões e emoções no espectador.

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