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o estudo dos processos de criação poderia levar a pesquisa a um campo ampliado, trazendo
reflexões acerca da fotografia e das artes visuais contemporâneas, problematizando a ontologia
da imagem e as relações entre tecnologia e inovação; arquivos e memória; realidade e ficção.
. A partir dessa leitura, sigo em rota oposta àquela que associa a fotografia à objetividade e à
materialização do real, uma mentalidade amplamente difundida ao longo de todo o século
XX. Admitindo que a linguagem necessariamente modifica as relações espaço- -temporais,
ressalto seu caráter mediador e criador, capaz de elaborar outras cronologias e planos
espaciais
6 [...] pois não basta apenas inscrever todas as coisas e acontecimentos dentro de um “quadro”
ou uma “perspectiva”. Trata-se de procurar sempre as relações e inter-retro-ações entre cada
fenômeno e seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma modificação
local que repercute sobre o todo e como uma modificação do todo repercute sobre as partes.
Tratase, ao mesmo tempo, de reconhecer a unidade dentro do diverso, o diverso dentro da
unidade; de reconhecer, por exemplo, a unidade humana em meio às diversidades individuais e
culturais, as diversidades individuais e culturais em meio à unidade humana. (MORIN, 2003, p.
25).
Dessa forma, o sujeito não está separado da coletividade, os acontecimentos não estão
dispostos isoladamente em uma linha do tempo evolutiva, o verbal e o visual estão
necessariamente em interação, as linguagens artísticas são fluidas e dialógicas.
instantâneo versus durativo; máquina versus artesanal; autoria individual versus coletiva;
objetividade versus subjetividade; funcionário versus autor; realidade versus ficção; fato versus
imaginado; produto cultural versus intervenção cultural; imagem versus verbal; memória
individual versus coletiva
o presente trabalho tomou forma, estabeleceu vínculos teóricos e iniciou, a partir da obra de
Neves, uma ampla discussão sobre o criar.
O criar imagens a partir da cidade, tendo a cidade como tema e pano de fundo, duas
complexidades visuais e dinâmicas sociais.
A fotografia direta, aquela cuja cena é revelada em imagem tal como capturada; a do
positivo direto ou, ainda, a que reapresenta seu referente, o objeto envolto pelas
circunstâncias entendidas como realidade, seria oposta à versão fotográfica expandida. A
expansão estaria materializada na obra indireta, configurando a ficcionalização ou, ainda, a
abstração. Na modalidade indireta, aquilo que se vê estaria distante do objeto fotografado.
Surge então outra pergunta: toda fotografia direta está próxima ao referente e, dessa forma,
não é expandida?
s. Assim, entendo que associar positivo direto à “realidade” e a fotografia expandida à ficção
demonstra-se um esforço pouco prolífico.
A invenção, por sua vez, associo ao experimentalismo técnico e conceitual. O autor conclui,
ainda no artigo, que a fotografia expandida apresenta três tipos de interferências: no objeto,
no aparelho e na própria linguagem.
Ao propor o termo neopictorilismo, Baqué afirma que este retomaria dos pictorialistas “[...] o
direito da fotografia de se distanciar: distância frente a exatidão documental, distância frente a
mecanização, distância frente a reprodutibilidade serial”. (BAQUÉ, 2003, p. 147)
conforme assinala Régis Durand: “uma espécie de definição pela negativa, por assim dizer, uma
fotografia livre de seus usos profissionais e inteiramente no meio da arte contemporânea”
(2002, p. 8).
Henry Peach Robinson, fotógrafo que trouxe contribuições sobre a linguagem no livro Pictorial
Effect in Photography: Being Hints On Composition And Chiaroscuro For Photographers (1892)
– obra que, curiosamente, serviria de tema para o movimento pictorialista – e nos artigos de
sua autoria nos quais reflete acerca do fazer fotográfico. “Aqueles que dizem que a fotografia
não pode mentir, talvez com referência nos próprios e limitados experimentos, têm uma visão
superficial e subestimam imensamente as capacidades da arte”. (ROBINSON, 1892, s.p.)17 e
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A partir da 37
Tempo outro é aquele do então e que, portanto, não podemos localizar na história. Os espaços
outros são construídos a partir de diversas camadas formadas por texturas e cores: desde o
tipo de papel, às pinceladas, sobreposições de fotogramas e intervenções – eles são
igualmente irreconhecíveis de imediato. Esses planos espaço-temporais se interconectam
criando cenas, universos carregados de informações políticas em planos diversos, nem sempre
visíveis, heterotópicos19 (FOUCAULT, 1984, p. 415) e que envolvem os personagens retratados,
produzindo interações entre os elementos visuais e, a partir delas, sentidos – no plural.
al. A partir dessa leitura, sigo em rota oposta àquela que associa a fotografia à objetividade e à
materialização do real, uma mentalidade amplamente difundida ao longo de todo o século XX.
Admitindo que a linguagem necessariamente modifica as relações espaço- -temporais, ressalto
seu caráter mediador e criador, capaz de elaborar outras cronologias e planos espaciais.
Nas discussões sobre a arte, autores contemporâneos, como Cecilia Almeida Salles, Vincent
Colapietro e Georges Didi-Huberman, somam-se aos já citados e nos fornecem um dado geral e
importante: nas mais diversas ciências, há o reconhecimento de um sujeito que age,
transforma, codifica e recodifica a natureza, muito embora este não tenha o controle absoluto
de suas ações e pensamentos. O sujeito-autor que cria a si mesmo e ao seu entorno. Pg40
a imagem fotográfica não estaria presa a seu caráter de índice do real, fadada a reapresentar
tempos e espaços aprisionados, retidos pela máquina, estanques, inegociáveis. Ela
materializa universos outros. A
Então, a câmera era vista como dispositivo autônomo, à espera de um “disparo”, o gesto
humano reduzido a ato mecanizado e industrializado,
A heterotopia segundo Foucault (2001) possui padrões bem definidos: O primeiro princípio
anunciado diz respeito às generalidades das heterotopias, ou seja, todas as sociedades as
possuem, embora de formas diferentes. Ele mostra que muitas heterotopias estão
desaparecendo, como a tradição da "viagem de núpcias”, a qual a defloração da moça não
poderia ocorrer em “nenhum lugar”, e outras florescendo como uma heterotopia de desvio,
como as casas de repouso e as clínicas psiquiátricas, pois em uma sociedade onde o lazer é
regra, o repouso torna-se uma patologia. O segundo princípio afirma que uma sociedade
pode ao longo do tempo modificar os significados desses espaços heterotópicos. Foucault
usou como exemplo o cemitério, que até o fim do século XVIII, estava arraigado nos centros
das cidades, pois nessa época se acreditava efetivamente na ressurreição dos corpos e na
imortalidade da alma, o que constituiu toda uma hierarquia de sepulturas, o ossuário no qual
os cadáveres perdiam até o último traço de individualidade, havia alguns túmulos individuais, e
depois havia sepulturas dentro das igrejas, mais adiante ele migra para as periferias das
cidades, pois o tema da doença disseminada pelo contágio dos cemitérios persistiu no fim do
século XVIII, e foi simplesmente ao longo do século XIX que se começou a processar a remoção
dos cemitérios para a periferia. Os cemitérios constituem, então, não mais o vento sagrado e
imortal da cidade, mas a “outra cidade”, onde cada 4 família possui sua morada sombria. O
terceiro princípio afirma que as heterotopias possuem o poder de justapor o lugar existente,
criando novas realidades que são incompatíveis, o caso do teatro, cinema e dos jardins. “O
jardim tradicional dos persas era um espaço sagrado que devia reunir dentro do seu retângulo
quatro partes representando as quatro partes do mundo, com um espaço mais sagrado ainda
que os outros que era como o umbigo, o centro do mundo em seu meio (é ali que estavam a
taça e o jato d’água): e toda a vegetação do jardim devia se repartir nesse espaço, nessa
espécie de microcosmo. Quanto aos tapetes, eles eram, no início, reproduções de jardins”
(Foucault, 2001, p.415). O quarto princípio sugere que as heterotopias estão frequentemente
associadas à recortes no tempo, o que se pode chamar de heterocronia. Considera-se como
exemplos os empreendimentos habitacionais que focam em uma arquitetura desconectada
com o seu tempo, que mesmo em um período pós-moderno para arquitetura buscam motivos
clássicos, góticos ou ecléticos. Já o quinto princípio fala do sistema de fechamento, que por um
lado é impenetrável causando o seu isolamento, e por outro torna penetrável como um filtro,
selecionando, como determinados lugares os quais se acessa somente sendo convidado ou
pertencendo a um determinado grupo. O último princípio refere-se à própria função da
heterotopia, no qual se cria um espaço de ilusão, um espaço que se assume outro espaço além
do real, com características forçadamente ilusórias. Foucault coloca como exemplo o navio,
como um espaço que reúne todas as características heterotópicas
É possível criar um lugar heterotópico de criação ?as criações e intervenções de arte s]ao
heterotopias ?