Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
1. ROTEIRO – UMA HISTÓRIA CONTADA POR IMAGENS E SONS ............. 5
2. CINEMA: LINGUAGEM UNIVERSAL............................................................ 8
3. PROCESSOS DE CRIAÇÃO DO ROTEIRO; 1º PASSO: OBSERVAÇÃO . 10
3.1. Exercício de criação ............................................................................ 11
4. FILMES SEM ROTEIRO; EXISTEM? .......................................................... 13
5. O TERROR DOCUMENTAL NO CINEMA E NO RÁDIO ............................ 17
6. ROTEIROS DO TEATRO PARA O RÁDIO, PARA O CINEMA, PARA A
TELEVISÃO ..................................................................................................... 19
7. CINEMA - A SÉTIMA ARTE ........................................................................ 22
7.1. Exercício de criação ............................................................................ 25
8. CINEMA - FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO ............................................... 26
8.1. Exercícios para fixação de conteúdo ................................................. 29
9. O CINEMA É SEQUENCIAL E A TV FRAGMENTÁRIA ............................. 31
10. O CINEMA PRIMITIVO. GRIFFITH E A ESCOLA SOVIÉTICA DE
EISENSTEIN .................................................................................................... 34
10.1. Exercícios para fixação de conteúdo ............................................... 35
11. PLANOS DE ENQUADRAMENTO ............................................................ 37
11.1. Enquadramento .................................................................................. 37
11.2. Os principais Planos e enquadramentos são .................................. 39
12. TIPOS DE MOVIMENTO DE CÂMERA ..................................................... 41
12.1. Movimentos de câmera habituais ..................................................... 42
12.2. Movimentos Internos de Câmera ...................................................... 43
12.3. Exercícios ........................................................................................... 43
13. CINEMA NO BRASIL ................................................................................ 45
13.1. Dois exemplos magníficos de roteiros brasileiros ......................... 45
14. O ENREDO O ARGUMENTO E O ROTEIRO: TUDO É CINEMA ............. 55
14.1. O argumento ....................................................................................... 55
15. O ESQUELETO DE ROTEIRO; PRIMEIRO SEGUNDO E TERCEIRO
TRATAMENTOS DE UM ROTEIRO ................................................................ 59
16. OS PERSONAGENS ................................................................................. 64
16. 1. Passo a passo para criação de personagens ................................. 66
17. CONCLUSÃO ............................................................................................ 72
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 74
2
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .................................................................. 74
3
Objetivos da disciplina:
4
1. ROTEIRO – UMA HISTÓRIA CONTADA POR IMAGENS E SONS
5
conseguir desenvolver seu roteiro de maneira que seja aceito em qualquer
padrão europeu, americano ou asiático. Nessa questão da compreensão
universal de um roteiro, pode-se responder a terceira pergunta: - O roteiro de
fato é necessário para que um filme aconteça?
Fig. 01: Cena do filme “Trono Manchado de Sangue” de Akira Kurosawa (1957). Fonte
da imagem: http://www.planocritico.com/critica-trono-manchado-de-sangue/ (acesso:
20/09/2017).
6
O filme “Trono Manchado de Sangue” é um dos grandes filmes do mestre
japonês Akira Kurosawa. Trata-se de uma adaptação primorosa da peça
“Macbeth” do dramaturgo inglês William Shakespeare para o universo japonês
medieval, do Período Sengoku. Neste filme, por exemplo, o próprio Kurosawa
participou do roteiro ao lado de outros três roteiristas. A saber, Hideo Oguni,
Shinobu Hashimoto e Ryuzo Kikushima.
7
2. CINEMA: LINGUAGEM UNIVERSAL
8
quanto o funcionamento de uma obra cinematográfica esta justamente no
roteiro e na direção. E é no roteiro inclusive que se embute o orçamento e a
indicação projetiva de público. De tal forma, que para se chegar nessa
excelência de construção verbal e imagética o roteirista terá que aprender esse
“novo idioma”, complexo, icônico e absolutamente necessário para o
desenvolvimento de sua narrativa. Sem o desenvolvimento correto dessa
prática, o roteirista se distanciará de sua própria função, que é a de contar uma
história através dos diálogos e das cenas bem construídas de um filme, para
que este se sustente na tela e diante de seu público (Fig. 02).
Fig. 02: Cena final do filme “Casablanca”, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman,
direção de Michael Curtiz; roteiro de Julius J. & G. Philip Epstein e Howard Koch,
considerado o melhor roteiro de cinema de todos os tempos. Fonte da imagem: https://s-
media-cache-ak0.pinimg.com/originals/35/8d/4b/358d4b692ada1ff1db1041824a089357.jpg
(acesso: 2/10/2017). Leia a história do filme em: https://jeocaz.wordpress.com/2009/07/14/
(acesso: 2/10/2017).
9
3. PROCESSOS DE CRIAÇÃO DO ROTEIRO; 1º PASSO: OBSERVAÇÃO
10
roteiro para ficar na gaveta esperando um diretor. Roteiros são pedidos de
encomenda (Fig. 03).
Fig. 03: Roteiros geralmente são pedidos sob encomenda. Podem vir de um diretor de
cinema ou TV, de um documentarista ou de uma agência de propaganda. Fonte da
imagem: https://marceloribeirouk.wordpress.com/2012/05/16/o-que-e-um-roteiro-de-
cinema/ (acesso: 02/10/2017).
11
c) A partir delas desenvolva uma história utilizando todas às cinco palavras.
Pronto, a partir desse exercício simples será desencadeado todo um processo
de criação.
12
4. FILMES SEM ROTEIRO; EXISTEM?
Fig. 04: O excelente cartaz promocional do filme “A Bruxa de Balir” (1999), onde se
anuncia o desaparecimento misterioso de 3 estudantes em uma floresta. Fonte da
13
imagem: http://br.web.img2.acsta.net/medias/nmedia/18/93/98/96/20293294.jpg (acesso:
02/10/2017). Um filme feito sem roteiro.
14
para divulgar o filme, o público alvo já havia sido capturado e lotava os cinemas
para ver o desfecho da trama.
Fig. 05: Uma cena marcante do filme “A Bruxa De Blair” de 1999. Posteriormente, a
história foi refilmada em 2016, mas sem o mesmo impacto do filme inicial. Fonte da
imagem: http://ift.tt/2d5fwtz (acesso: 03/10/2017).
15
encontrado dentro dela revela apenas rostos assombrados de pânico e não o
que ocorreu.
16
5. O TERROR DOCUMENTAL NO CINEMA E NO RÁDIO
17
da Universidade de Princeton, que tentava liderar uma resistência contra os
extraterrestres. Realizou seu intento usando o estilo dos rádio jornalismo da
época, que funcionava em forma de relatos onde testemunhas do
acontecimento, autoridades, peritos e efeitos especiais de sonoplastia
concorriam para que tudo parecesse verdadeiro. Não faltaram para tanto os
gritos e suspiros comovidos de testemunhas do acontecimento, ao lado de
repórteres que o cobriam. Esse já era seu 17º programa de uma série semanal
de adaptações radiofônicas que vinha realizando no Rádio Teatro Mercury.
Fig. 06: Imagem do jovem Orson Welles quando irradiava “Guerra dos Mundos” –
sucesso e pânico da história do rádio em 1938. Fonte da imagem:
http://br.web.img3.acsta.net/rx_640_256/b_1_d6d6d6/newsv7/17/09/19/22/36/0640346
.jpg (acesso: 20/09/2017).
SAIBA MAIS
Assista ao filme sobre o programa de rádio de Welles em 1938. Vale a pena. Endereço: You
Tube: Orson Welles - Guerra dos Mundos:
https://www.youtube.com/watch?v=lt8pWcrtzM0 (acesso: 02/10/2017).
18
6. ROTEIROS DO TEATRO PARA O RÁDIO, PARA O CINEMA, PARA A
TELEVISÃO
Fig. 07: O roteiro para teatro deve considerar que esse tipo de espetáculo mantém
uma conexão mais profunda entre o público e os atores, porque o público está vendo a
história do personagem acontecer bem à sua frente, como se estivesse espreitando a
vida real de um estranho. O cinema é limitado a uma tela bidimensional, mas tem
recursos muito mais amplos de performance e exibição das imagens e dos
personagens, através de diferentes ângulos de câmera, efeitos especiais ou
mudanças de cenário. Fonte da imagem: http://www.americantheatre.org/wp-
content/uploads/hamilton-1280x770.jpg (acesso: 03/10/2017).
. Fato é que todo cinema clássico precisa de roteiro e dos roteiristas para
existir. Isto por que roteiro, como o próprio termo indicia, é a formatação escrita
do que ocorrerá nas filmagens: O registro orquestrado das gravações,
19
estipulando no papel o que se espera de cada um dos envolvidos numa trama
cinematográfica. A maneira como uma história é desenvolvida no argumento
percorrerá as filmagens. Por isso, desmentindo certa mística corrente no Brasil,
ele não é uma camisa de força que existe para restringir a criatividade do
escritor, e sim para ajudar na criação de um texto feito para cinema. Assim
como o pintor deve dominar tintas e pincéis para pintar, o Gourmet suas
receitas e seus apetrechos de cozinha para uma boa comida; um músico deve
dominar um instrumento musical e partituras para compor; um roteirista, além
de dominar regras gramaticais básicas de seu idioma para escrever, terá que
dominar certas regras básicas de formatação de um roteiro para desenvolver
sua história.
20
entendem e, portanto, tem um formato ou layout específico, margens, notação
e outras convenções. Este documento (roteiro) destina-se a visualizar os
elementos típicos utilizados na escrita de toda narrativa.
21
7. CINEMA - A SÉTIMA ARTE
22
Pudovkin considera em seus estudos, que toda atenção do espectador
se encontra na montagem do filme, ou seja, o objetivo do diretor deve ser o de
orquestrar a atenção do público através da narrativa, e em função da
montagem pela somatória de planos até seu desfecho total, onde o espectador
participaria em partes dos elementos relevantes da ação. Assim, o que é um
argumento? O que é montagem? Passaremos imediatamente a esses capítulos
do processo de criação de um roteiro. Antes disso, vamos sedimentar na mente
e no coração que o roteirista é um escritor que se aventura no mundo das
imagens. Para tanto não basta que ele adore e conheça profundamente a
literatura, como todo grande escritor, mas que também, e antes de tudo, seja
um cinéfilo; só assim poderá exercer com mestria sua profissão.
Quem não gostar; não puder amar e compreender uma bela fotografia em
movimento, base do cinema, jamais será um bom roteirista. Da mesma forma,
se não gostar de ler e escrever, que não se aventure nessa arte e profissão,
pois seus parâmetros de construção narrativa e de montagem são todos
baseados na arte literária. O cinema clássico, enquanto narrativa, se deixou
influenciar pelo romance francês e inglês do século XIX. E enquanto estrutura
foi beber inclusive das figuras de linguagem literárias. Os aspectos de
aproximação entre cinema e literatura são tantos, que acabaram por encantar
alguns dos grandes escritores do século XX, como os argentinos Jorge Luís
Borges e Júlio Cortázar e nosso grande poeta maior, João Cabral de Melo
Neto, além do poeta e compositor popular Vinícius de Morais, amigo de Orson
Welles, na época em que foi cônsul do Brasil nos Estados Unidos. Todos eles
adoradores do chamado Cinema Silencioso ou Mudo.
23
Nosso poeta e escritor Vinícius de Moraes teve a felicidade de ver sua
peça teatral “Orfeu Negro da Conceição” se transformar num filme ítalo –
francês – brasileiro: “Orphée Noir”; na Itália: “Orfeo Negro”, de 1959, dirigido
por Marcel Camus e com roteiro adaptado por Camus e Jacques Viot. O filme
foi sucesso de crítica e público, e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro
em 1960. Apenas como curiosidade, esta foi à primeira produção de língua
portuguesa a levar a estatueta cobiçada. Outra curiosidade é que a trilha
sonora é de Tom Jobim e Luís Bonfá, além de músicas do próprio Vinícius de
Moraes e do compositor, Antônio Maria (Fig. 08).
Fig. 08: Cena com Marpessa Dawn e Breno Mello no filme “Orfeo Negro”, peça teatral de
Vinícius de Moraes adaptada para o cinema em 1959, dirigido por Marcel Camus. Fonte da
imagem: http://ultimosegundo.ig.com.br/visitaobama/obama-descobriu-brasil-em-1983-
com-orfeu-negro/n1238177528724.html (acesso: 03/10/2017).
24
Para o escritor, o importante é sonhar e ser sincero com o sonho quando se
escreve. Uma lição que deveria ser compreendida pelos roteiristas, pois
nenhuma outra arte, além da literatura, soube unir com tanta perfeição sonho e
realidade quanto o cinema. Na medida em que o roteirista escreve um texto
pensando nas imagens, bem poderíamos defini-lo como um narrador que trama
fatos para a sala escura; para virar realidade virtual dos sonhadores das salas
de projeções. Desta forma, não seria estranho afirmar que o roteirista em
processo de criação é um tipo de escritor que sonha acordado.
a) Como sugestão para uma primeira iniciação sobre a forma como a literatura
vira cinema, vale a pena ler o conto de Jorge Luís Borges – “Tema Del Traidor
y Del Herói” e depois assistir sua adaptação para cinema - “La Estratégia Del
Rango” realizada pelo grande cineasta italiano Bernardo Bertolucci, em 1971.
Esse filme esta disponível na internet (somente em italiano) no endereço:
https://www.youtube.com/watch?v=UgZ9KZ_cpvU (acesso: 03/10/2017).
c) Para quem for fã de terror vale a pena assistir “A Bruxa de Blair”, versão
original de 1999 e procurar na Internet alguns estudos sobre essa montagem e
sua forma de divulgação.
25
8. CINEMA - FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO
26
Hoje, século XXI, o cinema está novamente se reinventando. Isso por
causa da internet, dos novos meios de comunicação e das mudanças que se
impuseram com o advento da televisão. Pergunta-se muito que será do cinema
depois das TVs digitais com telões e também das experiências em 3D. Por
enquanto as mudanças não foram suficientes para banir de vez a utilização da
película ou mesmo as salas escuras de projeção. De qualquer forma cinema
hoje se integra as outras artes das imagens em movimento, que vão da
tradicional telinha das TVs caseiras a sua transformação em suporte de vídeo,
e deste para as instalações da vídeo-arte, e dos projetos multimídias, todos
perfeitamente integrados num denominador comum que os define; o chamado
universo audiovisual.
27
independente, que faz seus filmes caseiros e lança na Internet muitas vezes
com certo sucesso. Mas todas essas transformações só reforçam a
constatação da falta absoluta de grandes roteiros, ou de roteiristas que se
adaptem de forma proficiente a essas novas e velozes linguagens e meios
audiovisuais.
Fig. 09: A emergência da internet, das mídias sociais e dos novos meios de
autoprodução digital e compartilhamento, propiciou a emergência de um novo tipo de
Hollywood: o YouTube. Milhares de aspirantes a diretor estão tentando se tornar
Youtubers e desenvolver uma carreira lucrativa, ganhar notoriedade e recompensa
financeira. Fonte da imagem: http://www.michaeloliveira.com.br/equipamentos-para-
gravar-videos-para-o-youtube/ (acesso: 04/10/2017).
Isso faz lembrar uma colocação do diretor de teatro Antunes Filho para a
Revista SESC de Cultura de 2016, sobre a decadência do teatro atual. Para
28
ele, parte dessa decadência ocorre por falta de grandes textos teatrais, e
consequentemente de grandes autores de teatro e de literatura; que ele aponta
como um fenômeno brasileiro e mundial. Diz Antunes Filho que sem o grande
texto não há o surgimento do grande ator e sem o grande ator não se pode
conceber grandes textos. Bem, essas questões complexas da produção teatral
bem se aplicam a produção audiovisual. Hollywood está em crise de roteiros e
isso se reflete no excesso de adaptações de quadrinhos e seus heróis para
cinema, e também, ao lado destes, as adaptações de contos de fadas para
adultos. Mesmo no gênero terror, normalmente muito criativo, as produções de
Hollywood não fogem das adaptações de Sthephan King.
29
b) Como sugestão para ter uma ideia do que foi o cinema primitivo de
vanguarda assistam algum filme dos anos 1920. Vou sugerir “Entre Acto” de
Allan Resnair, com a participação espetacular dos artistas plásticos da
vanguarda modernista Marcel Duchamp e Picabia. Vale a pena. Tem na
Internet. (https://www.youtube.com/watch?v=mpr8mXcX80Q – acesso:
04/10/2017).
30
9. O CINEMA É SEQUENCIAL E A TV FRAGMENTÁRIA
31
Fig. 10. Mesa de montagem de uma película cinematográfica (também conhecida como
moviola). As animações feitas através de desenhos diretamente na película também
usavam este equipamento. Fonte da imagem: http://www.animamundi.com.br/pt/blog/nem-
papel-nem-computador-pelicula/ (acesso: 04/10/2017).
32
praticada, o espectador vai se envolver totalmente nas cenas projetadas e na
sequência lógica da narrativa, e nunca estará ciente do trabalho do montador.
33
10. O CINEMA PRIMITIVO. GRIFFITH E A ESCOLA SOVIÉTICA DE
EISENSTEIN
O próximo passo significativo seria dado por outro gênio da sétima arte –
o russo Serguei Eisenstein - que, a partir dos avanços griffithianos, acabou por
descobrir o cinema de arte: um cinema de atrações que, influenciado pela
estrutura da escrita ideogramática chinesa, criou a montagem ideológica. Trata-
se da somatória de uma imagem com outra para despertar no espectador um
terceiro conteúdo, como nos ideogramas. Na china, por exemplo, o ideograma
da palavra “verdade”, se forma com a somatória ou justaposição dos
ideogramas “palavra” e “homem”, pois para os chineses a palavra do homem
deve ser verdadeira. No cinema de Eisenstein, ao unir, por exemplo, a imagem
de uma boca gritando com a imagem de um carrinho de bebê despencando
escada abaixo, resulta na cabeça do expectador a ideia de desespero materno.
Essa cena esta no clássico “O Encouraçado Potemkin”, de 1927. Esta e outras
cenas antológicas de montagem ideológica estão à disposição no You Tube
para quem se interessar em analisá-las.
34
Os recursos narrativos do cinema vieram de uma única fonte literária: os
romances franceses e italianos do século XIX. Foi neles que Griffith buscou
suas histórias intrincadas, com enredos envolventes e com personagens
intensos. Griffith influenciou todo o cinema americano, inclusive os musicais e
acabou influenciando a própria escola soviética. Serguei Eisenstein, o principal
nome dessa escola russa sempre reconheceu que foi a partir de Griffith que
pode dar um grande passo em direção ao que se convencionaria chamar de
Cinema de Arte. Bebeu das descobertas de planos e travelings do diretor
americano e desenvolveu seu próprio cinema.
a) Como sugestão para uma compreensão do que são esses dois cineastas –
Griffith e Eisenstein – vou sugerir que vocês assistam “Intolerância”, primeiro
longa metragem de Griffith e em seguida “A Greve” de Eisenstein. Depois
anotem no papel o que viram de diferente na estrutura de montagem
desses dois filmes. Os dois filmes são facilmente encontrados no You Tube.
35
a enorme diferença de procedimentos estéticos desses dois gênios da
cinematografia mundial.
36
11. PLANOS DE ENQUADRAMENTO
11.1. Enquadramento
37
• Os planos representam o enquadramento da câmera em determinada
cena ou situação
• O enquadramento é o recorte do assunto a partir do olho da câmera
(Fig. 11).
Fig. 11. Exemplo de um corte ou enquadramento feito pela câmara. Este tipo de
enquadramento é chamado de “Plano de Detalhe”, quando a câmara enquadra uma
parte específica do assunto. Fonte da imagem: http://www.primeirofilme.com.br/site/o-
livro/enquadramentos-planos-e-angulos/ (acesso em 04/10/2017).
Plano é o que está entre um corte e outro de uma cena. Existem duas
maneiras de definir o enquadramento de um plano, são o movimento de lente
descrito abaixo e o movimento de câmera, que veremos a seguir (Fig. 12).
38
Fig. 12. Tipos de Planos – ilustração da autora.
GPG – Abreviatura para Grande Plano Geral. É o Plano que abarca uma
área de ação enorme e de longa distância. É o Plano que enquadra os grandes
mares, os oceanos, os desertos e o Sertão. Por exemplo, uma imagem de
Montanhas ao longe com uma casinha perdida no meio dela. Um navio
minúsculo no mar longínquo, um Árabe perdido no meio do deserto sem fim.
Plano Super Close-Up (ou Big Close-Up). É uma variação mais radical do
Close-Up. Neste enquadramento somente a cabeça do ator domina a tela.
39
Plano Detalhe. Enquadra somente os detalhes a serem valorizados na cena.
Por exemplo, os olhos do personagem, um anel no dedo, uma boca etc.
40
12. TIPOS DE MOVIMENTO DE CÂMERA
Fig. 13. Exemplo de câmara subjetiva. O assunto é filmado como se fosse o olho do
observador. Fonte da imagem: https://historiandovrj.files.wordpress.com/2016/05/sbj.jpg?w=825
(acesso: 04/10/2017).
41
Fig. 14. Câmara objetiva. O assunto é filmado do ponto de vista do observador. Fonte
da imagem: http://programacinemafalado.blogspot.com.br/2013/05/ (acesso:
04/10/2017).
Pan - é a famosa panorâmica, que gira sobre o próprio eixo. Temos quatro
movimentos vindos desse tipo de captação da imagem:
Pan Horizontal: A câmera pode girar para a direita e para a esquerda, para
cima e para baixo.
42
imagem; (2) Zoom out - distanciamento de uma imagem; (3). Grande angular -
Imagem em 360 graus.
12.3. Exercícios
43
b) Escolha uma parte do filme “Vertigo” de Alfred Hitchcock e tente decuplar os
movimentos de câmera e enquadramentos utilizados nele.
44
13. CINEMA NO BRASIL
Isso são curiosidades, mas de fato nosso primeiro filme mais importante
se realizou em 1931 e se chama “Limites”, de Mário Peixoto, uma das maiores
realizações do ainda chamado Cinema Silencioso; considerado pela crítica
especializada o mais importante filme do Brasil de todos os tempos.
Vamos ao exemplo de alguns roteiros, antes de entrarmos na forma ou formula
de sua composição.
45
“Limite”, de 1931, realizado por Mário Peixoto, lenda viva do nosso cinema
mudo. Peixoto com seu filme “Limite” teve a façanha de realizar uma das
maiores obras cinematográfica nacionais de todos os tempos, quer seja pela
perfeição técnica, pela direção de ator, como pelos enquadramentos propostos.
Apreciem este roteiro de preferência assistindo o filme e comparando a escrita
cinematográfica e seu resultado na tela.
Drama feito todo ele em feed. back aonde duas mulheres e um homem vão
rememorando o passado. Todos estão num barco às derivas, prestes a desistir
da vida e do remo. Uma das mulheres é fugitiva da prisão local; outra é uma
sofredora e não se sabe por que; e o homem foge de uma paixão perdida.
ROTEIRO:
Mulher da proa = 1
Outra = 2
(1) Close- up - O chão - terra
(2) Close-up - Máquina desliza terra - Terra – mais terra – máquina levanta
(3) Long shot (plano geral) – terra - máquina abaixa
(4) Close up - terra
(5) Fusão - Rosto da mulher – braços de homem algemados na frente
– expressão de olhar –
46
(6) Fusão - sai rosto fica algema
(7) Fusão - Sai algema voltam só os olhos - insiste nos olhos
(8) Fusão - Sai olhos aos poucos e nota-se coisa brilhante movendo-se
- mais nítido – movimento – movimento – olhos somente
- por completo mar é nítido – Tempo
(9) Fusão - olhos só
(10) –Fusão - Rosto inteiro de mulher
(11) Following to shot (seguir assunto com a câmara):
- barca – mulher na proa sentada – rasgada- suja - fatigada
- ( mulher dos olhos) - agitada
(12) Following to shot - mulher da proa
(13) Shot (Tomada) - Homem fundo do barco caído de bruços remo numa mão
(14) Shot - Ponta do remo n´água movendo-se
(15) Shot - Outra mulher - descabelada-rasgada, que parece dormir
- no meio de latas de conserva – biscoitos etc.
(16) Following to long shot (câmara acompanhando a tomada) - barca
(17) Fusão - céu – tempo ruim à espreita
(18) Fusão long shot - mais ou menos de cima da barca
(19) Shot - mulher 1 espreita o horizonte – olha o céu
(20) Close-up - cabelo mulher 1 - emaranhado e os dedos ela passa por eles
(21) Following to close-up – pernas da mulher e pés que num movimento de
ansiedade esbarram no homem
22) Shot - homem agora – olham-se – ansiedade
(23) Shot - rosto homem
(24) Shot - rosto mulher 1
(25) Shot de cima - homem come e mulher abre latas – mulher corta dedo
- mergulha na água do mar e continua a ajudar
(26) Shot - Homem e mulher olhando-se e comendo – de vez em quando olha
para mulher 2
47
(27) Shot – mulher 1 de costas para homem olha o dedo cortado
Uma pequena obra prima que realizaria em 1931 a revelia de seu pai, que
provavelmente não gostava da ideia de ter um filho cineasta. “Limite”, segundo
o próprio Mário Peixoto foi concebido enquanto ideia em Paris, na França, em
48
1929. Seu filme, considerado um marco brasileiro do chamado “Cinema
Silencioso”, foi concebido sem narrativa, mas como uma lista de “shorts” -
versos visuais; num verdadeiro trabalho que pode ser definido como cine-
poema. O único do gênero no país e entre os maiores do cinema internacional.
Depois de “Limite”, Peixoto jamais conseguiria realizar outro filme. Todas as
suas outras tentativas de cinema são projetos inacabados. Mário Peixoto
faleceu no Rio de janeiro no dia 2 de fevereiro de 1992 .
Exemplo de outro roteiro exemplar. Glauber Rocha, com seu filme “Deus e
o Diabo na Terra do Sol”, de 1964, de narrativa ágil, moderna, modificaria a
história do cinema brasileiro – Cineasta superlativo, sua obra foi uma dos mais
premiados de nossa cinematografia. A saber: Prêmio da Crítica Mexicana -
Festival Internacional de Acapulco, México, 1964; Grande Prêmio Festival de
Cinema Livre, Itália, 1964; Náiade de Ouro - Festival Internacional de Porreta
Terem, Itália, 1964; Troféu Saci/ Melhor Ator Coadjuvante: Maurício do Valle,
1965; Grande Prêmio Latino Americano - I Festival Internacional de Mar del
Plata, Argentina, 1966.
49
SINOPSE: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” - Lançamento: 10 de julho de
1964 - Duração: 2h05 m.
ROTEIRO:
CANTANDOR (OFF):
50
Manuel e Rosa viviam no sertão / trabalhando a terra com as próprias mãos /
até que um dia, pelo sim, pelo não / entrou na vida deles o santo Sebastião /
Trazia bondade nos olhos / Jesus Cristo no coração.
Cena 3: Manuel chega à sua casa, salta do cavalo e dirige-se à sua mulher
Rosa , que esta batendo pilão, no terreiro.
MANUEL – Mãe também num acredita. Mas eu vi. Ele me olhou aqui dentro. É
o milagre, Rosa, é o milagre!
Cena 5: Feira na cidade. Manuel vende a farinha que produziu com Rosa. Anda
pela feira. Escuta um violeiro
VIOLEIRO (Canta):
51
Cena 6: Manuel anda pelas ruas da pequena cidade olhando as casas
comerciais, cruza a zona de compra e venda de animais, examina um cavalo.
Chega a um curral onde esta o coronel Morais.
MANUEL – Sim sinhô. Era onde tinha água. Foi mordida de cobra. Trouxe doze
vacas. Queria fazer a partilha para ajustar as conta.
MORAIS – Num tem conta pra acertar. As vacas que morreram eram todas
suas.
MANUEL – Mas Seu Morais; as vacas tinha o ferro do sinhô. Num pode ser
logo as minha, que sou um home pobre. Foi azar, mas é a verdade! As cobra
mordeu as rês do sinhô.
MANUEL – Dá licença outra vez, Seu Morais. Mas que lei é essa?
MANUEL – Não sinhô, só tou querendo saber que lei é essa que num protege
o que é meu.
MANUEL – Mas, Seu Morais. O sinhô num pode tirar o que é meu.
52
Manuel puxa o facão e mata o coronel Morais.
CANTADOR (OFF)
“Meu filho, tua mãe morreu / Não foi de morte de Deus / foi um tiro que jagunço
deu.”
GLAUBER ROCHA
53
seu filme "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro". Nesse ano Glauber
Rocha tem seu nome inscrito na lista negra do SNI.
54
14. O ENREDO O ARGUMENTO E O ROTEIRO: TUDO É CINEMA
Bem, agora que você já viu dois exemplos de roteiro, vamos ao que
interessa: sua construção. Um filme começa no Argumento e termina na
Montagem. O roteiro não é mais do que um argumento desenvolvido em cenas,
falas e ações. Todo argumento para existir tem que ter um enredo. Então,
antes mesmo de ver o que é argumento, vamos compreender o que é um
enredo.
O ENREDO:
Agora que se sabe o que é uma ação em cinema, fica mais fácil
compreender o que é um enredo, pois se trata da sucessão de acontecimentos
de uma história; as intrigas de um romance, uma novela, um conto, um roteiro
de cinema ou de TV. Todo bom enredo se desenvolve segundo uma sequência
de ações. O enredo faz parte do argumento de um filme. Está em todo roteiro.
Diria que o enredo é a alma de uma narrativa quer seja para cinema ou para a
literatura.
EXERCÍCIO:
14.1. O argumento
56
se tornaram argumentistas de cinema, com relativo sucesso; a escritora
cearense Raquel de Queiroz e o poeta paulista Guilherme de Almeida. Raquel
de Queiroz inclusive ajudou no argumento e no próprio roteiro do filme “O
Cangaceiro”, dirigido por Lima Barreto em 1953, com sucesso estrondoso no
Brasil e no Exterior, e que lançaria o gênero de filmes de Cangaço no país. “O
Cangaceiro” foi vencedor do Festival Internacional de Cannes, na década de
1950, como melhor filme de aventura e melhor trilha sonora, e representou um
divisor de águas do cinema nacional. A partir daí muitos filmes e séries foram
criadas dentro do gênero Cangaço, inclusive a obra prima que tem parte do
roteiro nesta apostila, realizada em 1964, “Deus e O Diabo na Terra do Sol”, de
Glauber Rocha.
14.2. O roteiro
Todo roteiro, quer seja para documentário ou ficção, tem uma estrutura
básica: Introdução (o início da história); Desenvolvimento (os acontecimentos
ordinários e as sequências e consequências da ação de uma história); o
Clímax (suspense necessário à dinâmica da história) e a conclusão
(Encerramento da história quer seja com um final conclusivo ou não). Um
roteiro pode ter quanto clímax for necessário à dinâmica da história, mas tem
57
que ter dentre eles o que chamamos de Plôt, ou Clímax Principal, que é a
grande virada de um enredo. Isto é: Quando descobrimos a “verdade” da
trama.
Escaleta.
14.3. Escaleta
58
15. O ESQUELETO DE ROTEIRO; PRIMEIRO SEGUNDO E TERCEIRO
TRATAMENTOS DE UM ROTEIRO
Para resumir todo conhecimento sobre roteiro visto até aqui, podemos
considerar que o segredo da qualidade de um filme está no desenvolvimento
da ação, que deverá ter quatro etapas fundamentais de criação:
Introdução;
Desenvolvimento;
Clímax;
Conclusão.
59
Essa é a etapa mais demorada de um roteiro, por isso mesmo pode levar
de três meses a muitos anos para ficar pronta. O roteirista só passará desse
tratamento para o próximo quando considerar resolvidas todas as soluções da
história.
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Obs.: Um novo cabeçalho é necessário cada vez que muda o lugar ou o tempo
de uma ação. Toda cena tem seu cabeçalho. Todo roteiro deve ser escrito na
fonte Courier News 12 ou 14. Vejam abaixo como fica a estrutura de um roteiro
técnico de um filme
“O GRANDE MOMENTO”
60
UM FILME DE ROBERTO SANTOS
1 – Roteiro Técnico
INTRODUÇÃO:
Cena um
A produtora;
Os atores;
A equipe técnica.
JOSÉ E ANGELA
2 – P. F. I. Câmera normal
Estafeta (3/4 COSTAS – C.Q,) volta-se (PERF. E.), verifica
o número da casa com o do telegrama que está no maço,
Ruídos de automóveis.
apanha-o e aproxima-se do portão (TR. FR.), fazendo
menção de tocar a campainha. Gritos.
Interior – casa Zeca – sala – manhã.
Pregões.
3 – P. A. câmera normal
Zeca (3/4 FR. – C.Q.) fecha rapidamente a gaveta de uma
cômoda e olha preocupado (CORR. E. SINCR.) em direção
a porta (E), reflete indeciso em atender ou não à
campainha, e decidindo volta o rosto (CORR. D. SINCR.),
chamando (3/4 COSTAS – E. Q.), na direção da cozinha,
Som da campainha.
que se entreve pelo corredor que a une a sala.
62
Cecília (COSTAS – D. Q.), lavando louça na pia da cozinha ZECA: Mãi! Qué atendê?
volta-se.
Calma! Não é da responsabilidade do roteirista fazer todas essas
marcações técnicas de plano e enquadramento e sim ao diretor de fotografia
junto com o diretor do filme. O roteirista não saberá tudo o que eles sabem,
mas precisa pelo menos ter uma noção do que isso significa saber fazer um
cabeçalho (Interna/ externa - espaço - tempo), dividir seu roteiro em texto e
imagem e entregar o terceiro tratamento de roteiro enxuto para a colocação
técnica dos enquadramentos e movimentos de câmera pelo diretor.
A criação técnica de um roteiro não é fácil, mas ainda assim é uma das
fases mais simples de uma produção cinematográfica, pois depois do roteiro
definido, essa parte é mecânica e cabe a outros profissionais. O que cabe ao
roteirista de fato é bem mais difícil, que é o desenvolvimento do conteúdo de
um filme, ou seja, realizar um filme que tenha razão de ser, que possa contar
uma história interessante, que acrescente algo à vida do público que vai assisti-
lo. Um filme que, mesmo sendo apenas de entretenimento, provoque alguma
reação ou emoção no público pagante.
63
16. OS PERSONAGENS
64
fiel escudeiro Sancho Pança, do escritor renascentista Miguel de Cervantes; ou
mesmo os românticos e emblemáticos casais de Shakespeare cuja história se
passa na Idade Média, como Romeu e Julieta; ou os monstros famosos da
literatura do século XIX que reinam até hoje no cinema moderno, como
Frankenstein e Drácula, ou mesmo as personagens trágicas gregas vindas lá
da Antiguidade, como Édipo, Antígona e Hércules. Ou personagens de
quadrinhos que ganharam vida no cinema, como Batman, criado por Bob Kane,
Super-Homem, da dupla de autores Joe Suster e Jerry Siegel, ou ainda os que
foram do cinema para os quadrinhos, como Mickey Mouse, a mais famosa
criação de Walt Disney. Trata-se de criações tão fortes que ultrapassaram seu
tempo histórico, mantendo o mesmo vigor de quando foram criados. Tornaram-
se mais importantes, ou pelo menos mais conhecidos e imediatamente
reconhecidos por seu público do que seus criadores.
Coube a eles todos dar vida e se tornar a razão de ser de seus enredos.
Sustentam-se sozinhos, pois são o ponto alto da criação de suas narrativas.
Não é fácil criar personagens emblemáticas como nesses exemplos, mas,
mesmo que o roteirista não consiga criar seres tão especiais, o que houver de
personagens em uma história deverá ser um dos principais pontos de criação
dessa obra. Para o bem e para o mal, elas são os pontos luminosos de
qualquer história, tanto faz se para a escrita, a literatura, o teatro, o cinema ou
a TV.
65
E no Brasil, como estamos? Temos os personagens emblemáticos de
machado de Assis; temos outros grandes personagens literários como
Diadorim e Riobaldo, de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.
Temos as personagens emblemáticas de José de Alencar, como Iracema, a
índia dos lábios de mel, ou a portuguesa Ceci e o nobre índio Peri. Temos as
adoráveis personagens infantis de Monteiro Lobato: Pedrinho, Narizinho, Emília
e Visconde de Sabugosa; as de Érico Veríssimo, como o capitão Rodrigo e Ana
Terra, da saga “O tempo e o vento”; as famosas personagens de Jorge Amado,
como Gabriela, Tieta do Agreste, Dona Flor etc. Apesar disso, quando se trata
de roteiros, nossas produções de personagens têm sido muito falhas. Tirando
algumas poucas novelas de TV e as importantes peças de teatro de Nelson
Rodrigues e de Plínio Marcos, muitas vezes adaptadas para o cinema, com
suas personagens sofridas e marcantes, esse é um dos pontos negligenciados
da filmografia nacional.
1º Passo:
66
Lembre-se de que uma personagem começa pela concepção física, que
deve ser coerente com a sua concepção psicológica. Essas duas
características juntas são determinantes para a construção de diálogos.
Por isso, quem sabe criar bons personagens saberá com certeza
desenvolver bons enredos, excelentes argumentos e notáveis roteiros.
2º Passo:
67
sedutoras de duas séries de sucesso da década de 1950: “Gení”, a doce e
atrapalhada gênio da lâmpada da série “Geni é um Gênio” e a bela bruxinha
cheia de expedientes “Samantha” da série “A Feiticeira”.
3º Passo:
68
para trabalhar contra o protagonista, seria o vilão. Mas vale lembrar que
esse antagonista não tem nada a ver com qualidades imorais ou morais,
pois ele pode em alguns casos ser o bom da história, e o protagonista
ser o mau. O importante é que ele seja sempre aquele que vai contra o
personagem principal, e por isso mesmo o elemento que fará o filme
girar, pois a saga do herói depende de uma tarefa a cumprir e tanto
melhor fica o filme se essa tarefa for prejudicada em sua conclusão por
alguém.
69
Num roteiro, por ordem de entrada, antes da história desenvolvida, o
escritor tem que colocar, já na primeira página, logo depois do título da obra,
seu grupo de personagens principais e secundários. Os personagens principais
devem ser colocados por ordem de importância e ter agregado a eles uma
descrição de suas características físicas e psicológicas. Já os personagens
secundários podem ser indicados apenas segundo suas ocupações; por
exemplo, o soldado; o vizinho; o faxineiro, o entregador de pizza etc. Ainda
sobre personagens, um roteirista precisa estar ciente da enorme importância
que eles ocupam no imaginário das massas; por isso mesmo saber de sua
responsabilidade ao criá-los. Um bom exemplo de “herói maluco” está no
Batman, um homem que se veste de morcego e fica pelos telhados e ruelas
dando soco nos bandidos. Ele é tão biruta quanto seu antagonista e arqui-
inimigo Coringa. Os dois funcionam como se fossem a cara e a coroa de uma
única moeda, e por isso tanto encantam o espectador.
70
Em teoria, os arquétipos junguianos referem-se a formas subjacentes
pouco claras ou aos arquétipos, como tal, que surgem de imagens e motivos
como a grande mãe, a criança, o malandro, o sábio e a morte, entre outros. A
história, a cultura e o contexto pessoal moldam essas representações
manifestas, dando-lhes assim seu conteúdo específico. Essas imagens e
motivos são mais precisamente chamados imagens arquetípicas. No entanto, é
comum que o termo arquétipo seja usado de forma intercambiável para se
referir a imagens de arquétipos. O cinema frequentemente se vale de
arquétipos para construção de personagens (Fig.17)
71
17. CONCLUSÃO
Para o leigo criar é visto como um dom que faz parte de um processo
quase místico de inspiração. Isto é: trata-se de uma espécie de centelha divina
que só alguns iluminados são capazes de receber. Mas, para o artista as
coisas não funcionam bem assim. Nos meios de criação quer seja do teatro,
cinema, literatura, arquitetura e outros, tem-se como regra que criar se trata de
90% de esforço e apenas 10% de inspiração. Claro que na prática todo artista
sabe que de nada adiantaria essa quota gigantesca de esforço se ao lado dela
não existisse o que chamamos de “talento”. Sim, talento é a palavra mágica
que pode substituir de forma mais racional e democrática a ideia de “dom”.
72
O talento pode vir do berço ou da forma como algumas crianças são
educadas, pode preexistir numa personalidade singular ou não, com a
vantagem de que também pode ser conquistado, descoberto pelo próprio
indivíduo ao se exercitar em determinada área. Isto é, talento pode ser
desenvolvido. Entretanto, talento desperdiçado não é nada; mas esforço
direcionado pode vir a se transformar em criação. A medida que o roteirista vai
treinando e aplicando seu conhecimento de roteiro, também vai aprimorando
seu talento.
Uma pessoa pode nascer, por exemplo, com uma bela voz e muita
afinação, mas nem por isso se transformará numa cantora. No entanto uma
pessoa sem grande voz, mas com muita vontade de cantar, garra e estudo
pode alcançar patamares tão altos de desenvolvimento artístico que de fato se
tornará uma grande profissional da área. Talvez haja algum exagero de minha
parte nessa colocação sobre esforço e talento se pensarmos em todas as
categorias de arte existente, pois de fato algumas delas mais do que outras
dependem sim de certo “dom” preexistente. Por exemplo, afinação para o
canto, facilidade para o desenho, flexibilidade para a dança etc. Mas quando
falamos em cinema, e principalmente em roteiro isso não se aplica, já que um
escritor pode aprender a ser roteirista e é disso que trata nossa oficina. Dar
instrumentais necessários para que os interessados possam compreender o
necessário para se profissionalizar nesta arte e ofício.
73
BIBLIOGRAFIA
BORGES, Jorge Luis. Cinco Visões Pessoais. São Paulo, Unb, 1985.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
GODARD, Jean Luc. Escrever com a Câmara. São Paulo, Crisalida, 2010
(Clássico).
74