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LEITURA CRÍTICA
Lina Bo Bardi
A abordagem humanista da arquiteta moderna ítalo-brasileira Lina Bo Bardi em seu
processo criativo é percebida ao se percorrer pelo processo criativo da arquiteta, que
demonstra grande atenção à materialidade e sensorialidade do espaço a ser construído, a
arquiteta valorizava os aspectos experienciais da existência humana e da relação
fenomenológica entre ambiente e usuário.
Lin Bo Bardi esteve atenta à posição da vanguarda modernista brasileira colocada por
autores como Mario de Andrade e Lucio Costa, ela colaborou reforçando o valor das
técnicas construtivas plenas de saberes para “fundação de uma cultura presente e
consciente, legítima e autóctone.” (GRINOVER, 2017, p.3)
“Lina Bo Bardi também fez sua crítica, transitando entre a definição de uma
racionalidade construtiva e uma poética formal com o objetivo de estruturar um
significado para a arquitetura enquanto arte coletiva e em nome das urgências
sociais do país.”
(GRINOVER, 2017, p.4)
Ao longo de sua carreira, fortaleceram-se seus preceitos de uma arte ligada à indústria,
de recuperação do significado da simplificação formal, da noção de cultura como fato útil,
da técnica artística que se revela porque há o trabalho valorizado, e então, uma chave de
progresso.
A Dra. Arq. Marina Grinover ainda afirma que Lina pretendeu derrubar uma distância
social que aparecia nos objetos produzidos do cotidiano no Brasil, mas que este suposto
romantismo seria derrubado depois do golpe militar de 1964, ela diz:
Em meio à uma crise de sentido que pedia ao mesmo tempo uma revisão dos valores
sociais da arte, e um rompimento dos sistemas tradicionais de percepção de exposição da
obra na relação com o público com o advento da cultura da cultura de massas e da
propaganda, Lina decidiu ir de encontro a um outro processo para fazer e incluir os
valores estéticos e sociais: projetar na obra.
Ainda segundo a Dra. Arq. Marina Grinover, esta atitude artística de Lina que
proporcionou a criação de lugares onde o espírito público se exercita de modo muito
democrático e liberto como no Sesc Pompéia.
Interlocução: Sesc Pompéia e a ocupação de Olafur Eliasson
O estudo de caso será focado no processo que Lina desenvolveu ao projetar o Sesc
Pompéia, no qual a arquiteta transferiu seu escritório para o canteiro de obras, o que
demonstrou a importância que dava para a experiência sensorial direta com o edifício.
De fato os ambientes desenhados por Lina Bo Bardi para o SESC Pompeia tiveram
a ativa interação entre arquiteta e os mestres de obras e pedreiros durante a sua
execução, o que fez com que diversos ambientes, materiais, técnicas, ou detalhes,
fossem desenvolvidos juntamente com os construtores diretamente em canteiro. O
resultado passa por uma “experiência sensorial direta com o edifício”, em que o
desenvolvimento do corpo no espaço é caracterizado pelas “qualidades táteis que
conferem [ao mesmo] um ar de mosaico de cores, texturas, sensações, percursos” e
movimentos que legitimam cada ambiente ali implantado. (GORNI, 2012, p. 107)
Fig 2. Ocupação “Olafur Eliasson - Your body of work) no SESC Pompéia em 2011. Foto: Haupt & Binder
Podemos pontuar a relevância que esta interlocução nos aponta, no que diz respeito
à arquitetura sensorial, em “Uma nova agenda para a arquitetura” (Nesbitt),
Norberg-Schulz, Frampton e Pallasmaa, no qual constróem suas próprias análises
a investigação através de uma abordagem experiencial e sensorial da arquitetura
mais pautada em sensações, memórias, ambiências (qualidades de ambientes) e
relações entre as partes que a torne uma arquitetura mais prazerosa, ao ser
vivenciada (obra construída) como um todo, em todos os seus aspectos sensórios,
do que apenas “agradável e bela aos olhos” na fachada, no desenho da planta, na
prancheta e na maquete (projeto), ou seja, em sua estrutura formal, achatada e
distanciada do envolvimento corpóreo mais próximo.
BRAGA, Tatiana & GOTO, Tommy & MONTEIRO, Luiz. Ambiente enquanto
fenômeno: ensino de arquitetura na perspectiva fenomenológica. Rev. Nufen:
Phenom. Interd. Belém, 9(2), 24-41, mai. – ago., 2017.
WISNIK, Guilherme. Dentro do nevoeiro. 1ªed. Ubu Editora, São Paulo, 2018.