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-A justaposição (ou montagem) de duas imagens é fruto de uma intervenção

humana e, em princípio, não indica nada senão o ato de manipulação.


-Que alternativas de ação temos diante da montagem?
-Podemos buscar a neutralidade da descontinuidade elementar do corte ou
buscar a ostentação desse corte.
-Como? Pense. Responda.

O Construtivismo Russo
-Segundo François Albera, o construtivismo é um movimento plural, ele
contém uma série de convicções partilhadas por diversos teóricos e artistas
pertencentes a grupos diferentes.
“Trata-se de um método artístico que visa dar forma a objetos realmente
funcionais e que valoriza a construção da obra de arte (em oposição à
composição). A revindicação de uma autonomia da arte, um domínio do
espírito sobre a matéria (a arte, princípio ativo, faculdade mental, em
oposição à natureza dada, princípio passivo).”
-O construtivismo vai contra todo naturalismo e todo impressionismo (cópia
das aparências), expulsa o referente exterior e a submissão à visão empírica,
e promove um espaço autônomo.
-Almeja uma obra de arte como “objeto” construído a partir de materiais
(cores, sons, formas, palavras).

Lev Kulechov
-O contexto no qual Kulechov inicia o desenvolvimento de seu trabalho era o
da revolução de 1917.
-Foi nos seus primeiros tempos de cineasta e professor que se dedica a
investigar os fatores construtivos responsáveis pela eficiência narrativa e
pelo sucesso nas telas da cinematografia americana.
-Este caminho o levou a ser reconhecido como o primeiro teórico da
montagem.
-O caminho escolhido para esta pesquisa foi inspirado numa atitude
tipicamente empirista que consistia em selecionar filmes considerados por
ele filmes “bons” e observar a reação das plateias anotando as diferentes
reações em relação aos filmes americanos, europeus e russos.
1) o sucesso dos filmes americanos se deve ao ritmo rápido de sua
montagem, ao passo que o filme europeu e o russo têm como característica
a lentidão com que as imagens se sucedem; e
2) a compatibilidade existente entre o tipo de ficção desenvolvido e a
montagem americana.
-As conclusões se desdobram:1) o momento crucial da prática
cinematográfica é o da organização do material filmado; 2) a justaposição e o
relacionamento entre os vários planos expressa o que eles têm de essencial
e produz o significado de conjunto (a montagem como elemento chave na
“compreensão semântica daquilo que se passa na tela”).
-O AUTÊNTICO CINEMA ESTÁ NA MONTAGEM, não na imagem singular
de cada plano (matéria-prima), mas na sua combinação (através de métodos
específicos de trabalhar a matéria-prima).
-A noção de “geografia criativa”- a montagem confere um efeito de
contiguidade espacial a imagens obtidas em espaços completamente
distantes e dá aparência de realidade a um todo irreal (partes de corpos
diferentes podem passar a ideia de um corpo). – para ele o importante é o
efeito de realidade obtido - espaço diegético.
-Cada imagem ou plano (o mais curto possível e simples) constitui apenas
um fragmento de uma edificação tijolo por tijolo. -É uma proposta de um
construtivismo radical. O plano é um signo, e para Kulechov ele é maleável
segundo a justaposição dos planos (EFEITO KULECHOV).
Esta experiência foi muito impactante na Rússia e Ocidente, divulgada por
Pudovkin, ex-aluno de Kulechov.
-Na década de 1920 Kulechov foi o maior teórico sobre o cinema narrativo,
da montagem invisível e da construção espaço-tempo narrativo, marcado
pela procura da impressão de realidade e da identificação

Vsevolod Pudovkin
-Pudovkin foi o principal discípulo de Kulechov como cineasta e teórico.
Inicia reflexão sobre cinema ainda no período mudo, e será um forte
representante do cinema de uma estética realista de inspiração marxista.
-Sua teoria é fundamentada na narratividade baseada no critério de
continuidade, ritmo, equilíbrio de composição e sucessão lógica, como
Kulechov.
-Mas o cinema que propõe implica numa presença privilegiada da
consciência humana, no nível do método de construção e no da própria ação
representada (não alienação, tomada de consciência são componentes da
trajetória da personagem).
-Fazer cinema é dar expressão visual a uma representação da consciência
(visada)- a psicologia tem seu lugar e a atuação do ator com adaptações da
técnica de Stanislavski para o cinema.
-Pudovkin trabalha com a ideia de tema para a construção fundamental de
um roteiro. Tema/tratamento/roteiro – defende a ideia de um planejamento da
decupagem com todos os detalhes da filmagem.
-O trabalho da câmera está concebido dentro da formulação mais pura da
metáfora do olhar, identificando câmera e olho de um espectador privilegiado
e ativo.
A decupagem satisfaz a lógica e expressa uma visão particular dos
acontecimentos.
-A montagem deve: dar uma direção definida à procura do espectador por
um sentido.
mostrar o desenvolvimento da cena, como se fosse em relevo, conduzindo a
atenção do espectador. O significado latente de cada plano é liberado com a
justaposição do plano seguinte. São justamente os elementos discursivos
que tornam possível a percepção daquilo que não é imediatamente visível na
nossa experiência direta do mundo.
-O close up não significa nenhum tipo de interrupção do plano geral, ele
representa uma forma própria de construção. (Tempestade sobre a Ásia)

A montagem como instrumento para impressionar


MONTAGEM RELACIONAL e seus recursos propostos por Pudovkin: pode
ser encontrado no livro A Experiência do Cinema
Montagem paralela –
Simultaneidade –
Montagem por contraste -
Montagem por simbolismo –
Leitmotiv -

Sergei Eisenstein
-Eisenstein se inscreve no movimento construtivista partindo do teatro de
‘agit-atrações’(1923).
-Este teatro é composto de números independentes carregados de estímulos
não amarrados à intriga do texto.
-Vemos nessa proposta a defesa radical da introdução de artifícios
manipuláveis, no sentido de promover um discurso que rompe com o projeto
ilusionista.
-No cinema ele transforma o teatro de atrações no método para a produção
de um “cinema proletário”. Ao invés de apresentar uma pseudo-objetividade
como no realismo burguês, ele vai caminhar rumo a uma estrutura
francamente discursiva, baseada na combinação de elementos e
comentários em torno de uma situação factual, que leva em conta a
realidade social e histórica do espectador (o cálculo das atrações só é
concebido se o auditório é conhecido de antemão, selecionado e
homogêneo)
-Uma atração é qualquer aspecto agressivo do teatro que submete o
espectador a um impacto sensual e psicológico. Estes estímulos eram
combinados de modo a produzir os efeitos emocionais e os impactos
necessários para tornar claros a significação e os valores propostos pelo
espetáculo.
-Aqui ele manipula o texto, no cinema vai manipular as imagens.
-Eisenstein conserva no cinema várias conquistas de seu trabalho no teatro:
a encenação “excêntrica”, o recurso à máscara, a utilização de cenários reais
– fábricas construções metálicas -, a referência à máquina. Os
procedimentos de desconstrução e decomposição passam para a montagem
e para a composição: trata-se menos de filmar uma personagem “excêntrica”
do que filmar excentricamente, passar a lógica da máquina para a filmagem,
e não filmar máquinas.
-Eisenstein trabalha contra a montagem narrativa portanto contra as teorias
de Kulechov e Pudovkin propondo uma montagem que segue o raciocínio,
que compara e define significações claras: a montagem é marcada pela
descontinuidade.
-a montagem interrompe o fluxo de acontecimentos e marca a intervenção
do sujeito do discurso - através de planos que destroem a continuidade do
espaço diegético e que se transforma em parte integrante da exposição de
uma ideia.
-a sucessão de eventos não obedece a uma estrita causalidade linear (como
em Kulechov) e não se encontra uma evolução dramática do tipo psicológica
(como em Pudovkin)

Métodos de montagem segundo Eisenstein:


Montagem métrica
Montagem rítmica
Montagem Tonal
Montagem atonal
Montagem Intelectual

Montagem Discursiva
Alguns exemplos: em Outubro, a ponte que é elevada para reprimir uma
manifestação de operários – o fato é apresentado com distensão do tempo
natural criando um espaço de significação, onde nosso olhar se detém e se
desdobra para as várias possibilidades de compreensão do que representa
este fato, pela estrutura da montagem produz uma reflexão sobre o
significado do fato, esta montagem propõe uma análise da produção de um
ato revolucionário e não apenas fornece uma descrição de seus lances
espetaculares. O cinema passa da esfera da ação para a esfera da
significância. A proposta é um cinema que pensa por imagens ao invés de
narrar por imagens.
As estratégias usadas para atingir este objetivo são principalmente:
1) estilização dos elementos postos diante da câmera (a interpretação dos
atores é estilizada e propõe criar uma tipologia dos agentes históricos);
2) montagem disjuntiva (no que se refere a apresentação de cada fato
independente e na evolução do acontecimento é aberta uma brecha na
cadeia que liga as várias ações e temos a inserção de imagens não
pertencentes ao espaço da ação, construções metafóricas que tendem a
comentar determinados fatos particulares) e figurativa (repetições do mesmo
gesto e inserção de planos não inseridos no espaço da ação);
3) descontinuidade ostensiva articulada a uma diferente noção de
enquadramento, com fixação de um instante através da multiplicação de
detalhes e pontos de vista, distendendo o tempo do acontecimento.

A montagem intelectual(ou discursiva) é conflito-justaposição de


sensações intelectuais associativas.

Montagem Discursiva ou montagem intelectual

Articulação dos planos: descontínua


Relação entre os planos: confrontação
Princípio de colagem: escolha inteligível
Princípio de transmissão: demonstração
Representação do mundo: um mundo a construir
Procedimento estético dominante: enxerto

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