Você está na página 1de 28

Programas Novos Caminhos

Curso FIC Editor de Vídeo

Semana 03

Breve histórico das


concepções da
montagem no
cinema
Francisco Sales
Instrutor
Texto para leitura obrigatória


Breve histórico das concepções da
montagem no cinema”
Ruy Gardnier

Disponível no link:

http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/montagem/ensaios/04_03.php

2
Os primeiros filmes da história do cinema não tinham
montagem. Eram pequenas bobinas de filme, cada
uma, com pouco menos de um minuto, que
registravam fixamente o mesmo enquadramento.
Ao registrar aspectos cotidianos da cidade de Paris,
no final do século XIX, os irmãos Lumiére foram os
precursores do cinema.

“A chegada de um trem na estação”, Irmãos Lumiére


https://youtu.be/RP7OMTA4gOE
O primeiro filme de montagem nasce no
ano de 1896, em “Demolição de um
muro”, de Louis Lumiére.

É a primeira vez que dois blocos de


sentido opostos são aproximados e,
apesar de se tratar do mesmo plano que
passa repetido duas vezes, o nexo lógico
entre duas imagens está estabelecido.

Démolition d'un mur (1896) - Louis Lumiére


https://youtu.be/PI_Rxa0YFWg

4
Já Georges Méliès foi um ilusionista e
cineasta francês, famoso por liderar muitos
desenvolvimentos técnicos e narrativos no
alvorecer do cinema

Ele usa o corte e a dupla exposição para


criar seus efeitos mágicos. Mesmo assim,
seus filmes pareciam ser feitos em um único
plano

The Man with the Rubber Head - Georges Méliès (1901)


(O homem com a cabeça de borracha)

5
O ato lógico da ideia de montagem,


ordenar cenas e planos para passar a
ideia de continuidade, não foi algo
construído com simplicidade.

Como fazer para que o espectador


não fique perdido quando se corta de
um plano a outro? Será a mesma
história? As passagens de tempo e
de espaço serão compreendidas?

“Par le trou de la serrure” (Ferdinand Zecca), 1901 -


(Pelo buraco da fechadura)

6
Os pioneiros americanos como Edwin Porter e D. W. Griffith
estabeleceram as bases fundamentais para a continuidade
de ação de uma trama, alcançando seus efeitos dramáticos.
É a partir da criação de múltiplos pontos de vista, ângulos e
distâncias da câmera em relação àquilo que ela filma —
tudo isso agregado e transformado em algo coerente e
natural na montagem — que o cinema começa a ser visto
como arte autônoma.

"Nascimento de uma Nação" (1915)

D.W. Griffith

7
David W. Griffith é considerado o pai da
montagem cinematográfica no sentido moderno.
As suas contribuições para a evolução da
montagem foram inúmeras, destacando-se: a
alternância de planos para criar impacto
emocional, incluindo o grande plano geral, o
close-up (grande plano), câmara subjetiva (o
ponto de vista da personagem ou do ator) e o
travelling (deslocamento lateral da câmera), os
flashback (retrocessos temporais) e as variações "Intolerância" (1916)
de montagem, as mudanças de ritmo, entre
D.W. Griffith
outras.
Se não foi Griffith o inventor nem da montagem
nem do plano geral, pelo menos foi ele o primeiro
a saber organizá-los e a fazer deles um “meio de
expressão”. 8
Já escola soviética, gestada nos anos 1920, via o cinema
como outro projeto, e não como a construção de um espaço
imagético na tela. A ideia aqui era experimentar a
possibilidade de construção do sentido a partir da
associação sequencial das imagens, o que possibilitou o
cinema a elaborar sua própria linguagem.
Um exemplo desta autonomia é o Efeito Kulechov, em que
se notava que a mudança de apenas um plano, poderia
alterar o resultado do sentido obtido pelo conjunto das
imagens.

9
Efeito Kulechov

10
Um dos cinestas mais importantes desta escola
foi Sergei Eisenstein. Ele buscava a força rítmica
e intelectual da montagem, como é possível ver
em filmes como “O Encouraçado Potemkin”, ou
“A Greve”, ambos produzidos em 1925.

Ele acreditava que a montagem poderia ser


usada com mais propósito do que apenas contar
uma história: a justaposição de tomadas
independentes poderia criar novos significados.
Eisenstein achava que a “colisão” de imagens
poderia ser usada para manipular as emoções do
público e criar metáforas.

Eisenstein classificou a montagem em cinco


tipos diferentes:
11
1. Montagem Métrica

É um estilo de montagem simples, em


que as cenas longas são encurtadas para
um comprimento chamado de
“comprimento absoluto” das imagens
sem afetar a essência da história original
ou sua emoção. Esse tipo de montagem é
usado para criar suspense e tensão que
geralmente são rápidos e têm cortes
abruptos que não têm continuidade, mas
dão sentido à duração total da cena.

12
2. Montagem Rítmica

Em contraste com a Montagem Métrica,


esse estilo de montagem se concentra no
ritmo da ação realizada, no tempo igual à
duração real da gravação. Esse tipo
elimina o salto inesperado e abrupto de
uma imagem para outra.

O Melhor exemplo de montagem rítmica é


a cena dos Degraus de Odessa do filme
“Encouraçado Potemkin” (1925) e a
relação feita com soldados marchando
pelos degraus em direção aos
manifestantes. Cada passo dado adiante
mostra as emoções do grupo de
manifestantes que estão tentando fugir
dos soldados despejando balas. 13
3. Montagem Tonal
A montagem baseia-se no característico
tom emocional da cena - “o tom geral do
fragmento”.
Por exemplo, a tonalidade da luz. A
intensidade de luz de um fragmento: mais
sombrio (menos luz), mais movimento
(vibração da luz no reflexo na água). Para
vermos a montagem tonal temos a
sequência da neblina do “Encouraçado
Potemkin”

14
4. Montagem Atonal
O uso simultâneo de todas as três
montagens acima – Métrica, Rítmica e
Tonal – em uma mesma combinação.
Ausência de movimento de tensão e
relaxamento (presente nas três formas de
montagem anteriores), resultando numa
montagem mais livre.
A montagem atonal nasce do conflito
entre o “tom geral do fragmento” (sua
dominante) e a atonalidade.

15
5. Montagem intelectual

Montagem de conflito e justaposição de


elementos que simulam sensações
intelectuais. Embora, julgados como
"fenômenos" (aparências), eles
parecerem de fato diferentes, do ponto de
vista da "essência" (processo), porém,
eles sem dúvida são idênticos.

Por exemplo, no filme “Outubro” (1927)


há uma montagem de várias máscaras de
etnias diferentes em justaposição,
trazendo a relação do homem com seus
deuses.
16
Até este momento, o ofício de montador
sempre era de uma posição subalterna
entre os técnicos de cinema, e muitas
vezes os próprios diretores assinavam
as montagens dos seus filmes.
Com o cinema moderno, por volta dos
anos 1940, o plano-sequência (plano que
registra a ação de uma sequência inteira,
sem cortes) e profundidade de campo
(mudança de foco da câmera para dar
ênfase a algum elemento da cena) dá
“Cidadão Kane” (1940) - Orson Wells
outra dimensão a estética
cinematográfica. À montagem caberiam
apenas as tarefas de continuidade,
metáfora, dinamismo e ritmo ao filme.
Nos anos 1960, com a eclosão dos novos
cinemas ao redor do mundo, as bases
em que se assentavam a linguagem do
cinema narrativo são colocadas à prova
e questionadas em seu cerne.

Se o trabalho na moviola era visto como


tendo a função primordial de
manutenção da continuidade entre um
“Acossado” (1960) - Jean-Luc Godard plano e o seguinte (seja uma
continuidade de ação, de lógica ou
metafórica), agora ela é chamada a tecer
laços de descontinuidade e desfazer a
relação ilusória do prosseguimento de
uma ação através dos planos.
Pensando aqui nestes termos
históricos, em um momento o corte
vem perturbar uma relação que
estabelecemos com o espaço, em
outro o plano-seqüência distende
nossa percepção do tempo.

Seja abusando do plano-sequência ou


dos planos fragmentos da estética do
Youtube, a montagem, de uma forma
ou de outra, permanecerá tendo
importância decisiva na construção da
significação de qualquer filme.
19
Pensou que tinha acabado!?
Só que não!

20
Vamos falar um pouco de Pudovkin!

Contemporâneo de Eisenstein, para Pudovkin a função


essencial da montagem é a determinação dos processos
psicológicos no espectador. O realizador não deveria
apresentar toda a realidade, mas reduzí-la ao essencial.

A montagem é um instrumento que é usado para dar forma,


para destacar determinados acontecimentos da realidade.
Serve ainda para selecionar os fragmentos que
temporalmente e espacialmente são mais relevantes,
construindo com detalhes significativos e omitindo os
restantes. Assim, Pudovkin considerou que o plano é como o
“tijolo” da construção fílmica e que o material, ao ser
ordenado, pode gerar qualquer resultado pretendido, da
mesma forma que um escritor utiliza as palavras para criar
uma percepção da realidade, o realizador de cinema usa os
planos como seu material bruto.
Ele estabelece 05 técnicas de montagem

01. Contraste
● O contraste parte da ideia de que duas imagens
diferentes, quando combinadas, forçam o público a
estabelecer uma comparação entre elas.

02. Paralelismo
● Dentro do paralelismo, a ideia é que as cenas mostradas
sejam complementares e que evoluam conforme o tempo
passa ou o filme avança. O paralelismo guarda muita
semelhança com o contraste, ainda que seu foco não
seja o confronto entre as cenas que são montadas.

Técnicas de montagem - Pudovkin


https://www.youtube.com/watch?v=2h5iWMc_PA4
22
3. Simbolismo
● A montagem que leva em consideração o simbolismo retrata em
suas cenas ideias ou conceitos que se relacionam de maneira
simbólica a fim de passar uma mensagem que as une e
estabelecer uma relação de significado entre elas.

4. Simultaneidade
● A simultaneidade é o princípio de montagem mais emocional e
que trabalha com mais de uma linha temporal ou narrativa da
história. Ele trata de maneira simultânea um ou mais personagens,
de maneira que elas possam se juntar num momento posterior ou
de maior clímax.

Técnicas de montagem - Pudovkin


https://www.youtube.com/watch?v=2h5iWMc_PA4
23
5. Leitmotiv
● Leitmotiv é uma expressão na música que
indica a repetição de um trecho de uma
música em determinado momento do
filme, denotando alguma presença,
situação de risco, etc. Isso ocorre em
filmes como os da franquia “Indiana
Jones”, com a música tema do filme, a
Marcha Imperial, em “Star Wars”, ou
“Tubarão”, na presença assassina do
animal.

A maior característica do leitmotiv é Técnicas de montagem - Pudovkin


justamente a repetição e a reinserção de
um mesmo elemento ou trecho dentro de
uma mesma peça.
24
Referências:

http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/montagem/ensaios/04_03.php

https://www.avmakers.com.br/blog/conheca-as-tecnicas-fundamentais-de-montagem
/

https://www.marxists.org/portugues/eisenstein/1929/12/montagem.htm

http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-canelas-cinema.pdf

https://www.rosebud.club/post/16022020

https://filmdesign.com.br/montagens-de-eisenstein/

25
Mas espera só mais
um pouco...
“CURTA DA VEZ”

“Ilha das Flores” (1989) - Jorge Furtado


https://www.youtube.com/watch?v=RRady6kla34
27
Valeu,
turma!
Estamos a disposição na
plataforma para tirar as suas
dúvidas!

28

Você também pode gostar