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Resumo:
A dissertação de mestrado Arquiteturas Fílmicas discute sobre os pontos de
convergência entre arquitetura e cinema. Demonstra como a existência da
arquitetura, seja ela fictícia ou real, influencia nas peças cinematográficas e
como o cinema, ao alcançar maior público, traz à tona reflexões sobre a teoria
da arquitetura e do espaço. Para estabelecer o processo de construção do
pensamento arquitetônico no cinema, o autor realiza análises de alguns filmes
e de suas respectivas arquiteturas e espaços urbanos representados como
espaço fílmico. Ao longo dos capítulos, podemos perceber que a arquitetura é
crucial para legitimação do espaço representado e introduz a questão do tempo
e movimento, de modo que exerce uma influência direta na narrativa. Outra
implicação é de como esse tipo de representação reflete o espaço, a realidade
em que vivemos, e como o cinema pode manipular certos aspectos para que
pareçam superlativos, com a finalidade de crítica ou reflexão. Além disso, essa
dissertação, em uma de suas últimas análises, propõe que o sentido tradicional
do espaço seja repensado, de modo que traga novas perspectivas à teorização
das arquiteturas fílmicas.
Fichamento:
“O cinema pode ser considerado, junto com a arquitetura, uma das artes onde
o sentido espacial é mais forte, já que ambos são artes espaciais e temporais,
que se desvendam via trajetórias e ângulos de visão. A arquitetura enquanto
agente ativo da legitimação espacial interna do cinema nos permite várias
leituras, funcionando como uma espécie de arquitetura marginal, diferente
daquela a que estamos mais habituados. ” (pg. 16)
“Apesar dos estudos mencionados, pouco se tem dito sobre esta que talvez
seja a forma de manifestação arquitetônica mais presente no imaginário das
pessoas de hoje em dia, tamanha a penetração do cinema na sociedade atual.
Não há mais como se conceber a arquitetura contemporânea sem as
influências das mais diversas formas artísticas, mediadoras entre ela e seu
próprio público, desacostumado a discuti-la diretamente. ” (pg. 23)
“Sabe-se que a arquitetura que nos é mostrada nos filmes difere da realidade
percebida. A subjetividade com que vemos o espaço fílmico é fruto de um
sistema de representação cujo recorte da realidade o condiciona.” (pg. 35)
“O enquadramento, responsável pelos recortes do espaço fílmico, tem relação
direta com a composição espacial arquitetônica; enquanto enquadramento e
montagem são códigos compositivos bidimensionais no cinema, na arquitetura
são tridimensionais (isto se levarmos em conta apenas o espaço real
construído, já que no plano do projeto os códigos são também bidimensionais).
Nesta capacidade de imaginação do movimento real, articulada não só por
movimentos de câmera, mas por enquadramentos, planos e montagem, a
arquitetura é considerada por Sergei Eisenstein predecessora do cinema.” (pg.
36-37)
“Contudo, mesmo que vinculado ao real, o espaço fílmico está sujeito, por ser
representação, à maneira subjetiva com que cada espectador o percebe, e a
própria ilusão de movimento gera uma construção mental distante do espaço
real que vivenciamos fora das telas.” (pg. 46)
“As imagens no cinema têm, sob esta ótica, um forte vínculo com o real,
existindo ao seu lado, sendo análogas aos objetos, seus duplos, e estando
ligadas à realidade de onde foram obtidas, numa relação de moldes e
modelos.” (pg. 56)
“Em geral o espaço fílmico não se parece exatamente com o real do qual é
representação, já que sofre extrema influência do quadro que recorta a imagem
e limita o campo de visão do espectador, não havendo como não sacrificar a
continuidade dentro deste esquema. Tudo é uma reconstrução, estando longe
de funcionar como substituto para a experiência direta da arquitetura. Mesmo
admitindo que o espaço fílmico e o real sejam bem diferentes, o que interessa
aqui é que a representação do espaço no cinema possa contribuir para a
revelação de outros aspectos e formas de se enxergar o fenômeno
arquitetônico. Para isto constrói-se uma representação mental ao longo do
filme, indo-se além da percepção apenas visual.” (pg. 65)
“As pistas visuais dadas pelo espaço fílmico revelam muitas vezes a
interioridade dos personagens. Ao usar a arquitetura e o urbano para tecer
comentários sobre aspectos psicológicos e sociais o cinema torna-se, segundo
Katherine Shonfield, um veículo único de intimidade visual.100” (pg. 79)
“A imagem criada pelo cinema acaba por atuar como base para criações
sempre envoltas nos mais variados aspectos que moldam as sociedades de
cada tempo, retratando não só sua estética, mas seus hábitos e pensamentos.
É por isso que, quaisquer que sejam os espaços apresentados pelo cinema,
sejam eles mais ou menos explorados, podemos ter a garantia de ter às vistas
material para estudo altamente impregnado de potencial articulador das várias
facetas do tempo em que foi produzido. Ao se tornarem cada vez mais
complexas, as fronteiras entre o real e suas representações cinematográficas
têm ficado cada vez mais sobrepostas - a partir disto é que se fala de um
espaço imaginário, moldado por suas representações nas mais diversas mídias
e manifestações artísticas.” (pg. 184)
“(...)as arquiteturas fílmicas vão muito além do que o sugerido por uma simples
leitura superficial do cinema e que elas têm tantas condições de se afirmarem
como estruturas representantes e como discurso quanto seus exemplares
arquitetônicos do mundo real, pois nos seus níveis mais básicos a arquitetura e
o cinema têm afinidades inatas. Plano, construção, roteiro, montagem –
arquitetos e diretores de cinema procedem por rotas paralelas para criar seus
trabalhos.” (pg. 188)