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TOMADA (TAKE) é o ato de filmar, mais de uma vez, um mesmo plano. Garantindo
diferentes opções nas atuações dos atores e ajudando o montador a ter margem de
escolha na hora de montar.
CENA é o conjunto de planos filmados num mesmo local ou num mesmo cenário, e que
se desenrolam dentro de um tempo determinado.
A diferença entre cena e sequência é que a cena é determinada pela unidade de tempo e
de lugar, ao passo que a sequência é caracterizada pela unidade de ação dramática.
MONTAGEM CINEMATOGRÁFICA
“O filme está por inteiro em relações (…). Relações dos atores com os atores, dos atores
com os objetos e o cenário que os cerca, da ação com o ritmo dos planos e do encontro
da imagem com o som.” Robert Bresson
MONTAGEM INTERNA
COMPOSIÇÃO E RASTREAMENTO
PLANO SEQUÊNCIA
Plano com montagem interna que possui narrativa independente de outros planos
para ganhar sentido. Permite ao público respirar junto com quem está do outro lado
da câmera.
Dentre os maiores defensores do plano sequência está o teórico francês, André Bazin,
autor do livro Montagem Proibida:
MONTAGEM EXTERNA
MONTAGEM CLÁSSICA
Representação do “real”
Na narrativa clássica, o corte é regido por diversas regras, entre elas, o raccord que
tem como objetivo manter a ilusão de continuidade orgânica entre dois planos
montados sucessivamente. Os planos sucessivos de um filme não são sempre filmados
em um único dia, podendo ser separados por intervalos de vários dias. Por isso, é
fundamental assegurar que não haja mudança na concepção da cena durante esses
intervalos de filmagem. Isto é, os objetos cenográficos deverão estar sempre no mesmo
lugar, a iluminação deverá ter a mesma intensidade (vindo do mesmo lado, com a
mesma cor e a mesma direção), as roupas e os cabelos dos atores deverão ser os
mesmos, entre outros. Tudo isso ajudará a garantir a invisibilidade dos cortes. O
continuista é o profissional responsável por assegu- rar essa consistência.
RACCORD DE MOVIMENTO
É gerado por um movimento que começa num plano e continua no seguinte, dando a
impressão de uma ação contínua.
RACCORD DE DIREÇÃO
É a conexão de entrada e saída de campo. Por exemplo, se um ator sai num plano pelo
lado direito, precisa entrar no próximo plano pelo lado esquerdo.
Toda imagem possui seu contracampo. Por exemplo, num diálogo entre 2 pessoas,
uma de frente para outra, o campo é o plano da pessoa falando e o contracampo é o da
pessoa ouvindo. O contracampo é, então, aquilo que fica por detrás da câmera quando
o campo está sendo filmado.
RACCORD DE EIXO
RACCORD DE PANORÂMICA
Quando um plano mostra um ator observando algo que é revelado no próximo plano,
dando a impressão de subjetiva desse olhar.
FALSO RACCORD
Dá uma ilusão de continuidade entre dois planos que possuem diferenças significativas
na composição. O corte só consegue passar imperceptível pela força de atração do
olhar promovida pelo movimento ou ação em quadro.
FLASHBACK
ELIPSE
JUMP CUT
MONTAGEM EXPRESSIVA/INTELECTUAL/DIALÉTICA
A montagem não é um meio, mas um fim. Visa exprimir por si mesma, pelo choque de
duas imagens um sentido ou uma idéia. Exclui a consideração de um suposto “real”. O
“real” só existe a partir de um discurso articulado.
Conflito gráfico Conflito das superfícies Conflito dos volumes Conflito espacial Conflito
das iluminações Conflito dos ritmos Conflito de espacialidade (deformação ótica)
Conflito de temporalidade (aceleração da imagem)
QUESTÃO SONORA
É uma grande massa homogênea gerada tanto pela natureza — vento, água, pássaros,
insetos — quanto pelo homem — máquinas, trânsito, multidões. Ela compõe o que para
a visão, chamaríamos de fundo. Existe para dar preenchimento e contorno a imagem.
Sua presença pode não ser sentida mas sua ausência certamente seria estranhada.
Vivemos imersos em sons que nos tocam e contribuem diariamente com nossos
comportamentos e decisões, moldando as interpretações de tudo a nossa volta. O
trabalho de sonorização cinematográfica é um espelho de todas essas sensações que
nos atravessam a todo instante. O homem tem dado pouca atenção a sua audição e
permitido que os avanços tecnológicos transformem o ambiente em que vivemos num
verdadeiro caos sonoro.
Filmes barulhentos não são necessariamente filmes com uma boa edição de som. Isso
acaba por prejudicar a nossa capacidade auditiva por diminuir o raio de alcance de
nossa escuta. Apesar de toda a importância que os sons têm em nossas vidas, mesmo
reagindo muito mais às impressões sonoras do que às visuais, vivemos em uma
cultura da visão.
ESPAÇO IN
Constituído por todos os sons que possuem sua origem identificada através da
imagem. Esse é o único espaço sonoro compreendido dentro dos limites estabelecidos
pelo quadro imagético. Ouve-se tudo aquilo que se vê.
ESPAÇO OFF
É todo elemento sonoro que não é mostrado na imagem mas é por ela sugerido,
admitido ou suposto.
EXTRA-CAMPO
BANDAS SONORAS
São elementos de som que mixados a partir de uma concepção de desenho sonoro
criam uma Paisagem Sonora, a trilha de um filme.
DUBLAGEM
SOM DIRETO
O som direto está relacionado ao plano de imagem. Numa sequência de planos com
diferença de som direto que tem objetivo de criar um raccord sonoro, deverá ser
adicionada uma banda ambiente como fundo. Isso ajudará na impressão de
continuidade espacial e temporal. Por isso, é tão importante captarmos sons
ambientes em todas as locações filmadas.
AMBIENTES (AMB)
O ambiente é uma sonoridade que se prolonga por vários planos, gerando uma
espacialização sonora. Normalmente, ele se encontra vinculado a uma sequência com
um mesmo espaço físico ou intelectual.
Os ruídos em sua maioria, são sons curtos que pontuam o filme, ajudando a construir
uma espacialidade e chamando atenção para elementos da cena. Eles podem reforçar
a imagem, ou contradizê-la.
SIMULAR A REALIDADE
Contribuir para uma falsa sensação de continuidade. Possibilitar a crença de que algo
não visto na imagem, tenha realmente ocorrido.
PREPARAR O ESPECTADOR PARA ALGO POR VIR
O som pode ser utilizado como anunciação de algo que ainda não vimos, mas que em
breve se revelará. Revelar aproximação ou presença de personagens ou lugares, é um
recurso simples e muito utilizado.
Permite aos espectadores imaginar até mesmo o que se encontra fora dos limites do
quadro.
ESTILO NATURALISTA
Sonorizar tudo que é visto, sem chamar atenção para nenhum som específico. Utiliza-
se o espaço fora da tela apenas como ambientação/preenchimento.
ESTILO REALISTA
ESTILO HIPER-REALISTA
Extrapola os limites da realidade por chamar atenção para um som que distorce a
nossa percepção do real sem se afastar dele por completo. Esse som surge através de
efeitos durante o processo de mixagem ou pela substituição por sons de outros objetos.
Esse processo pode atingir efeitos narrativos diversos, sejam eles violentos ou
delicados.
ESTILO EXPRESSIONISTA
Copião = Agrupamento/Organização
A ESTÉTICA DO DOCUMENTÁRIO
“Um filme documentário, ao escolher seu objeto, é responsável pelo modo com que esse
objeto poderá agir sobre a cultura, isto é, como este objeto poderá se transformar num
meio de produção para outras obras. Toda obra é a transformação de outras obras,
que se inscrevem anonimamente no seu corpo, e, ao mesmo tempo, dá a sua novidade
como leitura para que outras obras se ramifiquem.” Arthur Omar
DEFINIÇÃO
Uma das coisas que individualizam o cinema face a qualquer outra forma de
expressão é que ele é visceralmente documental, quanto ao tempo, ao espaço e aos
lugares.
Os filmes de ficção são, de igual modo, vestígios de alguém, algo, algum tempo e lugar;
contém a marca da época em que foram realizados e traduzem algo de historicamente
verdadeiro dessa época.
O material base do documentário é o mundo que nos circunda, mas o que o distingue
de outros filmes é a percepção desse material e não apenas o seu uso. O registro do
mundo e a reflexão desse mundo, no documentário, têm um lugar privilegiado.
Há filmes tão ambíguos que poderiam ser lidos tanto como documentários quanto
como ficção ou como os dois ao mesmo tempo.
BASES HISTÓRICAS
Mas em uma época marcada pela crescente afirmação dos códigos narrativos do
cinema de ficção, o filme de viagem em particular, e as atualidades em geral,
continuaram carentes de uma “escritura” fílmica própria, capaz de capturar o
espectador e trazê-lo para dentro do mundo imaginário do relato.
Era difícil perceber o propósito de filmes cujo único interesse residia em serem um
espelho ou reprodução do que, sem ajuda ou intervenção da câmera, o público poderia
presenciar. E assim que o fenômeno técnico do cinematógrafo foi assimilado, o público
deles se aborreceu, passando a destacar-se o gosto pelo desenvolvimento das histórias
romanceadas.
Segundo Flaherty: “ Frequentemente você tem que distorcer algo para captar seu
espírito verdadeiro.”
A partir de 1919, ano em que Lênin decretou a nacionalização do cinema russo, Dziga
Vertov fez tábula rasa de tudo o que o antecedeu, pronunciando a “sentença de morte”
contra todos os filmes sem exceção”. Ele dizia: “Quando vocês e as ratazanas vão parar
de se preocupar com os objetos de cena? Cuidem da organização da vida real.”
O que estava em discussão era a definição dos métodos mais adequados à participação
do cinema na construção do “homem novo” e de uma sociedade industrial e socialista.
Ao defender a evacuação dos estúdios e a descida das câmeras às ruas para filmar “a
vida de improviso”, Vertov não estava propondo um cinema realista, mas a criação de
uma nova visão da realidade, que só o cinema poderia proporcionar. Optando por um
“cinema intelectual” que não quer apenas mostrar, “mas organizar as imagens como
um pensamento”.
Entendia que, durante a filmagem, a câmera não deveria interferir no curso normal
dos acontecimentos. Como regra geral, a câmera deveria ser invisível para as pessoas
filmadas, de modo a cumprir sua verdadeira vocação: “a exploração dos fatos vivos”.
Ao referir-se à irrepetibilidade, Vertov defendia a tomada única, ao contrário do
método convencional de filmagem.
Entre 1918 e 1922, a montagem já era um procedimento universal, mas no domínio das
atualidades Vertov reinventava, e a teorizava como um pioneiro. No seu mais
importante filme, O Homem e a Câmera, Vertov criou sobreposições, divisões de tela,
mudou sentido e velocidade dos movimentos, trabalhando com uma livre escritura
audiovisual. Dessa maneira, toda sua obra teórica e fílmica traz a marca do
antinaturalismo.
A relação complementar homem-máquina é uma idéia central no método vertoviano:
“Nós iremos, pela poesia da máquina, do cidadão desajeitado ao homem elétrico
perfeito”. A percepção do homem é limitada. As “deformações psicológicas” e uma mo-
bilidade restrita o impedem de apreender a estrutura dos processos naturais e sociais.
Mas a máquina possui aptidões que o ser humano não tem. Daí “a aspiração legítima
de libertar a câmera, reduzida a uma triste escravidão, submetida à imperfeição e à
miopia do olho humano”. Assim, Vertov chamava seu cinema de Cine Olho ou Cinema
Verdade, através do qual o “olho da máquina”, a partir do registro e da montagem,
iria ter acesso a uma verdade superior à percepção humana do real.
Os filmes eram muito diferentes uns dos outros. A única coisa em comum era estarem
fora do circuito comercial.
AS 4 PRINCIPAIS TENDÊNCIAS
EXPOSITIVO
Corresponde ao documentário clássico, em que um argumento é veiculado por
letreiros ou narração off, servindo-se das imagens como ilustração ou contraponto,
com o intuito de criar uma perspectiva informativa e didática do assunto.
O cinema americano tinha logrado um alto nível de comunicação com o público, mas
as questões sociais costumavam ser diluídas em histórias que enfatizavam conflitos
amorosos e dilemas individuais. No cinema soviético ocorria o oposto: as questões
individuais, capazes de motivar a identificação do público, eram submetidas aos
aspectos sociais e políticos.
Seus filmes foram os primeiros a levar à tela as imagens dos trabalhadores ingleses,
criando as bases para o desenvolvimento de um cinema realista na Inglaterra.
A solução encontrada por Grierson para a circulação dos seus filmes foi criar um
sistema alternativo de distribuição e exibição, composto por salas especiais, escolas,
sindicatos, associações e unidades móveis. Esse sistema paralelo de veiculação
resultou na maior rede de cinema educativo da Inglaterra. Por outro lado, manteve os
documentários à margem do mercado comercial e do contato com o grande público,
criando uma contradição que nunca seria resolvida: um sistema fundamentado em
uma retórica de comunicação de massa, mas que resultava em filmes vistos por uma
platéia selecionada e minoritária.
Mas apesar de uma série de questões que expõe contradições no documentário inglês,
ele representou uma trincheira de resistência ao cinema comercial teatralizado.
Desenvolveu um série de pesquisas sobre o uso não-ilustrativo de músicas, ruídos e
palavras. Alberto Cavalcanti, brasileiro, de formação cinematográfica na avant-
garde, teve influência fundamental no desenvolvimento sonoro dos documentários
ingleses, com sua preocupação poética e experimental.
OBSERVACIONAL
Tem sua expressão mais típica no cinema direto norte-americano do fim dos anos 50 e
começo dos 60, criado por profissionais de jornalismo e direito, procurou situar o
espectador na posição de observador ideal, defendeu radicalmente a não-intervenção,
suprimiu o roteiro e minimizou a atuação do diretor durante a filmagem. Privilegiou o
plano-sequência com imagem e som em sincronismo, adotando uma montagem que
enfatizava a duração da observação.
O ideal supremo seria um cinema sem cinema, um puro olhar sem suporte.
Perseguindo um sonho de anular a distância entre percepção e imagem.
INTERATIVO
Jean Rouch foi um representante destacado desta tendência. Seu filme Crônica de um
Verão, 1960, realizado conjuntamente com Edgar Morin, pode ser considerado o
protótipo dessa nova configuração do documentário.
“As pessoas, talvez porque haja uma câmera ali, criam algo diferente, e o fazem
espontaneamente”. Ao criá-lo, não só criam o filme como criam uma dimensão de si
mesmos que não poderia existir sem o filme, dimensão ao mesmo tempo real e
imaginária.
REFLEXIVO
No filme de Godard, “Le Gai Savoir”, uma personagem afirma: “Eu quero aprender,
ensinar a mim mesma, a todos, como voltar contra o inimigo aquela arma com a qual
ele nos ataca — a linguagem.”
Existem 3 formas de manifestação que não são excludentes, mas que apresentam
dimensões da reflexividade:
LÚDICA — artista tira a própria máscara pelo prazer de brincar com os códigos do
espetáculo.
Dziga Vertov não somente foi um pioneiro na pesquisa sistemática de uma “sintaxe”
cinematográfica especificamente documentária, como também imprimiu a esta
pesquisa um caráter antiilusionista e epistemológico, que demoraria mais de trinta
anos para ser reconhecido.
Começa-se a defender que é o ser humano que constrói e impõe sentido ao mundo. Cria
a ordem. Não a descobre. Organiza uma realidade que é significante para ele. E é em
torno destas organizações da realidade que cineastas constróem todos os filmes.
“A linha de frente artística só se faz presente quando ela flerta abertamente com tudo
que não é arte, que está na linha de fronteira com o que se constitui como não-arte,
como
não-ainda-arte, como aquilo que ainda pode causar estupor ao fazer com que o
espectador a cada minuto fique se perguntando o que fazer com todas as informações
que recebe da tela.” Ruy Garnier
A Língua tem pretensão de fórmula, regra, gramática. Ela se pensa como um processo
evolutivo de gênero.
A Linguagem é uma busca mais autoral que reflete a experiência singular de cada
diretor ou filme.
Desde 1895, ano oficial que os críticos e historiadores dizem ter sido criado o
cinematógrafo, que os filmes são realizados em diferentes culturas e com diferentes
propósitos.
Hollywood e seu sistema de produção, criou a padronização da película (35 mm) e dos
filmes (criação de gêneros: romance, suspense, ação, comédia, drama, faroeste, ficção
científica…).
Fazendo com que o espectador cativo fosse arrebatado pelos aspectos psicológicos e
afetivos da trama, não tendo a possibilidade de refletir ou assumir um distanciamento
crítico em relação à visão de mundo que lhe era apresentada. Eram filmes que tinham
o personagem principal fabricado como celebridade atraindo as massas consumidoras
de um ideal americano de vida.
Dizem os críticos que Hollywood eliminou a distância entre o espectador e a
construção fílmica, criando a ilusão, no espectador, de que ele estava no interior da
ação reproduzida no espaço ficcional do filme.
O cinema tradicional pretende ser ideal e absoluto. Focaliza alguns personagens numa
determinada época de suas existências mas fornece um juízo extra-temporal sobre
suas atitudes. Desenvolvendo uma consciência extra-temporal, refletindo sobre o
futuro, passado e presente dos personagens.
Os diretores geniais do cinema tradicional foram aqueles que souberam construir seus
filmes com uma admirável síntese entre forma e conteúdo. Cada um com sua
experiência criativa e com sua contribuição artística conseguiu abastecer essa
“gramática” clássica de renovação estética, mesmo que presos ao esquema
hollywoodiano de fazer cinema.
Segundo D e l e u z e , esse abismo que surge no cinema, coincide com uma certa
conjuntura que interveio na própria história do cinema e no mundo com a II Guerra
Mundial. Crise da crença em um mundo coerente e ordenado, crise da crença de que
uma ação pudesse efetivamente mudar o mundo.
Com o cinema moderno verifica-se uma passagem ao relativo, a câmera desce a altura
do olho, buscando um ângulo possível dentro de uma situação dada. A câmera
individualiza-se e toma posição frente à intriga. Ao invés, de estar em todos os lugares
e até dois lugares ao mesmo tempo no caso da montagem paralela. Já não há a
idealização da realidade, mas um desejo de integração ao real.
A valorização do presente faz com que a cena não exista em função da estrutura e do
desenlace, mas em função de si mesma. Cada cena reflete e revela o presente. Defende
a intuição de duração como única maneira de perceber o tempo. O tempo vivido é
“O estilo subjetivo de cada diretor surge na espera pelo devir dos instantes,
favorecendo um aspecto em detrimento do outro. A espera como uma tomada de
forma. É na indeterminação da espera que a fotografia resiste e produz um sujeito.
Espera como uma reserva de futuro no interior do tempo. Busca do instante singular.
A indeterminação da espera gera uma abertura para o futuro. A espera não é um
artesanato, uma doação de forma. É o estabelecimento de uma tensão que favorece
uma “tomada de forma”,que só é possível porque se espera.” Maurício Lissovsky
É necessário travar uma guerra contra a narrativa. Nada a ver com fazer filmes a-
narrativos (mesmo porque qualquer arte da duração está sempre, em algum nível,
presa a uma certa idéia de continuidade lógica): existe sempre uma linha narrativa
tênue que se estabelece e que estrutura o sentido de tudo que vemos. Essa guerra à
narrativa existe sobretudo como maneira modal de fazer cinema, considerar o tecido
narrativo como algo que dá as linhas básicas de fruição da obra. Mas estruturar seu
cinema a partir de outra coisa que é ela mesma não-narrativa, extrair beleza não a
partir da história que está sendo contada, mas da narrativa própria da imagem, do
intrincado jogo de decifração e revelação que pode se estabelecer de diversas formas
entre espectador e imagem.”
RuyGarnier
Portanto, o desafio maior é pensar todo o tema das hibridações, das fronteiras, das
itinerâncias, em suma, das culturas e sua capacidade de formular pertencimento. E o
cinema contemporâneo pode nos fornecer uma imagem dissidente, intervalar. Tais
rachaduras são enfatizadas através das descontinuidades no nosso presente, como as
fissuras do Estado nação, do mundo globalizado, do humanismo universalista, das
classes sociais, das identidades, das culturas. São filmes que querem fugir dos riscos
das narrativas de caráter totalizante, global, planificador.
Esse cinema, cada um com seu estilo e sua marca, propõe uma imagem necessária do
mundo, da realidade, do que está aí. Não se trata de fazer oposição a um estado de
coisas midiático, ser negativo ou simplesmente antagônico. Esse cinema quer
perguntar que novas relações estão se criando nessa fluidez crescente, nessa
dissolução das fronteiras e na criação de outras, mais sutis, porém não menos brutais;
esse cinema quer mostrar e falar desse mundo.
Seguindo essa lógica, não se deve esperar que o sujeito pós-moderno possua apenas
uma, mas sim várias identidades. Por isso mesmo, não pode mais ser representado por
um único ponto de vista. As representações culturais do sujeito pós-moderno —
fragmentado, formado por “identidades temporárias”, que pode ser identificado e se
identificar com várias posições diferentes e até mesmo contraditórias — devem
obedecer ao processo de “descentramento” do sujeito.
A arte passa a ser por excelência a experiência de espaço em que esse sujeito se
inscreve, a experiência de tempo em que ele vai à deriva. Talvez hoje seja a arte —
mais do que a política ou a ciência — o domínio fundamental para entender os
processos de subjetivação em curso na sociedade contemporânea.
Referências Bibliográficas