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Má-Consciência e Representação do
Popular no Cinema Brasileiro
Fernão Pessoa Ramos
Um cinema desenquadrado: a polít ica da linguagem e a linguagem da polít ica em Duas ou t rês coisas …
Cecilia Sayad
“From Cinema t o Film: T he Represent at ion of Realit y and t he Place of Polit ical Engagement in t he Fil…
St efano Ciammaroni
MÁ-CONSCIÊNCIA E REPRESENTAÇÃO DO POPULAR
NO CINEMA BRASILEIRO
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No capítulo 8 (.xxxxxxxxxxxxx..........) de História do Cinema Brasileiro (ArtEditora, 2001) desenvolvo em
este mantém através da crítica acirrada) posso me excluir de qualquer pertencimento
ao universo descrito. A má-consciência pela fratura social, cada vez mais exposta,
resume-se a expô-la de modo naturalista e, através do regozijo com a incompetência,
identificar-se com quem vê de fora o quadro traçado. O narcisismo às avessas é uma
forma de resposta a um nacionalismo insatisfeito que tem com motor a inevitável
má-consciência ao lidar com o universo ficcional que gira em torno de personagens e
cotidiano popular. A nação incompetente é o alvo que permite o estabelecimento, na
outra ponta, do popular idealizado.
A relação entre a representação da nação inviável e a figuração exibicionista
da cultura popular, fica clara em uma análise mais próxima da obra de Carlos
Diegues na segunda metade da década de 90. Apesar de alguns interregnos nos anos
80, a questão da cultura popular sempre foi uma temática presente em seus filmes. O
tom fantasista, de conto de fadas, que percorre sua narrativa, agora adquire
maturidade e mistura-se dinamicamente a estruturas dramáticas carregadas de tensão.
A produção do segundo Orfeu e a visita ao universo da mitologia popular de Jorge
Amado (Tieta do Agreste) é significativa desta tendência. Quando a temática do
popular re-emerge com força no cinema brasileiro, encontra na sensibilidade estética
de Cacá um interlocutor privilegiado. Tieta (1996) é um filme que caminha
inteiramente nesta direção, sentindo, talvez em demasia, a intensidade de um
reencontro adiado. É tanta a necessidade de exibir a cultura fascinante do povo
nordestino que o filme acaba por configurar-se em um aglomerado de espetáculos
isolados, sem um fio condutor definido que os conduza. A trama é sacrificada à
exibição descritiva e à exaltação da nova atualidade dos mitos populares (inclusive
em termos de um interesse renovado do mercado internacional exibidor).
Orfeu (1999) é o segundo filme de Cacá na retomada (se não contarmos Veja
Esta Canção de 1992), e novamente nos defrontamos com a representação da cultura
popular compondo o eixo dramático do filme. É interessante notar a volta de Cacá
Diegues a uma obra (Orfeu do Carnaval, Marcel Camus) que, nos anos 50, serviu
como ponto de referência negativo para a geração cinemanovista. A representação da
cultura popular dentro do modelo que Orfeu do Carnaval assume é definida, na