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Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Professor Orientador Sérgio Rizo Dutra

ARTE E ESPAÇO URBANO


Intervenções Centrais e Periféricas

Natália Maria Machado Côrtes | 11/0134001

Brasília
Junho de 2017

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AGRADECIMENTOS

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SEUMÁRIO?

4 | APRESENTAÇÃO
4 | PALAVRAS-CHAVES
5 | PROPOSIÇÃO, MOTIVAÇÕES E INTENÇÕES

PRIMEIRO ATO – UM BREVE PASSEIO PELO CAMINHAR


8 | DA IDADE DA PEDRA
10 | VIAGEM AO PASSADO: A ANTICAMINHADA RUMO À TRANSURBANCIA

SEGUNDO ATO – CADA CASO É UM CASO


17 | INTERVENÇÕES SOCIAIS
19 | INSTALAÇÕES URBANAS
20 | ANÁLISE DAS OBRAS

TERCEIRO ATO – AH... O INTERVIR


22 | BASES EXPERIMENTAIS
23 | “QUER QUE EU SAIA DAQUI?”
25 | A VILA PÉ DE COR
27 | DAS AÇÕES EM CAMPO
28 | PROCESSAMENTO DE DADOS

30 | CONCLUSÕES E RESULTADOS
32 | REFERÊNCIAS
33 | ANEXOS

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aPRESENTAÇÃO

O presente trabalho visa investigar as intervenções artísticas urbanas centrais e periféricas, com-
preendendo individualmente suas motivações, características, meios, ações, impactos e resulta-
dos, assim como a identificar a correlação existente entre ambos os pontos de atuação, a fim
de entender de que maneira tais manifestações podem se tornar fortes agentes na mudança do
panorama urbano, tirando o foco do capital e trazendo-o para as pessoas, despertando o lúdico e
a reflexão, tornando-se ponto expressivo da natureza de seu entorno, e então, contribuindo social-
mente para a construção de cidades mais justas e equilibradas através das intervenções pessoais
e públicas que atuam na modificação das perspectivas e do espaço.

pALAVRAS cHAVEs

Intervenção urbana artística; arte urbana; centro e periferia; mudança social.

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pROPOSIÇÃO, mOTIVAÇÕES E iNTENÇÕES

O presente trabalho visa estudar as Intervenções Urbanas Artísticas e seu impacto nas zonas cen-
trais e periféricas, visando compreender como estas ações podem se tornar agentes contribuintes
para a reestruturação física e social das cidades contemporâneas.
Buscando compreender o papel da arte e seu impacto simultâneo sobre o ser e o meio, as inter-
venções artísticas se expuseram como as ferramentas mais próximas, interessantes e eficazes ao
campo da arquitetura e do urbanismo em alcançar o conhecimento investigado.
Dentre as incontáveis atuações intervencionistas, as de cunho social e interativo foram toma-
das como referência para estudo e proposição das experimentações em campo. O interesse espe-
cífico nesta ramificação se dá devido a intenção de trabalhar com a reconstrução social e estru-
tural urbana através do desenvolvimento de arte e cultura, visando contribuir de maneira acessível
e sensível para cidades mais saudáveis, justas e igualitárias.
Outro ponto de interesse no estudo do tema está contido nas múltiplas possibilidades de
adaptação das intervenções ao lugar e às pessoas, representando-as. As ações são detentoras
de grande capacidade simbólica e na significação de conteúdos políticos, sociais, estruturais, psi-
cológicos, artísticos de um contexto. Seu caráter representativo preza por ações anônimas, ating-
indo capacidade em expressar os reclames populares e proteger os interventores das recorrentes
repressões governamentais. Geradoras de novas perspectivas, mescla os papéis executores e ob-
servadores. Natural e intrínsecas ao ser humano, se ativa de maneira fluida, orquestrando a voz do
povo e o som local, viabilizando-os, merecendo-os, enaltecendo-os.
O trabalho também intenciona contribuir com a escassa documentação teórica que expo-
nha o tema, relativamente novo e que vem ganhando cada vez mais destaque. Dentre as referên-
cias levantadas e estudadas, estão artigos, teses, livros, projetos e obras realizadas.
O autor Italiano Francesco Careri traz a belíssima obra “Walkscapes – O Caminhar Como
Prática Estética”, onde expõem uma linha cronológica intervencionista através da caminhada. Em
“Intervenções Temporárias, Marcas Permanentes – Apropriações, arte e festa na cidade contem-
porânea”, a autora brasileira Adriana Sansão Fontes compõe com maestria a relação do interven-
cionismo e da significação popular dos espaços, criando o conceito de amabilidade urbana. So-
madas às bases teóricas levantadas e referenciadas, estas duas obras se tornaram basilares à
compreensão do que é e do que trata o intervencionismo.

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Já o estudo prático trouxe a trajetória dos artistas e grupos interventores Hélio Oiticica, Cole-
tivo Poro, Mônica Nador, Boa Mistura, e outros que fizeram referencias práticas importantes na
contribuição tátil interventora. Exemplos concretos de que sim, é possível transformar por meio
da intervenção. Em seus trabalhos, desenvolvem a participação social em todo o processo inter-
vencionista, contribuindo para a expansão do conhecimento e das diversas maneiras possíveis de
intervir. Retratos da transformação libertária provocada pela arte.
Dentre as barreiras encontradas ao longo do processo, levantamento bibliográfico de qualidade
e solidez se tornou um dos momentos mais complexos. Grande parte do conhecimento foi angari-
ado através do contato com artistas interventores, detentores de material e conhecimento. Como
previamente exposto, esta dificuldade transformou em meta a contribuição deste trabalho para
com a sociedade, alargando as bases teóricas disponíveis sobre o assunto.
No sentido oposto, os trabalhos executados em campo através das intervenções propos-
tas culminaram as ideias e o aprendizado adquirido ao longo de todo o processo deste trabalho,
confirmando empiricamente os fundamentos teóricos. A partir destas ações, também se tornou
possível delinear superficialmente as similaridades e as diferenças presentes em intervenções ex-
ecutadas em zonas urbanas periféricas e centrais, abrindo portas para o desenvolvimento de estu-
dos mais aprofundados, capazes de compreender padrões presentes no contexto atual.
O trabalho será então discorrido em três capítulos principais, que transcorrem respectiv-
amente o conceito, estudo e proposição intervencionista. Adentraremos então este universo por
meio de um passeio. Linear e cronológico serão pincelados os momentos que tornaram o devir
como a primeira ação do que hoje é entendido como o intervir.

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Primeiro Ato
um breve passeio pelo caminhar

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Para a compreensão clara da arquitetura atual e do papel das inter-
venções, a viagem de volta aos princípios dos arquétipos arquitetônicos
deve ser trilhada, mergulhando novamente rumo ao nomadismo, os per-
cursos, o menir, o sagrado, e o desígnio de lugar. Reconhecer o processo
histórico onde a construção simbólica se transforma em construção físi-
ca do espaço.

Partindo dos primeiros sinais de nossa espécie até os dias atuais, o processo de movimentação
pela Terra promove o senso de lugar, da geografia e da paisagem circundante. Trabalha a signifi-
cação e o pertencimento, e, portanto, atua diretamente na construção cultural e artística. Enquan-
to os pés rumavam de canto em canto, marcando temporariamente a terra por onde passavam,
as imagens e a compreensão do espaço se pintavam diante da percepção de cada caminhante,
moldando sua visão de mundo. Assim como expõem Careri (2014), peregrinar se torna concomi-
tantemente a leitura e a escrita do caminho, ação perceptiva e criativa.
Ainda no período paleolítico, os percursos traçados davam-se como sulcos na terra. Casuais e
instintivas, as rotas geradas na Idade da Pedra Lascada expunham o nomadismo como retratos,
onde a caça e a busca por abrigo eram os propulsores para a locomoção. Além das pegadas, as
marcas da comunicação figurada permanecem estampadas. As pinturas rupestres encontradas
em abrigos e superfícies rochosas, assim como os fragmentos de ferramentas rudimentares, são
peças fundamentais de nossa memória material, que como pontos, se ligam e remontam o rastro
do homem e sua interação com a cena circundante. Dotados de pequenas habilidades sonoras, e
ainda sem a elaboração de palavras, a comunicação humana se dava por meio do meio.
Com o passar dos tempos, as longas jornadas em busca de alimento e proteção incentivaram a
elaboração de técnicas mais eficientes e seguras para a sobrevivência humana. O domínio do fogo,
o desenvolvimento da agricultura e do pastoreio ao longo do período mesolítico foram decisivos
para o processo de racionalização com que o homem chega a à Idade da Pedra Polida.
Adentrando o período Neolítico, o ser humano adquire mais estabilidade e desenvoltura. A fix-

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ação em sítios permanentes é fruto da fadiga, da busca pela segurança e pela exaustão em ex-
plorar novos ambientes. A sedentarização proporciona mais tempo para o cultivo do intelecto, da
abstração do pensamento, do preenchimento de lacunas que os momentos de frequente mudança
consumiam. O armazenamento se tornou hábito, tanto de alimentos e objetos como dos saberes
adquiridos por meio da prática de explorar. Deu-se a geometria, a metalurgia e a identificação de
elementos da natureza, entre eles a tomada dos astros e o horizonte como pontos de referência.
Logo os objetos se situam a complementar o senso de orientação. Foram construídas as obras
megalíticas, marcos do espaço e do tempo, menires que demarcavam os trajetos do movimento e
do transportar, definindo lugares e suas funções, delimitando o dentro e o fora, e desenvolvendo a
arquitetura. Assim, o vagabundo primitivo desenvolveu o caminhar como ritual, transformando-o
em jornadas sagradas, procissões, peregrinações e até mesmo em danças. Somente no último
século a significação da caminhada foi desassociada da religião e da literatura.
Observando a trajetória humana, a relação dual entre nomadismo e sedentarismo atinge di-
retamente o progresso arquitetônico, e, portanto, se expressa na produção cartográfica. Raciocí-
nio também observado por Careri (2013), mostra que mapas densos com percursos por entre
os espaços de permanência representam o mundo fixo sedentário, em contrapartida aos mapas
nômades, líquidos, com rotas que se cruzam e se sobrepõem, ligando desenhos marcantes na
paisagem, pontos guias naturais.
Durante seu processo de assentamento, o homem desenvolve a agricultura e o pastoreio. En-
quanto os agricultores permaneciam num espaço fixo para a prática do cultivo, o manejo do reban-
ho promovia aos pastores o contínuo exercício do deambulo.
Assim como comparada por Careri (2013), a representação bíblica de Caim e Abel exemplifica
com maestria a inter-relação entre homem e seu ofício e a manutenção do processo intervencion-
ista. Os irmãos Caim e Abel habitam a mesma casa e região. Enquanto Caim é agricultor, Abel
atua como pastor. O trabalho do primeiro está ligado à terra, ao extrair, possuir e governar. Já do
segundo, interage com os seres, é transitório e volátil. Embora ambos modifiquem seu entorno e
compartilhem da vivência da casa e da família, é Abel quem mantém a pratica da caminhada diária
e da caminhada vadia, mantendo ativo o sentimento do andar vago que detém o devir.
A compreensão desta interação total com o meio é primordial para entender como se deu a
adaptação arquitetônica. Para uma vivência fixa como a de Caim, abrigos fortes e permanentes,
feitos de materiais pesados e densos, capazes de suportar as mudanças climáticas e temporais.
Atendendo a mobilidade de Abel, a flexibilidade precisa ser aliada à leveza, à durabilidade e à re-
sistência, visando a execução de peças que sejam capazes de serem transportadas. A lapidação
da arquitetura entre sedentária e nômade acaba por fornecer o abrigo à ambas, cada qual a sua
maneira. Meio e ser se influenciam mutuamente.

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vIAGEM AO PASSADO: A ANTICAMINHADA RUMO À TRANSURBÂNCIA

Pousando no século XIX, encontra-se a ebulição da era moderna. Adentrando o universo europeu,
palco da Revolução Industrial, se apresentam os notórios movimentos de crescimento urbano e da
importância da arquitetura sobre a superfície terrestre. Traços culturais e naturais se combinam,
tendo como resultado a reestruturação da imagem de todo o sistema. A transitoriedade e a muta-
bilidade começam a reproduzir-se em proporções exponenciais, a tecnologia avança e reorganiza
as relações sociais e econômicas. O mercantilismo e a arte se aproximam.
A partir do curso da aglomeração dos povos aparecem as cidades, e com ela, a arte alcança am-
plitude e abertura. O artista urbano, que busca autonomia, quebra sua relação renascentista com a
figura do mecenas, que uma vez contratante e patrocinador, determinava e limitava a produção de
acordo com seus próprios padrões e vontades, tornando o autor apenas um meio de vinculação do
produto desejado. Após a revolução industrial, o artista migra para as urbes onde consegue sub-
sídios advindos do capital por suas livres produções. Retrata a cultura urbana que emerge e na qual
está inserido. Faz de seu contexto temática para suas obras, além de tornar a observação e o per-
ambular verdadeiros instrumentos de trabalho. Explora, cultiva a prática do caminhar e da errância,
do andar despreocupado e da vida boêmia.
Assim se moldou o personagem do Flaneur, famoso arquétipo da experiência moderna, retrat-
ados e descritos a partir do século XIX na poesia francesa de Charles Baudelaire e, mais tarde,
descritos pelo alemão Walter Beijamin como homens do mundo, crianças e vadios. Perambulador,
o Flaneur se tornou herdeiro das tão praticadas caminhadas e expedições exploratórias, fagocitou
o hábito pré-histórico para degurgitar a releitura do ato num novo mundo.
Imergindo no campo estético, é possível encontrar uma linha condutora que traça o contexto
em que vive o artista moderno e como este se torna o espelho do avanço aos tempos modernos.
Autorreferentes, os pensadores da era industrial explanavam as mudanças de seu período ao mes-
mo tempo em que praticavam o exercício da caminhada e da boemia, ou seja, autênticos vagabun-
dos, verdadeiros flaneuristas intelectuais.
Friedrich Nietzsche, nascido na prematura Alemanha industrial, levanta três principais pontos
onde se dão a lógica fundamental da arte. Num primeiro instante, o filólogo marca através da her-
menêutica gregas clássica a produção artística onde o objeto, aliado à técnica e a beleza, é o foco
da produção. O segundo estágio, kantiano, coloca como protagonista o sujeito, aquele que observa
e interage com a obra. Por último, diante da fundação da arte moderna, se encontra no centro o
artista, independente e livre criativo, que trabalha sem organização produtiva ou limite criativo.

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Complementar aos pensamentos de Nietzsche, Karl Marx tange o artista moderno. Apoiado
no comunismo, Marx defende que todos os seres são detentores de potencial expressivo de sua
produção, realizada de maneira autônoma, e os artistas se enquadram neste raciocínio. Frutos do
mesmo período histórico, os dois pensadores observam o crescimento da cidade, de sua produção
e vivência. Enquanto Nietzsche delineia seu pensamento por meio do cientificismo e da arte, Marx
trabalha mais profundamente com a política e descreve o materialismo histórico.
Também alemão, nascido no fim do século XIX, Walter Beijamin compartilha o estilo de vida
vagamundo e incorpora a influência de Nietzsche, dando prosseguimento à expressão das mu-
danças que atravessam o período industrial. Em seu trabalho A Obra de Arte na Era de sua Repro-
dutibilidade Técnica, preenche algumas fissuras e lacunas deixadas dentro campo estético com a
inclusão da tecnologia. Defende a fotografia como responsável pela mudança de relação com a
obra, onde a imagem impressa se torna veículo para o acesso das obras antes restritas aos mu-
seus e galerias, consumidas apenas por um público específico, e as leva para as massas, sem a
necessidade de seu deslocamento. É o próprio retrato da era da produtibilidade. Era ambígua, que
converte e corrompe a arte e a fotografia, transformando-as em meio transmissor de informação
para a propagação de poder.
Moldados pelo contexto urbano, os Flaneurs são espectros econômicos de seu tempo, dos
impactos gerados pelas mudanças industriais capitalistas, das relações de compra e venda, os
impactos da aproximação da arte e do mercado e sua mensuração subjetiva de valores, que tras-
passa a cotação do produto por material e trabalho. Enquanto deambulam, observam e absorvem
a urbanização.
Num movimento pendular, o começo do século XX desenvolve a desconstrução da camin-
hada. Os movimentos anti-walk marcam a desconstrução do andar urbano e da dessignificação
o ato do caminhar em prol da ressignificação das relações entre pessoas, percurso e paisagem.
Essa mudança de perspectiva foi marcada por dois pontos de inflexão do caminhar dentro do
contexto artístico histórico do último centenário. A primeira delas é a migração do Dadaísmo para
o Surrealismo (1921-1924), a segunda acontece com a passagem da Internacional Letrista para a
Internacional Situacionista (1956 – 1957).
No ano de 1921, os Dadaístas provem em Paris uma série de excursões urbanas aos lu-
gares banais da cidade. As caminhadas ignoravam os pontos turísticos tradicionais, priorizando
espaços triviais, que incitavam valores pitorescos, históricos e sentimentais. O ato de recusa ao
glamour do percurso tradicional e das obras arquitetônicas consagradas teve como mote a recu-
peração do espaço urbano adormecido, confrontando e ultrapassando os conceitos do que se
tinha por arte. Niilistas, as andanças pretendiam deixar rastros inconscientes, tendo como único
produto a documentação registrada e as obras escritas na volta dos passeios. As vanguardas sub-
sequentes seguiram o fio condutor introduzido pelo Dadá.

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Expandindo as visitas urbanas para o campo, os dadaístas descobrem o entremeio dos dois
mundos. Altamente Influenciados por Freud e a psicanálise, os antigos seguidores do Dadá se
veem experimentando e criando um novo movimento, onde a análise espectadora através do
caminhar banal torna-se obsoleta, e dá lugar a ação entrópica. Caminham intermitentes entre o real
e o sonho, definindo tal experiência como a deambulação escrita automática no espaço vivo, ca-
paz de revelar as zonas inconscientes, as memórias reprimidas dentro dos indivíduos e da própria
cidade. Em 1924, então, o movimento Surrealista ganha reconhecimento.
Já na da década de 1950, o contexto urbano muda diante dos períodos subsequentes de guer-
ra. A expansão do consciente absorve a política, a psicanálise e as drogas psicoativas. O artista
permanece num “estado de embriaguez”. Acontecem, então, as Internacionais Letristas e Situa-
cionistas. De período e conceitos próximos, relacionam o estar no mundo com as percepções do
indivíduo, balanceado suas ideologias com a prática da implementação.
Neste período, a teórica americana Rosalind Krauss sintetiza astutamente a trama produzida
por objeto-meio-ação através do diagrama da arquitetura no campo expandido. Atuando no vazio, a
escultura toma sua própria forma para interagir com as outras artes. É o negativo entre arquitetura
e paisagem. A contraprodução da não paisagem e da não arquitetura. Assume-se como instalação
e intervenção, ocupando sequencialmente o vazio e o vazio na urbe.
Comparativamente, as subdivisões instalação e intervenção possuem pontos comuns e
destoantes. Ambas são objetos, embora as Intervenções angariem maior peso quanto à experiên-
cia visual, corporal, conceitual e política. Enquanto a primeira pode ser utilizada em locais diversos,
a segunda se compromete com o meio urbano e com o espaço. Esta ainda se encontra na posição
de observação, enquanto aquela fomenta a participação do espectador.
Paralelas às ramificações da escultura, existem ainda os Locais Construção e as estruturas
axiomáticas, relativas ao jogo de ser ou não ser da paisagem e da arquitetura. Uma vez executa-
das, as obras quebram com o estado funcional, com o percurso automático guiado pelo comér-
cio e jornadas de trabalho. Assumem-se como corpos expandidos na paisagem, por vezes dando
continuidade a dessignificância formal por meio da repetição coletiva, raízes da arte previamente
esmiuçadas.
Assumindo um caráter passional-objetivo, a Internacional Letrista de 1953 propõem uma re-
leitura da deambulação surrealista onde a percepção do mundo real e do imaginário são unas.
Fundada pelo parisiense Guy Debord, o grupo letrista defende que a ação começa no sonhar e
termina no agir. Inconsciente e onírica, a corrente abandona a errância e propõem passos certos
para a consolidação da nova cidade. Como exposto por Ivan Chtchegov (1958), dentro das novas
regras do jogo, todo habitante poderia viver em sua catedral. Como nuvens vagariam, atravessando
o ambiente urbano, sobrevoando momentaneamente por sobre sua geografia e experimentando
continuamente a busca de compreender a urbanidade local. Inicia-se assim, o desenvolvimento
da Teoria da Deriva. Como palavras repetidamente ditas, o caminhar abandona os limites e os sig-

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nificados. Desconstruído, ruma a explorar, tendo como valor apenas a construção do próprio ato.
Ao final da década, o pensamento letrista entra em contato com o universo nômade e resgata
o espírito efêmero, das ambiências momentâneas da vida. O produto é a idealização da “Nova
Babilônia”, a cidade utópica desenvolvida pelo holandês Constant Nieuwenhuys embasada na te-
oria da deriva.
“Nossa idéia central é a construção de situações, isto é, a
construção concreta de ambiências momentâneas da vida, e sua
transformação em uma qualidade passional superior. Devemos
elaborar uma intervenção ordenada sobre os fatores complexos
dos dois grandes componentes que interagem continuamente: o
cenário material da vida; e os comportamentos que ele provoca e
que o alteram”
DEBORD, Guy. “Relatório sobre a construção de situações e so-
bre as condições de organização e de ação da tendência situacion-
ista internacional”.

Conseguinte ao letrismo, a Internacional Situacionista se realiza em 1957. Os situacionistas


revisam o modo de vida urbano pós-industrial e ampliam os conceitos previamente concebidos
e se aprofundam nos efeitos psíquicos do meio no ser. O desenvolvimento da Psicogeografia tra-
balha no meio - sendo este conscientemente organizando ou não - assim como o menir e seus
efeitos nos indivíduos. A arquitetura assume o campo conexo entre conhecimento e meio de ação,
articulando menir com o tempo e o sonho. O conceito da Situação Construída retrata um momento
gerado coletivamente dentro da escala urbana em um ambiente unitário formado por um conjunto
de acontecimentos.
O grupo discorre ainda o tema tempo, defendendo menores cargas horárias de trabalho e mais
tempo livre para o desenvolvimento do lúdico. Percebem o capitalismo como criador de necessi-
dades, que traga o tempo livre para o cumprimento de necessidades induzidas, visando o benefício
próprio e a pura ampliação de capital. O urbanismo do século XX deve então renunciar à burguesia,
se reinventar e ser hábil em criar aventuras. Os movimentos anti-walk lançaram as bases para as
vanguardas radicais dos anos seguintes.
A segunda metade do século XX manifesta novas mudanças políticas e sociais. Após uma dé-
cada marcada pela Guerra Fria, as tendências expressionistas abstratas, ainda tão vívidas, já não
abarcavam a sociedade sóbria gerada pela névoa silenciosa que aos poucos se dissipava.
O cenário capitalista apontava para a prosperidade, onde a produção industrial alçava novas
tecnologias, reforçando a cultura do consumo em massa. A arte também respondia a tais estímu-
los, transmutando-se para bem de consumo por meio da Pop Art.

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Reacionário, o Minimalismo então se reduz ao sintético.
A professora em História da Arte e Comunicação pela Escola de Comunicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro Beatriz Lagoa, expõem que o minimalismo expulsa elementos gestu-
ais e pessoais para enfatizar a peça criada. Concebidas intelectualmente antes da produção, as
obras minimalistas, gestadas na pintura, remetem à racionalidade de Mondrian e aos princípios
matemáticos predominantes nas obras construtivistas soviéticas, incluindo o rigor abstrato e de
formas simplificadas de Malevitch. O distanciamento da presença do artista nas obras se fortalece
e, como nas produções fabris intocadas por mãos humanas, a obra fala por si só. Repetitivas,
monocromáticas e simplistas, o produto final busca o esvaziamento do conteúdo semântico.
Consequência do desencanto relativo à sofisticada tecnologia cultuada pelo Moderno e do au-
mento pelo interesse às questões ecológicas, o movimento Land Art soma a insatisfação crescen-
te pela monotonia cultural e pelas formas primárias minimalistas, promovendo o ambiente como a
própria arte. Em 1966, A revista Artforum publica a história da jornada de Tony Smith ao longo de
uma rodovia em construção. O episódio imprime o início da exploração do tema caminho, trabalha-
do primeiramente como objeto e, posteriormente, como experiência. A inoperância de exposições
deste sistema dentro de galerias – a não ser por meio de registros imagéticos – reforça o caminho
histórico trilhado pelas intervenções artísticas, que continuam a ocupar a terra como telas brancas.
A mutação da escultura pode ser compreendida por meio das dinâmicas adotadas por produ-
tores que gradualmente abandonam o minimalismo para adentrar a Land Art. Carl Andre, por exem-
plo, defende a estrada como a escultura ideal. Relativa ao caminhar, é objeto mínimo de ocupação
do espaço sem seu preenchimento. Já Richard Long, se volta drasticamente para o percurso er-
rático, assumindo arte como o próprio caminhar, a ação e o não-objeto. O vazio pré-existente entre
paisagem e arquitetura é novamente posto em voga.
Iniciado nas plásticas, o movimento Land Art reexamina a caminhada e remonta o lugar da es-
tatuária. A nova análise dos elementos formais retira a base do pedestal da estrutura do objeto, que
passa a ser compreendido como um fetiche. Esta quebra realiza o contato da escultura com o solo
e aproxima o observador. Os temas abordados ultrapassam o antropomorfismo e as referências
exploram além do corpo humano e do corpo humano hegemônico, símbolo de poder. O adorno é
entendido como a interação espacial entre obra e loci. A escultura expande o servir à arquitetura
e não se descaracteriza ao mudar de lugar, pois usufrui da projeção espacial em que se encontra
durante todos os seus processos. O novo objeto se envolve do tempo não oficial para tratar da im-
permanência e transitoriedade, não se compromete em perdurar historicamente. Resgata, assim,
as marcas momentâneas dos rastros deixados por sobre a terra. Abre novamente o espaço da
deriva. A transformação do percurso pela arte se torna não arquitetura assim como não paisagem.
Fragmentando valores calcificados, a obra de arte assume mais uma vez o caráter subversivo para
reaver conceitos esquecidos ao longo do tempo.

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O artista plástico interventor Hélio Oiticica se desprende de sua esfera de convívio e passa a
adentrar em novas experiências. Caminhando sem objetivos, se deixa descobrir áreas por ele inex-
ploradas, processo que identificou como Delirium Ambulatorium. No morro da Mangueira, Rio de
Janeiro, se sensibiliza para trabalhar dentro das possibilidades do que se tem e do que se encontra.
Lígia Clark, sua amiga e companheira de trabalho, segue o mesmo ritmo, produzindo a partir de
materiais descartados. Por meio dos Parangolés, Hélio explora a presença do corpo como cau-
sador de vida ao objeto inanimado. O interventor – ordinário – dessignifica o material e a autoria,
para que o uso e o movimento assumam o papel da arte. Uma vez despidos, a matéria é vazia em
importância.
Chegando ao século XXI, a Stalker reinterpreta os espaços banais de Dada e os inconscien-
tes urbanos dos Surrealistas como as amnésias urbanas. Nomeados “transfronteiras”, A memória
reprimida, a rejeição e a ausência de controle produziram um sistema de espaços vazios, como
um mar de arquipélagos, onde é possível derivar, assim como por entre espaços labirínticos da
Nova Babilônia de Constant, futuros esquecidos de Robert Smithson. As urbes expandem expo-
nencialmente, conurbam-se, desaguando e mesclando. Crescem os territórios de transito, contin-
uamente em movimento e transformação, e sem destino fixo. Os espaços urbanos já não podem
ser definidos como nômades ou estabelecidos, devido sua complexidade. A arquitetura passa a
ser vista integralmente como espaços cheios e não mais originalmente como locais construídos
erroneamente.
Hegel disserta sobre a necessidade primitiva da arte, pura representação de si. Em meio ao
contexto terreno, o orgânico se torna imitação da natureza, portanto se camufla, enquanto que
o inorgânico se destoa e se torna puro. Só assim é capaz de se associar novamente com o todo.
Como Ouroboros, o começo e o fim dos ciclos se confundem. Tantas mudanças, drásticas, desen-
cadearam o questionamento sobre o então local da arte e seu suposto fim. O que acabaram foram
as paredes delimitadoras, gaiolas criativas. A arte ganha as ruas e os ambientes externos, voltando
para onde viera. Encarna o espelho translúcido, camuflada a la Flaneur, invisível e presente.
Por fim, o cubo branco descobre que também pode ser vazado.

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Segundo Ato
Cada caso é um caso

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A partir da etapa do levantamento, a coleta de material referencial para o tema forneceu base
teórica necessária para o entendimento do estudo e da concepção sólida sobre a importância das
Intervenções Urbanas para as cidades, com foco principal no impacto social gerado.
Como contribuição ao aprendizado, foram eleitas três instalações urbanas e dois projetos so-
cioculturais – entre nacionais e internacionais, centrais e periféricos - pautados na lógica artística
intervencionista. A escolha destes trabalhos envolve o vínculo com a prática do caminhar, a relação
obra-comunidade-contexto, sua importância e intuito no percurso, além das técnicas e materiais
utilizados. Dentre tantas ações manifestadas dentro e fora das cidades, estas se exemplificam
como amostras vivas da possibilidade real de transformação do panorama urbano por meio da
manifestação artística intervencionista. Além disso, refletem o valor do contato entre corpo e ob-
jeto, objeto e meio, peregrinação e o encontro, releituras do tripé percurso – paisagem – menir.
Aliada ao conteúdo teórico explorado, a carga de informações adquiridas deu suportes sólidos
para a análise dos casos existentes eleitos, lançando bases para as experimentações realizadas
em campo.
Para apurar a assimilação da natureza das ações observadas, estas foram subdividas entre
Intervenções Sociais e Instalações. São elas:

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iNTERVENÇÕES SOCIAIS
2. JAMAC – JARDIM MIRIAM ARTE CLUB
A artista plástica Mônica Nardor abandonou o mundo das telas e em
2004 abriu as portas de sua casa, localizada no bairro Jardim Miriam, em
São Paulo, para construir um centro cultural interativo com os moradores
locais.
1. LUZ NAS VIELAS Por meio das atividades ofertadas, o JAMAC abre pontos de conexão
Parceria realizada em 2012 na favela da Brasilândia em São Paulo, entre o com a comunidade. São realizados cafés filosóficos, cinemas e debates,
grupo espanhol “Boa Mistura” e os moradores da comunidade. De caráter traba lhos em estamparia, encontros mensais que privilegiam a reflex-
simples, a intervenção se baseia na pintura de paredes de vielas e becos ão, a troca de experiências, conhecimentos acerca de temáticas variadas
locais com cores vivas e palavras significativas para a comunidade. do cotidiano, tratadas sempre por diferentes perspectivas. Para sua re-
A princípio distorcidas, as letras aparentam dançar por sobre as pare- alização, conta com a colaboração dos líderes comunitários e a partic-
des estáticas ao longo do caminho. Atento, o pedestre encontra o ponto ipação de intelectuais e professores da USP e de outras instituições de
gerador da perspectiva, e os desenhos a princípio desconexos se encaix- pesquisa e ensino.
am para transmitir a mensagem proposta ao caminhante. Assim como No ano de 2015, o JAMAC entra em parceria com o Projeto Paço da
denominada, a ação iluminou e animou os percursos onde foi implemen- Comunidade. Concebido em 2013 por Priscila Arantes, diretora e curado-
tada, transcendendo sua função conectora de meio lugar para se tornar ra do Paço das Artes, o Paço da Comunidade visa a criar pontes entre a
um vazio pleno, modificando a dinâmica e a relação espacial do lugar instituição e seu entorno, em especial o bairro Jardim São Remo. Minis-
com os transeuntes e moradores. trado por um artista contemporâneo convidado, o projeto de formação
A ação tomou vida com a ajuda das crianças moradoras da favela, em arte culmina em intervenções no bairro ou dentro da instituição.
e contou com o patrocínio da Embaixada da Espanha no Brasil, dos es- Mônica entra como artista contemporânea convidada, e conduz a elab-
forços do artista plástico Jaime Prades e com a colaboração da Singa- oração de máscaras de estêncil com as moradoras locais. Trabalhando
pore Airlines, Montana Colors e do Centro Cultural da Espanha em São com desenhos que representem a infância e as raízes de cada uma, as
Paulo. imagens são replicadas em tecidos, e posteriormente transformados em
roupas. Durante a mostra realizada naquele ano, as participantes do pro-
jeto desfilaram com as peças produzidas por elas. Além de aproximar os
laços comunitários, a intervenção deu ferramentas para que as partici-
pantes pudessem prosseguir com o uso da técnica em seus trabalhos,
gerando cooperação, renda e independência.
Outra atividade intitulada como “Paredes Pinturas”, fruto do mestrado
de Mônica, tem por objetivo promover processos artísticos em bairros
periféricos. Utilizando a Técnica do estêncil, desenhos desenvolvidos
pelos próprios moradores se tornam instrumentos artísticos culturais,
pinturas superficiais que emergem a comunidade numa ação positiva,
requalificando o vínculo do morador com sua casa e entorno e também
do caminhante com sua jornada.

18
iNSTALAÇÕES URBANAS

3. PNEUMATIC
Realizado pelo Coletivo Cúmul para o festival de arte de rua “Ùs Bar-
celona” em 2015, implanta pneus cortados em diversos pontos da cidade
de Barcelona, na Espanha. O grupo espanhol aloca as instalações em
diversos ambientes e situações, contribuindo para com a revitalização de
espaços urbanos que perderam suas funções sociais. Expandindo sua
proposição inicial, o tema abordado se tornou subsequente ao festival e
ganhou novos espaços de atuação.
Através da reutilização de objetos descartados, a atuação objetiva
despertar nos pedestres a explosão dos limites formais do muro e da
arquitetura, jogando com a o espaço físico e com a intuição interativa
sobre ele.

4. GIRA 5. THE 12 THOUSAND PAIRS OF SHOES FROM ABRANTES


A instalação temporária de 2016 é composta por martelinhos de São Os 12 Mil Pares de Calçados de Abrantes - título da intervenção em
João, símbolo tradicional na cidade do Porto, Portugal. Dinâmico, pre- português - transporta o caminhante à cidade de Abrantes de 1807. Du-
tende criar um novo espaço de pausa e brincadeira entre os caminhos. rante a invasão francesa, os habitantes locais foram forçados pelo Gen-
Suas formas corpulentas somadas as cores vivas, tornam a obra um mar- eral Jean-Andoche Junot a doar seus calçados aos soldados.
co urbano, um menir contemporâneo em meio a cidade. Realizada pelo Victor Lledó Garcia, Juan José Pérez Moncho e Mateo Fernán-
escritório Micro Atelier de Arquitectura e Arte, a peça foi vencedora da 5ª dez-Muro, espanhóis responsáveis pela intervenção, representaram
Edição do Concurso “Martelinhos de S.João 2016” na Categoria “Inter- devolução dos sapatos para seus moradores, oferecendo um novo con-
venção em Espaço Público”. texto para a história da cidade. Compondo uma cobertura, a trama de
sapatos se estende sobre um espaço público unindo forma, função e in-
tenção, pois proporciona proteção contra o sol forte português enquanto
ativa a memória histórica e material do lugar.
Instalada entre 13 e 20 de julho de 2014, a proposta foi vencedora do
180 Creative Camp daquele ano, organizado pelo Canal 180, que promove
projetos voltados para ações intervencionistas urbanas.

19
aNÁLISE DAS OBRAS

As obras estudadas se tornaram parâmetros práticos de movimentos interventores. Enquanto


as Intervenções Sociais foram direcionadas especialmente a comunidades periféricas específicas,
as Instalações Urbanas foram produtos de participações em festivais ou concursos, programações
reconhecidas e por vezes apoiadas poder governamental.
No primeiro contexto, as produções são voltadas para interação entre obra e local de atuação,
incorporando a comunidade desde o processo de idealização, passando pela etapa projetual, e
chegando na execução ou discussão. Este envolvimento se faz primordial para que os moradores
se sintam inseridos e representados na obra e pela obra. Atuantes em zonas marginais à atenção
social e governamental, o trato dos problemas existentes nas periferias urbanas é tópico ativo e
substancial na composição das intervenções, pois estas se tornam agentes capazes de reproduzir
e manifestar a voz das comunidades. A escassez de matéria prima, e por vezes de acesso à infor-
mação, também é levada em conta ao longo de seu desenvolvimento. Como consequência, o con-
tato com o ambiente de passagem se une com as interações interpessoais e trabalha a expansão
dos feitos para além da situação a qual pertencem, permitindo que as ideias e conceitos penetrem
outras realidades, modifiquem pensamentos e promovam novas intervenções, fora e dentro do
foco emissor. Ação se constitui para as pessoas, pelas pessoas.
Já no caso das Instalações, a atuação se dá de maneira mais impessoal. Alocadas em lug-
ares centrais, de grande circulação, visam atingir os grandes fluxos que perpassem pelas obras.
Quando autorizadas e patrocinadas, trabalham com maiores escalas e ofertas de materiais, sendo
constantemente utilizadas como pontos de referência visual. Em meio a grande quantidade de in-
formações características dos centros urbanos, as instalações buscam surpreender quem passa,
ativando os sentidos, trabalhando ou guiando o movimento. A ação se constitui para as pessoas,
e pela interação entre ambas.
Mesmo com enfoques diferentes, os dois campos de atuação se ligam por meio da intenção do
percurso e do encontro. Todas elas desejam transmitir informações de impacto, introduzir a reflex-
ão e transmitir mensagens tantas vezes oprimidas, até mesmo ocultas, e que estão subconscien-
temente presentes na lógica urbana coordenada pelo sistema capitalista. Pulsantes silenciosas.
Concomitantemente autônomas e interdependentes, atravessam a temporalidade para abordar
o passado e o futuro marcando o presente. Se alocam entre a paisagem e não passagem, o espaço
arquitetônico e não arquitetônico.

20
Terceiro Ato
Ah... o intervir

21
bASES EXPERIMENTAIS
Atraente, a intervenção urbana afina a sensação de pertencimento e a participação popular. A
apropriação é capaz de representar os conflitos locais existentes e sincronicamente transformar
o espaço de maneira ativa, impregnando novas características e formulações do pensar sobre o
sítio. Quebrando a velocidade impregnada no espaço, o inesperado atinge os corpos passivos e
desatentos, transformando-os em caminhantes sensíveis ao mundo externo.
A autora Adriana Sansão (2013) analisa a dinâmica dos espaços habitados ligados à relevân-
cia das intervenções e apropriações artísticas no contexto urbano, cada vez mais voltado para a
privatização e ao comércio. Defende a prática intervencionista como instrumento capaz de deixar
marcas duradouras advindas de ações passageiras.
A presença da intervenção quebra com a rotina engessada e redireciona roteiros previamente
estabelecidos, promovendo novos encontros com e entre espectadores – que se tornam inter-
ventores. As novas relações convertem-se em atemporais e plurais, podendo reverberar durante
instantes únicos ou perdurar por longos períodos. Atingindo diferentes escalas, os rastros deixa-
dos conduzem tanto o observador, reorganizando conexões em seu eu interior e modificando sua
percepção, quanto a esfera comum, compartilhada através do meio exterior, produtor e reprodutor
do ambiente. A partir de seus múltiplos efeitos, se torna possível, então, inferir que as intervenções
urbanas trabalham com elementos desconhecidos, que giram em torno de decisões intencionais
ou não, que provocam conexões e resultados inesperados.
A autora também discute os espaços verdadeiramente habitados, qualificando-os como produ-
tores de sensações positivas, imprimindo sentimentos que associam o público ao espaço pessoal,
e que, quando ampliado, estende a sensação de lar para o cenário coletivo. Assim é construído
um relacionamento afetuoso e de espírito cuidador, atento às responsabilidades do eu para com o
todo da mesma forma com que se apropria dos direitos pessoais e totais. O meu transita entre o
nosso, e o nosso também se torna parte do eu.
Ao se mutar de espaço-objeto para espaço-habitado, este se torna criador de memórias, frutifi-
ca o pertencimento e a amabilidade urbana. Partindo deste conceito, aliado à significação teórica
adquirida ao longo do processo de estudo do tema ensaiado, duas Intervenções Urbanas foram
cuidadosamente programadas e executadas, visando o estudo empírico do processo e os impac-
tos gerados no meio através da implementação da arte no espaço coletivo.
Intituladas “Quer que eu saia daqui?” e “A Vila Pé de Cor”, as ações urbanas realizadas consec-
utivamente na zona central e periférica, solidificaram as percepções sobre o que é o intervir, como
este se relaciona diante do território, da multiplicidade e granularidade presentes entre os ambien-
tes e seus corpos, o movimento produzido por cada fase do ato, as respostas instantâneas obtidas
e as reflexões e transformações despontadas pelo devir. Além da análise singular, foram traçados
paralelos entre as duas intervenções, a fim de compreender as similaridades e as diferenças exis-
tentes entre as duas aplicações. São elas:

22
“qUER QUE EU SAIA DAQUI? ”

Criada e implementada no Setor Comercial Sul de Brasília, a intervenção “Quer que eu saia
daqui?” teve início durante as atividades desenvolvidas durante a semana preparatória do Tubo
de Ensaios 2017 – edição TubURBANOS, que trabalha a discussão do direito à cidade. A ação
intervencionista tem por objetivo explorar a diversidade entre os usuários e transeuntes do setor,
questionando as relações sociais entre os diferentes grupos.

1.1 O CONTEXTO
Localizado no coração de Brasília. Como pre- prédios, pequenos quiosques se alocam no truturam em três fases. A primeira consiste na
visto no plano urbanístico da cidade projetada nível térreo. Existem ainda as vias de serviço Semana Preparatória, onde são gratuitamente
por Lúcio Costa, o setor integrante da Escala subterrâneas, ocupada simultaneamente por ofertadas palestras, oficinas e rodas de conver-
Gregária tem por intenção original do Plano carros e moradores de rua. sas para os inscritos e à comunidade universi-
de Brasília a configuração de espaços combi- A solidez desta malha urbana, adjunta ao tária. A segunda é a mostra coletiva, onde acon-
nados, reservados para a diversão e cultura, e grande fluxo diário de transeuntes, produz a tece a apresentação coletiva das propostas
que também se destinam ao funcionamento de diversidade cultural assim como conflitos con- artísticas previamente inscritas e selecionadas.
comércios, escritórios, empresas, hotéis e agên- stantes. O desgaste da infraestrutura, a escas- A terceira e última gera a publicação de artigos
cias bancárias, ativos principalmente durante sez de estacionamentos, a formação de ilhas científicos elaborados e produzidos pelo pro-
o horário comercial. Desde sua construção, o de calor, a produção de espaços residuais, fessor responsável pelo projeto de extensão da
setor sofreu transformações, mantendo alguns abandonados e subutilizados, a constante fal- edição correspondente.
dos pontos planejados e se afastando de parte ta de investimento e segurança, assim como Para a 15ª edição do projeto, foram firmadas
de suas diretrizes. Densa, a configuração da es- outros problemas, traçam o panorama de um parcerias com o Decanato de Extensão (DEX/
trutura urbana atual do Setor reúne 106 prédios, setor visivelmente abandonado, que urge por UnB) e com a Casa de Cultura da América Lati-
entre escritórios e empresas, distribuídos por programas de revitalização. na (CAL/DEX). O tema “TubURBANOS” visa in-
seis quadras entre o Eixo rodoviário e a Via W3, centivar o debate sobre o direto à cidade e da
rotas movimentadas e que interligam não ape- 1.2 DO PROJETO coparticipação no processo de mudança dos
nas o Plano Piloto como as cidades Satélites e O Projeto Experimental de Arte e Performance centros urbanos do ponto de vista estético e
o entorno do Distrito Federal com a área. Tubo de Ensaio é de iniciativa da DEA/UnB e foi cultural, tocando os hábitos e costumes popu-
A análise morfológica que caracteriza a criado há dezesseis anos como proposta de di- lares.
Quadra 4 do Setor, ponto focal da intervenção, alogar com temas diversos e relevantes para a Contribuindo para com a reconstrução das
constata a presença de edifícios com seis comunidade por meio de expressões artísticas, cidades, e assim atingindo também do Setor
pavimentos (além do térreo e sobreloja), que como teatro, cinema, dança, literatura, música Comercial Sul e portanto a da Casa de Cultura
dispõem de marquises ou avanços na cober- e das artes plásticas com a linguagem da per- da América Latina, o projeto aborda as possíveis
tura, formando extensas galerias que abrigam formance. e existentes formas de diálogos e ocupações
os pedestres do sol e da chuva. Por entre os Realizadas anualmente, as edições se es- dentro do contexto urbano, esmiuçando a im-

23
portância do grafite, da pichação, dos lambes, dinâmicas que tinham por objeto destacar fra- Logo após os atos performáticos, os grupos
das atuações performáticas e tantas outras ses de impacto que representassem as per- se uniram na Praça do Povo, também localizada
manifestações artísticas que se apropriam e cepções previamente compartilhadas. Os par- na Quadra 4 do Setor. Em estado de abandono,
transmutam o meio público, tornando-o palco ticipantes então se reuniram em grupos onde a praça se coloriu com as mensagens aplica-
de expressão da complexa estrutura que con- cada equipe se tornou responsável por eleger das por meio das técnicas de lambe e estêncil.
stitui as urbes ao mesmo tempo em que evoca uma das citações produzidas, aquela identi- As respostas às ações se apresentaram
a amabilidade urbana em seus espaços. ficada como potencial base para o conduzir a de maneiras diversas, contudo espontâneas e
O pertencimento à cidade passa pela instân- discussão e o desenvolvimento de ações inter- automáticas. Variaram entre apatia, fuga, curi-
cia de saber-se pertencente a ela pelo direito à ventoras. As proposições eram livres, todavia osidade, espanto, aproximação e até mesmo
ação e à fala. deveriam ser capazes de representar, se apro- interação verbal e física com os performers.
priar e contribuir positivamente com o espaço Por vezes, (!) alguns dos espectadores-atores
1.3 A INTERVENÇÃO do Setor Comercial Sul. reverberavam seus próprios resultados e con-
Durante as oficinas de Intervenção Urbana Presente entre o grupo composto por cinco clusões, lendo e respondendo em voz alta as
oferecidas pelos Coletivos Voxel e Transverso, performers, entre eles mulheres, negras, defi- indagações presentes nas frases, enunciando
(!) os participantes do projeto foram expostos ciente física, moradoras periféricas e LGBTs, a os pensamentos produzidos, requisitando a
às bases teóricas e práticas acerca do tema aluna desenvolveu conjuntamente aos colegas atenção de terceiros, comentando a cena re-
abordado. Os debates dentro da CAL e as visi- a produção correlacionada de máscaras de pentina entre si.
tas em campo ativaram o contato direto com o estêncil e da performance “Quer que eu saia Pode-se então inferir a partir dos resulta-
setor e seu ambiente. A experiência do “andar daqui?”, onde ambas as ações visavam debater dos observados que o objeto da intervenção
zonzo” se tornou essencial para a assimilação os comportamentos entre grupos minoritários em oportunizar a quebra com o a rotina, ques-
do que é o caminho intuitivo, como este se de- e hegemônicos, tratos observados nas inter- tionando as relações sociais pré-estabelecidas
lineia pela percepção e pela construção física ações entre os usuários, moradores e passage- entre os diferentes grupos sociais, estimulando
funcional do próprio ambiente. iros do setor. novas associações, e provocar a reflexão – liter-
Em meios a uma das atividades propostas Durante a execução da performance, a equi- al e abstrata – através do olhar e da linguagem
pelo Coletivo Transverso, foram oferecidos pas- pe utilizou o espelho como objeto central. Colo- corporal, foi alcançado.
seios como exercício de observação. A leitura cados sobre o rosto, os utensílios compunham
da cena local produziu experiências variadas e a parte principal do figurino, complementado
extremamente ricas, posteriormente narradas e por roupas pretas e mensagens de impacto dis-
compartilhadas em formato de textos e desen- postas sob os corpos, as únicas palavras utiliza-
hos. Como peças, cada registro do movimento das. Montados, os perfomistas adentraram as
se tornou essencial para a montagem do que- ruas atuando entre atos estáticos e pequenas
bra-cabeça que simboliza a diversidade cultural caminhadas, a fim de captar a atenção do tran-
em questão, e que como fotografias impressas, seunte. Em contato com o inesperado, o obser-
expuseram imagens formadas a partir do fatos vador desatento se transmutava em ativo: bus-
e focos captados sob o olhar individual e pes- ca entender a cena incomum, lança um olhar
soal. intrigado ao diverso, e logo encontra o reflexo
Num momento seguinte, foram realizadas de sua própria imagem.

24
a VILA PÉ DE COR

Realizada em parceria com o projeto “Ações Urbanas Comunitárias” de iniciativa CODHAB/DF,


a Intervenção Urbana “A Vila Pé de Cor” propôs a ressignificação da Vila Cauhy através do olhar
infantil, onde imprimindo imagens e mensagens por meio do estêncil, foram trabalhadas relações
de pertencimento e amabilidade pelo espaço urbano local.

1. O CONTEXTO SMAS, SMPW, Guará, Plano Piloto – (!) polos sos pedológicos, geológicos e hídricos relatam
Localizada na região administrativa do geradores de empregos, comércio e lazer. Em que a região onde a Vila germinou consistia
Núcleo Bandeirante, a Vila Cauhy origina sua adendo, esta característica se reforçou devido numa vereda, o que explica a farta presença
história ainda década de 1960. A área, antes a implantação do Expresso DF, que permite a de águas. Dentre todas as restrições à regular-
conhecida como Colina do Lobo, havia sido chegada dos moradores à Brasília em até 20 ização fundiária, esta se torna o principal im-
destinada ao Clube de Regatas do Guará e a minutos. Esta posição estratégica a tornou alvo pedimento. Nos períodos de chuva, são comuns
construção de seu respectivo estádio. Com o de especulação imobiliária. casos de alagamento e do aumento de risco
passar do tempo, a zona foi sendo ocupada No ano de 1995, especuladores da con- de desabamento das casas. É então extrema-
por chácaras, e posteriormente fracionadas strução civil investiram na remoção das mente necessário que sejam realizadas propos-
em lotes menores, tendo por consequência o famílias. O antigo lote do clube foi posto à tas de reassentamentos e reestruturação do
adensamento populacional e o crescimento venda ilegalmente, mesmo com os moradores local concomitantemente à educação ambien-
citadino irregular, sem qualquer planejamento habitando o espaço. O esquema corrupto foi tal da população, envolvendo, familiarizando e
prévio ou proteção ambiental. publicado no Jornal do Guará, que apontava os conscientizando a comunidade em todo o pro-
A Campanha de Erradicação de Invasores empresários Paulo Octávio, Luís Estevão e Sér- cesso.
(CEI), criada nos primeiros anos da inauguração gio Naya como os responsáveis pela tentativa De acordo com o Censo 2010, a população
de Brasília, teve por objeto promover a higieni- de tomada do terreno. Após extensos embates atual é estimada em 1640 habitantes, distribuí-
zação da capital, exterminando as favelas do entre residentes, empresários e representantes dos em 458 domicílios. Logo, a densidade é de
Distrito Federal através do convencimento e do governamentais, o programa de regularização 39,42 habitantes por hectare. A pirâmide etária
apelo publicitário. A população removida era da Vila se inicia em 2007 durante a gestão do se aproxima do tipo jovem crescente, exprimin-
então reassentada em novos núcleos urbano, governador José Roberto Arruda. As mudanças do baixa expectativa de vida e a tendência para
distantes em até 40 km do centro. Este retrato é de mandato subsequentes, somadas aos es- a o aumento do número de jovens e crianças e,
parte da história da Vila e de muitas das outras tudos de impacto de vizinhança (RIVI) incon- portanto, da necessidade de estruturas que sir-
cidades satélites do DF. (!) sistentes e inconclusos, ainda mantém a Vila vam a estes indivíduos - maternidades, escolas
Semelhante ao histórico da Vila Telebrasília, Cauhy prisioneira ao clientelismo e à politica- e infantários.
a Vila Cauhy encontra-se alocada numa posição gem. Listada entre as zonas com maiores índices
privilegiada dentro da malha urbana, tendo Tocando a questão ambiental e ecológica, de pobreza dentro do DF, a Vila abriga um dos
proximidade e facilidade de acesso com local- estudos realizados apontam a área como zona dez Postos de Assistência Técnica em Arquite-
idades como Núcleo Bandeirante, Aeroporto e de preservação ambiental A análise dos recur- tura e Urbanismo da CODHAB. Com papel me-

25
diador, estes postos têm como propósito esta- “Se Essa Rua Fosse Minha...” a introduz à pop- do e até então com aspecto abandonado – a
belecer a ligação entre governo e comunidade, ulação, movimentando-a em prol da renovação praça se faz ponto de encontro da criançada e
buscando lograr melhorias na infraestrutura das relações construídas com o ambiente, pro- de suas famílias.
localista. movendo a apropriação e o desenvolvimento A intenção era causar nas crianças a vincu-
positivo de seus espaços. lação do trajeto e do caminhar com elementos
2. DO PROJETO Realizada na rua posterior à Praça da Vitória, que os representassem, provocando a sen-
O projeto participativo “Ações Urbanas Co- a aliança entre os moradores e organizadores sação de pertencimento, aproximando-as de
munitárias” é desenvolvido pela equipe de viabilizou a melhoria e pintura das fachadas, a seu local de moradia, semeando ainda na fase
assistência técnica da Companhia de Desen- colocação de mobiliários feitos a partir de caix- de aprendizado as noções dos direitos e re-
volvimento Habitacional do Distrito Federal as de frutas, a limpeza e pintura das calçadas, sponsabilidades com o pessoal e o coletivo.
(CODHAB/DF), e tem por objetivo a transfor- além do plantio de mudas de flores. Foi ofertado Avaliando a troca final entre interventores
mação coletiva do espaço público, conectando ainda o workshop desenvolvido entre CODHAB e moradores locais, o saldo foi positivo. Fa-
o governo à sociedade. + EREA, que ministrado por arquitetos dos Pos- miliarizadas com o local, todas as crianças se
As áreas a serem intervindas são eleitas a tos de Assistência, debateram o funcionamento demonstraram empolgadas e descontraídas.
partir da apuração de critérios específicos. O do trabalho em Assistência Técnica. Com criatividade e desembaraço, provocar-
interesse e articulação da comunidade em pro- Em paralelo as atividades anteriormente ex- am naturalmente a expansão das atividades
mover a melhora do lugar, a inexistência de in- postas, nasceu a Intervenção “A Vila Pé de Cor”. inicialmente propostas, desmembrando-as,
fraestrutura e manutenção, a possibilidade de Desenvolvida pela aluna e executada em parce- completando-as, fagocitando o real e o imag-
arborização e paisagismo, presença de vazios ria com a CODHAB/DF, a ação buscou comple- inário para degurgitar ações renovadas. Os
urbanos públicos, conexão com praças e es- mentar o Projeto direcionando o tema proposto pais e responsáveis que compareceram à in-
paços de relevância, além do grande fluxo são para a perspectiva infanto-juvenil. tervenção expressaram a satisfação para com
alguns deles. Para que as ações alcancem as Através da técnica do estêncil, crianças e o desenvolvimento do trabalho e do projeto, e
metas esperadas, é preciso identificar os confli- adolescentes moradoras da Vila promoveram terminaram por agregar ao movimento. Durante
tos do espaço assim como observar seu poten- pinturas na Praça da Vitória e em uma de suas a vivência, relataram a escassez de atividades
cial de transformação. ruas adjacentes. Por meio de dinâmicas e brin- voltadas ao público infanto-juvenil, que fugindo
Executadas em formato de mutirão, as cadeiras, os participantes foram apresentados dos perigos da rua, permanecem ociosos e den-
ações somam a participação comunitária à de à importância do cuidado com os recursos tro de casa.
profissionais e estudantes de arquitetura e ur- naturais e com os espaços que os circundam,
banismo, entre membros da companhia e vol- atividades que os aproximaram e estabelece-
untários. ram novos contatos com o ambiente e com os
vizinhos.
3. A INTERVENÇÃO Associando a cor à imagens e mensagens
A terceira ação comunitária urbana realizada escritas das máscaras de estêncil, todos foram
na Vila Cauhy, e quadragésima quarta do DF, convidados a preencher o percurso entre a Rua
aconteceu na manhã do dia 03 de junho de onde se realizava Ação Comunitária e a Praça
2017, dando continuidade aos trabalhos previa- Vitória. Devido a presença de área verde e do
mente executados nas outras edições. O título único parquinho presente na Vila – deteriora-

26
dAS AÇÕES EM CAMPO

Os modelos de propostas intervencionistas aplicados foram desenvolvidos visando compreender


a lógica da conceituação, preparação, execução e resultados. Analisando comparativamente as
duas ações, uma central e outra periférica, foi possível compreender a complexa lógica que traça
simultaneamente similaridades e diferenças entre as etapas.
A assimilação do contexto relacionado ao intervencionismo e ao conteúdo das intervenções foi
o primeiro passo para alcançar ações sólidas. A indagação foi adotada como metodologia capaz
de guiar este entendimento, pois aplica perguntas que expõem os fundamentos necessários para
a realização de intervenções lógicas e coesas. Assim, essas perguntas tornam-se capazes de al-
cançar seu objetivo proposto às duas ações: cooperar com a construção social e urbana por meio
da arte.
Seguem listadas abaixo algumas destas questões:
Previamente à intervenção: Várias são as metodologias utilizadas para o
- “Porque intervir? ” desenvolvimento criativo, voltado ou não para
- “Para quem intervir? ” as intervenções urbanas. A escolha deste
- “Quem irá intervir? ” caminho se demonstrou satisfatória, e foi im-
- “Onde intervir? ” plementada no desenvolvimento das duas in-
- “Como intervir? ” tervenções. Uma vez respondidas, as soluções
- “Quando intervir? ” estruturam a ação, tornando sua execução
- “O que é necessário para intervir? ” mais inteligível e organizada. É possível inferir
- “Qual o tempo de duração da intervenção? ” ainda que a simples reflexão das possíveis res-
- “Qual a durabilidade da intervenção? ” postas já é capaz de abrir portas para a funda-
- “Quais os resultados esperados? ” mentação da ação, pois trabalha a maturação
das ideias.
Após a intervenção:
- “Como se deu a intervenção? ”
- “Quais as semelhanças e diferenças entre planejamento e a execução? E o objeto final? ”
- “Quais foram os resultados obtidos?”
- “Houve interação? Se sim, descreva”
- “Quais os resultados obtidos? ”
- “Existem ajustes a serem feitos? Se sim, quais? ”
- “ Os objetivos da ação foram alcançados? ”
- “Qual o impacto da ação, pessoal e no meio? ”

27
pROCESSAMENTO DE DADOS

A análise das tabelas conclui que as intervenções realizadas, uma em área central e outra em zona
periférica, se comportam de maneira semelhante nos quesitos:

MEIO – mesmo com variações nas mensagens, ambas se utilizam de


tinta e máscaras de estêncil para a propagação de ideias adjuntas ao
trabalho do copo com o espaço.
MATERIAIS – prezam pela utilização de poucos materiais e a preferência
por itens baratos e acessíveis, de fácil manejo e produção.

Relatando os pontos que apenas se aproximam estão:

PÚBLICO ALVO – Mesmo compartilhando a ciando nos outros itens, abrindo e fechando esporádicas aqui eram muito mais ligadas ao
intenção em atingir o transeunte ocasional o espectro de possibilidades e de alcance da público alvo.
e os moradores genéricos, cada intervenção intervenção. Pois sem participação, não há
também tem como foco públicos específicos. intervenção. Muito menos mudança PRÉ-EXECUÇÃO – Ambas tiveram fases prepa-
A ação do SCS se fixa nas minorias oprimidas ratórias para a execução, sendo que a ação
e invisibilizadas - também - dentro da estrutura INTERVENTORES – Esse quesito está muito no SCS teve grande parte realizada logo antes
social e estrutural da cidade (mulheres, negros, associado ao local e ao público alvo. No caso da atuação. A pouca idade do público alvo/in-
periféricos, portadores de deficiência, LGBTs, do SCS, todo o processo de intervenção foi terventores para a execução das máscaras de
moradores de rua, etc). Já na Vila Cauhy, o coletivo, da observação, passando pela criação forma segura, junto com o curto período para
centro se voltou para as crianças, futuros re- até a produção e execução. O contato com execução, levou a produção para o momento
sponsáveis da Vila e do planeta, e que carecem os passageiros os fez produzir sensações, e prévio à intervenção. A escolha dos materiais é
de atividades que os complemente como seres mesmo o que não saíram de sua individuali- importante para a organização desta logística.
conscientes. dade, se tornaram participantes da ação. Já na
Esta divisão é extremamente importante e Vila Cauhy foi misto, a observação teve ajuda DURAÇÃO – Realizadas em 4h, a intervenção
necessária, pois reflete o cuidado em analis- dos representantes do Posto de Assistência do SCS teve o tempo divido entre produção e
ar o contexto e todos os seus componentes, Técnica local, enquanto a criação e produção execução.
lapidando os movimentos para que a ação foram realizados por parte da aluna. A inter-
se torne representante do povo e seu local. venção foi livre e aberta, sendo naturalmente
Por isso, esse quesito é peça chave, influen- liderada pelas próprias crianças. As atuações

28
Ressaltando as diferenças existentes:

TÍTULO – Traço identificador, deve fazer Os dados apresentados na Tabela 02 mostra como os itens prévios se
referência as especificidades a que nomeia, apresentam diante das noções de caracterização posterior às ações.
tornando-se individual. A inferência mais interessante consiste em perceber que, tento todos
os itens ligeiramente ou totalmente destoantes entre si, os resultados
LOCAL – Como parte do estudo, foram propos- obtidos se encaminham de maneira parecida. Apesar das diferenças
tas diferentes áreas de atuação. notórias em todo o processo que estrutura as ações, seus resultados
caminham por fluxos semelhantes, sendo possível então intuir a ex-
INTENÇÕES – Voltadas para seu loci e público istência de padrões que se repetem dentro de processos não lineares,
alvo, as intenções são frutos de observação identificados nos processos orgânicos e naturais por todo o globo.
do contexto, que se expressa diferente entre Ainda intuitivamente, são realizadas ligações entre as noções geradas
realidades diferentes. Por isso se relacionam pelo embasamento teórico e desenvolvimento do traçado histórico,
fortemente com o local. onde o intervencionismo passa a ser entendido então como um proces-
so inerente à ação antrópica, desde o caminhar pré-histórico, da pintura
PARCERIAS – Desenvolvidas coletivamente, a rupestre, passando pelo perambular vagabundo, a requalificação das
diferença se encontra no caráter cooperativo. relações entre homem-ambiente-menir, até o movimento contemporâ-
No SCS, foi por participação. Na Vila, inclusão neo. O pintar urbano atual – seja grafite, pixo, lambe, ... – ainda é arte
e proposição de projeto. rupestre, que em seu período era devidamente “autorizada ”.
Estão lançadas aqui bases e indagações intuídas para um possível estu-
EXECUÇÃO – Todos os itens influem nessa do, de maior profundidade, que esmiúce as naturezas intervencionistas
condição. As variações previamente expos- e suas relações entre homem e meio.
tas geraram na intervenção central dois atos
principais, enquanto na intervenção periférica
criaram atividades diversas que ocorreram de
maneira pouco planejada e espontânea.

29
cONCLUSÕES E RESULTADOs

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a compressão, análise e execução de Inter-


venções Urbanas, que através da arte, se demonstraram ser instrumentos capazes de contribuir
positivamente para com a reestruturação social e do espaço público. Com o foco voltado para a
população, a atuação em zonas centrais e periféricas se fez essencial para enriquecer as noções
da real capacidade de adaptação que ações interventoras apresentam diante de contextos varia-
dos.
De um modo geral, as duas naturezas interventoras demonstraram ser poderosas e hábeis no
cumprimento de seus objetivos. Trabalhadas em contextos distintos, cada qual apresentou carac-
terísticas específicas que as tornam representantes de seu meio, aptas a atuar sobre este. Anal-
isando os pontos particulares que contribuem com a particularização de cada uma das ações
executadas, o público alvo demonstrou ter grande peso em todo o processo intervencionista, in-
fluindo e correlacionando-se com o local, os meios, os interventores, a pré-produção e produção,
execução, os materiais utilizados e a duração do ato.
Ao executar as intervenções propostas, foi possível observar como a ação prática necessita
de planejamento e de flexibilidade. Sincronicamente, as práticas intervencionistas possuem um
caráter altamente elástico e espontâneo, que se enriquece através do embasamento teórico e da
estruturação sólida e coesa. Ao atravessar as portas do mundo dos sonhos e tocar o real, as ações
se conectam com o meio e com os interventores. Transmutam-se e assumem formas essenciais,
capazes de transformar espectadores em atores, que por sua vez as modificam de volta. A multi-
plicidade dos efeitos gerados permite, então, designar as intervenções como ações abstratas, que
trabalham com o imprevisível no momento do agora, mas que se reverberam pelo tempo e pelo
espaço indefinidamente.
Assim, foram notáveis as transformações instantâneas e os efeitos destas a curto prazo. Al-
terando a dinâmica local, quebraram com a rotina preestabelecida e renovaram o ambiente e os
espaços, trazendo mensagens e imagens de impacto e identificação, semeando reflexões que con-
tribuíssem para a transformação positiva do meio e da população, que respondeu ativa e positiva-
mente. Portanto, pode-se concluir que os objetivos foram alcançados.

30
As referências levantadas, tanto do conteúdo teórico e histórico, quanto dos estudos de caso,
se fizeram primordiais para a compreensão significativa e concreta do que é intervir e de suas
ações, preparando e opulentado o raciocínio para desenvolver as propostas apresentadas. Discor-
rendo os recursos e métodos apresentados, a adoção da indagação como guia para a estruturação
conceitual, pratica e analítica das ações se mostrou plenamente satisfatória. Prática e eficiente,
tornou o processo rápido, lógico, econômico, e exequível, além de extremamente sensível aos ob-
jetivos e resultados.
Outro fator de grande importância para o alcance dos propósitos se deu através das trocas com
interventores atuantes, da aproximação e participação de projetos já firmados, já com carga de
conhecimento e experiência sobre o tema. Percebe-se assim, a importância em dar continuidade
à permutação do conhecimento.
A imersão no tema, buscando sanar respostas, encontrou novos questionamentos. Devido ao
pequeno período discorrido entre as atuações e apresentação deste trabalho, é possível abrir por-
tas para o estudo voltado aos impactos mais longevos, assim como a identificação de padrões
existentes em processos distintos que atingem resultados semelhantes.

Por fim, é valido afirmar: Intervir é a arte de transformar!

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LIVROS TESES, ENSAIOS E ARTIGOS

CARERI, Franesco. Walkscapes – O caminhar como prática estética. LIMA, Mateus Vieira Vilella. Intervenção Urbana: Arte e Resistência no
Trad. F. Bonado. São Paulo: Ed. GG Brasil, 2013. Espaço Público. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação
FONTES, Adriana Sansão. Intervenções temporárias, marcas permanen- em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos. Orien-
tes. Rio de Janeiro: Ed. Leya Casa da Palavra, 2013. tação: Dennis de Oliveira. SP: CELACC/ECA - USP, 2013.
Barchelard, Gaston. A poética do espaço. Trad. A. P. Danesi. São Paulo: FUREGATTI, Sylvia. Arte e Meio Urbano. Elementos de formação da
Ed. Wmfmartins, 2003. Estética Extramuros no Brasil. Tese de Doutorado em Arquitetura e
BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Trad. D. Bottmann. São Paulo: Urbanismo na área de História e Fundamentos da Arquitetura e do
Ed. Wmfmartins, 2009. Urbanismo. Curso Stricto Sensu. Orientador: Prof. Dr. Luiz Américo
CAMPBELL, Brígida e TERÇA-NADA!, Marcelo. Intervalo, respiro, de Souza Munari.
pequenos deslocamentos – ações poéticas do Poro. Minas Gerais: LOPEZ, Raquel Braz. O graffiti e a Cura Social – O graffiti como elemen-
Coletivo Poro, 2001. to de recuperação de áreas degradadas. Ensaio Teórico do Departa-
LLOSA, Maria Vargas. La Civilización del Espetáculo. Barcelona: Ed. mento de Teoria e História em Arquitetura e Urbanismo. Orientação:
Debolsillo, 2015. Prof. Dr. Sérgio Rizo Dutra. BSB: FAU/UNB, 2015.
OITICICA, Hélio. Carlos Vergara. Rio de Janeiro: Edição FUNARTE, 1978. LOPEZ, Raquel Braz. Arte Urbana Espaços e Espaços Comunitários na
FUNARTE, Instituto de Artes Plásticas. Lygia Clarck e Hélio Oiticica; Região Central de Valparaíso. Ensaio Teórico do Departamento de
Sala Especial do 9º. Salão Nacional de Artes Plásticas. Apres. de Teoria e História em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Prof. Dr.
Luciano Figueirêdo. Rio de Janeiro: Edição FUNARTE, 1986/87. Sérgio Rizo Dutra. BSB: FAU/UNB, 2015.
SALOMÃO, Waly. Hélio Oiticia: qual é o parangolé? E outros escritos. FARINASSO, Gabriela Cascelli. Invenções artísticas: poesia e engaja-
São Paulo: Cia das Letras, 2015. mento no campus Darcy Ribeiro. Ensaio Teórico do Departamento de
RESENDE, José. José Resende: Exposição 18 de agosto a 18 de out- Teoria e História em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Profa. Dra.
ubro de 1998: centro de arte Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Centro de Luciana Sabóia Fonseca Cruz. BSB: FAU/UNB, 2013.
Arte Hélio Oiticica, 1998. FARINASSO, Gabriela Cascelli. Arte e Transgressão na Modernidade.
SITUACIONISTA, Internacional. Apologia da Deriva. Trad: Paola Beren- Revista Estética e Semiótica, Brasília, V.4, N. 1 P. 123-137 JAN/JUN,
stein Jaques. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,1998. 2014.
BRASIL, Amanda. Do adjeto ao sujeito – Requalificação do Setor
Comercial Sul. Introdução ao Trabalho Final de Graduação em Ar-
quitetura e Urbanismo. Orientação: Profa. Dra. Gabriela Tenório. BSB:
FAU/UNB, 2016.
BARBOSA, Pedro Ernesto Chaves. Plano de Bairro da Vila Cauhy Vol.1.
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Orien-
tação: Liza Andrade. BSB: FAU/UNB, Sem Data.

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SITES WEB, AUDIO-VISUAL E DOCUMENTOS
INTERVENÇÕES SOCIAIS

Grupo Boa mistura. Luz nas Vielas. SP: Brasilândia, 2012. acoes-urbanas-vencedoras-do-180-creative-camp-sao-construi-
Matéria: http://www.archdaily.com.br/br/01-53653/curta-luz-nas- das-em-abrantes
vielas-boa-mistura Publicação digital: http://www.thisiscolossal.com/2015/05/sal-
Documentário: https://youtu.be/gKRNLXghU94 vaged-tire-installations-pneumatic/
Mônica Nador. JAMAC – Jardim Miriam Arte Club. SP: Jardim Mirian, Alexandre Orion
2004. Documentário: https://youtu.be/baH6idDLwcAlist=PLIpu-
Livro: RIVITTI, Thais e RJEILLE, Isabela. Mônica Nador. São Paulo: raEyouczhSN3W0EjnXgywBPfnnEOb
Pinacoteca do Estado: Luciana Brito Galeria, 2012. Coletivo Poro
Documentário: https://youtu.be/9RtkeyUOjUElist=PLIpu- Documentário: https://youtu.be/z67OKnU0E2Ulist=PLIpu-
raEyouczhSN3W0EjnXgywBPfnnEOb raEyouczhSN3W0EjnXgywBPfnnEOb
Site: https://jamacarteclube.wordpress.com/ Jornal Futura - Série Intervenções Artríticas Urbanas – O que são?
Espaço Cultural Pierre Verger https://youtu.be/WcPDyajKnok?list=PLIpuraEyouczhSN3W0EjnX-
Documentário: gywBPfnnEOb
Parte 1- https://youtu.be/S65IRkAq3Zklist=PLIpuraEyouczhSN- Jornal Futura - Série Intervenções Artísticas Urbanas - O espaço públi-
3W0EjnXgywBPfnnEOb co e o público no espaço
Parte 2- https://youtu.be/hwUEI5Ap66c?list=PLIpuraEyouczhSN- https://youtu.be/CY-WlangK58?list=PLIpuraEyouczhSN3W0EjnX-
3W0EjnXgywBPfnnEOb gywBPfnnEOb

INSTALAÇÕES E INTERVENÇÕES URBANAS

Victor Lledó Garcia, Juan José Pérez Moncho e Mateo Fernández-Muro.


The 12 Thousand Pairs of Shoes from Abrantes. Vencedora do 180
Creative Camp 2014. PT: Abrantes, 2014.
Revista digital: http://www.archdaily.com.br/br/625359/instal-
acoes-urbanas-vencedoras-do-180-creative-camp-sao-construi-
das-em-abrantes
Micro Atelier de Arquitectura e Arte - Miguel Costa + Meireles de Pinho.
Gira. PT: Porto, 2016.
Revista digital: http://www.archdaily.com.br/br/791177/gira-mi-
cro-atelier-de-arquitectura-e-arte
Coletivo Cúmul. Pneumatic. Us Barcelona 2015. ES: Barcelona, 2015.
Revista digital: http://www.archdaily.com.br/br/625359/instal-

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ZONA DE ATUAÇÃO ANÁLISE COMPARATIVA
TABELA 01 SETOR COMERCIAL SUL VILA CAUHY = ≅ ≠
Título "Quer que eu saia daqui? " "A Vila Pé de Cor " ✓
Local Específico Quadra 4 - CAL + Praça do Povo + proximidades Praça da Vitória + proximidades ✓
Intenções Trabalhar o tema Direito à cidade e a visibilidade dos Trabalhar a relação de pertencimento das crianças e
grupos minoritários no espaço público. jovens moradores com a Vila, assim como a percepção

do espaço público e o respeito com o meio ambiente.

Meios Aplicação de frases de impacto através da aplicação do Aplicação de figuras, frases que representem as

estêncil e de lambes + ações performáticas. crianças locais + brincadeiras e atividades de lazer.
Justificativa Trabalhar necessidade de reestruturar o contato Trabalhar necessidade de reestruturar o contato
pessoal, interpessoal e com o entorno, visando a pessoal, interpessoal e com o entorno, visando a ✓
CARACTERIZAÇÃO PRÉVIA

melhoria da estrutura social e ambiental. melhoria da estrutura social e ambiental.


Parcerias Tubo de Ensaios - Edição TubURBANOS + Coletivo CODHAB/DF + Posto Vila Cauhy

Transverso Ações Urbanas#3 - "Se Essa Rua Fosse Minha..."
Público Alvo Transeuntes + usuários + moradores Crianças moradoras ✓
Interventores A aluna + 4 participantes da oficina A aluna + voluntários + crianças e jovens moradores +

familiares
Materiais De baixo custo e de uso acessível: Máscaras de estêncil De baixo custo e de uso acessível: Máscaras de
(papel e plástico) + tinta spray + espelhos + roupas estêncil (papel e plástico) + tinta spray + tinta acrílica ✓
pretas + cartazes
Pré-execução Desenvolvimento das frases + compra do material + Desenvolvimento das frases/desenhos + compra do
produção das máscaras/lambes + montage de figurino material + produção das máscaras ✓

Duração 4 horas (preparação + execução) 4 horas (execução)


Execução 2 atos: 1. Introdução do tema + conversa


1. Performance com espelhos 2. Aplicação dos estencils ✓
2. Aplicação dos estencils/lambes 4. Brincadeiras e dinâmicas

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ZONA DE ATUAÇÃO ANÁLISE COMPARATIVA
TABELA 02 SETOR COMERCIAL SUL VILA CAUHY = ≅ ≠
Título "Quer que eu saia daqui? " "A Vila Pé de Cor " ✓
Processo Estudos e visitas pelo local foram realizados Estudos, visitas local e toda a preparação do material ✓
Ações A interação dos observadores-atores foram das mais Pintura do parquinho, aproximação/participação de
Espontâneas variadas, entre indiferença, observação, aproximação, familiares e responsáveis, atração de crianças e jovens
manifestação verbal, interação interpessoal e com os para o local, expandindo a presença de moradores das
performers. Quanto ao momento das pinturas, todos se ruas participantes do projeto, construção de novas

manifestaram curiosos e observadores. Também não relações interpessoais (aproximação e conflitos devido
CARACTERIZAÇÃO POSTERIOR

houve trocas diretas e a polícia, presente no local, não ao uso de material). Quase todos os participantes se
exerceu qualquer ação. mostraram extremamanete entusiasmados com as
atividades.
Resultados Quebra com a rotina no percurso, mensagens de Quebra com a rotina no percurso, mensagens de ✓
Ajustes Mais tempo dedicados ao planejamento e aos atos. Proposta de mais atividades/dinâmicas para o público
necessários Adaptações na composição dos performers, figurino e infanto-juvenil, ensino da técnica da produção de

roteiro de ações serão necessárias para a mostra, que estêncil/lambe para as criançãs (extensão da oficina)
trabalha com ações mais planejadas.
Impactos Mudança de percuso e atitude dos transeuntes, não Mudança de percuso e atitude das crianças/familiares,
Observados houve repressão (realizadas em grupo e a luz do dia), carência estrutural. Devido a falta de recursos,
mudança de foco de interação. Facilidade na atividades de lazer de qualquer natureza (tambpem
preparação (comércio farto), dificuldade execução (falta infantil), houve adesão imediata. Mesmo diantes da boa
de acessibilidade urbana para portadores de deficiência, localização/conexão com o arrededores, a Vila ✓
principalmente física). IMPACTOS ESTRUTURAIS permanece desconhecida e invisibilizada. IMPACTOS
SOCIAIS

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