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VOTOD€D£
Deuseviocc
Walter Brunelli

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MOMT/1DC DC
Deus e voce
Walter Brunelli

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Todos os Direitos Reservados. Copyright(c)l987 para a língua portu­
guesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus.

231 Brunelli, Walter, 1953 -


B893 A vontade de Deus e você / W alter Brunelli. - Rio de
Janeiro : Casa Publicadora das Assembléias de Deus,
1987.
144p. ; 14x21cm.
Bibliografia
1. Deus - Vontade. 2. Vida cristã. I. Título.
CDD - 231

Casa Publicadora das Assembléias de Deus


Caixa Postal 331
20001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
10.000/1987
índice
Apresentação................................................................................................. 7
Prefácio.......................................................................................................... 9
Introdução..................................................................................................... 13
1. Aspectos da vontade de Deus.......................................................... 17
2. Porque alguns fogem da vontade de Ueus................................... 31
3. O que nos torna suscetíveis à vontade de Deus......................... 35
4. O centro da vontade de Deus - o melhor lugar........................ 43
5. Como conhecer a vontade de D eus................................................ 49
6. A vontade de Deus para o casam ento.......................................... 67
7. Um ato contra a vontade de Deus................................................. 75
8. A vontade de Deus e a vocação m inisterial................................ 81
9. A vontade de Deus e as vocações profissionais...................... 89
10. A vontade de Deus e as pequenas decisões.................................. 99
11. A vontade de Deus e a presença do m al......................................107
12. Com a vida no A ltar............................................................................ 117
13. Descansando na vontade de Deus....................................................127
N otas................................................................................................................139
Bibliografia.....................................................................................................141
Bíblias..............................................................................................................143
INDICE d a s a b r e v ia t u r a s
USADAS NESTE LIVRO
VELHO TESTAMENTO
Gn - Gênesis Ec - Eclesiastes
Êx - Êxodo Ct - Cantares
Lv - Levítico Is - Isaías
Nm - Números Jr - Jeremias
Dt - Deuteronômio Lm - Lamentações de Jeremias
Js - Josué Ez - Ezequiel
Jz - Juizes Dn - Daniel
Rt - Rute Os - Oséias
1 Sm - 1 Samuel J1 - Joel
2 Sm - 2 Samuel Am - Amós
1 Rs - 1 Reis Ob - Obadias
2 Rs - 2 Reis Jn - Jonas
1 Cr - 1 Crônicas Mq - Miquéias
2 Cr - 2 Crônicas Na - Naum
Ed - Esdras Hc - Habacuque
Ne - Neemias Sf - Sofonias
Et - Ester Ag - Ageu
Jó - Jó Zc - Zacarias
SI - Salmos Ml - Malaquias
Pv - Provérbios

NOVO TESTAMENTO
Mt - Mateus 1 Tm - 1 Timóteo
Mc - Marcos 2 Tm - 2 Timóteo
Lc - Lucas Tt - Tito
Jo - João Fm - Filemon
At - Atos Hb - Hebreus
Rm - Romanos Tg - Tiago
1 Co - 1 Coríntios 1 Pe - 1 Pedro
2 Co - 2 Coríntios 2 Pe - 2 Pedro
GI - Gálatas 1 Jo - 1 João
Ef - Efésios 2 Jo - 2 João
Fp - Filipenses 3 Jo - 3 João
Cl - Colossenses Jd - Judas
1 Ts - 1 Tessaloni.enses Ap - Apocalipse
2 Ts - 2 Tessalonicenses
Apresentação
O livro do pastor Walter Brunelli não pretende ser
uma teologia sistemática exaustiva acerca da vontade de
I)eus. A intenção que subjaz em cada capítulo é oferecer
forte embasamento bíblico a uma compreensão límpida e
simples do assunto. Creio que as duas grandes contribui­
ções do livro são estas: biblicidade e simplicidade. Tudo
aquilo que é bíblico garante profundidade àquilo que é
simples; e tudo aquilo que é simples assegura clareza de
percepção àquilo que é bíblico. Nosso desejo é que pela lei­
tura deste livro muitos encontrem com mais segurança as
pistas certas que conduzem à vontade de Deus.
Rev. Caio Fábio D ’Araújo Filho

7
Prefácio
Li, com satisfação e louvor a Deus na minhalma, os
originais do livro do pastor Walter Brunelli, intitulado A
Vontade de Deus e Você. Além da Introdução, são treze
capítulos de real valor para a vida cristã.
Escrito numa linguagem, simples, à altura de todos os
níveis culturais, não deixa de ser, ao mesmo tempo, e isso
enobrece a obra em apreço, erudita, profunda -e espraiada
em vasta bibliografia.
Já li diversos livros sobre a vontade de Deus para a
vida de todos e, particularmente, para a do servo do Se­
nhor Jesus; obras de grande expressão, mas a de Walter
Brunelli veio enriquecer a Biblioteca Evangélica no Brasil.
Brunelli é jovem e culto pastor. Deus o tem usado em
muitos segmentos da obra do Senhor em nossa Pátria,
principalmente no de Educação Teológica. Deus o abençoe
no lançamento deste presente trabalho. Espero que seja o
primeiro de uma série grande de obras que venham a aju­
dar o nosso povo e, de modo particular, a nossa juventude,
que tem sido bombardeada pelo lixo do inferno de imorali­
dade e destruição. A literatura que o Diabo tem semeado
9
na mente e no coração de nossos jovens é de estarrecer; e
não somente no campo da literatura, mas pelo rádio e TV,
que levam para o sagrado recinto do lar, a corrupção, a de­
sordem, a desobediência e a rebelião deliberada contra
tudo e contra todos. É uma guerra sem tréguas. - E como
resistirmos a esses avanços imprudentes da iniqüidade! -
Cruzando os braços? Apenas combatendo dos púlpitos a
onda de miséria e destruição? Impedindo que nossos jo ­
vens assistam aos programas da obcenidade do Mundo e
do Inferno? Tudo isso pode ser muito bom, mas é incom­
pleto.
O mundo luta com armas do Inferno e do Diabo. São
poderosas, mas não todo-poderosas. Deus põe em nossas
mãos armas espirituais no poder do Espírito Santo e no po­
der do sangue do Senhor Jesus. Temos de colocar nas mãos
de nossos jovens livros de valor espiritual, que edifiquem,
que exortem, que deleitem e, sobretudo, que abram cami­
nhos novos que possibilitem nossa juventude a se aproxi­
mar de Deus para uma vida útil, de santidade e amor.
Com o livro A Vontade de Deus e Você, Walter fíru-
nelli dá grande e oportuna cooperação. Em suas páginas,
os servos do Senhor encontrarão material bíblico e conse­
lhos que o ajudarão a vencer o mal e a fazer o bem; sair do
cabresto de Satã e se ajustarem ao jugo de Cristo; deixar as
trevas e buscar a luz; fugir do Diabo para servir a Jesus, o
Senhor.
Aprendi preciosas lições nas páginas de A Vontade de
Deus e Você. Não é um livro comum. É de alto valor espiri­
tual. Louva a Deus e não ao homem. Foi uma bênção para
mim e estou certo, o será para todos quantos lerem os treze
capítulos de A Vontade de Deus e Você. Muito bem escri­
to, numa linguagem correta, num estilo elegante. Reco­
mendo a leitura de A Vontade de Deus e Você do jovem
pastor Walter Brunelli.
Deus seja servido abençoar o autor de A Vontade de
Deus e Você e a todos quantos se inspirarem em suas pági­
nas. Que o nome, que é sobre todo nome, o nome de Jesus,
seja engrandecido, o Reino de Deus avance, nosso povo
10
seja edificado e, no final da leitura desse livro, possamos
dizer de coração: Senhor, foi feita a tua vontade aqui na
terra, particularm ente na m inha vida, como ela é feita no
céu... Amém.
São Paulo, 25-9-86
Enéas Tognini

11
Introdução
“ Seja feita a tua vontade, assim na terra como no
Céu” (M t 6.10). - Quem não conhece esta expressão? - E
nem é preciso ser um religioso de prim eira para identificá-
la. Io do s sabemos que ela é parte da oração mais conheci­
da em todo mundo, a “ Oração Dom inical” .
Foi assim que Deus popularizou a idéia de se fazer a
sua vontade. Ninguém pode escapar deste tem a. A vonta­
de de Deus é um assunto que se desenvolve por toda a
Bíblia, fala-se em todos os púlpitos e está na m ente de to­
dos os cristãos.
A vontade de Deus é um tem a claro e simples, ao m es­
mo tem po que profundo e quase inatingível em algumas
partes da Bíblia. Nenhum autor jam ais conseguirá esgotá-
lo. Podemos dizer desse assunto o que Salomão disse dos
livros: “ ...não há limites para fazer livros...” (Ec 12.12), ou
ainda o que alguém disse do Salmo 23: “É um a praia tão
raza em que crianças brincam à vontade e um m ar tão pro­
fundo onde elefantes morrem afogados” . Assim é a vonta­
de de Deus!
13
A grandiosidade do tem a, entretanto, não deve in ti­
midar-nos. Antes, através dos cam inhos que o Senhor nos
abre, devemos ingressar nele, movidos de entusiasm o e da
certeza de que não nos será escondido aquilo que Deus
realm ente quer para a nossa vida em particular. E sta pre­
missa é básica e verdadeira: Deus nunca negará a mim o
conhecimento daquilo que Ele quer que eu seja ou que eu
faça!
Conhecer a vontade de Deus é o dever moral de cada
pessoa neste m undo. Isto é tão verdade que Deus um dia
julgará os homens que sim plesm ente não se im portaram
com a sua pessoa e com aquilo que lhe diz respeito, pois
Ele foi capaz de vir até o homem para revelar-se de forma
sim ples e extraordinariam ente amorosa.
Pesa ainda mais sobre os que estão comprometidos
com Deus a responsabilidade deste conhecimento. Fomos
introduzidos na senda da vontade divina no dia em que
aceitam os o senhorio de Cristo sobre nós, e, durante todo
o nosso jornadear, somos conscientem ente conduzidos
para este eixo que deve nortear toda a nossa existência,
para aquele ponto alm ejado pelo Criador, que é viver para
a sua glória!
Neste livro procuram os m ostrar diferentes aspectos da
vontade de Deus, tendo como tese o fato de que a vontade
de Deus é boa.
Na sua extensão, a vontade de Deus é soberana, moral
e individual. Ela se revela flexível e tolerante em alguns
casos, porém, perem ptória e irresistível em outros.
Alguns tentam fugir da vontade de Deus, movidos por
sentim entos vários, enquanto que outros são atraídos por
ela e acabam descobrindo que o melhor lugar é o centro da
vontade de Deus.
O Senhor descortina, diante de nós, os caminhos e as
circunstâncias que Ele usa para nos levar a conhecer a sua
vontade, principalm ente quando chegamos na crise das es­
colhas im portantes da vida, como namoro, noivado, casa­
m ento, vocação profissional e cham ada m inisterial; mas
tam bém nas pequenas decisões que m uitas vezes podem
trazer grandes conseqüências, se desconsiderarmos a im ­
portância da vontade de Deus para elas.
14
É claro que tudo o que tem valor custa um preço e as­
sim a vontade de Deus exige um a vida de santificação. A
santificação é em si mesm a o cum prim ento da vontade de
Deus, é a m aneira como podemos avançar neste conheci­
mento, através da intim idade com Deus, alcançada pela
identificação da nossa natureza com a dele.
Enfrentam os m uitas oposições no nosso m inistério
evangélico e algum as em forma de controvérsia e indaga­
ção sobre problem as que parecem não ter soluções, como
por exemplo, a presença do mal em relação à vontade de
Deus. Reconhecendo a nossa pequenez diante do tema,
procuram os tam bém discorrer sobre isso, ainda que de for­
m a sucinta.
Finalm ente, concluímos m ostrando que quem anda
na vontade de Deus não vive ansioso, porém em descanso.
A vontade de Deus tem nuanças que im pedem radicalis-
mos e projetam segurança a partir de um a hum ildade ine­
rente e um a busca sincera.
(3 Autor

15
1
Aspectos da
vontade de Deus
A Bíblia faz distinção entre diferentes aspectos da
vontade de Deus, os quais merecem ser estudados para que
se notem as suas peculiaridades.
À m edida em que compreendemos cada um deles,
aproximamo-nos mais do âmago da vontade de Deus, não
só geral como tam bém específica, para as nossas vidas.
PERSPECTIVA HUMANA DA VONTADE DE DEUS
Os nossos juízos partem sempre daquilo que conhece­
mos. Pelo fato de termos um a natureza hum ana finita, não
conseguimos im aginar a eternidade. Aceitamo-la por fé,
m as é bastante difícil para a m ente hum ana im aginar algo
sem princípio e sem fim. - Por quê? - Porque a nossa exis­
tência teve um começo e tam bém terá um fim. Somente
num a vida espiritual elevada temos condições de com­
preender bem os mistérios do mundo espiritual que nos
atrai, sem precisar associá-los à dimensão que ora vivemos
e conhecemos.
Deus está num plano elevado e, para compreendê-lo,
só mesmo por meio de revelação e não de especulação; e
17
tanto u.ma como a outra são fartas. A revelação de Deus é
objetiva e clara. Ela se dá pelas coisas que estão criadas
(cosmológica - Rm 1.20), no próprio homem (antropológi­
ca - Rm 1.18-19), e pela Bíblia (específica). Por outro lado,
deparamo-nos com as especulações em torno da pessoa de
Deus.
No tempo e no espaço, o ser hum ano cria diferentes
concepções a respeito de Deus, dando-lhe formas, como de
pessoas, de anim ais, de rochas e de outras coisas mais,
atribuindo a estas coisas um valor divino e, diante das
quais, se prostra reverentemente, para venerá-las. Além de
formas, desenvolve doutrinas com um aprimorado conteú­
do ético, a maioria delas, afinadas com os costumes da ci­
vilização local, visando a um a conduta moral elevada, a
custo, m uitas vezes, da própria vida de seus adeptos. Cria,
ainda, formas de cultos desde moderadas até as mais ex­
travagantes que se possam ter em conta. Faz, enfim, da
concepção deste Deus único e verdadeiro, criador dos céus
e da terra, um a verdadeira miscelânea, confundindo-lhe o
principal, que é a sua personalidade.
Se Deus é um Deus pessoal e tem personalidade, en­
tão Ele tam bém possui vontade própria e esta não é um a
dedução simples da visão personalista que se tem dele,
m as o fruto da sua revelação específica que se dá através
da Bíblia Sagrada. É ali que aprendemos que Deus tem
vontade. Mas para quem Deus não é aquilo que a Bíblia
diz que Ele é e sim o que sua m ente acha, não adianta al­
guém tentar m ostrar a verdade revelada sobre Deus, por­
que a sua m ente m órbida se fecha para não receber qual­
quer palavra que se choque com aquilo que nela já está es­
tabelecido.
Por causa dessas diferentes formas de se interpretar a
Deus, é que se tem suposto um a infinidade de coisas ab­
surdas, como sendo elas a própria vontade de Deus. Isto
ocorre desde as religiões mais m ísticas até um a boa parte
do cristianismo hodierno, onde se excede em padrões proi­
bitivos, apresentando um Deus de cara feia e de um olho
em tudo o que se faz de errado, para punir. Esse Deus que
im aginam e que pregam vai, em suas exigências, muito
além do que as pessoas normais possam suportar. Outros
18
excedem em faniasias, criando nichos à m oda dos espíri­
tas, fazendo deles o que cham a de “ponto de contato” . A
princípio, para estim ular a fé, m as depois, por causa do
costume, aquilo entra para a prática religiosa, cristalizan­
do-se como as dem ais formas de crenças, ficando estabele­
cido que eles atendem a um meio da vontade divina para a
obtenção de favores.
Ao sentim entalizarm os o nosso aprendizado da fé cris­
tã, tendem os a com binar a vontade de Deus com aquilo
que cremos e acham os ser bom. É m uito fácil cair no que se
pensa ser a vontade de Deus sem se considerar o fato de
que a vontade de Deus não se amolda à nossa só porque nos
sentimos honestos, sinceros e piedosos. A vontade de Deus
nem sempre será o que eu quero que ela seja, m as sem pre
será o que ela realm ente é, e cabe a mim descobri-la e pra­
ticá-la. Eu não posso pretender transferir para Deus um
sentim ento hum ano e esperar que esse sentim ento modifi­
que o de Deus. Isto é m anipulação; se Deus é Deus, é Ele
quem deve governar o homem e não o homem a Ele.
- Por que a hum anidade está confusa? - Porque não
quer se subm eter ao governo de Deus. A vontade de Deus
não é aquilo a que os homens querem se sujeitar, por isso,
diz a Bíblia: “Pelo que tam bém Deus os entregou às con-
cupiscências de seus corações, à im undícia...” (Rm 1.24).
A PERFEITA VONTADE DE DEUS
“E não vos conformeis com este mundo, m as transfor­
mai-vos pela renovação do vosso entendim ento, para que
experim enteis qual seja a boa, agradável e perfeita vonta­
de de D eus” (Rm 12.2).
Deus é um ser perfeito e por isso não há imperfeição
algum a em nada que lhe diz respeito. Para Deus as coisas
são claras e lim pas. Ele jam ais confundiria o homem com
aquilo que Ele mais espera do homem. Deus está profun­
dam ente interessado em que o ser hum ano o compreenda
em seus desígnios para com o homem. Deus tem um a von­
tade perfeita porque Ele é perfeito. Sendo a sua vontade
perfeita, ela deve ser perfeitam ente com preendida e vale a
pena com preendê-la porque ela é tanto boa quanto agradá­
vel. E quem de nós não está interessado em algo que seja,
ao mesmo tempo, bom e agradável?
19
A VONTADE DE DEUS É BOA
Qualquer pessoa pode adm itir que Deus é bom, mas
nem todas conseguem crer que a sua vontade seja de todo
boa. Há um grande número de cristãos que ainda não fize­
ram da vontade de Deus a coisa boa de suas vidas. São
aquelas pessoas que ainda estão com o coração dividido
entre as “coisas que são de cim a” e “as que são da terra”
(Cl 3.2); pessoas que não costumam consultar a Deus antes
de dar algum passo, por mais im portante e decisivo que se­
ja; que desconfiam que Deus não seja dotado de bom gosto
e possa preferir algo m uito abaixo dos seus padrões.
Assim escreve T.B. M aston: “Perm ita-m e fazer-lhe
duas perguntas: 1*) - Quais são as coisas que você mais de­
seja em sua vida? - 2?) Como você acha que conseguirá tais
coisas - dentro ou fora da vontade de Deus?” (‘). Desde que
convenhamos em aceitar a vontade de Deus como boa, res­
ponderemos positivam ente à questão apresentada por
M aston sobre o “como” da nossa decisão.
Há um caso até bastante pitoresco na Bíblia que ilus­
tra m uito bem o nosso assunto. T rata-se do dia quando Ló
recebeu dois anjos em sua casa para avisá-lo de que a cida­
de em que morava seria destruída. Algumas recom enda­
ções foram feitas, como tirar a fam ília do lugar e sair
apressadam ente para outro que eles já haviam designado.
Ló não reagiu à palavra de ordem dada pelos anjos
quanto a sair da cidade, mas seus futuros genros acharam
que aquilo era brincadeira. No dia seguinte, bem cedo, os
anjos apressaram a saída de Ló, sua esposa e suas duas fi­
lhas, porque sabiam que a hora da destruição estava che­
gando. Como Ló insistisse na sua morosidade, os anjos ti­
veram de pegá-lo pela mão e arrancá-lo de lá. Estando já
fora da cidade, m andaram que ele fugisse para as m onta­
nhas e então Ló, reagiu. Isto ele não queria. Ora, a palavra
de ordem partira de dois mensageiros que vieram direta­
m ente do Céu para falar com ele; não havia porque rejei­
tar! Toda a orientação dada por eles deveria ser seguida à
risca, pois im plicava na vontade perfeita de Deus para o
seu servo. Se a ordem era ir para a região das m ontanhas,
que atendesse e fosse; m as Ló não gostou. Leiamos o texto
20
parafraseado na Bíblia Viva, onde poderemos sentir mais
de perto esta dram ática história: “ Quando já estavam fora
da cidade, um dos anjos disse: Fujam! Corram sem parar,
e sem olhar para trás. Não fiquem no vale. Vão para as
m ontanhas e só parem quando chegarem lá. Só assim esca­
parão com vida! - Oh! não! - exclamou Ló. Para as m onta­
nhas não, por favor! Desde que foram tão bondosos comi­
go, salvando m inha vida, m ostrando piedade, deixem que
eu vá para aquela cidade pequenina. É tão pequena que
não faz m al que não seja destruída. Eu bem podia fugir
para lá e ficar salvo. - Está bem, disse o anjo. Aceito sua
proposta, e não destruirei aquela cidade. M as vá depressa.
Não posso fazer nada, enquanto você não chegar lá” (Gn
19.17-22).
Ló reconhecia a bondade dos anjos e tam bém acatava
as suas palavras em defesa de sua própria vida; agora,
quanto a optar por um lugar, ele preferia reservar a si m es­
mo esse direito de escolha. A vontade de Deus ele acatava,
conquanto entendesse que esta lhe apresentasse vantagens
pessoais, mas fora disto ele não a tinha de todo como sendo
boa. Os anjos indicaram um bom lugar para ele ficar com
sua família, isto é, nas m ontanhas, no entanto Ló achou
que Zoar era um lugar melhor. Os anjos não o im pediram,
primeiro porque tinham pressa e queriam que o seu prote­
gido estivesse, o quanto antes, alojado e, segundo, porque,
mesmo usando a vontade permissiva, concedendo o desejo
do seu coração, ele, por si só, descobriria, a seu tempo, que
o plano de Deus era o melhor.
Ló acabou cedendo, porque a sua vontade realm ente
não era melhor do que a de Deus. Leiamos isto ainda na
m esm a tradução: “Estranho é que Ló depois ficou com
medo de m orar em Zoar, e foi para as m ontanhas...” (Gn
19.30).
Ainda que algo pareça diferente daquilo que você mais
desejava, descobrirá depois, pelos resultados, que a vonta­
de de Deus é bem melhor do que tudo que você havia pla­
nejado.
21
A VONTADE DE DEUS É AGRADÁVEL
Nós, cristãos, chamamos a atenção das pessoas pela
forma diferente de vida que temos. Causamos a impressão
de que não temos alegria na vida pelo fato de nos abster­
mos de m uitas coisas que o mundo oferece. Segundo o con­
ceito de felicidade do mundo, nós realm ente não temos o
que eles acham ser alegria.
Às vezes tentam os nos explicar, m as descobrimos que
não adianta; apesar disso insistimos até descobrirmos que é
tudo em vão. Então lemos na Bíblia que a nossa estranhe­
za não deve mesmo ser explicada, porque ninguém pode
entendê-la. Assim está escrito: “Portanto, se já ressusci­
tastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima e não as
que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida es­
tá escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a
nossa vida, se m anifestar, então tam bém vós vos m anifes­
tareis com Ele em glória” (Cl 3.1-4).
Aprendemos algum as lições deste texto. A prim eira é
que ressuscitamos com Cristo. N esta caso, quem tem vida
somos nós que já ressuscitamos e não quem nos estranha.
Como pode um morto compreender um vivo? Segundo, é
que estamos envolvidos com as coisas que são de cima. Vo­
cê já viu alguém usar esta frase: “Parece que você está no
mundo da L ua” , referindo-se a um a pessoa que esteja aérea
ou distraída? Pois é quase o nosso caso: vivemos um tipo
de alienação do mundo presente, fazendo-nos dignos da re­
ferida expressão, com a diferença de que estamos além,
m uito além da Lua. Estam os com o pensam ento “nas coi­
sas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de
Deus” . Terceiro, é que estamos mortos. Parece contradi­
ção, não? Há pouco, vimos que o m undo é que esta morto e
nós ressuscitados, e agora o contrário. M as o texto quer di­
zer que estamos mortos para o mundo. Ora, se alguém está
morto para o mundo, como pode ainda viver apegado a
ele? Quarto, é que “a nossa vida está escondida com Cristo
em Deus. Se a nossa vida está escondida, ela não poderá
ser compreendida. A nossa vida é um mistério. Como pre­
tender que as pessoas do mundo compreendam-na? E de­
pois, a nossa vida está escondida com Cristo em
22
Deus! Estam os escondidos em Cristo. Cristo, por sua vez,
está escondido em Deus. Para o mundo nos compreender é
preciso compreender primeiro a Cristo; mas, tam bém não
o compreende, porque Ele está escondido em Deus! Isto
não quer dizer que nós não possamos ser conhecidos. Vive­
mos num mundo visível. Vemos e somos vistos pelas pes­
soas. 0 texto não está falando disto, mas de sermos com­
preendidos. Quinto, é que haverá um dia quando mundo
nos irá compreender. Isto ocorrerá no dia em que o Senhor
se m anifestar em glória conosco. Naquele dia, Ele, que
tam bém não é compreendido, o será e, juntam ente com
Ele, nós tam bém seremos compreendidos, só que será tarde
para aqueles que riram do nosso estilo de vida ou da nossa
aparente “infelicidade” .
- Por que somos diferentes? - Porque estamos interes­
sados em cum prir a vontade de Deus e ainda que o cum pri­
mento desta vontade implique na nossa abstinência dos
prazeres do mundo, nem por isso deixamos de ser felizes.
Pelo contrário, está em nós o verdadeiro sentido da felici­
dade, porque cum prir a vontade de Deus é coisa agradável.
Isto só pode ser constatado por aqueles que am am a vonta­
de do Senhor, como se pronuncia, a respeito dela, o salm is­
ta e rei Davi: “ I)eleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus
meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (SI 40.8).
Para o rei Davi a vontade de Deus era coisa boa e agradá­
vel. A vontade de Deus não era aquilo que ele poderia pre­
tender que fosse, mas o que ele sabia ser pelas Escrituras,
as quais ele exam inava e procurava praticar.
A vontade de Deus só não é agradável para quem tem
o seu coração dividido entre os valores do mundo e os espi­
rituais. Enquanto não houver definição, a vontade de Deus
não poderá ser conhecida na sua perfeição, logo, não será
possível sentir o seu sabor agradável. À m edida em que
um a pessoa se subm ete às vias norm ais da carreira espiri­
tual com o objetivo de experim entar a vontade perfeita de
Deus, ela descobrirá que a vontade de Deus não somente é
boa como tam bém é agradável.
Quantos crentes estão sendo voluntários na obra de
Deus? É m uito fácil saber: basta consultarmos um regente
de coro, de conjunto instrumental ou qualquer outro se-
23
tor da igreja que exija a presença dos seus compo­
n en tes p a ra ensaio ou p a ra algum tra b a lh o fora
do horário norm al de culto. Todos eles têm algu­
ma reclamação a fazer. - Por quê? Porque uma boa
p a rte não leva a sério a sua função. É d e m a ­
siadamente pesado fazer a obra de Deus. Não dá tem ­
p o :-“Tenho trabalhado m uito” ,“Precisei sair, por isso me
atrasei” , etc. Note-se que as pessoas geralm ente não che­
gam nem onde se propuseram a ir, quanto mais pensar em
realizar algum a coisa grande que lhes é proposta!
A prática da vontade de Deus é um ato que dem anda
esforço, decisão e amor. No Novo Testam ento, por exem ­
plo, não temos nenhum a exigência doutrinária quanto à
prática do jejum e, no entanto, m uitos de nós praticam os o
jejum porque é bom e agrada a Deus e ao mesmo tempo
traz consigo recompensas. Claro que ficar sem comer é ta ­
refa nada agradável, mas por se tratar de um a decisão es­
piritual que visa a nos aproxim ar m ais de Deus, ela se tor­
na em gozo. Praticar a vontade “agradável” de Deus é es­
forçar-se por fazer além do que nos é exigido, e tudo por
amor.
“TH ÉLEM A ”
Subm eter-se à vontade perfeita de Deus é estar de
acordo com tudo o que Ele planejou na sua infinita sabedo­
ria.
A vontade de Deus segue dois planos a que os estudio­
sos cham am de vontade preceptiva e vontade peremptó­
ria. A prim eira (preceptiva) é aquela em que Ele lança pre­
ceitos e cabe ao homem executar ou não. A segunda (pe­
rem ptória) é a vontade decretiva e que não tem jeito de ser
alterada.
No Novo Testam ento, as palavras de onde se traduz
vontade são estas: “Thélo” (ocorre 207 vezes); “Thélem a”
(62 vezes); “Boulom ai” (e seu substantivo “Boule” : (ocor­
re 37 vezes). No Antigo Testam ento (hebraico), a palavra
“hapes” (ocorre 26 vezes); ‘“abâh” (17 vezes) e “m ã’ên”
(13 vezes). - Que diferença faz saber estas palavras e quan­
tas vezes elas ocorrem? - É que, de acordo com o texto em
que elas aparecem , o sentido que elas pretendem demons-
24
trar distingue a ênfase a partir do significado de cada um a.
Como a base doutrinária para nós encontra-se no
Novo Testam ento, nós nos apegamos a ele para buscarmos
o ensino que deve nortear a nossa conduta, enquanto recor­
remos ao Antigo apenas para confirmar tais ensinos com
exemplos de vidas que podem nos ajudar a compreender os
propósitos de Deus. Assim, a vontade de Deus, com maior
ênfase em toda a Bíblia, m orm ente no Novo Testam ento, é
a que traduzim os da palavra “thélo” : ter vontade, querer,
desejar, determinar, ter prazer em, intenção. Esta é a p a­
lavra que encontramos em Romanos 12 para descrever a
vontade perfeita de Deus (“ ...tò thélem a toü Theoü, tò
agathón kai euáreston kai téleion”).
A ênfase de “thélo” ou “thélem a” está voltada para a
vontade preceptiva de Deus. Ele estabelece os preceitos e
espera de nós um a atitude coerente para com eles. De­
preende-se desta vontade a cham ada vontade permissiva
de Deus. Há, então, entre a vontade perfeita e a perm issi­
va, algumas diferenças. As desvantagens de um a em rela­
ção à outra são pelo menos estas: a vontade permissiva es­
tá mais de acordo com o que o homem deseja do que com o
que Deus realm ente quer; a vontade permissiva demonstra
carnalidade, desejo, enquanto na perfeita o homem se des­
taca pela espiritualidade; as conseqüências da vontade
permissiva são desagradáveis, enquanto na perfeita o ho­
mem goza de plena felicidade; na vontade permissiva o ho­
mem viola os preceitos da Palavra de Deus, enquanto na
perfeita, ele age segundo ela.
Deus não impede ninguém de pecar, a menos que lhe
convenha impedir. Há m uitas e m uitas coisas acontecendo
fora da vontade perfeita de Deus e Ele perm ite isso, porque
respeita a vontade hum ana, não obstante, diz qual é a sua
vontade.
Na Bíblia temos um exemplo bastante claro de como
Deus não só perm ite alguém errar, como atende, contraria­
do, às orações insistentes. Ele ouviu o povo de Israel quan­
do este lhe pediu um rei, e atendeu à oração.
Deus já havia feito promessa de dar um rei à nação
(Dt 17.14-20) e isto ela aguardava com ansiedade, mas pa-
25
rece que estava demorando um pouquinho e o povo não es­
tava com m uita paciência. Queria que a promessa de Deus
se cumprisse logo. Os anciãos de Israel, representando o
povo, foram a Samuel e reclamaram este rei. Pediram que
o profeta lhes constituísse logo o homem que deveria gover­
nar a nação. Sam uel levou o assunto a Deus. A resposta
foi: se o povo quisesse um rei fora do tempo, Deus estava
disposto a dar-lhe, porém, não segundo o que havia plane­
jado. O rei, fora da vontade divina, não lhes seria bom. Ele
exploraria os filhos e as filhas do povo para serviços seus e
ainda tom aria o melhor da terra, da lavoura, servos, gado e
ainda faria deles escravos. No dia do sofrimento, eles invo­
cariam a Deus e não seriam ouvidos. Que escolhessem. O
povo escolheu e escolheu o pior. Diziam: “Não, mas tere­
mos um rei sobre nós” (1 Sm 8.19 - Atualizada).
Saul foi constituído rei sobre a nação de Israel. Por
quarenta anos, os israelitas tiveram de suportá-lo. Ele foi
exatam ente como Deus disse que seria. Houve aí um a res­
posta de Deus, m ediante um pedido insistente feito pelo
povo que não soube esperar na perfeita vontade de Deus,
embora soubesse qual fosse.
Uma certa jovem contraiu um a doença que tirou parte
da beleza de seu rosto. Recorreu a todos os meios possíveis
de ser curada. Nunca obteve êxito. Por causa da enferm i­
dade, um dia entrou num a igreja evangélica, decidiu-se
por Cristo e, embora não tivesse alcançado ainda o que
queria, descobriu que Jesus tinha algo melhor do que a
cura física para lhe dar: a cura da alm a. Enquanto doente
fisicamente, ela se tornou um a bênção na igreja. Certo dia,
decidiu que deveria ser mesmo curada e pediu que o pastor
orasse por ela de m aneira insistente. O pastor que subm e­
tia à vontade de Deus a resposta de suas orações, fez como
Samuel: disse a Deus que a moça insistia em ser curada. O
Senhor atendeu. Dias se p e sa ra m e ela estava com pleta­
m ente curada. O seu rosto voltara a ser belo como antes, e
ela sentia agora o desejo de explorar a sua beleza, nova­
m ente. Atirou-se ao mundo, envolveu-se com o pecado. Vi­
rou as costas para Deus, num a atitude verdadeiram ente
ingrata. Mas Deus, que preferia tê-la doente, porém salva,
atendeu ao seu pedido por sua vontade permissiva. A moça
26
envolveu-se tanto com o pecado, que o seu corpo físico não
suportou. Contraiu um a horrível enfermidade que a levou
à morte.
Pergunto: Valeu a pena insistir com Deus em algo que
Ele não estava interessado em fazer? Há m uitas respostas
que Ele nos dá de modo diferente do que pretendemos,
para nos livrar do mal; porém, quando somos teimosos, te­
mos tam bém de arcar com os resultados dos nossos pedi­
dos inconseqüentes.
“ BOULOMAI”
Se na vontade permissiva conhecemos aquele lado de
Deus que perm ite que a vontade hum ana prevaleça m e­
diante insistência, na vontade perem ptória conhecemos o
lado com pletam ente oposto. E sta vontade é tam bém co­
nhecida como vontade decretiva. É aquele direito que
Deus reserva a si mesmo de decidir como quer, não obstan­
te às m uitas insistências. Não há nada que possa m udar
um a decisão decretiva de Deus.
E sta expressão da vontade de Deus encontram os na
palavra grega “boulé” , algum as vezes traduzidas por con­
selho. Em Efésios 1.11, o apóstolo Paulo diz: “Nele, digo,
em quem tam bém fomos feitos herança, havendo sido pre­
destinados, conforme o propósito daquele que faz todas as
coisas, segundo o conselho da sua vontade” . Parafrasean­
do, o final seria: “ ...segundo a vontade decretiva (“boulé”)
da sua vontade (“thélem a”)” . O autor aos Hebreus explica
de m aneira m ais incisiva esta expressão da vontade divi­
na, a ponto de dizer que Deus chega a jurar por si mesmo
pelo cum prim ento dela: “Pelo que, querendo Deus m ostrar
mais abundantem ente a imutabilidade do seu conselho
(“boulé” ) aos herdeiros da promessa, se interpôs com ju ra­
m ento” (Hb 6.17).
Em sua pregação no dia de Pentecoste, Pedro fez m en­
ção da vontade perem ptória de Deus ao referir-se à morte
de Jesus. Para isto, Ele veio a este m undo: morrer pelos
nossos pecados. Isto não podia ser diferente. Mesmo tendo
orado ao Pai sobre a possibilidade de passar sem ter de be­
ber aquele cálice, a resposta do Pai a Jesus, por três vezes,
foi “N ão.” Jesus sabia que tinha mesmo de beber do cálice
27
amargo, por nós. Aquela era a vontade peremptória de
Deus. Quando chegou a hora, “Jesus se deu” por nós. Não
foi apanhado de súbito. “A este que foi entregue pelo de­
term inado conselho e presciência de Deus, tom ando-o vós,
o crucificastes e m atastes pelas mãos de injustos” (At
2.23).
É adm irável a m aneira como o apóstolo Paulo cum ­
priu bem o seu m inistério. Ele dividiu bem a palavra da
verdade. Seus ensinos eram completos. Não se detinha
num ponto e nele ficava a vida inteira por falta de m ensa­
gem. Veja o que ele diz no seu discurso aos anciãos de Éfe-
so: “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho
de Deus” (At 20.27).
Para melhor compreendermos esta m odalidade da
vontade divina, recorramos a dois exemplos bíblicos, um do
Antigo e outro do Novo Testam ento.
Quando Moisés rogou a Deus, pedindo permissão para
entrar na terra pela qual tanto lutara, trazendo consigo o
povo pelo deserto, a resposta que recebeu de Deus foi
“N ão.” Mas, não foi sim plesm ente “N ão.” Deus deu-lhe
um “N ão” definitivo. Disse “B asta.” às suas orações n a ­
quele sentido: “Rogo-te que me deixes passar, para que
veja esta boa terra que está dalém do Jordão, esta boa
m ontanha, do Líbano! Porém o Senhor indignou-se m uito
contra mim por causa de vós, e não me ouviu; antes me
disse: “Basta; Não me fales m ais neste negócio” (Dt 3.25­
26). Nem adiantava mais Moisés tocar no assunto. A deci­
são já estava tom ada. Deus tinha outro plano para com
Moisés: recolhê-lo para si.
Vamos agora para o Novo Testam ento. Lá encontra­
mos outro líder que m uito sofreu pela “ causa” . Foi o após­
tolo Paulo. Declarou ter um “espinho na carne”, o qual ele
mesmo cham a de “um mensageiro de Satanás para me es­
bofetear, a fim de me nãc exaltar” (2 Co 12.7). Por causa
daquele problem a, Paulo disse que orou três vezes, sem
nunca obter de Deus a resposta desejada. Deus não estava
interessado em tirar-lhe o tal “espinho na carne” , porque
tinha um bom propósito com ele: não perm itir que Paulo
se exaltasse. Deus não queria perder aquele homem. E n­
quanto ele permanecesse hum ilde, seria útil para o Se-
28
nhor. Então, a resposta que lhe deu foi: “A m inha graça te
basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2
Co 12.9). Paulo poderia ficar zangado e dizer como alguns
dizem ao não serem atendidos num pedido que fazem:
“Tanto que eu me esforço! bem que Deus podia me aten­
der nisto...” M as Paulo não ficou zangado. Não reclamou
do “N ão.” de Deus. Tam bém não aceitou como por im po­
sição, dizendo depois “Paciência.” Não. Paulo ficou satis­
feito com a resposta de Deus, ainda que fosse diferente da
que ele pedira: “De boa vontade me gloriarei nas m inhas
fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” (2
Co 12.9). Paulo reconhecia que não estava perdendo com o
“N ão.” de Deus, mas ganhando, e muito!
QUANTO À SUA EXTENSÃO
Quanto à sua extensão, a vontade de Deus revela-se
soberana, moral e individual.
Vontade soberana
Tudo quanto acontece no Universo segue um plano di­
vinam ente pre-determ inado. Deus é, indiscutivelm ente, o
Senhor da História. Ele está por detrás dos fatos, muito
embora, coisas estejam acontecendo em seu total desagra­
do, mas unicam ente por sua tolerância e permissão. “To­
dos os moradores da terra são por Ele reputados em nada;
e segundo a sua vontade Ele opera com o exército do Céu, e
os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão,
nem lhe dizer: Que fazes?” íUn 4.35).
Vontade moral
Os ensinam entos da Bíblia m ostram ao homem como
deve ser e como deve viver de modo a agradar a Deus. A
abstinência do pecado, a prática da justiça, o alto padrão
de relacionam ento hum ano e o equilíbrio pessoal, são refle­
xos desta vontade moral de Deus: “que conheces a sua
vontade e aprovas as coisas excelentes...” (Rm 2.18). Ain­
da outro exemplo desta vontade: “Não vos ponhais em
jugo desigual com os incrédulos; porquanto, que sociedade
pode haver entre a justiça e a iniqüidade? ou que comu­
nhão da luz com as trevas?” (2 Co 6.14).
29
Vontade individual
Há um a canção muito conhecida do povo de Deus que
revela a vontade individual de Deus: “Deus tem um plano
em cada criatura...” De fato, Deus tem um plano detalha­
do e designado, singularm ente, para cada pessoa. Este pla­
no envolve cada decisão que tomamos na nossa vida, sob a
orientação divina: “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho
que deves seguir; e, sob as m inhas vistas te darei conselho”
(SI 32.8).
Tanto em seus aspectos de relação com o homem,
quanto em sua extensão, a vontade de Deus deve ser co­
nhecida, respeitada, am ada e vivida por todos. Afinal de
contas, ela é necessária e boa!

30
2
Porque alguns fogem
da vontade de Deus
Para a maioria dos cristãos sinceros, a vontade de
Deus tem sido a mola propulsora de um a vida cristã efi­
ciente, isto é, nada pode ter maior im portância na vida do
que viver no centro da vontade de Deus.
Mesmo adm itindo que a vontade divina tem um pre­
ço, estão eles dispostos a pagá-lo, conquanto se tornem al­
vos da apreciação divina por este procedimento.
Que a vontade de Deus deve ser alvo de preocupação
na vida de cada crente está im plícito em todo o conteúdo
da mensagem cristã. Ninguém poderá ser um autêntico
cristão se for refratário a este sentim ento. Contudo, alguns
estão fugindo desta regra e a razão é bem simples: temem
que o pleno cum prim ento da vontade divina não seja aqui­
lo que eles estão querendo. Para alguns moços que sonham
em realizar-se profissionalmente, a idéia de que Deus te­
nha um plano de utilizá-los integralm ente em sua obra,
sem que eles tenham a oportunidade de levar a cabo o seu
intento, é frustradora. De igual modo, aquela jovem que
deseja casar-se com um rapaz que tanto adm ira e com
quem tanto sonha, se Deus tem um plano diferente para a
31
sua vida, a vontade divina não é exatam ente o que ela de­
seja.
Estes e inúmeros outros casos comprovam o fato de
haver muitos crentes com pletam ente desinteressados no
cum prim ento da vontade de Deus, um a vez que tem em ser
vítim as de um a condição de vida que realm ente não dese­
jariam ter. Planejam o que acham ser melhor para si e
quando oram pedem a bênção de Deus sobre aquilo. Frus­
tram-se, no entanto, quando a resposta de Deus pelo que
pedem não é positiva; mas Deus não pode responder a
nada que não condiga com a sua plena vontade!
O que existe de fato neste com portam ento é um a tre­
menda desconfiança de Deus. - Mas pode alguém ter des­
confiança de Deus? - Sim, e como! Cada vez que alguém
tem receio de subm eter um desejo seu ao de Deus, dem ons­
tra estar tem endo que Deus não lhe queira o melhor. É que
nós temos a m ania de achar que tudo o que queremos para
nós é o melhor, mas, de vez em quando, estamos m udando
de idéia!
Q uantas orações erradas já fizemos? Qual o crente que
nunca se arrependeu de alguma oração que fez? - somente
aquele que nunca ora. Se Deus atendesse a todos os nossos
pedidos, estaríam os em baraçados em m uitas coisas. G ra­
ças a Deus que Ele é longânimo. Espera a hora certa de
responder à nossa oração, negando, m uitas vezes, algum
pedido que para nós parece ser o mais im portante do m un­
do. A esposa de um conhecido pregador internacional, disse:
“ Se Deus tivesse atendido a todas as m inhas orações, eu
teria me casado, m uitas vezes, com o homem errado” . Isto
porque na sua juventude ela se encantou com um rapaz
que Deus não lhe deu, até que conheceu outro, que tam ­
bém apresentou diante de Deus como o ideal para ela, e,
assim, todos pelos quais se encantou, tornou alvo de suas
petições, mas havia aquele que Deus reservara para a sua
felicidade e com quem ela se casou.
O apóstolo João apresenta-nos, de m aneira bem sim ­
ples, o segredo das nossas respostas na oração: “E sta é a
confiança que temos nele, que se pedirmos algum a coisa,
segundo a sua vontade, Ele nos ouve” (1 Jo 5.14). E sta é
um a grande garantia contra os nossos sonhos inconseqüen-
32
tes. Deus, que pode ver o futuro, sabe se convém ou não
dar aquilo que para nós parece ser a melhor coisa do m un­
do. Isto porque Ele é bom e deseja o melhor para os seus fi­
lhos.
Por que, então, tem er subm eter os nossos ideais à in­
teira vontade de Deus? Seria terrível ter de aceitar o fato
de Deus querer algo diferente para sua vida? Será que o
que Deus tem planejado para ela pode outorgar tanta feli­
cidade quanto sua m ente tão im aginativa arquitetou? -
Questões como estas têm levado muitos a fugirem da ora­
ção: “ Seja feita a tua vontade na m inha vida!”
Agora pergunto: por que achar que a vontade de Deus
pode não ser tão boa quanto a sua bênção? Afinal, a sub­
missão à inteira vontade de Deus na vida causa muito
medo a estes, mas não lhes causa medo pedir a sua bênção,
pois quanto aos seus planos já arquitetados, pedem, fre­
qüentem ente: “Senhor, dá-me a tua bênção”. Esta não é
um a m aneira um tanto infantil de servir a Deus? Ela é
parcial. Você o aceita em partes e a rejeita em outras!
Jonas achava que a vontade de Deus não era boa. Le­
mos: “E Jonas se levantou para fugir de diante da face do
Senhor para Társis” (Jn 1.3). Ele não se sentia vocaciona­
do para pregar àqueles estrangeiros da Assíria. Tentou fu­
gir, mas, sem êxito, acabou no ventre do peixe que o con­
duziu para o cam inho certo. A sua rota estava traçada e
tudo o que ele podia fazer era adm itir seu erro. Finalm en­
te, acabou em Nínive. Fez o que tinha de fazer, mas, nova­
mente, teve problemas. O que Deus queria com aquele
povo não era o que ele queria. Em bora tivesse pregado o ar­
rependim ento, esperava que o povo não se arrependesse e
que Deus destruísse a cidade, mas a vontade de Deus era
que o povo se arrependesse do seu erro e Ele os pudesse
poupar. Foi exatam ente o que aconteceu: a vontade de
Deus prevaleceu. Aquela gente se arrependeu e o servo do
Senhor estava frustrado. Jonas estava emburrado. Dirigiu-
se para o lado leste da cidade, fez um a cabana, assentou-se
e ficou esperando que a sua vontade fosse cum prida, isto é,
ele ainda queria ver a cidade destruída! Deus, então, pro­
videnciou um a aboboreira para o seu conforto. Fê-la cres­
cer para aum entar a sombra sobre sua cabeça. Parece que
33
aquela foi a únioa coisa boa que Jonas achou que Deus fez
por ele. Quando já estava gostando da sombra da abobo­
reira, Deus m andou um bicho m atar a planta. O sol agora
era-lhe causticante sobre a cabeça. Pela terceira vez, Jonas
ficou zangado com Deus e desejou morrer, afinal, aquele
bicho m au não podia ter feito aquilo com a pobre planta.
Deus, pacientem ente, veio a ele, e lhe perguntou: Você
teve pena da aboboreira que morreu por causa do bicho, e
eu não vou ter pena de Nínive em que estão mais de cento
e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua
mão direita e a sua mão esquerda, e tam bém m uitos ani­
mais?
O problem a de Jonas era ter um a vontade diferente da
vontade de Deus, e não ceder. A vontade hum ana é, m ui­
tas vezes, carregada de egoísmo, vaidade, presunção e or­
gulho próprio. Entre a vontade hum ana de Jonas e a von­
tade de Deus, qual das duas era a melhor?
Se a vontade de Deus for inferior à do homem em al­
guma coisa, então ela não poderá ser cham ada de “Boa” ,
como é em Rm 12.2.
O interesse pela vontade de Deus impõe-se na vida de
cada crente, como um a responsabilidade pela qual cada
um terá de responder perante o Senhor. Realizar a vontade
de Deus não deve ser mera opção, mas um a obrigação; não
um simples querer, porém um dever. Na parábola do servo
vigilante, Jesus faz referência ao servo que não levou a sé­
rio o cum prim ento da vontade do Senhor, nestes termos:
“E o servo que soube a vontade do Senhor, e não se apron­
tou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com
muitos açoites” (Lc 12.47).

34
3
O que nos toma suscetíveis à
vontade de Deus
Se, por um lado, deparamo-nos constantemente com
aqueles que fogem ao cum prim ento da vontade de Deus
em suas vidas, por outro, encontramos um grande
segmento de cristãos interessados em conhecê-la e praticá-
la. O que leva tais crentes a procederem assim? A resposta
im ediata seria: a proposta da vida cristã. E ntretanto, essa
busca merece uma m aior reflexão. Nem sempre o interesse
pela vontade de Deus resulta de um a razão legítima. Há
alguns aspectos que diferenciam os motivos de cada um
como: o medo, os interesses pessoais e a vocação cristã.
0 Medo
Pode parecer estranho adm itir que alguns cristãos
busquem conhecer e aplicar a vontade de Deus em suas vi­
das apenas porque receiam alguma coisa, e não porque
realm ente amem o que fazem.
Quando compreendemos que a vontade de Deus im ­
plica naquilo que agrada a Ele torna-se mais fácil entender
porque alguns estão interessados nela. A resposta é sim ­
ples: procuram fazer a vontade de Deus apenas para não
35
desagradar a Deus. Eles vêem sempre diante de si um a
possibilidade de desagradarem a Deus. Vivem apreensi­
vos, pensando que Deus seja um tipo de policial que vive
procurando algo de errado em suas vidas para puni-los. E
incrível o que alguns fazem apenas para não entristecer a
Deus. Esta classe de cristãos é muito habilidosa em formar
um a teologia a partir de textos bíblicos punitivos, que ali­
mentem cada vez mais o seu legalismo. Vivem o evangelho
de “Não posso isto”, “Não faço aquilo”, “ Cuidado com a
mão de Deus” , “Deus não se agrada” , etc. Bem, que a vida
cristã requeira zelo, não há dúvida. Que Deus é um Deus
sério, todos temos de aceitar. Entretanto, a apreensão nãc
é própria de quem já está livre. Nós não fomos tirados dt
um a escravidão para sermos colocados debaixo de outra
Se o Evangelho não é liberdade, então estamos m entindo
quando pregamos: “E conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará”, ou “Se pois o Filho vos libertar, verdadeira­
mente sereis livres”, e assim por diante. A questão não é
simplesmente deixar de fazer o que é errado, viver o tem po
todo preocupado com o que desagrada a Deus, mas é m uito
mais estar interessado no que agrada a Ele.
Geralmente, o medroso está m ais inclinado para o mal
do que para o bem. A sua preocupação dem asiada com o
que possa desagradar a Deus m ostra que ele está mais per­
to de fazer as coisas erradas do que as certas. É comum
este tipo de pessoas procurarem o seu pastor ou alguém de
sua confiança para perguntarem : “ Fazer tal coisa é peca­
do?” Elas nunca sabem se conduzir sozinhas. Alguém tem
de assegurar-lhes que estão certas naquilo que fazem. Em
se tratando de um neófito, é natural que isto aconteça,
mas, depois de algum tempo de fé, é de se esperar que o
crente tenha m aturidade cristã para saber o que convém e
o que não convém!
Alguém, um dia, me perguntou: - “Pastor, estou con­
vidado para um a festa..., devo ir?” - A minha resposta foi:
- “Jesus pode fazer-lhe com panhia?” - “Bem... é que o
am biente não é cristão.” Novam ente respondi: - “ Se Jesus
puder estar nesse lugar com o irmão, não há porque o ir­
mão não deva ir; agora, se não houver am biente para Ele
ali, receio que o irmão tenha de ir sozinho.”
36
0 problem a é que as pessoas não gostam de pensar. É
muito mais fácil viver a vida cristã na dependência dos ou­
tros. É bom ter alguém que pense por nós. Isto nos poupa
de algum trabalho. Se errarmos, não erramos sozinhos. Al­
guém nos “ m andou” agir daquela m aneira.
Em parte, essa atitude se deve ao tipo de ensinam ento
que ta is pessoas recebem. Algumas delas não são treinadas
a crescerem espiritualm ente. São filhas espirituais de um
paternalism o que nunca as leva a decidirem por si pró­
prias. Quando Paulo escreveu à igreja de Corinto, houve
um instante em que ele dirigiu a palavra a cada crente in­
dividualm ente e responsabilizou cada um pela m aneira de
edificar a obra de Deus. Disse: “Veja cada um como edifi­
ca...” (1 Co 3.10), e depois disse que “a obra de cada um se
m anifestará...” (v 13). É m uita responsabilidade assum ir
decisões éticas pelos outros. A Bíblia diz que “cada um d a­
rá conta de si” (2 Co 5.10).
Quem depende de opiniões de outras pessoas para sa­
ber a vontade de Deus nunca poderá alcançá-la com pleta­
mente. Conhecer a vontade de Deus não é tarefa tão sim ­
ples que possa basear-se na opinião de algum as pessoas,
mas deve basear-se no que Deus realm ente tem a revelar
para cada um a pessoa, através dos dispositivos que Ele
criou para isto.
Quem se detém em achar que o cum prim ento da von­
tade de Deus reside na observação de alguns deveres ele­
m entares da fé cristã, que o tornem adaptável ao meio em
que agora vive, como o cuidado com a nova aparência, por
exemplo, e negligencia os outros aspectos, tende a crer que
não lhe falta nada a acrescentar. Há quem seja capaz de
brigar com alguém, apenas pelo capricho de não “desagra­
dar” a Deus. Claro que este não é o tipo de vida que agrada
a Deus!
Interesses pessoais
- Será que existe alguém que procura fazer a vontade
de Deus apenas por algum a conveniência pessoal? Parece
contraditório, pois em algumas áreas pode-se esmerar em
cumprir, perde no conjunto, por desagradar-lhe pela negocia­
ta.
37
Ja cá pode nos m ostrar como isto funciona. Ele tinha
algo de muito positivo em sua vida. Demonstrou m aior in­
teresse pela bênção de Isaque do que seu irmão Esaú.
Aproveitou-se de um momento de fome para oferecer um
prato de lentilhas em troca da bênção, o que Esaú, fam in­
to, aceitou. Quando veio o arrependim ento, já era tarde
para Esaú. Jacó tinha tam bém alguns defeitos no seu cará­
ter. Não podemos estudar a sua vida sem levarmos isto em
conta.
Rebeca arranjou unia maneira de tirar Jacó de perto
de Esaú. Ela sabia que. mais dias, menos dias. Esaú se
vingaria dele. Arranjou um bom pretexto para m andar -Ja­
có para longe. Incentivou-o a ir para Padã-H arã à procura
de uma moça para se casar, entre os parentes de seu pai.
Jacó atendeu e foi. Deixou a casa do seu pai, deixou os seus
pertences, mas só não pôde deixar o seu senso de culpa.
Isto o acom panhou até o dia em que se abraçou com seu ir­
mão, reconciliando-se com ele, anos mais tarde.
Se Jacó agora era o portador da bênção da primogeni-
tura, era natural que Deus teria de contar com ele para
cum prir a promessa feita a Abraão, de fazer dele um a
grande nação.
D urante a viagem, Jacó teve um sonho. Certificou-se
de que Deus o estava acom panhando. Im ediatam ente se
levantou para orar. Jacó estava disposto a agradar a Deus
e Deus estava interessado nele. Disse: “ O Senhor será o
meu Deus” . Deus não podia ser contra esta decisão. Disse
que edificaria um a casa para o Senhor. Isto só podia agra­
dar a Deus. Finalm ente, prom eteu ser dizimista. M ais
um a vez estava orando segundo a vontade de Deus. Mas,
por trás deste intento, Jacó tinha alguns interesses. Dizia:
“Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço,
e me der pão para comer, e vestidos para vestir, e eu em
paz tornar à casa de meu pai, então...” Era-lhe convenien­
te fazer a vontade de Deus por aquilo que receberia em tro­
ca.
É verdade que levamos algum tempo para conhecer­
mos a perfeita vontade de Deus, de modo a praticá-la sem
pprcialidadt, entretanto, é preciso investigarmos se não há
algum a condição de nossa parte. Às vezes tendemos a rea-
38
lizar algo de que Deus se agrada, e desprezamos outras coi­
sas que Deus está esperando de nós, porque temos algumas
preferências, e essas preferências partem única e exclusi­
vamente de algum interesse pessoal nosso. Por exemplo,
dar o dízimo está de acordo com a vontade de Deus para
nós, então é bom fazermos isto. Deus fica satisfeito conos­
co e nós com o fato de estarmos cumprindo algo que de­
m anda algum esforço da nossa parte e que é capaz de dei­
xar Deus satisfeito. Contudo, se a razão do dízimo for m e­
ram ente para ver Deus cum prir o que prom ete em termos
de abundância àqueles que assim procedem, poderemos
estar investindo em algo que trará vantagens para nós e
não porque o faríamos da mesma m aneira se não houvesse
qualquer promessa de recompensa. Se não policiarmos os
propósitos do nosso coração, poderemos fazer do nosso es­
forço algum tipo de negócio com Deus, o que nos tirará a
oportunidade de sermos verdadeiros cumpridores do que
lhe agrada.
Vocação
Se há algumas m aneiras incorretas de se procurar
cum prir a vontade de Deus, há aquela ideal para a qual a
Bíblia tende a nos conduzir, e esta é a vocação cristã. Bas­
ta olhar para a vida de Jesus e teremos o modelo certo a
im itar no esforço de cum prir a vontade de Deus em nossas
vidas. Jesus disse: “Porque eu desci do Céu, não para fazer
a m inha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E
a vontade do Pai que me enviou é esta: que nenhum de to­
dos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no
últim o dia. Porquanto, a vontade daquele que me enviou é
esta: que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha vida
eterna; e eu o ressuscitarei no últim o dia” (Jo 6.38-40).
Ninguém foi mais sensível à vontade de Deus do que
seu Filho Unigénito. Ele estava ciente de que a razão que o
trouxera á Terra era unicam ente cum prir a vontade plena
de Deus. Não podia esconder o seu propósito. Diversas ve­
zes referiu-se a isto como sendo o melhor que Deus pode es­
perar da criatura hum ana.
Nestas palavras Ele não somente revela a vontade de
Deus como a razão que o trouxe a este mundo, e ainda o
39
efeito contínuo que ela tinha em sua vida. Por duas vezes
fez referência à ressurreição. Isto quer dizer que Ele não
deixou de cum prir a vontade de Deus; que a m esm a vonta­
de aplicada na vida dos que presenciaram seus dias e que
creram nele tem um efeito duradouro sobre eles, refletido
na bênção da ressurreição que ainda se dará.
0 escritor aos Hebreus aponta a vontade de Deus
como o motivo central da descida de Jesus a este mundo,
quando escreve: “Então disse: Eis aqui venho (no princí­
pio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua
vontade”, (Hb 10.7).
Jesus levou isto tão a sério que chegou a com parar a
realização da vontade divina em sua vida com a própria
comida que precisava para o sustento do seu corpo. Disse:
“ A m inha comida é fazer a vontade daquele que me en­
viou, e realizar a sua obra” (Jo 4.34). - Que vantagens
teríam os se encarássemos a vontade de Deus dessa m esm a
forma? - Bem, sentiríam os por ela o que Jesus sentiu. Ela
teria para a nossa vida espiritual o mesmo valor que tem o
alim ento para o nosso corpo físico: o alim ento sustenta, re­
vigora e dá prazer. O alim ento preenche a necessidade pri­
m ária do corpo hum ano. Colocada neste nível, a vontade
de Deus era o que havia de prioritário na vida do M estre.
Algumas vezes Jesus não era bem compreendido,
principalm ente pelos religiosos da sua terra. Eles não po­
diam entender a vocação de Cristo. A m aneira de o Senhor
pensar, as suas atitudes e o seu compromisso com a vonta­
de de Deus era algo que os incomodava, porque eles esta­
vam com pletam ente alheios a este tipo de vida. “ O modo
de Jesus agir afrontava-os. Eles não podiam aceitar os pro­
nunciam entos que Jesus fazia a seu próprio respeito, como
dizer ser o Filho de Deus, ter poder para perdoar pecados e
para julgar com autoridade as pessoas. M as a isso, Jesus se
explicava de modo bastante hum ilde e convincente: “Eu
não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço,
assim julgo; e u meu juízo é justo, porque não busco a m i­
nha vontade, m as a vontade do Pai que me enviou” (Jo
5.30).
As opiniões a respeito de Jesus já estavam variando
40
bastante. Em bora m uitos ainda o criticassem, Ele contava
com o reconhecimento de um grande número de pessoas, e
isto começava a intim idar os seus oponentes. Um dia, es­
tando Jesus no templo, em Jerusalém , na Festa dos T aber­
náculos, aproveitou-se do momento em que se agregava
um grande núm ero de pessoas, para ensinar-lhes. Era ad­
mirável a m aneira como falava. M uitos que o ouviam in­
dagavam: - “ Como sabe este (letras?...” e outros diziam:
“Ele é bom ”. Alguns diziam baixinho (de medo dos ju ­
deus): “Ele engana o povo” . M as quem estava mesmo com
a palavra era o Senhor Jesus. Ele era o principal da festa.
O que im portava mesmo era o que Ele estava dizendo. Dis­
sipou as dúvidas ali existentes com as seguintes palavras:
“Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela m esm a dou­
trina conhecerá se ela é de Deus, ou se falo de mim m es­
mo” (Jo 7.17). A vocação pela vontade de Deus era a maior
garantia de o seu ensino ser autêntico, e isto bastava para
lhe dar coragem!
Certa vez Jesus falava a um a m ultidão, quando che­
garam sua mãe e seus irmãos, que desejavam falar com
Ele. Quando alguém lhe comunicou o fato, Jesus, que esta­
va entretido com o que fazia, respondeu: - “ Quem é m inha
mãe? e quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão
para os seus discípulos, disse: Eis aqui m inha mãe e meus
irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai
que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e m ãe” (M t
12.48-50).
Ninguém pode alcançar maior grau de estim a da par­
te do Senhor Jesus do que aqueles que estão interessados
em fazer a vontade do Pai celestial. Jesus tem elevada con­
sideração para com todos aqueles que são vocacionados à
gloriosa vontade de Deus. Jesus os honra, os estim ula e se
coloca como o maior exemplo para eles. Era-lhe tão gratifi-
cante cum prir a vontade de Deus, que, mesmo que isto lhe
custasse a vida, estava disposto a não abdicar dela. É o
que presenciam os na oração do Getsêmane, quando, por
três vezes, Jesus orou pedindo que, se possível fosse, Deus
passasse dele aquele cálice, que teria de beber pela salva­
ção da hum anidade; m as a cada solicitação, subm etia-se à
prevalecência da vontade de Deus: “Faça-se a tua vonta-
41
de” . Deus não podia atender-lhe este pedido. E ntre recuar
e aceitar o que Deus queria, Jesus preferiu a vontade do
Pai. Ele não perdeu com isto. Em bora experimentasse a
dor da morte, ao terceiro dia ressuscitou em corpo glorioso.
Foi assunto aos céus, assentou-se à destra da m ajestade de
Deus e recebeu a glória do Pai. Foi honrado por Deus, pelas
miríades angelicais, e continua sendo glorificado no Céu. É
tam bém glorificado na Igreja e virá o dia em que todo o
joelho se dobrará ante a sua face e toda a língua confessará
que Ele é o Senhor. Jesus sabia que não perderia obedecen­
do ao Pai. Havia nele a confiança que há em todos aqueles
que estão dispostos a fazer a vontade de Deus.
A Bíblia tem um a m aravilhosa promessa para aqueles
que fazem da vontade de Deus a m aior vocação de sua vi­
da: “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele
que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 Jo
2.17).

42
4
O centro
da vontade de Deus
- o melhor lugar
A professora entrou na classe às sete da m anhã e co­
municou aos meninos que a aula naquele dia seria diferen­
te. Começou distribuindo um formulário que seus alunos
da quinta série do primeiro grau teriam de preencher. As
respostas estavam ao alcance de todos; as perguntas é que
eram, de certa forma, indiscretas, como: - “ Seu pai ganha
um salário alto ou baixo?” - “A sua casa é própria ou alu­
gada?” - “ Q uantas pessoas moram em sua casa?” - e, as­
sim, seguia-se um a série de indagações que visavam a dar
um conhecimento da vida íntim a de cada aluno. M ais para
o fim, vinha a pergunta, a velha pergunta: “O que você
pretende ser quando crescer?” E, a seguir - “ Onde preten­
de você estar quando for adulto?” Como de praxe, as res­
postas variavam entre as profissões mais qualificadas, co­
mo: m edicina, engenharia, odontologia, direito, etc., e,
quanto ao lugar, todos escolhiam os mais lindos que conhe­
ciam. Era a grande oportunidade de m anifestarem seus so­
nhos, como se já estivessem vendo a sua concretização ta n ­
tos anos antes. Alguns descreveram o seu consultório m é­
dico num bairro sofisticado da cidade, outros o seu gabine-
43
te dentário num a rua calma, toda arborizada; um outro
havia instalado o seu escritório num alto andar de um
edifício envidraçado, bem em frente ao mar, para que os
seus clientes tivessem um a boa impressão, tanto das insta­
lações como do seu bom gosto. Esta era, enfim, um a parte
do questionário e: que as grandes diferenças anotadas nas
questões anteriores eram dissipadas por um bom gosto co­
mum a todos.
Desde a mais tenra idade, o homem dem onstra um de­
sejo ardente de instalar-se num lugar agradável. Como na
maioria dos casos não é possível ganhar o seu espaço onde
os seus sonhos tão altos desejariam levá-lo, ele procura tor­
nar agradável o lugar em que está, m as tendo sempre em
mente que aquilo é provisório: um dia ainda realizará o seu
tão antigo sonho!
Essa vontade incrível de estar bem situado tem a ver
com a natureza paradisíaca do homem. Deus fez o homem
para habitar num jardim . A sua natureza pede pelo bom e
pelo belo porque ela foi criada para isto. Não é pecado so­
nhar com um a bela casa, num agradável bairro de um a
linda cidade. É claro que, em um lindo lugar, pensa-se
tam bém em conforto. Esta é mais um a vocação peculiar a
todos.
Deus sabe m uito bem deste tipo de aspiração hum ana
e, para compensar este sentim ento, Ele promete a todos
que quiserem seguir os seus preceitos um a completa satis­
fação desses ideais na majestosa Glória Celestial. E ntre­
tanto, Ele não despreza o tem po da nossa peregrinação
aqui no mundo, oferecendo a sua ajuda a todos os que real­
mente desejam estar situados num bom lugar. Deus está
grandem ente interessado neste assunto. M uito mais do
que se pensa. A Bíblia revela que há um lugar em que todo
o homem é feliz aqui na terra. E, aliás, o único lugar em
que a pessoa é realm ente feliz. Este lugar é o centro da
vontade de Deus. Contudo, não é tão fácil chegar a tal lu­
gar; não que Deus não ofereça a orientação necessária para
isto, mas porque temos de vencer a nossa natureza a ponto
de convencê-la a perder os seus direitos em favor dos direi­
tos de Deus, em nossa vida. No centro da vontade de Deus
estamos cônscios do seu total controle sobre nós. Neste lu-
44
gar, temos de nos adaptar a um a nova escala de valores. Os
nossos conceitos do bom e do belo são sobrepujados pelos
conceitos de Deus. No centro da vontade de Deus, des­
cobrimos que o melhor lugar não é aquele que faz bem aos
olhos ou o que idealizamos durante toda a nossa vida, mas
aquele para onde Ele nos envia.
Charles Studd, um inglês nobre que foi alcançado por
Moody em um a de suas cruzadas evangelísticas, des­
cobriu, desde o início de sua fé, que o melhor lugar para ele
não era a sofisticada m ansão dos Lordes ingleses em que
fora criado, mas o centro da vontade de Deus. Por ter esco­
lhido este lugar, experimentou os seus efeitos num a vida
de sofrimento entre pobres africanos, no meio dos quais
gastou a sua vida, morando em barraco no meio da selva.
Vida de sofrimento! - Eu disse sofrimento? - Não, não foi
bem isto o que ele experimentou. Para ele não era sofri­
mento, mas gozo. Sim, gozo! Quem está de fora pode achar
que é loucura, mas para quem está vivendo essa situação
não há satisfação maior. Ninguém pode compreender a
alegria de um a pessoa que está no centro da vontade de
Deus.
A leda Pires é um a jovem paulista da Igreja M etodista
Livre que, corajosa e altruisticam ente, ultrapassou as fron­
teiras geográficas do nosso torrão, embrenhando-se no
meio de um a civilização estranha, distante e incapaz de
entender que ali era o lugar que Deus a queria para falar do
seu amor. Depois de experim entar os dissabores do descon­
forto, da solidão e do medo que aquela terra lhe ofereceu, a
leda nos relata o seu testem unho:
É já de regresso ao Brasil, depois de m inha prim eira
estada no campo missionário, que quero enfatizar a
verdade de que o melhor lugar do m undo é, indiscuti­
velmente, “o centro da vontade de Deus” .
Mesmo vivendo num a cultura que não é a sua e que
você na verdade pouco entende e domina; quando a
saudade do seu país, povo, idioma e fam ília tentam
desanim ar seu coração bem intencionado; quando por
vezes parece ter sido grande demais o passo tomado
para dentro de um trabalho transcultural, de difícil
45
acesso (geográfico e lingüístico); vendo tudo isso e ou­
tras dificuldades que autom aticam ente surgirão ao
longo de cada fronteira que atravessar em seu cam i­
nho por terras da Europa e da Ásia, você confirm ará a
verdade m áxim a - “Não im porta onde se esteja em
terra, alto m ar, casa ou gruta, com Cristo, ali é Céu
para m im ” . Sem dúvida, m uitas foram as horas de
conflitos íntim os, de lutas árduas entre eu e Ele, po­
rém a única coisa que me fez superar e transpor todas
estas dificuldades foi a convicção e o gozo que tinha ao
saber que estava no verdadeiro Centro da vontade de
Deus.
Vou além, dizendo que creio firm em ente que poucos
cristãos têm de fato investido tem po naquilo que fa­
zem, pela falta de convicção do que seria para eles o
verdadeiro “ Centro da Vontade de Deus” .
Independente de estar em um lindo e confortável lu­
gar, estou convencida pelo próprio Deus de que o meu
coração só se aquieta encontrando o Centro da vonta­
de de Deus.
Qualquer lugar se tornará doce, quando nele você ou­
vir o toque da aprovação de Deus dizendo: “Este é o
lugar para o qual eu sempre te quis trazer” . Para
mim, isto significa tempo passado entre os 36 milhões
de deuses existentes na índia, porém, é com doce ex­
pectativa que já aguardo m inha volta a esta terra que
tanto aprendi a amar: ÍNDIA.
Nenhum a alm a se aquietará enquanto não estiver re­
sidindo no “ Centro da vontade de Deus” .
Paulo e Silas estavam na sua segunda viagem m issio­
nária. Fizeram alguns planos e estabeleceram algum as
prioridades quanto aos lugares por onde deveriam andar.
Passariam por Derbe, Listra e Icônio; depois, pela Frigia,
Galácia, M ísia e Bitínia, m as esses últim os não eram os
melhores lugares para eles evangelizarem. Deus tinha ou­
tras prioridades. “E, percorrendo a região frígio-gálata,
tendo sido im pedidos pelo Espírito Santo de pregar a P ala­
vra na Ásia, defrontando Mísia, tentaram ir para Bitínia,
m as o Espírito de Jesus não o perm itiu” (At 16.6,7). Dirigi­
ram-se, então, para Trôade e ficaram aguardando de Deus
46
uma nova orientação, e ela veio: “ À noite, sobreveio a Pau­
lo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e
lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos!” (At
16.9.) Os acontecimentos narrados a seguir justificam a ra­
zão de eles terem sido dirigidos para lá. O capítulo dezes­
seis de Atos torna-se uma das mais vigorosas narrativas de
todo o livro. Três notáveis acontecimentos na cidade de Fi-
lipos, a primeira da Macedônia, constituem-se numa pro­
va evidente de que o melhor lugar para os missionários era,
não onde eles haviam planejado estar, mas o centro da
vontade de Deus e disto eles estavam cônscios. A conver­
são de Lídia, mulher religiosa que precisava conhecer Je­
sus; depois, a jovem oprimida por um espírito de adivinha­
ção e o carcereiro da cidade possuidor de uma natureza de
tendência suicida. Paulo e Silas tiveram grandes proble­
mas na Macedônia, mas todos foram resolvidos, muita
gente foi ajudada e a igreja foi fundada. Anos mais tarde,
Paulo escreve àquela Igreja a mais alegre de todas suas
cartas, a Epístola de Paulo aos Filipenses.
Quem anda no centro da vontade de Deus tem de es­
tar preparado para aceitar mudanças em seus planos; al­
gumas dessas mudanças trazem consigo desvantagens pes­
soais, mas isto não deve assustar o crente, porque lá na
frente os resultados serão tão gratificantes que não valeria
a pena compará-los com o fim do plano que precisou ser al­
terado.
No centro da vontade de Deus, o crente tem muitas
surpresas. Acontecem coisas que ele não prevê. É incrível
como as coisas se encaixam, como as portas se abrem e
como as soluções aparecem! O melhor lugar para um cren­
te em Jesus não é aquele onde foi criado, ou perto da famí­
lia, do trabalho; não é num lugar tranqüilo longe de baru­
lho, numa montanha; não é para o pastor estar à frente de
uma igreja grande ou para o missionário, num país distan­
te e de lindas paisagens. O melhor lugar para qualquer
pessoa que tem assumido o compromisso de andar com
» Deus é o centro da sua vontade. Este lugar é como o sol que
manda os seus raios para todos os lados. A partir daí, qual­
quer lugar ou posição em que o Senhor nos colocar será
agradável, e em tudo o que se fizer haverá prosperidade.
47
5
Como conhecer
a vontade de Deus
O que você faria se tivesse de comparecer a uma reu­
nião dentro de duas horas em Brasília, estando em São
Paulo? - Você pensaria; tenho que ir à rodoviária, infor­
mar-me do horário do primeiro ônibus, comprar a passa­
gem e depois gastar mais dezesseis horas dentro dele? - Se
você agisse assim, é evidente que todo o seu esforço por
esta viagem seria em vão. O que fazer então? - Obviamen­
te, você tomaria um avião e chegaria em tempo hábil para
aquela reunião!
- O que este exemplo ilustra? - Ele ilustra o fato de
que não precisamos nos desesperar e acabar fazendo coisa
errada, quando há recursos para se conseguir o que se pre­
tende. Assim acontece com a vontade de Deus. Ninguém
precisa se desesperar com ela. Deus tem criado meios efi­
cientes para nos conduzir a este conhecimento, sem que
precisemos nos desgastar à procura de outros recursos que,
além de ineficientes, são ilegítimos, como veremos ainda
neste capítulo.
Há duas citações que gostaríamos de fazer de Garry
Friesen em seu livro “ Decision Making e The Will of
God” :
49
São os cristãos como tantos ratos de laboratório, de­
terminados a explorar cada beco-sem-saída do com­
plexo labirinto da vida, enquanto Aquele que conhece
o caminho põe-se a apenas contemplá-lo?’^1)
“ Três possíveis razões de minha falta de sucesso em
descobrir a vontade de Deus: 1) Talvez Deus fosse in­
capaz de revelar Sua vontade. Se assim fosse, o
problema seria dele; 2) talvez houvesse pecaminosida-
de ou falta de sinceridade de minha parte. Logo, ob­
viamente, eu seria a causa de meu fracasso; 3) talvez
meu entendimento quanto à natureza da vontade de
Deus fosse biblicamente deficiente, e se tal fosse ver­
dade, então o problema seria ignorância. (2)
Se Deus faz a parte dele eu posso me justificar de não
fazer a minha?
É bem verdade que o conhecimento da vontade de
Deus é a preocupação básica de todos os crentes sinceros,
mas é na juventude que ela se acentua, por ser esta a fase
da vida em que grandes decisões devem ser tomadas, prin­
cipalmente no que tange às vocações profissionais, minis­
teriais, e ao casamento. Este é o período quando mais se
procura o pastor ou alguém experiente para buscar uma
palavra segura de orientação, e não basta qualquer tipo de
resposta. Ninguém quer errar. Todos querem ser felizes e o
ponto de partida é que determinará o sucesso. As pessoas
que não conhecem a Deus buscam no misticismo dos talis­
mãs, bola de cristal, astrologia, quiromancia, cartomancia
e coisas semelhantes, meios de prognosticar o seu futuro
nesta ou naquela profissão; com aquele ou aquela pessoa.
Isto decorre de uma necessidade intrínseca de ser feliz.
A tentação de conhecer o caminho da felicidade mui­
tas vezes pode ganhar o caráter das buscas fetichistas na
vida de cristãos sinceros, quando esses querem associar a
sua felicidade à perfeita vontade de Deus. Se, após esta
busca, tal pessoa faz a sua decisão que resulta em felicida­
de, levanta-se a questão: - A vontade de Deus é boa porque
a pessoa é feliz? ou ela é feliz porque a vontade de Deus é
boa? - Se ocorrer o inverso, pergunta-se: A vontade de
Deus é ruim porque a pessoa é infeliz? ou ela é infeliz por-
50
que a vontade de Deus é boa? - Se ocorrer inverso, pergun­
ta-se: A vontade de Deus é ruim?
Já tivemos a oportunidade de mostrar que a vontade
de Deus é boa e é agradável, muito embora o conceito de
felicidade cristã divirja imensamente do conceito de felici­
dade no mundo. O erro nas decisões, muitas vezes tomadas
em nome do Senhor, tem a ver com os métodos ilegítimos
de se buscar o conhecimento de sua vontade. As boas in­
tenções, por exemplo, podem levar pessoas a ministrarem
conselhos ou produzirem mensagens como vindas da parte
do Senhor, sem que o Senhor tenha qualquer coisa a ver
com isto.
Acrescenta-se o fato de que, quando alguém está pro­
fundamente apaixonado por uma decisão significativa,
esta pessoa passa a gerar sentimentos de associação a tudo
o que vê e ouve. É como se Deus lhe estivesse falando e
confirmando a toda hora que aquela decisão corresponde
inteiramente à sua vontade.
Parecem-nos lícitos os métodos que passamos a apre­
sentar, apesar de algumas ressalvas necessárias, que temos
de fazer em cada um deles.
Conselho
Nenhum ser humano é tão autônomo em suas ações
que não precise ouvir ou receber conselho de outros seres
humanos. Há sempre uma ocasião em que isto se faz ne­
cessário. No que diz respeito aos crentes, a Palavra de
Deus dá um alerta no Salmo primeiro: “ Bem aventurado o
varão que não anda segundo o conselho dos ímpios...” Cla­
ro que através do ímpio você nunca poderá conhecer a von­
tade de Deus. Por outro lado, é preciso estar também mui­
to seguro da pessoa a quem se vai recorrer para receber
dela alguma ajuda neste sentido. A rainha de Sabá teve
cuidado, ao saber que havia um homem que podia aconse­
lhá-la. Ela empreendeu uma grande viagem. Foi a outro
país apenas para ouvir Salomão, e quando chegou não foi
se abrindo, antes testou-o com enigmas, para ter certeza
de que estava lidando com alguém capaz. Ela não ficou de­
sapontada. Aquele homem tinha sabedoria bastante para
aconselhá-la. “ E Salomão lhe explicou todas ás suas pala-
51
vras; e nenhuma coisa havia oculta que Salomão lhe não
declarasse” (2 Cr 9.2).Não quero dizer que devemos agir
exatamente como ela, mas, no caso de procurar conselho
com alguém, devemo-nos certificar de que estamos sendo
ajudados por pessoa certa. Muitos têm-se saído mal por
ouvir conselhos movidos mais por sentimentalismos do que
pela Palavra de Deus, a fonte de todo conselho. Há, no en­
tanto, algo que também é preciso que se diga a respeito do
hábito de buscar conselho: é que este caminho tende a le­
var as pessoas a um certo grau de dependência. Que a bus­
ca de conselhos é a maneira mais cômoda de se saber como
agir não há dúvida, mas a pergunta é: Até que ponto isto é
válido na experiência cristã?
Deus tem levantado, em nossos dias, pessoas que
atuam exclusivamente na área de aconselhamento, indivi­
dual e grupai. O conselheiro tem consigo a responsabilida­
de de orientar os que o procuram, dentro de um espírito de
inteira submissão aos propósitos de Deus, sem pretender
que suas opiniões ou gostos pessoais prevaleçam. Os jovens
são muito propensos a procurá-los. Ouvem o que precisam,
mas as decisões devem ser tomadas, não pelo que aconse­
lha, mas pelo que busca conselho.
Deus abre diálogo com o homem e espera dele uma
resposta, mas também está disposto a revelar a cada um
quais são as suas intenções. Ele não cobra o cumprimento
de sua vontade sem antes revelá-la a cada um, por isso
mostra os caminhos pelos quais os seus servos podem al­
cançá-la.
Como, então, chegarei à revelação da vontade de Deus
para a minha vida, uma vez que estou convencido de que
Deus está interessado nela e espera de mim este cumpri­
mento?
Pela Palavra
Esta é a primeira e principal fonte reveladora da von­
tade de Deus. Se cremos que a Bíblia é inspirada pelo
Espírito Santo, temos de aceitá-la como revelação do Espí­
rito, entendê-la sob a iluminação do Espírito e pregá-la sob
a unção do Espírito. Suas palavras são boas para nós e
52
também para os outros. Ela é a fonte da verdade que nos
guia pela senda da felicidade.
Se, ao invés de as pessoas ligarem o rádio ou abrirem o
jornal diariamente para saber qual o seu astral para aquele
dia, abrissem a Bíblia e se familiarizassem com ela da
mesma maneira que se têm familiarizado com os zodíacos,
elas andariam bem mais seguras do seu amanhã e mais
certas de suas decisões. O que realmente importa para a
vida de alguém não pode ser o andar segundo o que os as­
tros determinam, mas sim o andar segundo a vontade ex­
celsa de Deus. Assim foi que Jesus viveu.
Eu sei o que você está pensando agora: “ Afinal, este
iutor está tratando com crente, para quem a vontade de
Deus vale, ou está misturando o assunto e tratando tam­
bém com o descrente, para quem a vontade de Deus nada
significa?” - Não, eu não estou tratando com pessoas para
quem a vontade de Deus nada signifique, mas com pessoas
que nasceram de novo. - Mas por que estou falando de um
comportamento provável de algumas delas, que se asseme­
lha em gênero, número e grau ao dos ímpios? - Porque não
podemos negar que, nesta fome de saber optar por uma de­
cisão inteligente, muitos têm-se deixado levar pelas menti­
ras satânicas dos horóscopos. Você sabia que há crentes
que acreditam nisso?
Se o povo de Deus gastasse mais tempo estudando a
lua Palavra, conheceria melhor a sua vontade. Se o povo
de Deus conhecesse melhor a vontade de Deus, o número
de crentes obedientes e de comportamento ideal seria bem
maior. Se maior número de crentes praticasse a plena von­
tade de Deus para as suas vidas, o reino de Deus teria di­
mensões mais amplas, Deus seria mais glorificado na terra
e o número de pessoas felizes seria imensurável.
Como fonte reveladora da vontade de Deus, podemos
distinguir na Bíblia duas formas de conhecê-la: explícita e
implicitamente.
Forma explícita
Este é o modo direto como a vontade de Deus se ex­
pressa na Bíblia. Trata-se de textos que manifestam aber-
53
tamente a vontade de Deus, nesta ou naquela área. Ela
trata mais especificamente de dois planos: vertical e hori­
zontal. O plano vertical resume-se na palavra “ santifica­
ção” : “ Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santifica­
ção, que vos abstenhais da prostituição” (1 Ts 4.3). Quan­
do se lida no terreno da santificação, o que se tem em men­
te é um plano piedoso, ou seja, o de relação direta com
Deus. Por outro lado, temos o cumprimento da vontade de
Deus num plano horizontal, isto é, que diz respeito ao nos­
so relacionamento humano. Assim, numa linguagem dire­
ta, a Palavra de Deus nos diz que reconheçamos os que tra­
balham entre nós, os que nos presidem, os que nos admoes­
tam; manda tê-los em estima e amor, mantermos paz en­
tre nós, admoestarmos os desordeiros, consolarmos os de
pouco ânimo, sustentarmos os fracos, sermos pacientes
para com todos, não pagarmos o mal com o mal, seguirmos
o bem, regozijarmo-nos sempre, orarmos sem cessar, e dar­
mos graças em tudo. “ ...porque esta é a vontade de Deus
em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.12-18).
Forma im plícita
Embora a expressão “ Vontade de Deus” não se repita
tantas vezes na Bíblia, no que diz respeito ao que devemos
ou não pensar, crer, querer ou fazer, ela está implícita em
tudo isto, uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus, e no
seu todo expressa exatamente a sua santa vontade.
Tudo o que a Palavra de Deus nos ensina é o que Deus
espera de nós; logo, ali está a sua vontade para conosco.

O uso errado da Bíblia


Pode alguém buscar o conhecimento da vontade de
Deus na Bíblia, adotando uma postura demasiadamente
simplista como fechar os olhos e abrir o livro em qualquer
parte, esperando que ali estará exatamente o que ela preci­
sa saber. Se o texto foi bom e a instrução agradável, este ir­
mão poderá ufanar-se de que o Senhor lhe deu a revelação
de sua vontade, mas se ocorrer o inverso, ele tenta de novo,
afinal, o Senhor ainda não lhe falou. O que realmente ele
quer é que Deus lhe fale o que ele quer ouvir. Se na sua ten-
54
tativa, a Bíblia for aberta num texto obscuro ou numa ge­
nealogia, ele procede da mesma forma.
Caso semelhante é o das caixinhas de promessas con­
tendo versículos de promessas cuidadosamente seleciona­
das numa perfeita imitação dos “ periquitos da sorte” .
A este alerta necessário contra a ilegitimidade deste
método, corrobora a lição bíblica da Escola Dominical das
Assembléias de Deus no Brasil do dia 05 de janeiro de
1986, da autoria do pastor Raimundo Ferreira de Oliveira:
É expressamente salutar saber que nos momentos de
grandes decisões na vida, podemos confiar na orienta­
ção segura dada pela Palavra de Deus. Não estamos
falando das populares “ caixas de promessas” , geral­
mente preferidas por crentes espiritualmente pregui­
çosos, aqueles que já não dão tempo para a leitura e
estudo sistemático do todo das Escrituras. Ainda que
as caixinhas de promessas tenham versículos bíblicos,
a Bíblia não foi escrita para ser “ ingerida” em peque­
nos tabletes. Também não foi escrita para ser tida na
conta duma roleta da sorte ou horóscopo para a vida
do crente.
Não é intenção deste autor ferir a sensibilidade de
quem quer que seja. Eventualmente, poderá alguém testi­
ficar da eficácia destes métodos numa ocasião qualquer da
sua vida. Mesmo assim, preferimos estar com o que a Pala­
vra de Deus ensina ser o certo, sem abrir precedentes para
caminhos que ela não aprova. Jesus disse: “ ...Errais, não
conhecendo as Escrituras...” (Mt 22.29).
Por meio de sinais
Embora a Palavra de Deus constitua-se no meio prin­
cipal de se conhecer a vontade de Deus, devendo, através
dela, todas as experiências serem medidas e confrontadas,
Deus, contudo, pode manifestar os seus intentos de modo
especial aos seus servos. Estes meios são operações ex­
traordinárias, pelas quais Deus pode patentear os seus in­
tentos. Chamamos de “ sinais” , por serem abrangentes.
Deus fala de muitas maneiras aos seus filhos. Além da
Palavra revelada (a Bíblia Sagrada), Ele pode valer-se de
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um sonho, revelação, palavra profética, ou mesmo de uma
circunstância. Há na Bíblia inúmeros casos deste tipo de
manifestação. Por exemplo, sabemos que é a vontade de
Deus que o Evangelho seja pregado a toda a criatura; que
não há restrição para este trabalho; contudo, Deus pode
estabelecer prioridade. Ele pode preferir que preguemos
primeiro em um lugar e depois em outro, como pode tam­
bém nos querer para uma única região. Isto aconteceu com
Paulo e Silas; “ E, passando pela província da Galácia, fo­
ram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra
na Ásia” (At 16.6). Como o Espírito Santo os impediu? De
que maneira falou com eles? Isto não está revelado, mas o
importante mesmo é que o Espírito Santo lhes falou e eles
compreenderam bem a mensagem. Parece, então, que um
disse ao outro: “ Já que não é vontade de Deus que pregue­
mos aqui, vamos prosseguir a viagem” . E assim chegaram
a Mísia: “ E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para
a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu” (At
16.7). Novamente a pergunta: como o Espírito lhes falou?
Isto não está escrito, porém sabemos que foi de um modo
especial.
Agora se encontravam em Trôas e mais uma vez o Se­
nhor lhes comunicou a sua vontade quanto ao progresso do
trabalho. Desta vez nós já sabemos o método empregado
pelo Senhor: “ E Paulo teve de noite uma visão, em que se
apresentou um varão da Macedônia, e lhe rogou dizendo:
Passa à Macedônia, e ajuda-nos!” (At 16.9.) Este caso
lembra-nos o da conversão de Cornélio. Tanto Cornélio
quanto Pedro foram avisados da necessidade do seu encon­
tro, através de visões (At 10).
Há situações em que não podemos saber qual a vonta­
de de Deus para nós, através da Bíblia diretamente. Por
exemplo: se devemos fazer ou não uma viagem, se devemos
ou não mudar de cidade ou de emprego, ou realizarmos um
certo negócio. - Será que Deus está interessado nestas coi­
sas? - Não há dúvida que sim. Desde que entregamos a Ele
o nosso viver, Ele está interessado em atuar em todas as á­
reas de nossa vida. O alcance da vontade de Deus na nossa
vida deve ser irrestrito; assim sendo, temos de tomar cons­
ciência de que Ele não só é capaz como também está inte-
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ressado em usar os meios que acha conveniente para nos
conduzir para dentro desta vontade.
Mais uma vez nos lembramos do caso de Jonas. Havia
ali um sinal. Caracterizava-se este sinal por uma situação
de perigo. Uma tempestade no mar aguçava o espírito su­
persticioso da tribulação. O único indiferente ao caso era o
profeta, que dormia um sono profundo no porão do navio.
Quando lhe contaram o drama que os vitimava, Jonas não
teve dúvida de que ele era o polmo da intempérie. Ele sa­
bia de antemão que estava fora da vontade de Deus. O
agravo do tempo servia para alertá-lo do seu erro. Ele não
tinha alternativa e sabia muito bem disso. Teve de passar
sozinho pelo pior. No ventre de um grande peixe, ele sofreu
o horror de um inferno por três dias. Este foi o “ puxão de
orelhas” que ele levou por, conscientemente, fugir da von­
tade divina. Viver dentro da vontade divina sempre é com­
pensador, porém, fora é um desastre!
No livro de Jó, há uma passagem que explica o fato de
Deus falar ao homem de modo extraordinário, assim como
estamos mostrando: “ ...Deus fala uma e duas vezes, po­
rém, ninguém atenta para isto. Em sonho ou em visão de
noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e ador­
mecem na cama, então abre os ouvidos dos homens, e lhes
sela a instrução, para apartar o homem do seu desígnio, e
esconder a soberba; para desviar a sua alma da cova, e a
sua vida de passar pela espada. Também na sua cama é
com dores, e com incessante contenda dos seus ossos; de
modo que a sua vida abomina até o pão, e a sua alma a co­
mida apetecível... Deveras orará a Deus, que se agradará
dele...” (Jó 33.14-20,26a.)
As tendências para o engano
Esse método de Deus falar por meio de sinais requer
também alguns cuidados. O demasiado subjetivismo nas
experiências evidentemente não poderá ser contestado,
pois depende do testemunho pessoal de cada um; todavia,
deverá ser confrontado com a luz da Palavra de Deus.
Têm-se explorado demasiadamente os sinais como meio de
se descobrir a vontade de Deus e o que muitos têm conse­
guido não é bem o que se conhece por vontade de Deus,
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mas é uma verdadeira confusão. A Bíblia diz que “ ...a pro­
fecia nunca foi produzida por vontade de homem al­
gum...” (2 Pe 1.21.) Há algumas situações embaraçosas
que perduram na vida de muitos, porque entraram pelo ca­
minho de falsas profecias, isto é, “ profecias” produzidas
por vontade humana. Às vezes a intenção de ajudar um ir­
mão é tanta que, no impulso das emoções, pessoas a quem
Deus certamente tem usado se deixam levar pelo entusias­
mo e dizem “ profeticamente” aos outros o que devem fa­
zer. Isso pode produzir uniões (casamentos) fora da vonta­
de de Deus, mudança de emprego, de igreja; negócios que
resultaram em considerável prejuízo, etc, todos promovi­
dos pela tentativa de manipulação da vontade divina.
Ciente de que algumas pessoas andavam profetizando por
vontade própria, Paulo escreveu aos Coríntios alertando-os
a julgarem as profecias (1 Co 14.29). À medida em que o
crente amadurece, vai ganhando melhores condições para
conhecer os modos de Deus comunicar-lhe a sua vontade,
através dos sinais que Ele pode usar para esse fim.
Outrossim, que as condições favoráveis ou desfavorá­
veis podem indicar o nosso posicionamento dentro ou fora
da vontade de Deus é um fato que nem sempre pode ser to­
mado por definitivo.
Lemos em Atos 21 que Paulo fora avisado antecipada­
mente dos sofrimentos que o aguardavam em Jerusalém, e
mesmo assim ele insistiu em ir. Teria ele saído fora da von­
tade de Deus? Afinal, depois de Jesus, ninguém nos legou
maiores esclarecimentos sobre a vontade de Deus do que
este apóstolo. Como estaria ele agora infringindo um ensi­
namento por que tanto prezou?
Atos 21.4 registra: “ E, achando discípulos, ficamos ali
sete dias; os quais pelo Espírito diziam a Paulo que não su­
bisse a Jerusalém” . Paulo se encontrava em Tiro nessa
ocasião. Dali, Paulo e seus companheiros partiram em via­
gem, passaram por Ptolemaida e, finalmente, Cesaréia.
Embora se hospedassem na casa em que moravam quatro
jovens que profetizavam (as filhas de Filipe), Paulo rece­
beu a visita de um irmão da Judéia chamado Ágabo, que
também profetizava. A maneira como este falou ao apósto­
lo foi bastante interessante: “ E, vindo ter conosco, tomou
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a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos,
disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em
Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas
mãos dos gentios” (At 21.11). Era, portanto, a segunda vez
que Paulo recebia um aviso de sofrimento em Jerusalém.
Agora, o comportamento dos irmãos, narrado neste trecho,
nos esclarece a razão por que os irmãos em Tiro pediam
que ele não fosse. Tanto em Cesaréia como em Tiro, o
Espírito revelara que ele passaria por sérios problemas em
Jerusalém. Mesmo assim, Paulo não temeu ir para lá. As
condições eram contrárias e Paulo sabia disso. Realmente,
passou pelo que o Espírito disse que passaria. Mas, não po­
demos dizer que ele tenha sido castigado. Passou por aqui­
lo porque teria mesmo de passar. Os motivos pessoais de
Paulo não são descritos, mas enquanto os irmãos achavam
que não era a vontade do Senhor que Paulo fosse para Je­
rusalém, ele, contudo, tinha certeza de que era. Os irmãos
de Cesaréia, depois de muito esforço para convencer o
apóstolo, disseram: “ Faça-se a vontade do Senhor!” (At
21.14.) O fato de ele ser avisado antecipadamente de que
sofreria não se constituía em motivo suficiente de prova de
que não devesse demandar a viagem para lá, mas, talvez,
para prepará-lo. Os irmãos movidos de amor pela vida do
apóstolo, davam outra interpretação.
Alguns autores tentam negar a eficácia dos sinais
como método de se conhecer a vontade de Deus; em parte
porque crêem que isto diz respeito ao passado histórico da
Igreja e em parte porque existem abusos de “ sinais’ não
confirmados pela prática. Estes motivos não são suficien­
temente convincentes. Quanto a crer que os sinais foram
para a igreja primitiva, eles arbitrariamente restringem a
ação do Espírito Santo em nossos dias, sem poder contar
com qualquer texto bíblico que lhes assegure isto. No que
tange ao abuso dos sinais, esses autores quase teriam ra­
zão, se a exceção fizesse a regra.
Embora haja quem faça especulações proféticas ten­
tando vaticinar a sorte dos outros, não podemos negligen­
ciar a ação do Espírito Santo na vida do crente. Jesus dis­
se: “ Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos
guiará em toda a verdade...” (Jo 16.13a).
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Por meio da razão
Eis uma maneira bíblica de se conhecer a vontade de
Deus, desconhecida por muitos: a razão. Ela é um instru­
mento sagrado através do qual Deus pode manifestar seus
segredos aos seus. Há, todavia, uma certa antipatia da
maioria dos cristãos para com o uso da mente no que tange
ao seu relacionamento para com Deus. É um tipo de pre­
conceito generalizado, como se a razão viesse substituir os
sentimentos do coração, o que seria fatal para a vida espi­
ritual.
De modo geral, a cristandade opta mais pelo emocio-
nalismo do que pela reflexão. Isto se acentua ainda mais
nos meios carismáticos onde os cultos são mais calorosos e
o entusiasmo faz parte de cada um. Mas a Bíblia Sagrada
enfoca a necessidade de um cristianismo pensado e não so­
mente sentido. Jesus respondeu a um escriba que lhe inter­
rogou sobre o primeiro dos mandamentos. Baseado na
“ SHEMÁ ISRAEL” dos judeus (Dt 6.4-5), disse: “ O pri­
meiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor
nosso Deus é o único Senhor. Amarás pois, ao Senhor teu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo
o teu entendim ento, e de todas as tuas forças: este é o pri­
meiro mandamento” . Comparando as palavras de Jesus
com as de Deuteronômio, há um acréscimo. Este está na
palavra “ entendimento” . - Por que isto? - Porque quando
estas palavras foram proferidas para o povo hebreu na ca­
minhada do deserto, Deus esperava somente obediência às
ordens estabelecidas e nada mais. Não era da alçada de
ninguém a reflexão de nada que se passasse ali. Eram guia­
dos por lei. Essa era a única maneira como podiam ser le­
vados do Egito para Canaã. Faltava-lhes, ainda, uma boa
formação. Durante quatrocentos anos, tinham vivido como
escravos. Eram propensos a crer em qualquer coisa que
lhes aparentasse segurança. A murmuração constituía-se
no principal estilo de diálogo e a ingratidão era-lhes co­
mum. Apesar de tudo quanto o Senhor lhes havia feito e
continuava a fazer, não mediam conseqüências para virar
as costas ao Eterno. “ E chamou Moisés a todo o Israel, e
disse-lhes: Tendes visto tudo quanto o Senhor fez na terra
60
do Egito, perante vossos olhos, a Faraó, e a todos os seus
servos, e a toda a sua terra; as grandes provas que os teus
olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas. Po­
rém não vos tçm dado o Senhor um coração para entender,
nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até o dia de
hoje” (Dt 29.2-4).
Anos mais tarde, o Senhor reclamava da atitude de Is­
rael, por meio do profeta Isaías: “ Ouvi, ó céus, e presta ou­
vidos, tu ó Terra, porque fala o Senhor; Criei filhos, e exal­
cei-os; mas eles prevaricaram contra mim. O boi conhece o
seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas
Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is
1.2-3). Diante dos exemplos apresentados, não resta dúvi­
da alguma de que a falta de entendimento marcava os pas­
sos da nação israelita. Foram inúmeras vezes castigados
por isso com desolações, invasões e mortes.
No plano que elaborou para a vida do novo Israel, a
Igreja, Deus não abre mão daquilo que mais faltou ao seu
povo do antigo pacto: o entendimento.
Observe que a emoção não é descartada (“ de todo o
teu coração” ), mas no mesmo nível encontra-se o entendi­
mento.
Parece que esse preconceito existente em torno do en­
tendimento, com ênfase no coração, se deve a dois aspectos
principais: o primeiro é que os cultos geralmente têm um
sabor mais emotivo do que racional: os cânticos, as ora­
ções, os testemunhos e as pregações tendem mais a tocar
no sentimento de todos. Quando o culto foge um pouco
deste ritual, surgem manifestos de protestos. Realmente, é
bom participar de um culto em que as preocupações, as
tristezas, as frustrações, os recalques são todos substituí­
dos pela atmosfera calorosa da comunhão e da adoração,
mas até que ponto isto é bom? Digo! até que ponto isto é
bom sem o outro lado, que, sem dúvida, é massante e refle­
te frieza? Bem, é muito fácil. Na hora de um debate com
um oponente lá fora, o sentimentalismo vivido dentro da
igreja não carrega em si base suficiente para vencê-lo. Nes­
ta hora o que vale mesmo é o entendimento. 0 mesmo se
pode dizer de uma hora de crise ou de decisão. Esta é a
61
hora em que se procura o pastor ou alguém competente
para requisitar-lhe ajuda. Mas isso é o que cada crente de­
veria saber fazer sozinho! A Bíblia revela a intenção de
Deus para o amadurecimento de cada um e dá, ao mesmo
tempo, as condições para que isto se realize. O outro aspec­
to tem característica mais sociológica do que espiritual.
Vivemos num meio social em que as pessoas não gostam de
pensar. Poder-se-ia dizer que, na época atual, o interesse pe­
las coisas ao nível da razão fosse mais aguçado, uma vez
que a corrida da nova geração principalmente pelos estu­
dos, aumentou consideravelmente; mas, mesmo assim conti­
nuamos presenciando muita indiferença.
0 ilustre escritor John R. W. Stott diz:

Talvez se comece a ver agora o mal que é essa disposi­


ção antiintelectualista, cultivada em alguns grupos
cristãos. Não se trata de uma devoção, absolutamente
não, mas sim de uma conformação a uma onda deste
mundo, ou seja, trata-se de uma forma de mundanis-
mo. Subestimar a mente é soterrar doutrinas cristãs
fundamentais. Deus nos criou seres racionais. Será
justo negarmos a humanidade que Ele nos deu? Deus
conosco se comunicou. Não procuraremos entender
suas palavras? Deus renovou nossa mente por inter­
médio de Cristo. Não faremos uso dela? Deus nos jul­
gará por sua Palavra. Não seremos prudentes, cons­
truindo nossa casa sobre esta rocha?( ‘).
O apóstolo Paulo não era preconceituoso para com o
entendimento. Culto, para ele, tinha de ser uma mistura
de emoção e compreensão. Escrevendo aos Coríntios, disse
(para corrigir o emocionalismo irracional): “ Que farei,
pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o en­
tendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei
com o entendimento” . “ Irmãos, não sejais meninos no en­
tendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento” (1 Co 14.15,20). Por que a preocupação do
apóstolo não é também a mesma dos crentes, neste parti­
cular? Queremos estar com ele no que diz respeito a muitos
pontos da fé cristã que ele ministrou como ensinamento
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para a Igreja e, no entanto, não pensamos nisso como ele.
Não é uma injustiça isto.
Voltando a J. Stott, há uma citação em seu livro, ex-
I raída de outro autor, Harry Blamirez, que vale a pena ser
íncluída aqui:
A mente cristã tem-se deixado secularizar num grau
de debilidade e de forma tão despreocupada sem para­
lelos na história cristã. Não é fácil achar as palavras
certas para exprimir a completa perda de moral inte­
lectual na igreja do século vinte. Não se pode caracte­
rizar este fato sem recorrer a uma linguagem que pare­
cerá ser histérica e melodramática. Não existe mais
uma mente cristã. Ainda há, certamente, uma ética
cristã, uma prática cristã e uma espiritualidade cris­
tã... Mas na condição de um ser que pensa, o cristão
moderno já sucumbiu à secularização(4).
Perdemos grandes oportunidades de alcançar coisas
altas no campo espiritual por não sabermos fazer o uso de­
vido do entendimento. Deus está profundamente interes­
sado em que alcancemos um nível de compreensão amadu­
recido, a fim de que Ele possa revelar-se a nós e também
revelar a nós sublimes propósitos, através da inteligência.
Quantas vezes oramos pela orientação de Deus quanto
à sua vontade para uma determinada coisa e ficamos
aguardando que o Senhor nos fale de maneira singular,
através de um sonho, ou de uma profecia e nada disso
acontece? Então pensamos: “ Parece que Deus se esqueceu
de mim” . Mas, Ele realmente não está disposto a nos falar
sempre desta maneira, embora não se esqueça de nós. O
que espera é que descubramos por nós mesmos a sua von-
l ade. - Como? - Pensando! Sim, pensando um pouquinho!
Koi o que Paulo disse aos Efésios: “ Pelo que não sejais in­
sensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (Ef
r>.17). 0 apóstolo usa aqui de um paralelismo antitético,
característico da poesia hebraica, em que duas ênfases são
dadas: a primeira negativa, para exaltar o valor da segun­
da, que é positiva: não uma coisa, mas, em lugar dela, a
63
outra. Não a insensatez, mas a inteligência. Para quê?
Para descobrir a vontade do Senhor!
Escrevendo aos Colossenses, Paulo demonstrou o seu
interesse pelo uso da inteligência como meie de se conhe­
cer a vontade de Deus: “ Por esta razão, nós também, des­
de o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e
de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vonta­
de, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1.9).
Na conhecida passagem de Romanos 12.1-2, o apósto­
lo Paulo apela para a razão como meio de se conhecer a
vontade de Deus: “ E não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimen­
to, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” . É imperativa a necessidade de
renovação da mente para que se alcance este entendimen­
to. Agora vem a pergunta: como se pode renovar a mente?
- Colocando novos conhecimentos dentro dela? - Não,
simplesmente, mas substituindo algumas idéias por ou­
tras. Tendemos a armazenar algumas idéias que só servem
para nos atrapalhar. Algumas não passam de conceitos
amedrontadores que recebemos na nossa infância, ou cren­
ças supersticiosas trazidas de uma religião sem vida, da
experiência anterior ao nosso novo estado em Cristo. A me­
nos que libertemos as nossas mentes “ pela lavagem da á­
gua pela Palavra” (Ef 5.26), não experimentaremos o sa­
bor da “ boa, agradável e perfeita vontade de Deus” em
nossas vidas.
O mau uso da mente
Apesar de toda ênfase que estamos dando ao valor da
inteligência como um dos métodos eleitos por Deus para
descobrirmos qual a sua vontade, é bom que se alerte con­
tra o perigo do racionalismo, ou seja, contra o método de
julgar todas as coisas com base exclusivamente na razão. A
nossa inteligência deve ser revestida da graça divina e regi­
da pela Palavra de Deus, a fim de que não se julgue auto-
suficiente e criadora de “ arranjos ardilosos” com base em
deduções e mais deduções do tipo: “ Se uma vez aconteceu
assim, logo, será sempre assim” .
Há também o perigo da estagnação da inteligência
64
que se apega eíh conceitos já formados, fechando-se para
qualquer tipo de novidade, por mais legítima que seja. Isto
Ht‘ dá com muita facilidade em mentes sectárias. Tudo que
Ht* ouve ou aprende tem de coincidir com o que já se sabe.
Esta mente está bloqueada para qualquer coisa que não
H<‘ja a mera repetição daquilo que ela já sabe ou julga ser
linm.
Jesus pôde viver o tempo todo no centro da vontade de
1>eus porque sua mente era limpa. Não carregava o medo,
<»s preconceitos, a ansiedade, a superstição e nem tinha
bloqueios dentro dele. Ele era sóbrio, equilibrado e santo.
Ksta é a mente que Deus quer usar para comunicar a sua
vontade. Esta deve ser a mente dos que seguem a Cristo. É
o que diz Paulo aos Coríntios: “ Porque, quem conheceu a
mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós te­
mos a mente de Cristo” (1 Co 2.16).

65
6
A vontade de Deus
para o casamento
Este é um tema que desperta muito interesse nos jo­
vens. A maioria deles está pensando diariamente nisto.
Eles desejam um cônjuge ideal e com quem possam viver
felizes para sempre! - Isto é possível? - Sim, porque está
dentro do propósito de Deus para cada um. Deus é contra
tudo aquilo que venha tirar a felicidade de alguém. A feli­
cidade segundo Deus, segue padrões diferentes da felicida­
de segundo o mundo. Quando se experimenta a felicidade
segundo Deus, nunca mais se quer trocar pelá outra. A di­
ferença entre elas pode ser avaliada pelo preço de cada
uma. Tudo que é melhor custa mais caro; assim, a felicida­
de de Deus tem um preço: paciência, oração, submissão e
aceitação.
Paciência
Alguns jovens perdem por não saberem esperar no Se­
nhor. O salmista Davi testifica: “ Esperei com paciência no
Senhor e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”
(SI 40). A espera incômoda tem uma duração de tempo, no
qual muitas coisas acontecem. Muitos perdem a oportuni-
67
dade de.aprender o que Deus tem a lhes ensinar naquele
período, precipitando-se em qualquer partido. Não basta
ser casado para ser feliz! É preciso estar bem casado.
Há uma idéia generalizada de que se deve casar entre
os vinte e trinta anos de idade; caso passe disso, a moça se
considera “ Titia” . Não está escrito na Bíblia com que ida­
de uma pessoa deva se casar, mas aprendemos que em Is­
rael os pais escolhiam o casamento para os seus filhos por­
que partiam do princípio de que eles ainda não tinham
maturidade suficiente par fazer uma escolha certa. Assim,
Abraão mandou seu servo Eliezer escolher uma esposa
para seu filho Isaque. Há muitos casamentos arruinados
hoje porque os jovens se precipitaram. Não estavam prepa­
rados para a vida a dois. É preferível um moço ou uma
moça se casar com idade experiente, porém, dentro da
vontade de Deus, do que se casar no auge da beleza juvenil
e depois ter de arcar com um sofrimento inalienável pelo
resto da vida! Não quero dizer que as pessoas agora devam
se casar depois dos trinta. Fique claro o seguinte: não im­
porta se o casamento ocorre cedo ou tarde: o importante é
que seja da vontade de Deus! A idade não é o mais impor­
tante, se o casamento for dentro do plano de Deus.
Oração
Não podemos dissociar a oração de nada em nossa
vida espiritual. Dedicamos um capítulo especial sobre a
consagração para se conhecer a vontade de Deus, no fim
deste livro, e é óbvio que a oração está bem mais comenta­
da lá; contudo, ela entra aqui como um dos elementos que
constituem o preço da verdadeira felicidade conjugal.
Veja o procedimento de Eliezer. Ele orou. Não se foi
precipitando, escolhendo logo a mais bonita, simplesmen­
te para que agradasse aos olhos do filho do seu senhor e, as­
sim, ficar bem no seu emprego. Ele orou: “ E disse: Ó Se­
nhor, Deus de meu senhor Abraão! dá-me hoje bom encon­
tro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que es­
tou em pé junto à fonte da água, e as filhas dos varões des­
ta cidade saem para tirar água; seja pois que a donzela, a
quem eu disser: Abaixa agora o teu cântaro para que eu be­
ba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus
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camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaquo, e
que eu conheça nisso que fizeste beneficência a meu se
nhor” (Gn 24.12-14).
Eliezer orou, pedindo a Deus que desse a moça e que
confirmasse ser ela a sua preparada, por meio de um sinnl.
Se você leu o capítulo em que tratamos disto, pode, agora,
entender melhor este meio de revelação da vontade de
Deus.
“ E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis
que Rebeca saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a
donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem varão não
* havia conhecido, e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro,
' e subiu. Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Ora
deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro. E ela
disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e abaixou o seu
cântaro sobre a sua mão, e deu-lhe de beber. E, acabando
ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os
teus camelos, até que acabem de beber” (Gn 24.15-19).
Você pode imaginar com que cara ficou Eliezer? Olhos
arregalados e boca aberta sem poder dizer uma palavra!
Está escrito: “ E o varão estava admirado de vê-la, calan­
do, para saber se o Senhor havia prosperado a sua jornada
ou não” (Gn 24.21).
Quando alguém entra pelo caminho da oração para
tratar da escolha do seu cônjuge, pode estar certo de que
Deus estará levando o caso a sério e, a seu tempo, Ele res­
ponderá, de maneira satisfatória, à oração.
Submissão
Este é o ponto mais difícil de se lidar no plano da ver­
dade perfeita de Deus, principalmente quando se tem em
mente algo diferente do que Deus planeja. Quando pedi­
mos a Deus que a sua vontade seja feita, temos de subme­
ter-nos à sua maneira de agir quanto ao tempo, à forma e à
pessoa.
Geralmente, quando se está apaixonado por alguém,
parece que tudo quer dizer que é da vontade de Deus aque­
la união. A pessoa encontra sinais até onde não existem.
Como ela quer fazer valer a sua vontade, cria situações que
lhe dão a impressão de que Deus está naquilo e que Ele es-
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tá mostrando a sua vontade. Na verdade, esta pessoa está
se ludibriando. É possível estar amando alguém que Deus
preparou para sua vida como também apaixonar-se por al­
guém que Ele realmente não preparou. Rebeca ainda não
conhecia Isaque. Ela estava vendo pela primeira vez na
vinda de Eliezer, servo de Abraão. Ele foi àquela terra para
encontrar uma esposa para Isaque, porque ali habitava
parte da família de seu pai. Para surpresa de Eliezer, Re­
beca era da família que ele procurava.
Hospedado na casa de Rebeca, diante de Betuel, seu
pai, e de Labão, seu irmão, expôs a razão que o levava à­
quele lugar. Eliezer precisava pedir a mão de Rebeca em
casamento para Isaque, pois, que era vontade de Deus ele
já sabia. Para aumentar a sua alegria, a resposta que rece­
beu do pai e do irmão da jovem foi esta: “ Do Senhor proce­
deu este negócio; não podemos falar-te mal ou bem; eis
que Rebeca está diante da tua face; toma-a, e vai-te; seja a
mulher do filho de teu senhor, como tem dito o Senhor”
(Gn 24.50-51).
Chegou a hora de voltar. Embora sabendo que Deus
estava naquilo, o sentimento de amor familiar manifestou-
se. Labão e sua mãe pediram a Eliezer que deixasse a moça
ficar pelo menos dez dias em casa para depois partir, mas o
servo de Abraão não aceitou a proposta. Há um tempo de
espera antes, mas quando chega a hora de Deus, nada im­
pede que a bênção se concretize. Então consultaram Rebe­
ca: “ E chamaram a Rebeca, e disseram-lhe: Irás tu com
este varão? Ela respondeu: Irei” (Gn 24.58).
Rebeca estava certa de uma coisa apenas: de que Deus
estava naquilo. E se Isaque não fosse o que ela esperava?
Se ela se decepcionasse depois? Se quisesse, tinha o direito
de dizer “ Não” , mas submeteu-se. - Será que Deus a de­
cepcionaria? - De maneira alguma!
É triste vermos moças e rapazes insubmissos à vonta­
de do Senhor quanto à escolha de seu cônjuge. A atração
física é o único parâmetro que alguns usam para escolher o
seu parceiro. Há pessoas para quem o valor pessoal é só a
beleza. Com o tempo, ela também se vai; e o que sobra?
70
A submissão está diretamente ligada à confiança em
Deus. Acatar as suas exigências é desfrutar das bênçãos de
um casamento feliz.

Aceitação
Lá vem Eliezer, os seus servos, os seus camelos e Re-
beca. Em sentido contrário, vem o jovem Isaque: “ Ora Isa-
que vinha do caminho do poço de Laai-Roi; porque habita­
va na terra do sul. E Isaque saíra a orar no campo, sobre a
tarde; e levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os came­
los vinham” . Enquanto Eliezer foi fazer o seu trabalho,
Isaque não ficou ocioso. Minutos antes do encontro, ele se
encontrava orando. Isaque era crente! “ Rebeca também
levantou seus olhos, e viu a Isaque, e lançou-se do camelo.
E disse ao servo; Quem é aquele varão que vem pelo campo
ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. En­
tão tomou o véu, e cobriu-se” (Gn 24.64-65).
Isaque e Rebeca eram seres humanos dotados de sen­
timentos emocionais, assim como nós. Como não estava o
coração de Rebeca e como não estaria o de Isaque? Não
resta a menor dúvida de que ambos estavam com o coração
disparando. Ali estava a jovem com o rosto coberto na pre­
sença de Isaque. Que face haveria debaixo daquele véu?
Seria ela formosa? Seria simpática? Será que a natureza
não lhe tinha sido favorável? Como seria a sua pele? Será
que isto passou pela mente de Isaque? Fosse como fosse,
ele tinha ouvido o testemunho convincente de Eliezer. De
uma coisa Isaque estava certo: Deus estava naquilo; por­
tanto, tinha motivo suficiente para aceitá-la.
Isaque deve ter ficado ainda mais feliz ao olhar para o
seü rosto e ver que ela era formosa (Gn 24.16). “ E Isaque
trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca,
e foi-lhe ela por mulher, e amou-a” (Gn 24.67).
Quando nos submetemos à vontade de Deus, temos de
estar preparados para aceitar o que Ele nos dá. O que Deus
tem para os que trilham na sua vontade é sempre bom,
ainda que nem sempre se pareça com aquilo que planejá­
vamos. Os olhos de Deus vão até onde os nossos olhos não
podem alcançar!
71
UMA ESCOLHA LIVRE
Há um princípio de escolha do cônjuge descrito por
Paulo em sua primeira carta aos Coríntios onde lemos: “ li­
vre para casar com quem quiser, contanto que seja no Se­
nhor” (1 Co 7.39).
Embora Paulo esteja referindo-se especificamente ao
caso das mulheres viúvas, ele deixa transparecer clara­
mente que a liberdade de escolha do seu parceiro é um di­
reito de cada pessoa livre, desde que seja no Senhor. É ób­
vio que Paulo está tratando com pessoas salvas e compro­
metidas com o Reino de Deus.
A condição (“ contanto que seja no Senhor” ) apontada
pelo apóstolo implica na observação dos preceitos bíblicos
para o casamento e nisto está a realização deste ato dentro
da vontade de Deus.
Muitas dúvidas começam a ser levantadas agora, uma
vez que se sabe de muitos casamentos que não prospera­
ram, muito embora o casal individasse todos os esforços no
sentido de atender aos preceitos da Palavra de Deus, pelo
menos durante o tempo de namoro até à chegada do casa­
mento.
Não basta conhecer alguns versículos da Palavra de
Deus. É preciso compreender a mensagem como um todo e
estar afinado com ela.
O casamento para o cristão, é irreversível. A menos
que sofra um gesto de infidelidade conjugal, não tem per­
missão para divorciar-se (Mc 10.1-12), e isto, sem dúvida,
pesa muito na responsabilidade de uma decisão ao matri­
mônio.
Como então fazer para decidir corretamente e dentro
da vontade de Deus? - Para obter esta resposta é preciso
primeiramente que se considere o importante fato de que
Deus está profundamente interessado na nossa felicidade
no sentido completo e por isso mesmo Ele está disposto a
ajudar cada pessoa que saiba esperar pacientemente no
Seu tempo. Há muitos casais felizes por saberem esperar
em Deus e outros infelizes por se precipitarem.
72
ALGUMAS PERG UNTAS QUE SE DEVE FAZER
1. A minha escolha está de acordo com os preceitos da Pa­
lavra de Deus?
2. Estou realmente seguro(a) de minha decisão ou tenho
fortes dúvidas?
3. Entre nós há equilíbrio:
a) social?
b) cultural?
c) biológico? (estatura, saúde, etnia, raça)
Obs.: desequilíbrios nestas áreas podem trazer proble­
mas futuros.
4. Costumamos desentender-nos?
5. Minha família o (a) aceita bem? (sim, não - por quê?)
6. Sua família me aceita bem? (sim, não - por quê?)
7. Ele é trabalhador?
8. Ele costuma parar em emprego?
9. O que ele ganha (ou nós ganhamos) é suficiente para
manter o lar?
10. Ele(a) tem alguns ideais dos quais eu possa participar?
11. Como é a sua história de vida cristã?
12. Ele(a) tem vida séria com Deus?
13. Estamos submetendo o nosso enlace à soberana vonta­
de de Deus?
14. Estarei disposto(a) a deixá-lo(a) se entender que não é
da vontade de Deus que nos casemos?

73
7
Um ato contra
a vontade de Deus
Perguntaram a um pastor dedicado ao ministério de
aconselhamento qual a maior dificuldade que ele encon­
trava no seu trabalho, ao que ele respondeu: “ Fazer uma
moça crente desistir da idéia de se casar com um descren­
te^. Pode parecer um exagero, mas é a experiência comum
a todos os que enfrentam uma situação como esta.
Se para descobrirmos a vontade de Deus temos de tri­
lhar alguns caminhos até difíceis, para sabermos o que não
lhe agrada é bem mais fácil, pois temos uma consciência e
um senso de raciocínio lógico, que nos permitem distinguir
entre o que é bom e o que não é. - Para que, então, esta dis­
cussão sobre o casamento misto, se ele está enquadrado,
obviamente, naquilo que não agrada a Deus? - Primeiro,
para apresentarmos um exemplo, entre muitos, de uma
atitude contrastante com a vontade de Deus, e, segundo,
para, quem sabe, ajudar alguém que esteja disposto a fazer
B vontade de Deus e não entrar por esta estrada esburaca­
da e sem retorno.
Quase todos os jovens, moços e moças, conhecem a fa­
mosa passagem bíblica de 2 Co 6.14: “ Não vos prendais a
75
um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem
a justiça côm a injustiça? E que comunhão tem a luz com
as trevas?” Se esta é uma porção da Palavra de Deus,
como o são tantas outras que procuramos pôr em evidência
em nossas vidas, o que é que estão alguns fazendo com ela,
ao se precipitarem num casamento com um infiel?
A associação conjugal mista significa, simplesmente,
que um salvo está se unindo com um perdido: é a união da
luz com as trevas; de um filho de Deus com um filho da de­
sobediência; de um príncipe com um plebeu. Acrescente-
se a isto todos os contrastes que a Bíblia faz entre o crente
e o incrédulo.
No Antigo Testamento, Deus exigia separação do seu
povo. Se Deus aceitasse mistura, Israel perderia a sua
principal característica, que era a unidade religiosa:
“ ...para que não faças concerto com os moradores da terra,
e não te prostituas após os seus deuses, nem sacrifiques aos
seus deuses, e tu, convidado deles, coma dos seus sacrifí­
cios, e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e
suas filhas, prostituindo-se após os seus deuses, façam que
também teus filhos se prostituam após os seus deuses” (Êx
34.15-16).
Como povo da Nova Aliança, somos chamados filhos
de Abraão, pela fé (Rm 4.16), o novo Israel de Deus. No
pronunciamento do apóstolo Pedro, somos: “ ...a geração
eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Quem
tem consciência deste posicionamento, sabe o que é priori­
tário em sua vida!
A conhecida passagem de Amós 3.3: “Andarão dois
juntos, se não estiverem de acordo?” estabelece a diferen­
ça fundamental de critérios pessoais dos cônjuges, que não
pertencem ao mesmo clã espiritual. Não é possível a convi­
vência harmônica entre duas pessoas que esposem pensa­
mentos, gostos e crenças diferentes. Casamento não é ape­
nas união física de um homem e uma mulher, mas uma
união de vidas. A união de corpos, conforme diz a Bíblia,
dá uma idéia de algo bem completo. Corpo, no grego, é
“ soma” . Esta palavra não quer dizer carne simplesmente
76
mas compreende todo o conjunto do ser. Para carne, a
língua grega tem a palavra “ sarx” , e não é esta que ela usa
para referir-se ao casamento.
Há muitos casais nesta situação: alguns que conscien­
temente se atreveram a este ato de infidelidade e depois de
um tempo voltaram arrependidos para a igreja e outros co­
nheceram a Cristo depois que já eram casados. No segundo
caso, a posição do salvo é diferente. Deus o trata de modo
especial. O apóstolo Paulo diz: “ ...se algum irmão tiver
mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a
deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele
consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o mari­
do descrente é santificado pela mulher e a mulher descren­
te é santificada pelo marido; doutra sorte os vossos filhos
seriam imundos, mas agora são santos” (1 Co 7.12-14). O
crente deve orar e esperar que Deus faça a obra na vida do
seu parceiro. Pedro recomenda às esposas: “ Semelhante­
mente vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios ma­
ridos; para que também, se alguns não obedecem à Pala­
vra, pelo porte das suas mulheres, sejam ganhos sem pala­
vra” (1 Pe 3.1).
Não se pode fazer nada pelos casos já existentes, a não
ser buscar a Deus pela salvação do cônjuge incrédulo e
comportar-se de maneira conveniente, a fim de manter um
relacionamento pacífico, na medida do possível.
Como tudo começa
A experiência tem mostrado que as incidências de ca­
samento misto ocorrem mais com moças crentes do que
com rapazes. Isto é evidente, primeiro pelo fato de haver
mais mulheres do que homens no mundo, no país e, logo,
na igreja. Segundo, porque as moças são mais emotivas
que os rapazes e se deixam levar mais facilmente pelos
sentimentos. Terceiro, porque a mulher não é tão domina­
dora quanto o homem, encantando-se com as palavras de
um conquistador galante. Por isso, partiremos do exemplo
feminino, que é mais amplo, entendendo que tanto é erra­
do para a moça quanto é errado para o rapaz unir-se num
jugo desigual.
77
A moça sonha com o dia do seu casamento. Enquanto
é adolescente sonha, mas não se preocupa muito com o seu
“ Príncipe encantado” . Ela acha que não terá problemas
para obtê-lo. Espera. Mas, o tempo passa e ela percebe que
sua beleza tem de atrair alguém. Então, ela olha para os
rapazes de sua igreja e começa a procurar, entre eles, al­
gum que lhe agrade. Talvez haja um ou outro mas ou está
compromissado ou possui algum defeito que estraga tudo.
A moça se sente frustrada e começa a dizer: “ Na igreja não
tem rapaz para mim” . A partir desta sentença que ela deu
à sua igreja, ela entra em desespero. “ Será que não haverá
alguém para mim?” Ela, então, começa a pensar na possi­
bilidade de conhecer um rapaz crente de outra igreja, mas
como as oportunidades de encontros são pequenas, por não
estar convivendo lá e nem ele estar vindo à sua igreja, ela
desanima.
Um dia, na escola ou no trabalho, ela conhece um ra­
paz interessante: bonito, cortês, simpático, atencioso, do
tipo que ela gostaria de ter. Começam a conversar. Um te­
lefonema ou um encontro aproxima os dois. Ele lhe diz al­
gumas palavras bonitas que começam a se repetir na men­
te dela, como uma fita. Algum sentimento brota no cora­
ção da moça, já desiludida com os rapazes de sua igreja.
Ele faz uma visita à sua casa, ou sob o pretexto de realizar
algum trabalho ou até por mera cortesia. A mãe fica des­
confiada, mas o rapaz a trata tão bem que ela ainda diz
para a filha: “ Minha filha, este moço é tão educado! Gos­
tei do jeito dele...” A filha dá um sorrizinho e diz: - “ Ma­
mãe, eu acho ele uma gracinha” . - “ Minha filha, - diz a
mãe você não vai me dizer que...” A moça, meio encabu­
lada, responde: - “ Ah! mãe, nem sei o que dizer!” A mãe
então lembra à filha que ela é uma crente e afinal, um na­
moro com descrente não daria certo. A conversa encerra-se
por aí. Dias depois, o rapaz volta e traz um presente para a
mãe da moça. Começa a conquistar a mãe. Esta já começa
a pensar um pouco diferente a respeito do rapaz: - “ Só tem
que ele não é crente, mas é um moço tão bom! ” Não é pre­
ciso dizer o resto.
Alguns dias se passam e o pastor toma conhecimento do
caso e chama a jovem para um diálogo. Tenta aconselhá-la,
78
mas ela não responde quase nada. Só chora. O pastor ora
por ela, mas tudo fica como está. Chega, então, a vez de fa­
lar com o pai. Geralmente, este, sendo crente, é o mais du­
rão. Não cede. Com semblante sério, de quem está em de­
sacordo com tudo que está acontecendo, responde ao pas­
tor: - “ Eu já cansei de falar com ela, mas esses filhos de
hoje não ouvem os pais. Eu já não falo mais nada” . Chega,
então, a vez da mãe. A princípio, ela diz ao pastor que
aconselhou a filha e procura mostrar que não tem culpa al­
guma de a filha estar namorando um descrente. Mas, du­
rante a conversa, o pastor pede uma providência familiar,
além de exortar, pela Palavra, sobre aquela situação, e en­
tão a mãe não suporta muito e começa a responder: “ É,
pastor, mas também... na igreja não tem rapaz para a mi­
nha filha” . Não adianta muito o pastor dizer à mãe que ela
deve ensinar a filha a esperar pelo tempo de Deus. A mãe
prossegue: “ Ele não é crente, mas é muito bom. Eu acho
que se a minha filha se casar com ele, ele não vai proibi-la
de ir à igreja” . Veja como esta mãe já está pensando! -
Continua ela: “ Depois, pastor, um dia ele pode ser cren­
te” . Que esperança incerta a dessa mãe! Além do mais, na­
moro não é meio de evangelização! A mãe, que tem todas
as respostas que a filha não consegue dar continua: “ Sabe,
pastor, tem incrédulo que é melhor que muitos crentes que
eu conheço” . Esta frase pode até ser verdadeira se conside­
rada do ponto de vista comportamental, quando porém se
leva em conta as perspectivas de progresso de um salvo em
potencial então conclui-se que o pior deles é ainda mais
compensador que o melhor incrédulo do mundo.
Esta mãe é tão inconseqüente quanto a filha. Para
quem quer levar o Evangelho a sério, uma união espiritual­
mente desigual equivale à própria negação da fé. E isto é o
que muitos, especialmente moças, têm feito; elas têm ne­
gado a fé em Jesus através de um pacto definitivo com um
filho das trevas. Qualquer pessoa que tenha afinidade com
a Palavra de Deus sabe perfeitamente que não exagero.
- Por que uma moça (ou rapaz) que entra por este ca­
minho tem de ser disciplinada pela igreja? - Porque, além
de cometer um tipo de “ suicídio” espiritual, expondo a se-
79
gurança da sua salvação ao acaso, ainda afronta a igreja
santa, pura e imaculada do Senhor Jesus.
Quando Neemias chegou de volta à sua terra, depois
que alguns já haviam retornado do cativeiro babilónico,
surpreendeu-se com o elevado número de casamentos mis­
tos. Disse: “ Vi naqueles dias judeus que tinham casado
com mulheres asdoditas, amonitas, e moabitas; e seus fi­
lhos falavam meio asdodita, e não podiam falar judaico,
senão segundo a língua de cada povo. E contendi com eles,
e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei
os cabelos, e os fiz jurar por Deus dizendo: Não dareis mais
vossas filhas a seus filhos, e não tomareis mais suas filhas,
nem para vossos filhos nem para vós mesmos. Porventura
não pecou nisto Salomão, rei de Israel, não havendo entre
muitas gentes rei semelhante a ele, e sendo amado de
Deus, e pondo-o Deus sobre todo o Israel? E contudo as
mulheres estranhas o fizeram pecar” (Ne 13.23-26).
Que tal? Você achou drástica a atitude de Neemias?
Sem dúvida. Será que Deus estava com ele? A ira de Nee­
mias era a ira de Deus. A mistura do povo significava a
corrupção no meio do povo de Deus. Ainda hoje, Deus con­
tinua pensando o mesmo. Se, naquele tempo, estando de­
baixo da Lei, Deus já esperava o melhor do seu povo, quan­
to mais hoje, quando temos maior compreensão de Deus e
da sua Palavra, através do Espírito Santo, que eles ainda
não tinham!
O casamento tem várias finalidades e uma delas é glo­
rificar a Deus. Isto não pode ser possível num casamento
que parte de uma deliberação contrária à Palavra de Deus.
No exemplo da mãe solidária à filha, queremos preve­
nir as mães crentes de que não se deixem levar pelo engano
do “ prêmio de Balaão” . É bem verdade que as mães têm
ciúmes do filho quando se casa, mas não podem aceitar a
idéia de ver a sua “ linda” filha solteirona. Para evitar isso,
devem orar por elas e com elas, e aconselhá-las a não en­
trarem por esse caminho, que não é o da vontade de Deus.
A pessoa que sabe esperar em Deus sempre acaba bem.

80
8
A vontade de Deus e a
vocação ministerial
A carreira eclesiástica tem sido a preocupação de mui­
tos moços, como, para outros, é a decisão por uma profis­
são, cuja escolha resultará numa vida de inteira devoção
ao trabalho específico.
É freqüente a pergunta: - Como saber se Deus real­
mente me quer na sua obra, e, se me quer, em que área? -
Será diante de uma igreja, como pastor? - Será no campo
missionário? - Será como evangelista, realizando grandes
cruzadas? - Será que o Senhor me quer como mestre da
Palavra ou em alguma área que ainda não me passou pela
cabeça?
Não há na Bíblia nenhuma fórmula específica para se
testar um chamado. O que sabemos por ela é que há um
chamado objetivo para a conquista das almas pela procla­
mação do Evangelho e este chamado é coletivo. Em se tra­
tando, porém, de uma chamada individual, deparamo-nos
com experiências subjetivas. Paulo teve a sua chamada
através de um encontro pessoal com o Senhor no caminho
de Damasco. Isto não quer dizer que acontecerá o mesmo
com todos. Os outros discípulos de Cristo foram mediante
81
um convite feito diretamente pelo Senhor: abandonaram
as suas atividades e o seguiram. Timóteo recebeu a grande
influência de Paulo em sua vida e, assim, cada um teve a
sua própria experiência.
O melhor que podemos dizer sobre chamado é que
chamado é vocação. É bastante estranho, aliás, ouvir al­
guém dizer a outro: “Você tem um cham ado” quando esta
pessoa realmente não sente nada pela causa. Chega a pare­
cer um a tática dos espíritas, que, para conseguirem novos
adeptos para a sua seita, dizem: “ Você tem mediunidade:
precisa desenvolvê-la” . Verdade é que a vocação de um
servo de Deus pode nascer de um instante para o outro,
como fruto direto da operação do Espírito de Deus no seu
coração. A Bíblia diz que Deus age diretamente na nossa
vontade. (Veja F1 2.13: “ Porque Deus é o que opera em vós
tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vonta­
de” .) De repente, um desejo de entrega invade o coração de
tal maneira que esta pessoa ganha um a nova convicção
sobre si mesma. Sabe que não há nada no mundo que pos­
sa fazê-la mais feliz do que esta carreira.
Muitos recebem este toque divino em seus corações,
mas, diante de alguns obstáculos, intimidam-se colocando
um a pedra em cima deste sentimento.
Quando Jesus enviou os “ S etenta”, disse: “ ...grande
é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai
pois ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua sea­
ra” (Lc 10.2).
Nos dias em que Jesus disse isto, o mundo contava
com 250 milhões de habitantes e ele já disse que a seara era
grande. Hoje, a hum anidade inteira totaliza quase 5 bi­
lhões de pessoas e o que podemos dizer do tamanho da sea­
ra?
À medida em que a Igreja fizer a oração da seara, Deus
estará levantando novos valores à sua Causa Santa.
Na passagem em estudo, Jesus faz três promessas à ­
queles que aceitam o seu chamado: pressão, provisão e po­
der.
82
Pressão
Jesus disse: “Ide, eis que vos mando como cordeiros ao
meio de lobos” (v 3). Quem de nós não quer ser cordeiro? E
como é bom ser cordeiro no meio do rebanho! Mas, no meio
de lobos, você vai ser pressionado mesmo!
No tempo e no espaço, os modos de pressão variam.
Houve época, por exemplo, na história da nossa igreja no
Brasil, em que os pregadores sofriam grande pressão pelos
“atenienses” dominadores do nosso território, que, na de­
fesa dos seus “santos inanimados” , perseguiam os santos
avivados numa verdadeira luta sanguinária. Mas, o prínci­
pe deste mundo, sumo “pastor” dessa alcatéia, resolveu
mudar a sua tática. Hoje a luta se dá pela conquista da
mente. Estão aí os profetas da nossa época dando a sua p a ­
lavra de ordem à sociedade, pois os meios de comunicação
mais influentes estão em suas mãos. São os atores, canto­
res, poetas, jornalistas e outros, que estão formando no
povo uma mentalidade racionalista, existencialista, hu­
manista. Isto vem dificultando, a cada dia, o evangelismo.
Como enfrentar o nosso tempo? - E, como se não bastasse,
o quadro vem sendo ampliado e a situação histórica que
presenciamos está sendo refletida dentro da própria igreja.
Vem despontando aí uma nova geração que “pensa” . Uma
geração de estudantes que aprende a questionar. Uma ge­
ração que quer saber mais. Ela quer respostas à altura, das
suas perguntas. Eis, aliás, porque em determinados pontos
da nação estamos assistindo a um grande movimento emi-
gratório de nossos jovens para outras denominações, o que
alguns atribuem taxativamente às “tendências à vaida­
de” . Esta explicação é simples e cômoda. Um estudo mais
aprofundado do caso está mostrando que a razão primor­
dial dessas perdas reside na falta de respostas e, em alguns
casos, até de amor.
À medida em que o tempo passa, torna-se mais difícil
ser obreiro na seara do Senhor. Há um preço a pagar. Há
um treinamento que não pode ser negligenciado. Não bas­
ta ser crente de oração; é preciso viver vida de oração e
consagração, mas é imperiosa a necessidade do preparo
teológico. Sabemos que isto ainda soa com m uita antipatia
83
para muitos. Respeitamos os nossos irmãos que pensam
assim, mas não podemos nos prender mais a preconceitos.
Se algum obreiro não quer ter do que passar vergonha que
“maneje bem a Palavra da verdade” ... (2 Tm 2.15).
Dizia o ilustre pastor batista, Rubens Lopes, de São
Paulo, em um de seus encantadores sermões: “Davi tinha
a fé e a funda. Tenha você também, meu irmão, a fé e a
funda; do contrário, a fé afunda!” .
Com a fé e a funda, estaremos armados para enfrentar
os lobos vorazes da nossa época.
Provisão
Esta foi a segunda promessa que Jesus fez aos discípu­
los: “E não leveis bolsa, nem alforge, nem alparcas: e a
ninguém saudeis pelo caminho... E ficai na mesma casa,
comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o
obreiro do seu salário. Não andeis de casa em casa” (v 4-7).
A vida moderna oferece muito conforto, e a tentação
de ganhar dinheiro para se obter regalias é muito grande.
Enquanto no passado alguns trocavam o martelo, a enxa­
da, o serrote, por um terno e gravata, tornando-se um pre­
gador do Evangelho, hoje, trata-se, em muitos casos, de
deixar uma boa posição, anular até mesmo um diploma
universitário, abandonar a gerência de um banco ou abdi­
car de um a carreira médica para se lançar à obra. Muitos
não têm esta coragem! Temem passar por privações, e,
mais ainda, quando levam isto para o plano familiar. Bem,
este é um passo que só pode ser dado por fé; agora, que fun­
ciona, funciona! Quase não há obreiros que não tenham al­
guma experiência da provisão de Deus na sua vida. Vale a
pena conferir. Pergunte ao seu pastor se ele já passou por
algum momento assim, em que precisava de alimento ou
de algum dinheiro e na hora exata Deus mandou o “cor­
vo” . Aceite este desafio! “Provai e vede que o Senhor é
bom ” .
Não há nada mais glorioso do que viver no centro da
vontade de Deus. As dificuldades realmente existem, mas
são sempre superadas, uma a uma, e, por fim, se consti­
tuem ainda em motivo de gozo, porque, através delas, o
homem de Deus pode verificar o quanto Deus participa de
84
sua vida! Uma boa recomendação para este ensino é ler a
vida de Jorge Müller, um servo do Senhor que, de um a m a­
neira singular, está credenciado pela história a dizer o que
é provisão divina. Além do mais, sejamos realistas; cada é­
poca tem as suas peculiaridades. As dificuldades econômi­
cas do passado expressavam não só o tam anho da igreja,
que era pequena, como o próprio potencial econômico do
povo. Felizmente, as condições de hoje são mais promisso­
ras neste sentido, do que eram naquele tempo. O fato rele­
vante na questão do sustento é que, tanto no passado como
hoje, um a pessoa verdadeiramente cham ada não se preo­
cupa com ele, porque sabe que o Senhor é fiel em garanti-
lo.
Poder
Ora, se faltasse este elemento, então nada valeria a
pena nesta carreira. Um pregador sem poder não passaria
de um teórico. Sem poder o trabalho não rende. Jesus dis­
se: “E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É
chegado a vós o reino de Deus” (v 9).
A tarefa de curar os enfermos tem um sentido bem
mais amplo dentro das Escrituras, do que alguns pensam.
Quando se fala em cura, pensa-se apenas na cura do corpo.
É claro que há m uita gente com o corpo enfermo e Jesus
cura mesmo. Há aí algo que quem se dispõe a fazer a obra
de Deus deve enfrentar; contudo, Jesus associou as curas à
pregação do reino de Deus. “ Curai e pregai” , disse Ele.
Não é difícil empreender um trabalho evangelístico de
cura divina, haja vista tantos movimentos que estão sur­
gindo nestes moldes. Normalmente, pregam a cura e nada
mais. A pregação do reino de Deus é a razão principal do
envio dos ceifeiros à seara. Quando se prega o reino de
Deus com poder, então verificam-se curas completas, isto
é, do corpo e da alma, do homem exterior e do homem inte­
rior. Nem todos sofrem de doenças exteriores, mas todos,
no mundo, precisam de cura interior. O homem do século
XX está em crise existencial. O pecado atingiu dimensões
muito grandes, e só o Evangelho de Cristo pode oferecer
uma situação segura de paz, tranqüilidade, esperança e
perdão.
85
Eles tinham uma tarefa
Jesus deu a cada um deles um a tarefa e exigiu deter­
minação. A ordem era: “E ficai na mesma casa... não an­
deis de casa em casa” (v 7). Não há trabalho com êxito se
não houver determinação, propósito, fixação.
O resultado do trabalho
Os setenta foram e voltaram da missão “com alegria”
(v 17). Não havia decepção nem reclamação. A obra tinha-
lhes sido gratificante. Havia satisfação pelo trabalho reali­
zado. Se a carreira ministerial resulta nisto, por que não
abraçá-la, desde que o Senhor tenha feito o convite? Não é
um a boa coisa ser discípulo do profeta Jonas na primeira
fase do seu ministério, fugindo da vontade de Deus.
Melhor que a satisfação pessoal foi para os setenta sa­
berem que o Senhor ficara satisfeito com a obra feita, e,
portanto, com eles: “ Naquela mesma hora alegrou-se Je­
sus no Espírito Santo...” (v 21).
ALGUMAS PERGUNTAS QUE SE DEVE FAZER
Um jovem, interessado em ingressar integralmente na
Obra de Deus deve-se perguntar:
1. Por que quero trabalhar na Obra de Deus?
2. Tenho comunicado este desejo ou tenho escondido?
3. Recebo incentivo por esta decisão ou tentam-me desani­
mar?
4. Sinto paixão pela Obra de Deus?
5. Sou atuante em minha igreja?
6. Meu pastor sabe do meu desejo de ingressar na Obra? -
O que ele diz disto?
7. Minha vida cristã corresponde a esta vocação?
8. Estou fazendo alguma coisa pela minha preparação teo­
lógica?
9. Estou disposto a abdicar do meu conforto para atender a
obra num lugar precário?
10. Em que área ou mais gostaria de atuar? (pregando, en­
sinando, administrando, evangelizando, fazendo mis­
são, etc).
86
11. Estou preparado para lidar com problemas dos outros a
qualquer hora do dia ou da noite?
12. Sou firme nas minhas decisões ou costumo mudar de
idéia com freqüência?
13. Tenho vida de oração?
14. O que os outros dizem da minha conduta moral?
Estas perguntas poderão ajudar aqueles irmãos que
sentem um profundo desejo de atuar na Obra de Deus, a
refletirem sobre a postura que estão adotando para com
esta vocação.

87
9
A vontade de Deus e as
vocações profissionais
“ Do trabalho das tuas mãos comerás, feliz serás, e
tudo te irá bem.”
A Bíblia é um livro completo, pois trata dos interesses
do homem, mostrando-lhe caminhos que visam à sua feli­
cidade. Ela se ocupa das experiências comuns da vida
como o nascimento, casamento, vocação e morte, revelan­
do o interesse de Deus em atuar em todas essas fases, dan­
do a sua bênção e oferecendo a sua orientação.
Muitos homens, cujos nomes foram registrados na
Bíblia, fazem-se conhecer a nós com suas respectivas pro­
fissões, como Tubal Caim, que era mestre em toda a obra
de ferro; Ninrode, que era um caçador; Davi, pastor de
ovelhas; Caim, lavrador; José do Egito, administrador;
Bezaleel, hábil artífice; Mateus, cobrador de impostos;
Lucas, médico; Pedro, pescador; Paulo, fabricante de ten­
das; Dorcas, costureira; Jesus, carpinteiro; Lídia, vende­
dora; Cornélio, comandante de cem soldados e assim por
diante. Desde as mais nobres profissões até as inferiores,
como o exercício da magia por Simão (At 8.9) ou a confec-
89
ção de nichos de prata com a esfinge de Diana (At 19.27),
em Éfeso, são nos apresentados pela Bíblia.
Embora apresente várias áreas da atividade humana,
tendo por finalidade a manutenção do sustento daqueles
cujas vidas são destacadas, a Bíblia tem a sua ênfase na
vocação ministerial, por ser o terreno espiritual a sua prio­
ridade. Entretanto, ela faz exigências sobre o trabalho, que
devem ser observadas como: “ Seis dias trabalharás, e farás
toda a tua obra” (Êx 20.9), referindo-se ao período de tra ­
balho no decorrer de uma semana; “ ...se alguém não qui­
ser trabalhar não coma tam bém ” (2 Ts 3.10). O apóstolo
Paulo lembra aos irmãos de Tessalônica o quanto trab a­
lhou para não depender deles: “Porque bem vos lembrais,
irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite
e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós...” (1 Ts
2 .9 ).
No mundo moderno, o conceito de vocação profissio­
nal está bem mais desenvolvido do que nos dias em que a
Bíblia foi escrita. Além da densidade demográfica ser bem
menor do que é hoje, ainda não se conhecia o que o homem
de agora conhece, em termos de tecnologia e de avanços
científicos; e, enquanto as profissões eram um a continua­
ção natural das atividades desempenhadas pelo pai de
família, hoje cada um tem o direito de fazer a escolha que
mais lhe agradar.
O termo “vocação” está bastante secularizado. O Di­
cionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano, diz que o ter­
mo foi originalmente usado pelo apóstolo Paulo, em 1
Coríntios 7.20: “ Cada um fique na vocação em que foi cha­
m ado” . “ A palavra vocação é hoje um conceito pedagógico
e significa a profissão para qualquer ocupação, profissão
ou atividade” .
Esta é, aliás, uma preocupação que começa com os
pais quando o filho é ainda criança e não tem a mínima no­
ção do que pretenderá ser. A experiência de ter um filho
que não optou por um a profissão excessivamente honrosa é
consideravelmente frustradora para alguns pais. No passa­
do, o trabalho era um a imitação da natureza; hoje, é um a
expressão da livre iniciativa hum ana.
Nos primórdios da civilização, os trabalhos desenvol-
90
vidos pelo homem eram manuais. Com o tempo passou dos
trabalhos manuais para os artesanais. Começou o homem,
então, a produzir coisas por conta própria. Neste período, o
instrumento de trabalho era o utensílio. Mais tarde, o ho­
mem entrou na era industrial e, a partir daí, utilizou-se da
máquina. Começando com o vapor, depois com o petróleo
e a eletricidade, avançou à eletrônica. Vivemos na era dos
computadores.
No passado, as áreas de implementações trabalhistas
eram restritas; hoje elas seguem uma distribuição ampla
dentro de cada setor. Assim, o médico, que antigamente ti­
nha de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para sal­
var um paciente, hoje cuida apenas de sua especialidade
médica; ou cardiologia, ou oftalmologia, ou urologia, ou
cancerologia, e assim por diante. O mesmo critério é de­
senvolvido na engenharia, no direito, na odontologia, na
psicologia, como em todas as demais ciências humanas,
ampliando o quadro de opções, bem como criando mais
oportunidades de trabalho.
Diante de tantas oportunidades de escolha o que se
pode dizer sobre vocação? E ainda; como saber a vontade
de Deus para uma decisão a tomar?
Podemos começar buscando uma definição para a pa­
lavra “ vocação” . O Novo Dicionário de Aurélio B. de Ho­
landa define vocação como: “Ato de chamar. Escolha, cha­
mamento, predestinação; tendência, disposição, pendor;
talento, aptidão” .
Segundo o mesmo autor, o que se entende hoje por vo­
cação é o que se explica na palavra aptidão. Para ele, voca­
ção é subjetiva e a aptidão é objetiva. “ Sobre a determina­
ção das aptidões funda-se a orientação profissional, isto é,
a seleção e a preparação do indivíduo para este ou aquele
trabalho, em conformidade com as suas aptidões” .
Uma vez generalizado o termo “ vocação” , prossegui­
remos com o nosso trabalho fazendo uso indiscriminado
dele para nos referirmos à escolha da carreira profissional.
A divisão do trabalho
Antes de discutirmos as medidas espirituais para o as­
sunto em voga, encaremos o quadro das profissões dentro
91
de uma divisão apresentada por diversos autores e sincreti-
zada por Batista Mondin:
a) Do ponto de vista subjetivo e moral, o tra­
balho divide-se em servil (desenvolvido prin­
cipalmente pelos braços e que requer notável
esforço físico) e liberal (desenvolvido sobre­
tudo pela mente);
b) do ponto de vista objetivo, com relação ao
instrumento, divide-se em manual (não faz
uso, ainda, de instrumentos; serve-se apenas
das mãos; artesanal (no qual ainda é grande
a influência da inventividade pessoal e trata-
se, então, de um trabalho desenvolvido pre-
valecentemente pelo homem) e industrial
(no qual prevalece a ação da máquina).
c) do ponto de vista objetivo, com respeito à
finalidade, divide-se em econômico (que pos­
sui como objetivo os bens de consumo) e cul­
tural (distendido em direção ao desenvolvi­
mento de valores espirituais).(')
Diante desta divisão subjetiva (servil e liberal) como
objetiva (manual, artesanal, industrial, econômica e cul­
tural), torna-se mais claro o que se pode pretender ao se fa­
zer uma escolha. Contudo discutiremos mais à frente os fa­
tores que vão governar esta escolha.
O valor do trabalho
Não basta compreender as divisões fundamentais do
trabalho, mas as suas funções básicas. Para que se chegue
a compreensão equilibrada do valor do trabalho, Mondim
analisa três aspectos:
1. O valor cósmico
Com o trabalho, o ser humano realiza grandes trans­
formações na natureza, conferindo ao mundo desordenado
um certo complemento.
2. O valor antropológico
Também chamado de valor personalista, é a função
exercida pelo trabalho que transforma o homem, tempe­
rando, afinando e enriquecendo a sua natureza criativa.
92
3. O valor religioso
0 trabalho humano é um a resposta à ordem de Deus
de cultivar a terra. Jesus tam bém enquadrou-se dentro
deste princípio, exercendo vida de um trabalhador na car­
pintaria de José, desde sua infância.
Benefícios e malefícios da nova era
O homem do século XX é privilegiado pelas regalias
que a tecnologia moderna pode lhe oferecer em termos de
conforto. Todos os meios de locomoção, como os de comu­
nicação, todos práticos e eficientes, como os utensílios ele­
trodomésticos, que permitem à dona de casa ter comida
fresca para o mês inteiro sem se dar ao trabalho de enfren­
tar diariamente o fogão, abrir latas num apertar de botão,
ou mesmo limpar a casa toda apenas com um pequeno
aparelho de controle remoto, para dirigir o robô-
doméstico, e aí segue um a série de outros benefícios que
aos poucos vão tornando a vida mais mecanizada e menos
poupável. O uso da tecnologia encanta a sociedade de con­
sumo e esta, sem se dar conta, torna-se cada dia mais e
mais escrava destes instrumentos.
Se por um lado eles tornam a vida mais cômoda, por
outro subtraem os valores humanos. Esta simbiose de ho­
mem e máquina poderá desembocar num trágico suicídio
universal.
Incontáveis seguimentos da sociedade humana, até
mesmo alguns grupos religiosos, empenham-se, maravi­
lhados, em contextualizar os modos, a linguagem e as suas
crenças à Era das Máquinas. Eles estão vislumbrados. Há
um grupo nos Estados Unidos que pensa em aplicar a lin­
guagem bíblica à linguagem técnica dos computadores.
Pior do que estas aplicações é a substituição irreveren­
te de Deus a estes recursos, como explica Mondin:
O triunfo da técnica tornou o homem soberano da n a­
tureza, capaz de dominar as forças impetuosas e des­
frutá-las para as próprias exigências. Com o triunfo da
técnica, o homem tornou-se providência para si mes­
mo, e por isso, para esconjurar a fome, as doenças, as
93
inundações, as epidemias, agora não recorre a Deus
como faziam os seus antepassados, mas à medicina, à
engenharia, à indústria, etc.” (“)
Há, claramente, dois movimentos: um de contextuali-
zação e outro de contestação às tendências de uma maior
secularização do homem à Era das Máquinas. Mas, que
tem isto a ver com vocação? Ora, o trabalho especializado
não só fará uso do que já existe como dará prosseguimento
a novas invenções e é aí que cabe ao crente aplicar-se a
algo que faça bem à humanidade, enobrecendo-a, valori­
zando-a e criando meios para a sua maior valorização pes­
soal e interior e não escravizá-la ainda mais com o que é
supérfluo e desumano.
Fatores propulsores de uma escolha
Há diferentes motivos que levam os jovens à escolha
da carreira que os realizará, segundo o seu conceito de va­
lores. Após alguns anos de experiência na profissão, alguns
descobrem que estão exatamente dentro do que queriam,
snquanto outros se sentem frustrados e sem ânimo para re­
começarem em outra profissão. Os psicólogos da Divisão
de Orientação Vocacional do Instituto Paulista de Psico­
técnica divulgaram, há alguns anos, que mais de 50% dos
sstudantes submetidos a testes naquela instituição se en-
jontravam desajustados em seus cursos de formação pro­
fissional. O que estão buscando nas profissões?
L. Dinheiro
Ninguém trabalha sem esperar receber esta recom-
oensa econômica. O Pastor J. Reis Pereira diz: “ Quem en­
frenta a sua escolha em bases de vocação não se preocupa­
rá com o fator econômico’^ 1)- O mesmo autor faz uma in­
teressante comparação da tentação de Jesus pelo Diabo à
tentação de se escolher uma carreira que ofereça nada
nais do que o lucro: “ Em Mateus 4.1-11, Jesus tem peran­
te si três caminhos oferecidos por Satanás: 1) Suprir a ne­
cessidade do povo, dando-lhe pão. 2) Conseguir muitos se­
guidores, tornando-se famoso e de grande projeção social;
í) Tornar-se muito rico, possuidor de muitos reinos. Sabe-
94
mos o que Ele fez com as tentações de Satanás, e, em Lu­
cas 4.16-21, encontramos Jesus na sinagoga de Nazaré,
onde foi criado. Ali Ele anuncia publicamente a sua voca­
ção: “ O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me un­
giu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os
quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos,
e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a
anunciar o ano aceitável do Senhor” . A nossa chamada
também pode ser assim.
2. Prestígio
É natural que qualquer pessoa deseje ser prestigiada
naquilo que faz, mas isto não deve ser levado ao exagero de
alcançar primazia na escolha de uma profissão. Há jovens
cursando com muito custo uma faculdade de medicina,
não porque sintam pendores pela carreira, mas porque é
uma profissão respeitadíssima e a família incentiva dizen­
do: “ Temos que ter um médico na família” . O mesmo se
pode dizer de políticos, que não poderão, jamais, represen­
tar aqueles que os elegerem, defendendo as suas reivindi­
cações. Tudo o que eles têm é dinheiro para fazer uma boa
campanha eleitoral que lhes garante a vitória e uma vonta­
de incrível de serem conhecidos, honrados e prestigiados;
mas no instante de se destacarem como parlamentares, a
incompetência e o medo, é que aparecem.
3. Emoção
Não há nada melhor do que gostar daquilo que se faz.
Deve haver um sentimento de alegria, assim como o artista
que não se cansa de ver a obra que pintou. Ainda que os
sentimentos pessoais nem sempre sejam compreendidos
pelos outros, eles devem ser mantidos, se forem realmente
dignos. O que é bom para uma pessoa não deve ser neces­
sariamente bom para outra.
Algumas precauções
A escolha de uma profissão deve ser compatível com a
força física do vocacionado. Há profissões que demandam
muito desgaste e, ainda que pareçam bonitas, não estão à
altura de alguns. Segundo, a profissão deve ser de afinida-
95
des cognitivas. Não adianta alguém gostar de engenharia
se não tem habilidade para cálculos; ou de medicina, se
não gosta de química. Toda profissão tem suas exigências
peculiares que demandam esforço, perseverança e gosto.
O método bíblico mais adequado para se definir esta
escolha é o que faz uso da razão. O bom senso servirá de
parâmetro para uma escolha acertada. A Bíblia diz que a
pessoa que não anda no conselho dos ímpios e que tem pra­
zer em meditar constantemente na Palavra de Deus, goza
de algumas promessas: dá fruto no tempo certo, não se
abate com as intempéries da vida, e é bem sucedida em
tudo quanto põe a mão (SI 1).
No centro da vontade de Deus
Embora não haja na Bíblia nenhuma diretriz para a
escolha de uma profissão, de maneira direta, podemos, a
partir do bom senso cristão, optar por um caminho coeren­
te, sábio e digno da bênção de Deus. O doutor Trueblood
observa: “ Se o nosso mundo é de Deus, qualquer trabalho
verdadeiro para a melhora da vida do homem é uma tarefa
sagrada e deve ser empreendido com este aspecto em men-
te” (4).
Há, evidentemente, carreiras que não podem compac­
tuar com a fé cristã. Essas devem ser descartadas, enquan­
to que outras, nobres, poderão, não apenas trazer realiza­
ção pessoal, como também servir de ponte para o testemu­
nho ardente de uma vida em Cristo. Médicos têm levado
pessoas a Cristo no leito de dor. Professores têm testificado
de Cristo aos seus alunos, valendo-se de seu horário de au­
la. Jornalistas têm-se aproveitado do espaço de sua com­
petência para incluir uma mensagem de Cristo nos jornais.
Não há limites para a propagação do Evangelho, e os pro­
fissionais crentes, sem pretender roubar o tempo dos seus
patrões, podem, de maneira inteligente, valer-se do seu
trabalho para comunicarem Cristo ao próximo.
A obra missionária está prejudicada pelo controle imi­
gratório de missionários em muitos países. Eles rejeitam os
religiosos, mas clamam por técnicos. Tem sido bom para o
Evangelho técnicos levarem para lá a sua semente. Deus
está nisto.
96
ALGUMAS PERGUNTAS QUE SE DEVE FAZER
Se você está diante de uma escolha e quer saber se
esta é a carreira ideal para a sua vida, pergunte a si mes­
mo:
1. Por que esta profissão?
2. Ela é compatível com a minha fé?
3. Estou escolhendo esta carreira por vocação ou por falta
de uma opção melhor?
4. Tenho certeza de que é isto que quero?
5. Sinto que serei uma pessoa realizada nesta profissão?
6. Tenho queda para exercer esta profissão ou apenas acho
que posso?
7. Recebo incentivo por esta decisão ou tentam-me desani­
mar? - Por quê?
8. Posso fazer desta profissão uma bênção para a minha vi­
da, bem como para a Obra de Deus?
9. Costumo interromper tudo o que começo ou sempre vou
até o fim?
Tente levantar outras questões em que todas as impli­
cações (positivas ou negativas) possam ser conhecidas, a
fim de que não se torne um profissional frustrado, mas fe­
liz e certo de estar no centro da vontade de Deus.

97
10
A vontade de Deus e as
pequenas decisões
Quando um aluno de segundo grau decide seguir a
carreira médica, faz planos para ingressar na concorrida
faculdade de medicina. Ele sabe que não será fácil, mas
como está decidido mesmo a ser médico, luta por aquilo
que determinou no seu plano pela conquista do título.
Quando tudo ainda não passa de planos, este aluno já tem
em mente a sua auto-imagem de um médico. Ele não pode
admitir que o seu sonho não se realize. Será médico, e
pronto.
Entre o colegial e o dia em que estará se formando em
medicina há uma longa caminhada, mas, em sua mente,
ele é capaz de condensar todos aqueles anos num só instan­
te. Esse futuro médico sabe que terá de esperar por todos
aqueles anos. Sabe também que serão anos difíceis, em
que muita coisa vai acontecer, mas existe um ideal maior e
ele é o mais importante na vida desse rapaz.
As ocorrências do dia-a-dia exigirão dele uma atitude
coerente com o seu plano maior, mas para cada uma ele te­
rá de dispensar uma especial atenção. Terá de decidir, e,
se não souber como decidir em algumas dessas situações,
poderá prejudicar o seu plano maior.
99
Tivemos oportunidade de mostrar a vontade de Deus
para as grandes decisões da vida, como a escolha do cônju­
ge, a vocação profissional e a vocação ministerial. Só mes­
mo agindo dentro da vontade de Deus para estas decisões é
que nos realizaremos e, portanto, seremos felizes. Agora,
não são essas as únicas decisões que fazemos na vida. Dia­
riamente deparamo-nos com situações que exigem de nós
uma atitude, e a pergunta que se faz a respeito delas é: -
Como agir na vontade de Deus nessas pequenas coisas?
Os métodos lícitos de um bom cristão conhecer a von­
tade de Deus nós já discutimos, como: pela Bíblia, por
conselho, por meio de sinais e pelo uso da razão. Todos eles
são válidos sem se precisar indagar qual seja o melhor,
uma vez que Deus se utiliza de cada um ou de todos ao
mesmo tempo, conforme lhe convém. Em se tratando de
pequenas decisões, o processo continuará sendo o mesmo,
com uma pequena diferença; é que, uma vez conhecida a
vontade de Deus para uma grande decisão, qualquer coisa
que acontecer neste interregno tem de harmonizar-se com
o plano maior. Se gostamos de levar a sério as nossas deci­
sões, muito mais o Senhor. Ele não se contradiz naquilo
que realmente quer.
Há orações que Deus não nos responde como gostaría­
mos que respondesse. Chegamos a pensar: “Parece que o
Senhor não entende o quanto isto seria bom se Ele me ou­
visse” , mas Deus permanece irredutível, e isto nos leva a
um estado de frustração. É que Deus avista longe. Ele olha
para as nossas vidas e procura conduzir-nos ao caminho da
sua soberana vontade, e aquilo que para nós parece ser
algo bom, para Ele não condiz com a sua vontade, já traça­
da para as nossas vidas.
Você ora ao Senhor para Ele dirigir a sua vida. Bem,
esta é uma oração certa. O Senhor então começa o duro
trabalho de amolecer as suas pernas para conduzi-lo se­
gundo o seu próprio pedido. Você, como toda pessoa, inte­
ressa-se pelas grandes decisões da vida e ora a respeito de­
las. O Senhor o atende. Você busca conhecer a vontade de
Deus sobre isso, e o Senhor lhe vai revelando. Você parece
estar determinado a conseguir o que pede, uma vez que a
sua mente está ciente de que você está na plena vontade de
100
Deus. Então, você ora e pede a Deus, a sua bênção sobre
aquilo que Ele já mostrou ser a sua santa vontade. Como
você está orando na vontade de Deus, a bênção é concedi­
da. Agora é só uma questão de tempo, até ver concretizado
o seu sonho. Durante este tempo, você nunca deixa de ali­
mentar esse sonho.
Quando levantamos pela manhã, esperamos ter um
dia maravilhoso pela frente, mas nunca poderemos saber
tudo o que acontecerá durante ele. Diariamente, alguém
está sendo surpreendido em seu emprego com uma promo­
ção, enquanto outros com uma demissão, com o que não
contavam. Um trágico acidente pode modificar toda a vida
de uma família, o que ninguém previa. De repente, você se
encontra com uma pessoa que lhe faz uma proposta tão
alta que pode implicar numa mudança completa em sua
vida. A dona de casa pode receber a visita de um vendedor
que a induza a comprar o seu produto. Num instante, ela
poderá estar contraindo uma dívida que complicará todo o
orçamento econômico do lar por um bom número de anos.
Coisas boas e ruins estão acontecendo a cada minuto na
vida das pessoas, e, geralmente, as ruins são aquelas que
não dão muito tempo para a pessoa pensar.
Deus está nessas pequenas coisas? A Bíblia diz: “ Nin­
guém despreze o dia das coisas pequenas” . Assim como
para as grandes decisões, Deus tem algo a nos revelar acer­
ca das pequenas. - Como? - Instruindo-nos coerentemente
para dentro daquilo que já está determinado como plano
maior. O uso da razão, neste caso, é bem adequado. Deve­
mos nos perguntar se aquela pequena decisão será mesmo
útil, proveitosa e harmônica com a nossa decisão maior,
que já sabemos ser a realização da vontade de Deus em
nossas vidas.
Jesus tinha determinação. Havia um propósito maior
em sua vida e Ele bem sabia o que era. Jesus andava na
plena vontade de Deus. No seu dia-a-dia, enfrentava si­
tuações bem diferentes umas das outras, mas elas não po­
diam afetar o plano maior. Jesus tinha determinação. Ele
tinha propósito. Este propósito era a certeza do conheci­
mento da perfeita vontade de Deus para a sua vida. Algu­
mas vezes Jesus se deparava com alguma circunstância
101
que poderia dissuadi-lo de seu plano, mas Ele vigiava sem­
pre. Quando Pedro teve a oportunidade de emitir a sua
opinião sobre a pessoa de Jesus, disse acertadamente que
Ele era o Cristo. Após aquela identificação, Jesus revelou
os seus grandes planos: a fundação da Igreja, a sua morte e
a sua ressurreição. Satanás ouviu aquela conversa. Ime­
diatamente se apoderou dos lábios de Pedro para tentar
dissuadir Jesus das suas grandes decisões: “ E Pedro, cha­
mando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem
compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontece­
rá. Mas Jesus voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás!
tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das
coisas de Deus, e, sim, das dos homens” (Mt 16.22-23).
Jesus conhecia a vontade de Deus para a sua vida e fa­
zia dela a sua verdadeira vocação. Isto é o ideal. Se alguém
está mesmo disposto a agradar a Deus, deve procurar co­
nhecer a vontade dele para a sua própria vida e fazer dessa
vontade a sua verdadeira vocação.
Satanás era uma pedra de tropeço para o Senhor. -
Por quê? - Porque se Jesus se deixasse levar pelas suas pro­
postas, poria a perder todo o seu grande ideal de vida e, as­
sim, não teria valido a pena Ele ter deixado a glória celes­
tial para vir a este mundo. Essa mesma pedra de tropeço
tem levado muita gente a desistir daquilo por que tanto
orou, sonhou e lutou.
Quantas vezes nos dirigimos a Deus em oração pára
lhe pedir que endosse com a sua bênção aquilo que nos dá a
convicção de ser a sua vontade! Por exemplo, o jovem que
sonhou com a medicina e sabia ser ela a sua verdadeira vo­
cação. Ele estava ciente de que aquela era a vontade de
Deus para a sua vida. Durante o tempo de estudo, alguns
embaraços começaram a surgir. A princípio ele os supera­
va, mas com o tempo ouviu algum “ sábio” o aconselhar:
“ Pare um pouco de estudar. Descanse por um tempo e de­
pois volte às atividades” . Justamente na hora em que ele
estava precisando de ajuda, de incentivo, ouviu alguém
mais acomodado transmitir-lhe palavras como estas. A
não ser por motivo de doença, e neste caso cabe ao médico
orientar, ningue oi deve aconselhar uma pessoa a desistir
daquilo que está fazendo, principalmente se for o estudo.
102
Este rapaz desistiu. Gastou um tempo de retardo em sua
carreira. Se voltar a estudar, passará por tudo aquilo nova­
mente, porque o desgaste faz parte do processo. Desistin­
do, corre o risco de desanimar completamente e nunca
mais cumprir aquilo por que tanto orou. Pergunto: o que
fazer com aquela bênção que ele pediu a Deus para os seus
estudos de medicina? Ele vai simplesmente orar agora e
dizer: “ Esquece, Senhor; tudo não passou de um engano
na minha vida!” Será isto mesmo que ele dirá? Ou talvez
não toque mais no assunto com Deus. Certamente ele pe­
dirá a bênção de Deus para outras decisões em sua vida.
Quem sabe até por uma outra carreira profissional que
agora está abraçando. Então, ele espera que Deus se esque­
ça da vez passada e comece a mandar a bêncão da mesma
forma que um pai manda dinheiro para um filho estu -
dante que mora numa república.
Quando tropeçamos numa pequena decisão, colocan­
do em risco um grande plano já acertado em nossa vida e
desencadeando uma série de coisas, provamos a nossa le­
viandade em não considerar a bênção de Deus como coisa
séria.
Seguindo os costumes da sua época, levou tão sério
Isaque, o seu conceito de bênção que, após havê-la impe­
trado ao seu filho Jacó, não a revogou em favor de Esaú,
mesmo sabendo que tinha sido enganado. Quando erramos
numa pequena decisão e colocamos em risco o propósito
maior de nossa vida, temos de pensar também nas orações
que já fizemos àquele respeito. Se não aprendermos a tra­
tar com seriedade os nossos pedidos diante de Deus, have­
rá um momento em nossa vida em que Deus poderá não
nos atender mais com a prontidão que sempre esperamos
dele. Parece que neste ponto há grandes diferenças entre os
cristãos: uns oram e são sempre atendidos, enquanto ou­
tros encontram mais dificuldades naquilo que pedem.
Pode haver diferença da intensidade entre a oração de um
e de outro, mas é bem provável que haja diferença de tra­
tamento por parte daquele que leva a sério as suas orações
e daquele que não sabe o que pede.
O escritor aos Hebreus faz uma prudente recomenda­
ção às decisões do dia-a-dia, instruindo-nos a estar com os
103
olhos voltados para o grande plano da nossa vocação, to­
mando cuidado com as pequenas coisas que nos podem
servir de pedra de tropeço: “ Portanto, nós também, pois
que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de teste­
munhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de
perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que
nos está proposta” (Hb 12.1).
O outro lado da moeda
Todos nós sabemos que a moeda tem dois lados, e as­
sim é com todo assunto que se discute. Vimos como é im­
portante o crente estar seguro da vontade de Deus nas pe­
quenas decisões de sua vida e como elas devem estar afina­
das às grandes decisões que também devem resultar da
manifesta vontade de Deus para as nossas vidas.
Esta inteira submissão à vontade de Deus em nossa
vida deve fazer parte do nosso viver diário, sem que, no en­
tanto, vivamos ansiosos por causa disto. Basta-nos viver
uma vida cristã normal para gozarmos da orientação de
Deus para tudo o que fazemos. Todavia, precisamos tomar
o devido cuidado para não cairmos no exagero de achar
que a vontade de Deus é tão imprescindível que até para
fazer o almoço a dona de casa tenha de consultar o Senhor
para saber qual a sua vontade para o cardápio do dia: O fa­
natismo religioso resulta de todo princípio espiritual leva­
do ao exagero!
Por volta de 1950, surgiu, nos Estados Unidos, um
grupo denominado Peniel, que partiu para este tipo de
exagero. Ensinavam, naquele grupo, verdadeiras tolices a
respeito da vontade de Deus. Era a vontade de Deus leva­
da às mínimas coisas, como a cor do sapato que o Senhor
queria que a pessoa usasse, ou o tipo de camisa que o Se­
nhor usaria aquele dia se estivesse em seu lugar. Ao acor­
darem, pela manhã, os membros daquele movimento
aprendiam que não podiam se levantar da cama sem antes
receberem “ ordem de cima” . Minúcias do dia-a-dia eram
submetidas à determinação da vontade divina; agora,
como eles faziam para saber a resposta para cada caso é
que, sinceramer ie, não dá para saber. Enquanto se esme­
ravam em alardear a vontade de Deus, os membros daque-
104
le grupo não se davam conta de que estavam trilhando
pela senda do fanatismo religioso, e isto é um ato contra a
vontade de Deus. O resultado provou isto: o grupo se esfa­
celou !
Que o Senhor está interessado em todas as áreas da
nossa vida não resta dúvida, mas que este interesse anule a
nossa capacidade de pensar, conduzindo-nos para um tipo
de automatismo espiritual em que nos robotizamos por
completo, passando a viver em “ transe espiritual” vinte e
quatro horas por dia, é absurdo. Deus não faz isto, e, se al­
guém pensa estar vivendo assim, precisa consultar-se ime­
diatamente com um médico psiquiatra para buscar ajuda.
Como disse certo filósofo, “ um grama de bom senso
excede em muito a uma tonelada de filosofia” .
A nossa liberdade individual não está em jogo quando
andamos na vontade de Deus; pelo contrário, a vontade de
Deus é que sejamos seres livres: “Porque assim é a vontade de
Deus, que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos ho­
mens loucos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertu­
ra da malícia, mas como servos de Deus” (1 Pe 2.15,16).

105
11
A vontade de Deus e a
presença do mal
O mal está presente em todo tempo, em todos os luga­
res e em todas as coisas. Não há nada que façamos que não
tenhamos de contar com a sua indesejável presença. 0 mal
é o intruso “ desmancha-prazeres” . Origina-se, biblica­
mente, de um único autor: Satanás. 0 mal causou ruína ao
seu próprio mentor que nunca mais conseguiu deixar de
praticá-lo e de fazê-lo crescer como um fermento.
Segundo idéias filosóficas, o mal divide-se em físico e
moral. 0 mal físico diz respeito aos sofrimentos humanos,
como fome, guerras, doenças, pestes, acidentes e mortes.
Em suma, tudo o que ataca o corpo humano, contrariando
o seu bem-estar. Por outro lado, o mal moral é, como expli­
ca Jolivet, “ a violação voluntária e livre da ordem deseja­
da por Deus, o que se chama falta ou pecado” .
Implicado com esta intrigante questão, o homem tem
procurado estudar a origem do mal, a fim de criar armas
capazes de debelarem a sua força, tocando-lhe na raiz. As­
sim, religiões têm surgido, algumas das quais com expres­
sões cúlticas das mais aberrantes possíveis, como o sacrifí­
cio de crianças ou de lindas moças virgens, o que se dava
107
com freqüência entre os povos pagãos; ou a prática das le­
sões corporais com objetos pontiagudos, realizadas em
massa, a fim de aplacar o furor do mal. Afinal: formas de
se vencer o mal com o mal!
Para os maniqueístasO) em seu dualismo, o mal era
um parceiro do bem, sendo regido por um princípio, tanto
quanto aquele. Na literatura apocalíptica, influenciada
pelo mito babilónico no período pós-exílico, o mal era a rei­
vindicação do caos. O caos, lutando contra a criação, a
qual encara como intrusa dentro dele. Para representá-lo,
criou algumas figuras como: o mar, a noite, o abismo e um
dragão. Já para os gnósticos(2), o mal está na matéria; as­
sim, tudo o que é matéria é mal.
N. Geisler apresenta-nos uma discussão tricotômica
sobre o mal em que a sua relação com Deus aparece: “ 0
ateísm o afirma a realidade do mal e nega a Deus. 0 p a n ­
teísm o afirma a realidade de Deus e nega o mal. Finalmen­
te, a questão abordada pelo teísm o e dualismo procura de­
monstrar a compatibilidade entre Deus e o mal” (;i).
Das escolas filosóficas aos mais antigos nomes do cris­
tianismo, como Clemente de Alexandria, Orígenes e Agos­
tinho, todos apresentaram concepções a respeito do mal,
numa tentativa de explicá-lo. Somando o ponto de vista de
cada um, teremos uma visão mais nítida da fealdade do
mal.
A nossa questão aqui não é propor uma concepção a
mais sobre o mal, mas procurar uma resposta para a sua
relação com a vontade de Deus: Será que Deus criou o
mal? Será que Ele tem prazer no mal? Por que, então, Ele
não acaba com o mal?
Quando Satanás ludibriou Eva com o fruto proibido,
fez questão de mostrar-lhe o mal como uma coisa cujo co­
nhecimento lhe faria bem. Pelo conhecimento do mal, ela
saberia fazer distinção entre o mal e o bem, e assim, tanto
ela quanto seu marido seriam tais qual Deus (Gn 3.5). Sa­
tanás os levou a praticar o mesmo ultraje que ele cometeu
em relação a Deus.
Deus poderia, se quisesse, acabar com o mal num ins­
tante, mas por sua vontade permissiva, Êle ainda tolera a
108
permanência do mal, utilizando-se dele para mostrar a sua
contrastante bondade. Chegará o dia quando Deus terá
banido completamente o mal do Universo. O plano de
Deus para este fim está em pleno andamento. A sua Igreja
está sendo edificada, almas estão sendo tiradas do poder
das trevas e “ transportadas para o reino do Filho do seu
amor” . Um quadro apocalíptico está sendo montado e,
num instante, as coisas começam a mudar rumo ao fim.
Chegará o dia em que Satanás será preso e, então, se sabe­
rá o que significa viver na ausência do mal.
A vontade de Deus e as provações
Por que o justo sofre? - Já lhe ocorreu esta pergunta? -
Que resposta você teve para ela? Possivelmente você tenha
se calado para não pecar, mas permaneceu intrigado com a
pergunta, não?
Se vivêssemos no Paraíso e não conhecêssemos o peca­
do, então haveria razão para não enfrentarmos sofrimentos
de maneira alguma, mas esta não é a realidade da qual fa­
zemos parte. Vivemos num mundo conturbado, cheio de
pecado, ira, egoísmo, violência, poluição, tendo de vigiar
dia e noite para não sermos vítimas de qualquer espécie de
mal que nos possa atacar; e, neste clima de tensão, busca­
mos mais a Deus. Na sua graça abundante, encontramos
proteção, abrigo, tranqüilidade e esperança. Mesmo as­
sim, há ocasiões em que somos vítimas de uma situação
que, por um período de tempo, não cessa, mesmo que ore­
mos. Parece que o Céu se fecha e não há resposta. A sensa­
ção que temos é de abandono. Quantas coisas passam pela
nossa cabeça nessa hora!
As provações estão reservadas a todos os cristãos.
Nem mesmo Jesus pôde livrar-se delas. Lemos em
Hebreus 5.8, na tradução parafraseada da Bíblia Viva: “ E
embora Jesus fosse o Filho de Deus, teve de aprender por
experiência própria o que era obedecer, quando a obediên­
cia significa sofrimento” . Embora as provações nunca se­
jam bem-vindas para nós, elas visam a um aperfeiçoamen­
to na nossa vida espiritual, que, de outra maneira, não al­
cançaríamos. Ainda sobre a pessoa de Cristo, lemos em
Hebreus 2.10, da mesma tradução: “ E era justo e conve­
109
niente que Deus, que fez todas as coisas para a sua própria
glória, permitisse que Jesus sofresse, porque ao fazê-lo Ele
estava levando para o Céu grandes multidões do povo de
Deus; porquanto esse sofrimento dele fez de Jesus um líder
perfeito, e capaz de conduzi-las para a sua salvação” . Me­
diante o sofrimento de Jesus, estava sendo consagrado o
príncipe da nossa salvação.
A presença do mal trouxe inconformismo a Jesus.
Seus milagres constituíam-se em maneiras de minorar o
sofrimento humano. Algumas vezes lemos que antes de Je­
sus curar alguém, Ele era movido de íntima compaixão
pelo doente. Suas curas eram amostra de sua intenção be-
neficiadora a toda humanidade. A vinda de Jesus à Terra é
a expressa manifestação de um Deus incomodado com a
existência de algo hediondo admitido pelo primeiro ho­
mem e cujas conseqüências recaem sobre toda a humani­
dade. Todos desejávamos o imediato e total banimento do
mal; até mesmo homens maus o queriam, mas ainda não
chegou esta hora. Primeiro, Deus está interessado em pre­
servar as vítimas, do mal, oferecendo-lhes a oportunidade
de, conscientemente, renunciarem a causa primeira de tu­
do, que é o pecado! A ausência do mal será realidade um
dia. A Bíblia promete! Isto está previsto dentro de um pla­
no escatológico e esta é uma doutrina que traz muito con­
forto a todo o povo de Deus na terra. Um dia Deus lançará
o autor do mal no Lago de Fogo, onde “ o bicho nunca mor­
re e o fogo nunca apaga” . Enquanto isto não acontece, te­
mos de aprender a conviver com um mundo em que o sofri­
mento se torna em nova realidade para milhões de vidas a
cada dia.
Quando Jesus promete aflição para os seus, Ele quer
dizer que forças do mal, descontentes conosco, iriam nos
atacar. Paulo previne-nos de uma luta contra os príncipes
das trevas e esta luta se dá no nosso dia-a-dia, pois as hos­
tes do mal estão nos ares (Ef 6). Temos de aprender a lutar
contra essas forças. Muitas vezes parecemos embaraçados
com tantas coisas, o dia passa e não conseguimos fazer o
que pretendíamos; as coisas parecem não dar certo. Fica­
mos incomodados e, no final da tarde, reclamamos que o
dia não foi nada proveitoso. O que houve? É que nós nos
110
distraímos e nos esquecemos de considerar essas forças
malignas que andam ao nosso redor. Temos de ter cons­
ciência de que estamos em guerra neste mundo, e a guerra
é eminentemente espiritual; logo, as armas também de­
vem ser espirituais: “ Porque as armas da nossa milícia não
são carnais, e, sim, poderosas em Deus para destruir forta­
lezas; anulando sofismas” (2 Co 10.4).
Deus, na sua grandeza, sabe tirar proveito do mal e
ensina-nos a fazer o mesmo. Muitas vezes Ele mesmo se
encarrega de conduzir-nos por caminhos escuros. São ho­
ras caliginosas e infindáveis, parecendo que a única com­
panhia que nos resta é a indesejável figura do mal, que em
cada situação se apresenta com cara diferente.
Após o seu batismo, “ ...foi levado Jesus pelo Espírito,
ao deserto, para ser tentado pelo Diabo” (Mt 4.1). Veja,
Jesus foi levado pelo Espírito. O verbo no grego “ ekballos”
dá uma idéia ainda mais forte: Jesus foi atirado ao deserto.
Era vontade de Deus que Jesus passasse por aquilo. Jesus
iniciaria o seu ministério de “ desfazer as obras do Diabo” ,
e começou num desagradável encontro pessoal com ele.
À medida que amadurecemos na vida espiritual,
aprendemos a lidar com situações indesejáveis, que seriam
capazes de levar alguns ao desespero. A Bíblia não só nos
prèsta auxílio para estas horas, com ensinos que nos con­
duzem a um comportamento seguro, como, ainda, apre­
senta-nos lições de vida para cada caso. Paulo, por exem­
plo, estava preso quando escreveu para os irmãos de Fili-
pos. Logo no primeiro capítulo, ele fala de sua situação
como prisioneiro. Se alguém disser que esta é uma boa
hora na vida, ou é masoquista ou está sofrendo algum de­
sequilíbrio mental. Pois numa hora difícil como esta, o
apóstolo usa quatorze vezes a palavra alegria nesta epísto­
la de apenas quatro capítulos. O que estava havendo com
Paulo? É que ele sabia tirar proveito até do sofrimento!
Paulo era um homem que estava no centro da vontade de
Deus e, como este é o melhor lugar, não fazia diferença o
fato de ele estar numa prisão. O que dizia de sua situação?
Vejamos: “ Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as
coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o
111
progresso, do Evangelho, de maneira que as minhas ca­
deias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda
pretoriana e de todos os demais” (F11.12-13). Muita gente
ficou sabendo que ele estava preso. Isto seria motivo de
vergonha para ele, não? Como a razão era Cristo, então
tornava-se motivo de orgulho. Além disso, Paulo ufanava-
se de que toda a guarda pretoriana tinha conhecimento de
seu caso. Essa guarda era composta de nove mil soldados.
Paulo encontrava nesta situação uma grande oportunida­
de também para levar aqueles soldados a Cristo. Mas con­
tinua ele: “ E a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor
por minhas algemas, ousa falar com mais desassombro a
Palavra de Deus. Alguns efetivamente proclamam a Cristo
por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade;
estes por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do
evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo por discór­
dia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às mi­
nhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo,
de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto,
quer por verdade, também com isto me regozijo; sim, sem­
pre me regozijarei” (F1 1.18). Paulo soube de dois grupos
que evangelizavam agora. Sim, porque, aparentemente,
não o faziam antes. O primeiro é composto de crentes sin­
ceros que se sentiam animados a trabalhar para Jesus; afi­
nal, o velho e incansável Paulo estava preso por causa dis­
to. Paulo então via que a sua prisão estava servindo de des-
pertamento para alguns, e para ele isto era mais importan­
te que o seu conforto pessoal. Por outro lado, havia um gru­
po que também resolveu pregar o Evangelho, só que este
grupo de pessoas não tinha o mesmo sentimento que o ou­
tro. Quiseram aproveitar-se da ausência do apóstolo para
se projetarem. E como diz o adágio: “ Quando o gato não
está, o rato faz a festa” . Este grupo não devotava o mesmo
amor ao apóstolo que o outro. Paulo deixa claro que eles,
conscientemente, faziam aquilo para provocarem a sua
sensibilidade, mas o apóstolo dá mais uma lição: tira pro­
veito disto também. Transforma este mal em bem ao me­
ditar nos seus resultados. Para este grande homem de
Deus o que importa mesmo é o progresso do Evangelho e
não a sua própria pessoa. Chega, então, a hora do pior. Há
112
rumores de que ele não sairá vivo da prisão. Não há hora
mais crítica na vida de um ser humano do que quando ele
se depara com a possibilidade de morrer. É o momento
crucial na crise da existência. Nessa hora, muita coisa pas­
sa pela mente da pessoa. É aqui que a sua teologia grita
mais alto, acentuando ou a esperança ou o desespero. Qual
o seu procedimento naquela hora? “ Segundo a minha ar­
dente expectativa e esperança de que em nada serei enver­
gonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, tam­
bém agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer
pela vida, quer pela morte. Portanto, para mim o viver é
Cristo e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne
traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de esco­
lher. Ora, de um e de outro lado estou constrangido, tendo
o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavel­
mente o melhor” (F11.20-23). Até da possibilidade de mor­
rer Paulo tira proveito positivo. Esta postura deve ser imi­
tada por todos aqueles que desejam viver uma vida cristã
autêntica.
A Bíblia não expõe sistematicamente um ensino sobre
o mal, de forma que é um tema bastante discutido. Depa-
ramo-nos, aliás, com uma dialética dentro dele, quando
comparamos um caso com outro dentro da Bíblia. Há si­
tuações em que Deus intervém prestando seu socorro, en­
quanto que em outras Ele deixa as coisas acontecerem sem
qualquer impedimento para o mal. Assim, contemplamos
um Daniel dentro da cova dos leões, totalmente protegido
pelo Senhor, sem sofrer a menor lesão corporal, enquanto
as pedras arremessadas contra Estêvão acabaram com ele.
Tiago, sendo morto ao fio da espada, descreve uma situa­
ção completamente diferente da dos moços Sadraque, Me-
saque e Abdenego que, lançados à fornalha de fogo, saíram
ilesos. Só a eternidade há de nos revelar estes mistérios. O
que temos de aprender mesmo é a confiar na soberania de
Deus. Deus tem sempre boas razões, tanto para o que faz
como para o que permite que aconteça.
Disse alguém: “ Quando um mal é um mal e quando
um mal é um bem e quando um bem é um mal e quando
um bem é um bem?” - A verdade é que ninguém é tão há­
bil a ponto de responder a estas questões. Quantas vezes
113
fazemos uma coisa pensando estar fazendo outra! E quan­
tas vezes alguma coisa que nos parece ser ruim traz consi­
go, ao longo do tempo, algo que fará de nós pessoas bem
melhores do que somos hoje, assim como o inverso também
é verdadeiro e a Bíblia assim o diz: “ Há caminhos que para
o homem são caminhos retos, mas o final deles são cami­
nhos de morte” (Pv 14.12).
As provações - todos os crentes sabem - são momentos
difíceis e indesejáveis pelos quais passamos e fazem parte
da plena vontade de Deus para nós. Há sempre nelas algu­
ma lição que de outra maneira não aprenderíamos. Jó é o
melhor exemplo. Sistematizados os seus sofrimentos, eles
nos são percebidos dentro deste quadro: perda, tentação e
injúria. Se começarmos pela perda, iremos nos deparar
com o máximo que se pode admitir dentro disto: Jó perdeu
os bens, a saúde e a família. Faltou-lhe apenas perder a vi­
da, mas se isto acontecesse então ele sairia fora do esque­
ma da prova. Quem morre deixa de ser provado. Estamos
tratando do caso de um homem que está sob prova divina.
Depois da perda, encontramos um Jó tentado a amaldi­
çoar a Deus. Sua esposa foi o instrumento usado para insti­
gá-lo a este procedimento, porém Jó sabia quais as conse­
qüências que ele auferiria desta atitude cruel. Ele não era
um suicida e tampouco um injusto. Quando as coisas não
vão bem, é natural que fiquemos aborrecidos e até irrita­
dos. É nesta hora que devemos policiar mais as nossas pa­
lavras. Você já viu alguém, quando as oportunidades lhe
fogem, dizer: “ É sempre assim, a gente não tem vez pra
nada mesmo!” - Ou então: “ As coisas nunca dão certo
para mim” . Se pretende fazer um passeio num dia de folga
e naquele dia chove torrencialmente ou faz frio, a pessoa se
queixa: “ É só pensar em sair de casa e veja o que aconte­
ce!” - Por que este infeliz está murmurando? Contra quem
são as suas queixas? No fundo, no fundo, elas são dirigidas
contra Deus. Jó estava num sofrimento profundo e mesmo
assim não se deixou levar por tão hedionda proposta.
O terceiro grupo dos sofrimentos de Jó está nos pro­
nunciamentos de seus amigos Elifaz, Bildade e Zofar. Eles
não tinham o que dar a Jó, que era melhor do que todos
eles juntos. Falavam com Jó em nome do Senhor e falavam
114
demais. Aplicavam os seus conceitos de vida e jogavam a
sua teologia sintomática em cima desse grande carente de
uma verdadeira ajuda, responsabilizando-o por algum pe­
cado oculto. Por mais que Jó tentasse se e rplicar com eles,
mais era criticado por sua autojustificação. Os “ ilustres
conselheiros” buscavam o endosso de suas palavras no Se­
nhor. Agiam exatamente como muita gente que se julga
profeta em nossos dias. São aqueles que emitem suas
idéias sobre os outros e esperam que o Senhor se solidarize
com eles. Deus jamais assinará um documento que não
emitiu.
É só no fim do livro que alcançamos sua verdadeira
compreensão. Deus trata com os insolentes conselheiros de
Jó dizendo a eles que não os mandou dizer nada do que dis­
seram e ainda obrigou-os a se retratarem com o justo Jó.
Que vexame! E é exatamente o que um dia Deus fará com
pessoas que andam dizendo em seu nome o que Ele não
mandou dizer. Quem prega, ensina ou exorta, deve fazê-lo
dentro das Escrituras e com toda a honestidade para não
pôr no texto o que ele não diz.
Jó recebeu de volta tudo quanto perdeu e com alta re­
compensa pelo que passou. Os bens, em dobro; a saúde, de
ferro; viveu mais cento e quarenta anos depois disto. E
quanto à família, teve três filhas que foram as mulheres
mais lindas da terra. O mais interessante, porém, não está
no ressarcimento das perdas e sim no que ele ganhou de
mais precioso nisto tudo; e neste pronunciamento de Jó
podemos compreender o seu aproveitamento: “ Eu te co­
nhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó
42.5).
Jó conhecia a Deus só de ouvir falar e aquilo foi sufi­
ciente para fazer dele o que lemos em 1.1 do seu livro: “ Ha­
via um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem
íntegro, reto, temente a Deus, e que se desviava do mal” .
Deus queria dar a este homem o privilégio de conhecê-lo
pelos olhos e não só pelo ouvido; e o caminho foi o do sofri­
mento. A pergunta que nos resta a fazer é esta: Será que
valeu a pena? - A melhor resposta parece ser aquela que a
' Bíblia mesma nos dá: “ Melhor é o fim das coisas do que o
, princípio delas...” (Ec 7.8).
115
12
Com a Vida no Altar
Um dos melhores textos para a aplicação da vontade
de Deus na vida do crente é Romanos capítulo 12. Este tex­
to é um manancial inesgotável de águas cristalinas. Nele o
apóstolo chega a implorar de cada crente um posiciona­
mento sério sobre a vontade de Deus, através de uma vida
consagrada, pois ele entende muito bem o valor de andar
na vontade do Senhor.
À medida em que nos familiarizamos com Paulo, é-
nos possível perceber com que paixão ele se dirigia às pes­
soas, a fim de apresentá-las adequadamente a Deus. Sinta
como esta expressão parte do fundo de sua alma: “ Rogo-
vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis
os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). - O que
Paulo teria em mente quando escreveu estas palavras? -
Sem dúvida, ele conciliava uma vocação presente, que é
fazer a vontade de Deus, a um ato de consagração, prefigu­
rado no Antigo Testamento pelo sacrifício do holocausto.
Em Israel, nunca um crente oferecia a Deus apenas o sa­
crifício pelo seu pecado sem também incluir um pela con-
117
sagração, e esse era o holocausto: holocausto é oferta
queimada de cheiro suave ao Senhor” (Lv 1.17). A diferen­
ça é que lá, o sacrifício de consagração era feito com um
animal morto, enquanto, agora, é com o próprio crente, em
vida. Assim como aquele, este deve ser santo e agradável, o
que o apóstolo chama de culto inteligente.
Chama-nos ainda a atenção a coligação que Paulo faz,
entre o altar do sacrifício e a renovação da mente com a ex­
periência de conhecimento da vontade de Deus na expres­
são: “ para que” . Este “para que” exerce uma função de
dependência. Ele impõe uma responsabilidade sobre quem
se candidata a experimentar a vontade de Deus que é, ao
mesmo tempo, boa, agradável e perfeita.
Sacrifício santo
O fato de estarmos vivendo debaixo do Novo Testa­
mento, não quer dizer que os valores espirituais do Antigo
tenham-se desfeito completamente. Os princípios morais e
espirituais de conduta foram reaplicados dentro de uma
nova óptica. O sacerdócio não findou, pelo contrário: o
quadro de sacerdotes ampliou-se com a obra consumada
de Cristo. Enquanto no Antigo Pacto havia alguns sacer­
dotes para todo o povo, hoje cada crente é um sacerdote.
Como sacerdotes, impõe-se sobre nós a mesma exigência
que aos sacerdotes da Antiga Aliança: “ Santidade ao Se­
nhor” (Êx 28.36). No Novo Pacto, há uma combinação in­
teressante: somos, ao mesmo tempo, o sacrifício (vivo) e o
sacerdote, tendo Cristo como nosso sumo-sacerdote, o que
nos dá “ ousadia para entrar no santuário pelo sangue de
Jesus” (Hb 10.19).
A doutrina da santificação é uma das três modalida­
des da doutrina da salvação, que são: justificação, regene­
ração e santificação. A santificação é algo que recebemos
mediante a obra benemérita de Cristo, por nós, na cruz do
Calvário. Esta obra produz em nós este efeito tríplice: pela
justificação nos é assegurada a absolvição da culpa do pe­
cado; pela regeneração, somos restaurados à condição de
filhos de Deus t , pela santificação, somos educados a uma
nova postura dentro do clã espiritual.
118
Não basta ter a culpa expiada e continuar a praticar
as coisas que geram a culpa. Este ciclo vicioso atestaria
uma verdadeira ineficácia do poder do Evangelho de Cris­
to sobre a vida dos salvos: “ Doutra maneira, necessário lhe
fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo:
mas agora na consumação dos séculos se manifestou, para
aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26).
Quando João Batista apontou para Jesus, na presença
de muitos, chamou-o de “ O Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo” (Jo 1.29).
No ritual do Dia da Expiação que acontecia todos os
anos em Israel, o povo se encarregava de apresentar dois
bodes ao sumo sacerdote. Esses bodes tinham de ter o mes­
mo peso, o mesmo tamanho e deviam ser bem iguais. Am­
bos representavam Cristo na sua obra expiatória e santifi-
cadora. Um dos bodes seria morto e o outro, chamado de
“ Emissário” seria levado e abandonado no deserto, repre­
sentando a remoção dos pecados para fora. Para saber qual
seria o morto e qual o emissário, sorteavam os dois com
dois tabletes de madeira de ébano com os dizeres: “ a Aza-
zel” e “ a Jeová” . Estes tabletes eram colocados em uma
caixinha e depois de agitada era aberta. Retirados os
tabletes, o da mão direita era colocado sobre a cabeça do
bode da direita e o da esquerda sobre o bode da esquerda.
Assim se decidia a sorte de cada um. Não havia discrimi­
nação. Tanto era importante o efeito do trabalho de um
como o do outro.
Como crentes em Jesus, nós exaltamos bastante a
obra expiatória de Cristo por nós, lembrando-nos sempre
de que Ele padeceu por nossas culpas, a fim de inocentar-
nos. Lembramos bem do aspecto do bode morto, mas não
dedicamos sempre a mesma lembrança à obra de remoção
dos nossos pecados, tipificada no bode emissário, que os
carregou para longe. Reservamos sempre um lugar de abri­
go a algum tipo de pecado ou “ pecadinho” no nosso cora­
ção e o tratamos como “ pecadinho de estimação” ou “ bi-
belô” . É o “ pecadinho” acerca do qual costumamos dizer:
“ Isto eu ainda não aprendi a fazer” ou “ Esta é uma área
que Deus ainda não mudou em minha vida” ou ainda,
119
como sentença final: “ Eu sou assim mesmo” . Isto indica
claramente uma completa indisposição para qualquer mu­
dança necessária em nossa vida.
A obra salvadora de Cristo requer uma atitude conju­
gada entre o divino e o humano. Ninguém é salvo só por­
que Cristo morreu. Faz-se necessário um ato de arrependi­
mento, fé e confissão. O mesmo ocorre no terreno da santi­
ficação. Um ímpio jamais se santificaria na condição de
ímpio.Faltar-lhe-ia disposição e também condição para is­
to. Ninguém jamais poderá se livrar do poder do pecado
em sua vida só porque deseja isto.
Lembro-me de ter visto um homem tirando a faixa
amarela de um piso. Para remover a tinta que estava im­
pregnada nos poros daquele cimentado ele adotou um mé­
todo bastante simples: jogou uma substância química ca­
paz de remover o poder da tinta, que logo se soltava for­
mando coágulos. A seguir ele vinha com uma espátula ar­
rancando aquelas placas de tinta amarela até que o piso
voltava ao seu antigo estado sem qualquer lembrança da­
quela tinta.
O exemplo da faixa de tinta mostra claramente o que
o sangue de Jesus faz com os nossos pecados. Ele funciona
como aquele ingrediente químico capaz de diluir as placas
de pecado, com as suas mais diferentes cores, do nosso co­
ração. Depois cabe a nós o trabalho de arrancar o que já es­
tá solto. Isto é santificação.
Vejamos ainda um outro exemplo citado por T.A. He-
gre:
O coronel Brengle nos fala duma jovem que foi a ele
com esta pergunta: “ Que é essa santificação de que o
povo tanto fala?” Por mais de um ano ela tanto ouvira
dessa experiência testemunhada, falada e pregada,
que o coronel Brengle julgou que ela conhecesse o as­
sunto. Aquela pergunta, então, o surpreendeu e quase
o deixou desanimado. E a seguir perguntou à jovem:
“ Você tem mau gênio?”
“ Oh! sim” , - respondeu a jovem - “ sou como um vul­
cão” .
“ Santificação” - replicou ele - “ é tirar esse mau gê­
nio” . Tal definição fez a jovem começar a pensar. Fez-
120
lhe muito bem. Mas era coisa mui estreita, e, por isso,
Brengle adicionou: “Daria eu melhor definição de san­
tificação se lhe dissesse: Santificação é extirpar o mau
gênio e todo e qualquer pecado, bem como ter o cora­
ção cheio do amor a Deus e aos homens” . Expressões
de ira num gênio mau podem ser perdoadas; mas é
preciso alguma coisa mais para exterminar a condição
que causa esse pecado da ira. Para que a nova vida em
Cristo possa encontrar completa expressão em nós, a
salvação providenciada por Cristo deverá libertar a
alma do poder, bem como da culpa, do pecado.p)
Escrevendo a Tito, o apóstolo Paulo, com seu extraor­
dinário poder de síntese, resume toda a idéia do Evangelho
de Cristo no trecho do capítulo 2 de 11 a 15. Atente para
esse versículo em que, ao mesmo tempo que a graça de
Deus é um presente, ela transfere ao indivíduo a incum­
bência da renúncia, num processo eminentemente pedagó­
gico: “ Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo
salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renun­
ciando à impiedade e às concupiscências mundanas, viva­
mos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” .

Padrão bíblico
Ser crente no mundo moderno é tarefa altamente de­
safiadora. Parece que o príncipe deste mundo está apelan­
do para o último recurso que sua mente imaginativa pode­
ria criar para levar as pessoas à desgraça.
A nova moralidade faz uso de uma tribuna que o
Evangelho, com raras exceções, ainda não conseguiu gal­
gar. Trata-se dos meios de comunicação altamente eficien­
tes da nossa era, quais sejam, o rádio e a televisão. Através
desses “ púlpitos” , são lançados a cada minuto, novos con­
ceitos de liberação do pecado, principalmente no que tan­
ge à área do sexo.
Isto é infalivelmente assimilado pelo grande público
que gasta horas à mercê das propagandas que penetram na
mente produzindo novos padrões de comportamento.
Enquanto a própria sociedade mantinha alguns ta­
bus, ela podia se preservar das corrupções excessivas, so-
121
frendo um índice de promiscuidade bem inferior ao que
hoje se presencia, no entanto, esse “ repensar” das coisas à
luz da filosofia humanista, tem incentivado a prática de
uma nova doutrinação baseada nas “necessidades” huma­
nas, contestando qualquer tipo de repressão, por conside­
rar prejudicial a saúde e ao bem-estar individual. As ciên­
cias humanas que no passado esforçavam-se por recuperar
um homossexual de sua situação irregular de vida, hoje in­
centivam, dizendo: “ Vá em frente” , ou, “ Aceite-se como
você é” .
A nova moralidade é altamente inconseqüente. Ela
brinca com a vida, agredindo o que há de mais sério na so­
ciedade que é a família. Imagine o que seria o mundo se a
família se extinguisse. Nasceriam crianças aos montes.
Crianças que na sua maioria não teriam afeto completo
porque, em geral, não conheceriam os seus pais e se os co­
nhecessem, muito poucas viveriam com eles. A estrutura
sócio-econômica da casa seria levada à mercê da sorte de
cada dia; o número de menores carentes subiria na mesma
proporção da dilinqüência. A ordem das coisas desaparece­
ria por completo dentro de algum tempo e o mundo entra­
ria num verdadeiro caos. Isto, que parece ser uma mera hi­
pótese, corresponde exatamente ao padrão de vida que o
mundo está adotando para si, numa perfeita amostra do
cumprimento da Palavra de Deus: “ Sabe, porém, isto: Nos
últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens se­
rão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfe-
madores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de
si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatua­
dos, antes amigos dos prazeres do que amigos de Deus,
tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto o poder.
Foge também destes” (2 Tm 3.1-5).
O padrão de conduta do crente é unicamente aquele
que Deus legou para a humanidade, a Bíblia Sagrada.
Longe de ser antiquada, apesar da época em que foi escri­
ta, a Bíblia é o livro que mais entende do homem e de suas
necessidades. Ela é o próprio “ manual do fabricante do ho­
mem” . Ninguém que se deixa conduzir por suas palavras
122
jamais se arrepende de alguma coisa. Nela está o verdadei­
ro padrão de felicidade integral.
Quem adota os padrões éticos de vida procedentes de
Deus jamais poderá esposar a ética procedente do mundo e
do Diabo. A Bíblia diz: “ Bem aventurado o homem que
não anda no conselho dos ímpios” (SI 1.1).

Pureza interior
Jesus disse: “ Bem aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus” (Mt 5.8).
A santificação é a purificação do homem interior que
nasce dentro do indivíduo e se extrapola num processo es­
pontâneo, causando diferença entre este e o mundo que o
cerca.
A santificação, biblicamente entendida, é o resultado
da ação do Espírito Santo no coração do salvo, gerando
limpeza e identificação com a natureza divina, como lemos
em 1 Pe 1.4: “ Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e
preciosas promessas para que por elas fiqueis participantes
da natureza divina, havendo escapado da concupiscência
que há no mundo” .
Quando Davi pecou, arrependido, ele buscou o perdão
e a misericórdia de Deus e, no seu quebrantamento, de­
monstrou a sua compreensão da necessidade de pureza in­
terior: “ Eis que amas a verdade no íntimo...” (SI 51.6a).
Muitas pessoas perdem a oportunidade de crescimen­
to espiritual em sua vida porque não cultivam o caminho
da pureza interior. São pessoas que se acomodam nas mu­
danças exteriores, não como que partindo de dentro, mas
porque muitas vezes elas partem do púlpito. Mudam a es­
tética por temor, quando deveriam deixar que o Espírito
Santo promovesse as mudanças necessárias em sua vida, a
partir de um coração purificado. Quem não alcança a puri­
ficação interior tem muita tendência a viver no nível do
“ pecado-perdão, pecado-perdão” .
O perdão é algo que pode e deve ser buscado em cada
ocasião que o pecado toma lugar e a Bíblia não estabelece
limites para esta busca: todavia, ela nos fala de um cami­
nho em que as repetições de queda não mais podem acon-
123
tecer. Este é o caminho da purificação. É para ele que a
santificação nos conduz. Este caminho está prescrito pelo
profeta Isaías: “ E ali haverá um bom caminho, caminho
que se chamará o caminho santo; o imundo não passará
por ele, será somente para o seu povo; quem quer que por
ele caminhe não errará, nem mesmo o louco” (Is 35.8).
Um certo crente tinha o hábito de buscar o perdão pe­
rante a Igreja, cada vez que esta se reunia em assembléia
para a Ceia do Senhor. O seu pecado era sempre o mesmo e
a sua expressão pesarosa e triste já não comovia o rebanho
do Senhor.
Certa vez o pastor o impediu de sua “ penitência” e ele
chorou. O pastor chamou-o à parte e disse: “Irmão, o seu
problema não é perdão, mas é purificação” . Após aquela
palavra, o nosso irmão incauto, mudou de atitude, tornou-
se um crente bom e decente.
Se você cortar superficialmente o mato de um terreno
numa região de condições climáticas favoráveis à vegeta­
ção, em poucos dias o seu trabalho terá de se repetir por­
que o mato voltará a crescer. A menos que você arranque
as raízes e vire a terra, o seu terreno ingrato estará sempre
rindo do seu esforço. Se não lidarmos com o pecado nas
suas raízes não nos livraremos dele, ele estará sempre se
repetindo em nós.
A Palavra de Deus tem riquíssimas e preciosas pro­
messas para aqueles que vivem de maneira limpa e hones­
ta perante o Senhor, por isso vale a pena seguir a vida de
santificação como lemos em Hebreus 12.14: “ Segui a paz
com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Se­
nhor” . O verbo seguir, no original, é “ DIÓKO” e se traduz
por seguir, perseguir ou correr atrás. É exatamente isto que
devemos fazer com a santificação: correr atrás dela, fazen­
do o que Paulo diz quando escreve aos coríntios: “ Ora,
amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos
de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a
santificação no temor de Deus” (2 Co 7.1).
A oração
Retomemos o ponto inicial: o sacrifício vivo. Este é o
preço de uma vida íntima com Deus, que nos dá condições
124
tanto de bem conhecermos como de praticarmos a perfei­
ta vontade de Deus em nossas vidas. No holocausto vetero-
testamentário havia uma exigência que marcava a conti­
nuidade do ato - era o fogo permanente: “ O fogo arderá
continuamente sobre o altar: não se apagará” (Lv 6.13). A
única maneira de nos mantermos no altar de Deus o tempo
todo é mantendo a chama do altar acesa. Esta é a oração:
“ Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). Enquanto oramos, perma­
necemos ligados com o Céu. A nossa comunhão não é blo­
queada; então o pecado não tem como nos atingir. En­
quanto oramos, o Céu está interessado em nós. Contamos
com a proteção de um anjo do Senhor para nos guardar e
do Santo Espírito de Deus para operar em nós e através de
nós. Jesus, enquanto orava no monte, na companhia de
Pedro, Tiago e João, teve a aparência de seu rosto brilhan­
do como o sol. Ele foi transfigurado. Além disso, o Céu bai­
xou naquele lugar e Moisés e Elias vieram falar com Jesus.
A intensidade da oração de Jesus era tanta que o que é es­
piritualmente real transpareceu ao alcance das vistas hu­
manas dos que ali estavam. - Isto seria utópico hoje? - Se­
ria se toda a Bíblia também o fosse, mas ela não é; então a
manifestação da glória de Deus na vida de quem ora tam­
bém não é utópica. Quer exemplo? Verifique a vida de al­
guém que você sabe que anda na presença de Deus. Come­
ce evocando a história. Leia a biografia de Carlos Studd,
John Wesley, Moody, Whitefield, John Bunyan, Charles
Finney, Jorge Miiller, e outros. Quanto fizeram eles pelo
Senhor! Tiveram vidas dirigidas pelo Espírito Santo; des­
cobriram a vontade de Deus para as suas vidas. Ainda hoje
há homens que Deus está usando assim. São pessoas que
servem de modelo para nós. À medida em que formos mais
aplicados à oração, estaremos mais próximos, tanto de en­
tender quanto de praticar “ a boa, agradável e perfeita von­
tade de Deus” .

Paulo, uma vida no altar


Falamos tanto no apóstolo Paulo, citamos tanto suas
palavras; o que dizer de sua vida em tudo isto que discuti­
mos até agora? Nada menos que chamá-lo de um campeão
125
em Cristo. Ele alcançou a revelação de mistérios espiri­
tuais, os quais nos legou através dos seus ensinos. Não teve
a sua vida por preciosa. O que lhe importava era Cristo.
Falou sobre o novo holocausto, porque o experimentou du­
rante toda a sua vida em Cristo: “ ...eu ainda mais, em tra­
balhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em pri­
sões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Rece­
bi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três
vezes fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite
e um dia passei no abismo; em viagens muitas vezes, em
perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos
da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na ci­
dade, em perigos no deserto, em perigo no mar, em perigos
entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias
muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em
frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada
dia o cuidado de todas as igrejas” (2 Co 11.23-28).
Ter a vida como um sacrifício vivo sobre o altar nem
sempre significa que passaremos pelos mesmos sofrimen­
tos que os outros. Cada um tem uma experiência diferente,
mas para cada um ela é bem significativa. Custa um preço
caro, por isto é ela chamada de sacrifício, mas é recompen­
sadora. Por causa da sua vida dentro desta forma, que é a
de Deus, o apóstolo e doutor dos gentios chegou à intimi­
dade de Deus, para lá descobrir a sua vontade, tanto para
a sua própria vida quanto para a vida de muitos. Assim se
expressou ele em seu discurso de despedida aos anciãos da
igreja de Éfeso: “ Porque nunca deixei de vos anunciar todo
o conselho de Deus” (At 20.27). Sigamos os passos deste
homem de Deus que tanto nos legou, a fim de que pudésse­
mos trilhar pela senda da vontade divina em todo o nosso
viver.

126
13
Descansando na
vontade de Deus
Há algumas coisas que servem para promover a nossa
satisfação e a isso chamam de felicidade; e estas coisas são
exatamente as que todos procuramos. Da mais tenra idade
até o fim da vida, o ser humano anda em busca da sua “ fe­
licidade” encontrando-a tanto nas coisas grandes como
também nas pequenas. Se para a criança, a “ felicidade”
está num brinquedo, na companhia de outras crianças ou
num pirulito, para o idoso ela pode estar na aquisição de
uma propriedade, na conquista de um título ou na realiza­
ção de um ideal qualquer. Não há limites para a satisfa­
ção.
Quando, porém, uma pessoa vem a Jesus, descobre
nele a verdadeira felicidade: desde o perdão dos pecados,
que traz alívio à consciência, a cura interior e uma nova es­
perança, até novos ideais dentro da carreira em que agora
ingressou. Isto é o que acontece quando um crente em Je­
sus compreende que já não vive para si e que, por isso, deve
esmerar-se em conhecer e praticar a vontade de Deus para
a sua vida.
No mundo em que vivemos, não há descanso. As pes-
127
soas andam correndo o tempo todo em busca da felicidade
e parece que elas nunca a encontram: A vida é uma ansie­
dade aguda. 0 psicólogo Roilo May chamou a ansiedade
de “ um dos problemas mais urgentes de nossos dias” e,
como menciona Gary Collins, “ a ansiedade foi denomina­
da a emoção oficial de nossa época” . Ela inclui tensão, te­
mor, fadiga e angústia. A ansiedade reflete um desassosse­
go próprio de quem nunca consegue descansar em cima de
seus ideais. Isso, porém não acontece com quem tem a von­
tade de Deus como o maior ideal de sua vida. No centro da
vontade de Deus, o cristão goza de estabilidade emocional,
porque sabe que pode contar com direção, esperança, segu­
rança, realização e proteção.
Direção
Um jovem pastor tinha recebido o convite para traba­
lhar numa grande igreja ao lado de um renomado pastor. O
convite, a princípio, lhe pareceu uma boa oportunidade de
iniciar uma grande carreira ao lado de um pastor tão expe­
riente. Marcou um dia para tratar do assunto com o pastor
que o convidara. Ele estava feliz com a oportunidade que
lhe era oferecida. Após o encontro, porém, sentiu que um
peso lhe caía ao coração. Tentava mensurar, mas a sua
mente não podia pensar. Era como se tivesse entrado
numa estrada sem retorno. Fugira-lhe o senso de humor.
Tentava distrair-se com alguma leitura, mas era-lhe im­
possível concentrar-se. Aquele aperto parecia comunicar-
lhe que algo estava errado. Não suportando, recorreu a
Deus em oração e disse: “ Senhor, se eu agi precipitada­
mente, ajuda-me a ter certeza disto e livra-me” . No dia se­
guinte, ele continuava a sentir a mesma coisa. À noite,
chegou à sua casa um amigo seu. Esse amigo não tinha a
intenção de fazer aquela visita, mas, como passava por
perto, resolveu aproveitar. Quando o amigo viu o jovem
pastor naquela tristeza, perguntou-lhe o que se passava. O
jovem disse: - “ Ontem acertei com um pastor para traba­
lhar com ele e, após a nossa conversa, caí nesta depres­
são” . O seu amigo, que era um homem experiente, não
teve dúvida. Disse-lhe: - “ Você está fora da direção de
Deus” . O jovem respondeu: “ O que faço para sair desta si-
128
tuação agora?” . Decidiram orar. Após a oração, o amigo,
dirigido por Deus, tinha a resposta que o jovem precisava.
Disse-lhe: “ Enquanto orávamos, veio ao meu coração um
texto bíblico para você. Está em 1 Coríntios sete, versículo
vinte e um: ‘Cada um fique na vocação em que foi chama­
do. Foste chamado sendo servo? Não te dê cuidado; e, se
ainda podes ser livre, aproveita a ocasião’” . Que palavra!
Ela parecia explicar tudo. Não era para ele se prender.
Deus tinha outro plano para sua vida. Mas agora havia ou­
tro problema: Como desfazer o seu compromisso com o
pastor da grande igreja e o que ele poderia pensar? Naque­
le instante, o pastor visitante tinha mais um texto bíblico
que acabava de surgir em sua memória, e aquele texto pa­
recia ser o único em toda a Bíblia. Nele estava a orientação
de Provérbios 6.2-5: “ Enredaste-te com as palavras da tua
boca; prendeste-te com as palavras da tua boca. Faze pois
isto agora, filho meu, e livra-te, pois já caíste nas mãos do
teu companheiro; vai, humilha-te, e importuna o teu com­
panheiro. Não dês sono aos teus olhos, nem repouso às tuas
pálpebras. Livra-te como a gazela da mão do caçador e
como a ave da mão do passarinheiro” . Pronto. A solução
havia chegado. Ele estava certo agora de duas coisas: a pri­
meira era que o Senhor o queria livre para colocá-lo em ou­
tro lugar e, a segunda: ele estava certo do modo de desfazer
o seu compromisso. Não hesitou em procurar o pastor no
dia seguinte para explicar-lhe o que havia ocorrido. Aquele
também era um homem espiritual e podia compreender.
Após ter ouvido o pastor jovem, disse-lhe: “ O irmão é um
homem de Deus” .
Quem se dispõe a andar na vontade de Deus não pre­
cisa ficar apreensivo quanto aos caminhos que vai tomar
porque Deus se encarrega de colocá-lo no eixo.
A Bíblia diz: “ Porque todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus esses são filhos de Deus” (Rm 8.14).

Esperança
A esperança é uma feliz expectativa que deve com­
preender um estado de calma, e, dependendo das circuns­
tâncias do momento, exige paciência. Ocorre que nem
sempre estamos dispostos a pagar este preço. As esperan­
129
ças se transformam em sonhos que desejamos ver realiza­
dos o mais breve possível e, por causa dessa pressa, muitas
vezes tendemos a precipitar as coisas, e, como nenhum fru­
to colhido antes do tempo é bom para ser comido, assim
também os nossos sonhos podem transformar-se em amar­
gura, ao invés de alegria. A Bíblia diz que “ Tudo tem o seu
tempo determinado, e há tempo para todo propósito de­
baixo do céu” (Ec 3.1).
Saul era ainda rei de Israel quando Davi foi ungido rei
pelo profeta Samuel. Deus tinha planos melhores para
com a nação e esses planos seriam concretizados na gestão
de Davi. Davi agora estava ungido rei, mas só que ainda
não era rei. Ele podia reivindicar o trono, uma vez que a
nação estava nas mãos de um homem que havia sido feito
rei pelo mesmo profeta que o ungiu, mas Davi sabia que a
sua hora ainda não havia chegado. Ele andava na vontade
de Deus, logo, não precisava precipitar as coisas. Não ha­
via nada que pudesse demovê-lo da posição em que Deus o
havia colocado. Pelo contrário, embora perseguido pelo rei
Saul, nunca revidou aos seus ataques, respeitando-o sem­
pre como o seu rei. Davi cria em Deus, por isso sabia tam­
bém esperar. Não precisava fazer política para antecipar a
sua coroação. A seu tempo, Deus se encarregaria de pôr as
coisas nos seus devidos lugares. Quem anda na vontade de
Deus não precisa se sentir ameaçado com coisa alguma
deste mundo. Saul foi rei segundo o coração do povo e não
segundo o coração de Deus. Israel é o exemplo claro de
quem não sabe esperar em Deus. Pediu um rei antes do
tempo e ganhou Saul, homem que judiou deles.
Chegou, finalmente, a hora de Davi: “ E depois pedi­
ram um rei, e Deus lhes deu, por quarenta anos, a Saul, fi­
lho de Cis, varão da tribo de Benjamim. E quando este foi
retirado, lhes levantou como rei a Davi, do qual também
deu testemunho, e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, va­
rão conforme o meu coração, que executará toda a minha
vontade” (At 13.21-22).
Davi recebeu testemunho do próprio Deus, de que an­
dava na sua vontade. Qualquer pessoa que tem a vontade
de Deus como a coisa mais importante de sua vida sabe es­
perar nele. Não estende as mãos precipitadamente para
130
tomar aquilo que será seu. A Bíblia diz: “ Entrando.*#
apressadamente de posse de uma herança no princípio, o
seu fim não será bendito” (Pv 20.21).

Segurança
Moisés lançava diante de Deus as suas dúvidas, os
seus problemas, esperando sempre que o Senhor lhe desse
soluções. Quando alguma coisa não lhe era clara, ele sim­
plesmente consultava o Senhor sobre aquilo, mas ao ter
certeza de alguma decisão, ele ia em frente.
Depois que desceu do monte, onde Deus lhe deu ins­
truções sobre o Tabernáculo, Moisés recebeu ordem para
prosseguir a viagem. De uma coisa ele estava certo: o Se­
nhor o conhecia bem. Ele sabia também que gozava de
bom conceito fora com Deus (Êx 33.12). Moisés estava na
plena vontade de Deus, afinal, não fora ele e sim o Senhor
quem arranjou aquela peregrinação pelo deserto. Os seus
sentimentos por aquele jornadear, liderando o povo, a
princípio, eram completamente contrários à realidade que
lhe era imposta. Moisés foi um daqueles que relutou com
Deus para se render à sua vontade, mas depois que foi con­
vencido de que o caminho era aceitar, levou muito a sério a
sua decisão.
Uma dúvida pairava na mente do grande líder: Quem
o acompanharia nesta nova etapa da viagem? Bem no fun­
do da sua pergunta, parece que ele estava querendo dizer
que não havia alguém melhor do que o Senhor Deus para
aquilo. Moisés tinha uma grande coragem, mas a sua cora­
gem se estribava unicamente em Deus. Ele não ousaria
lançar-se pelo deserto sem a companhia de Deus. A respos­
ta veio do alto: “ ...a minha presença irá contigo para te fa­
zer d e s c a n s a r” (Êx 33.14). Tão-somente ouviu isto, Moisés
procurou cristalizar estas palavras com a sua sentença pes­
soal: “ Se a tua presença não vai comigo, não me faças su­
bir deste lugar” (Êx 33.15).
A presença de Deus com Moisés era-lhe a maior ga­
rantia de segurança. Isto é próprio do ser humano. Cada
vez que alguém se atira a um grande empreendimento,
procura apoiar-se em alguém, a fim de não cair em bancar­
rota. O descanso de que lhe falou o Senhor não significa o
131
cessar de atividades, mas a garantia da sua assistência,
para protegê-lo e orientá-lo. Com a presença do Senhor,
Moisés descansava na certeza de alguém que sai e sabe que
vai chegar. A presença do Senhor com ele garantia-lhe um
viver sem tédio.
A história de Moisés tem sido a história de muitos
cristãos sinceros, que, na hora de uma grande decisão, têm
clamado pela presença do Senhor, a fim de não darem um
passo que, depois, viesse a lhes tirar a tranqüilidade.
Há decisões que são mais simples de se tomar, en­
quanto há outras que merecem um cuidado muito espe­
cial.
Deus é um Deus de muitos planos. Os seus planos,
além de muitos, são grandes e Ele procura pessoas capazes
de executar esses planos. O estranho é que muitas vezes as
pessoas que o Senhor tem como capazes são aquelas que
realmente não demonstram a menor condição para tão ele­
vados intentos. São homens como Jeremias, que dizem:
“ Sou apenas uma criança” ou como o próprio Moisés, que
se achava incapaz de usar a sua boca para uma voz de co­
mando. São pessoas que se prostram humildemente diante
de Deus e que sabem reconhecer a sua condição, a ponto de
dizer: “ Não posso.” “ Não sei.” ou: “ Não tenho condi­
ções.” Essas são as pessoas a quem Deus nomeia para as
suas grandes realizações, para as quais Ele dá a sua garan­
tia com a própria presença.
Realização
A meta do ser humano é realizar-se na vida, e o nível
de realização pessoal é medido pelo conceito de valor que
cada indivíduo carrega consigo; assim, para uns a realiza­
ção pode-se dar no seu trabalho, para outros, na conclusão
de uma obra de arte, no casamento de um filho, numa via­
gem para o exterior ou na elaboração de uma obra literária
que ganhe muito respeito.
A realização é o ponto de chegada, à custa de muitos
labores, a um alvo almejado, e isto é tão gratificante que a
pessoa já não se incomoda nem mesmo de morrer. É como
se a razão máxima de sua existência já tivesse sido alcan­
çada. Assim agiu Simeão após tomar Jesus em seus braços.
132
Aquele foi o momento mais esperado em toda a sua vida
porque sabia, pelo Espírito Santo, que “ não passaria pela
morte antes de ver o Cristo do Senhor” . “ Simeão o tomou
nos braços e louvou a Deus dizendo: Agora, Senhor, despe­
des em paz o teu servo segundo a tua palavra; porque os
meus olhos já viram a tua salvação” (Lc 2.28-30).
Uma vida vivida no centro da vontade de Deus resulta
na mesma sensação de Simeão: uma vida realizada.
Um exemplo bonito de alguém que se realizou na von­
tade de Deus é o do profeta João Batista. Homem humilde,
que conhecia bem o seu lugar e que deu um grande teste­
munho de haver cumprido a sua tarefa, divinamente
orientada; era um homem realizado.
A sua pregação era vibrante. Pessoas de todas as par­
tes do país vinham a ele para ouvi-lo. João era um homem
diferente. Seu traje, seus modos, e sua pregação mexiam
com a opinião pública.
Os judeus andavam tão perturbados com ele que um
dia lhe enviaram sacerdotes e levitas para tirarem uma dú­
vida que pairava em suas mentes. Queriam saber se ele
era o Cristo. A sua resposta foi: “ Eu não sou o Cristo” (Jo
1.20). Se João sofresse de complexo de messianidade, ele
poderia se aproveitar da hora para responder: “ Sim..., isto
mesmo, sou eu” . Ele poderia pensar: “ Passar por Cristo é
como passar por Deus. Sabe lá o que é isto? Eu não posso
perder esta chance!” Mas João não era Ele; como também
não era presunçoso nem mentiroso.
A segunda pergunta então veio: “ És tu Elias?” (Jo
1.21). João agora tinha, se quisesse, condições de pensar
diferente: “ Bem, passar por Jesus, não fica bem, mas até
que passar por Elias, não é nada mau. Afinal, Elias foi o
grande profeta da nossa nação...” Se João Batista dissesse
que era Elias, seria canonizado pelo povo na mesma hora,
mas a sua sinceridade e firmeza não o permitiam entrar
por este caminho. Há muitos que deveriam aprender um
pouco com João Batista, em nossos dias. São pessoas que
nunca se realizam em nada que fazem porque estão fora da
vontade de Deus, e vivem o seu ministério na sombra de
outros a quem Deus usa, perdendo sempre a oportunidade
133
de desenvolver as suas próprias características. O plágio é
tão ridículo qüe, se fosse possível, ainda trocariam a sua
própria identidade pela do seu “ ídolo” .
Finalmente, perguntaram a João Batista se ele era
profeta. Isto ele poderia dizer que era, mas também negou
e não mentiu. A razão é que queriam apanhá-lo em contra­
dição. Na pergunta: “ És tu profeta?” Os sacerdotes inten-
cionavam identificá-lo com o Messias que ele dissera não
ser. Se dissesse que era, não estaria dizendo ser simples­
mente um profeta mas “ o profeta” que eles queriam apa­
nhar: o Cristo.
Afinal de contas, então, “ Quem és, para que demos
resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de
ti mesmo?” E agora pasmem com a resposta: “ Eu sou a
voz do que clama no deserto?” (Jo 1.23) “ O quê?” - Pode­
riam eles estar perguntando - “ Voz... tu dizes ser uma
voz?” - Sim, uma voz. Apenas uma voz. Isto era tudo o que
João Batista era e fazia questão de dizer que era. Mas você
e eu agora ficamos intrigados: Que vantagem tinha ele em
ser apenas uma voz? Se há uma coisa que todos nós gosta­
mos de ter é um nome e um título que nos identifique. -
Por que é que para aquele homem o bom era ser somente
uma voz? - Porque ele não era simplesmente uma voz que
gritava pelo deserto, mas uma a serviço de Deus. Era a voz
de um homem que estava no centro da vontade de Deus.
João Batista estava satisfeito com o que era. Mais tarde ele
mesmo dá testemunho da sua realização: “ Vós mesmos
sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo,
mas fui enviado como seu precursor. O que tem a noiva é o
noivo; o amigo do noivo, que está presente, o ouve, e muito
se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se
cumpriu em m im ” (Jo 3.28-29).
Proteção
Se para as grandes realizações precisamos de seguran­
ça (e é o que desfrutamos quando estamos no centro da
vontade de Deus), para as dificuldades que nos surgem,
carecemos de proteção.
Como já mencionamos no capítulo anterior, há um
mundo espiritual que nos rodeia, com o qual precisamos
134
contar em tudo o que fazemos. Essas hostes espirituais da
maldade utilizam-se principalmente de pessoas para nos
atacar.
Todos nós sabemos bem quem foi Martinho Lutero, o
grande proclamador da Reforma Protestante. Embora
pressionado pela família para ser advogado, Lutero não
conseguiu fixar-se no estudo das Leis, ingressando no con­
vento agostiniano de Esfurt. Estudando a Palavra de
Deus, convenceu-se de que nenhum esforço de sua parte
poderia garantir-lhe a salvação. As virtudes humanas não
têm nenhum mérito para a salvação de alguém. A ênfase
teológica da Igreja Católica o incomodava cada vez mais,
principalmente à medida em que lia a epístola de Paulo
aos Romanos.
Lutero passou a consagrar a sua vida a Deus em jejum
e oração, confrontando o sistema religioso dominador do
mundo com o cristianismo apresentado pela santa Palavra
de Deus. Entendeu que o homem só pode se tornar merece­
dor aos olhos de Deus pela absoluta submissão à vontade
divina. Ele foi um dos maiores exemplos de alguém que
soube submeter-se a esta vontade, o que fazia dele um ho­
mem a quem Deus poderia usar para um grande plano.
Convencido das verdades bíblicas que pregava e dos erros
do sistema religioso vigente, Lutero decidiu declarar guer­
ra contra o mal e desmentir o velho sistema religioso, em-
buído de uma coragem incomum. Na manhã do dia 31 de
outubro de 1517, Martinho Lutero afixou um pergaminho
contendo noventa e cinco declarações (relacionadas com a
venda de indulgências), na catedral de Wittemberg. Como
conseqüência, sofreu a excomungação da Igreja Romana
pelo papa Leão X no mês de junho de 1520, mas ele perma­
neceu firme no seu propósito, porque estava no centro da
vontade de Deus.
À Dieta do Concílio Supremo do Reino, realizada
em 1521, Lutero foi citado a comparecer. Alguns amigos
seus lembraram-no de que poderia ter a mesma sorte que
um outro cristão de espírito reformador, chamado João
Huss, teve um século antes, quando, no Concílio, foi morto
por mãos inimigas. Estes conselhos não intimidaram Lute­
ro, pelo contrário, extraíram dos seus lábios esta sentença:
135
“ Irei a Worms- ainda que me cerquem tantos demônios
quantas são as telhas dos telhados” . No Concílio, pediram
a ele que se retratasse, ao que respondeu: “ Aqui estou. Não
posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém” . Ape­
sar das pressões, Lutero pôde sair em paz, mas enquanto
fazia a sua viagem de regresso, foi raptado por alguns sol­
dados que o levaram ao castelo de Wastzburg, na Turín-
gia. Permaneceu ali por um ano, tempo que aproveitou
para traduzir o Novo Testamento para o idioma alemão.
Foi ali, também, que compôs um dos mais belos hinos en­
toados pelo povo de Deus:
Castelo Forte é o nosso Deus
Espada e bom refúgio
O nosso Deus socorro traz
Em todo transe agudo.
Graças à Reforma, as igrejas com características bíbli­
cas foram renascendo e crescendo, chegando até os nossos
dias e cada vez maior, mais fortes e mais belas. 0 movi­
mento de oitocentos anos pela reivindicação do cristianis­
mo, com características do primitivo, culminou na ação
heróica deste homem chamado Martinho Lutero.
Grande homem de Deus que descansou na proteção
real de quem vive no centro da vontade de Deus. É como
diz o salmista: “ Descansa no Senhor e espera nele, não te
irrites por causa do homem que prospera em seu caminho,
por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios” (SI
37.7).
Quem anda na vontade do Senhor experimenta o Sal­
mo do Bom Pastor, aquele que dá suprimento às suas ove­
lhas, refrigera a alma, guia às águas tranqüilas, porque
sabe que se a ovelha cair em águas agitadas ela não conse­
guirá se levantar, por causa do peso da lã. O crente é guia­
do pelos caminhos da justiça, porque ama o nome do Se­
nhor e não quer comprometê-lo com maus exemplos. Mes­
mo estando à beira da morte, sabe que pode contar com o
consolo do pastor amado. O crente é honrado com um ban­
quete na frente dos inimigos. Sua cabeça é ungida, sua ale­
gria é transbordante, sua vida é coroada de bondade e de
136
misericórdia, dia após dia, e ainda goza da comunhão dos
santos na casa do Senhor, nos dias da sua existência aqui
na terra (SI 23).
Oração final
“ Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eter­
no, tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo,
grande pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa
obra para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que
perante Ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja gló­
ria para todo o sempre. Amém.” (Hb 13.20-21.)

137
Notas
Capítulo 1
(1) MASTOM, T.B., A Vontade de Deus e Sua Vida,
JUERP, Rio de Janeiro, RJ, 1977, p. 21
Capítulo 5
(1) FRESEN, Carry & MAXSON, J. Robin, Decision M a­
king And The Will Of God, Multnomah Press, Por­
tland, Oregon, 1980, p. 15.
(2) Ibidem, p. 17.
(3) STOTT, John R. W., Crer é Também Pensar, ABU,
São Paulo, SP.
(4) Ibidem
Capítulo 9
(1) MONDIN, Batista. O Homem, Quem é Ele?, Edições
Paulinas, São Paulo, SP, 1983, p. 196.
(2) Ibidem, p. 199.
(3) PEREIRA, J. Reis, O Problema Religioso da Mocida­
de, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1964, p.
72.
(4) TRUEBLOOD, Elton, The Common Ventures of Lifes,
Harper, New York, 1949, p. 85.
139
Capítulo 11
(1) JOLIVET, R., Curso de Filosofia, Livraria Agir Edito­
ra, Rio de Janeiro, 1976, p. 331.
(2) Discípulos de Maniqueu, que dizia ser o próprio Conso­
lador enviado do céu (séc. III).
(3) Corrente filosófica que surgiu em meados do 1? século
da era cristã.
Capítulo 12
(1) HEGRE, T. A., A Vontade de Deus, a Vossa Santifica­
ção, Editora Betânia, Belo Horizonte, 1966, p. 13.

140
Bibliografia
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ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, Edição Re­
vista e Corrigida, Imprensa Bíblica Brasileira, Rio de
Janeiro.
ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, Edição Re­
vista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil, Brasí­
lia, DF.

143
B runelli é jovem e culto pastor. Santo e no poder do sangue do Senhor
Deus o tem usado em muitos segmentos Jesus. Temos de colocar nas mãos de
da obra do Senhor em nossa Pátria, nossos'jovens livros de valor espiritual,
principalmente no de Educação Teológi­ que edifiquem, que exortem, que delei­
ca. Deus o abençoe no lançamento deste tem e, sobretudo, que abram caminhos
presente trabalho. Espero que seja o pri­ novos que possibilitem nossa juventude
meiro de uma série de grandes obras que a se aproximar de Deus para uma vida
uenham a ajudar o nosso povo e, de útil, de santidade e amor. Com o livro A
modo particular, a nossa juventude, que vontade de Deus e você, Walter Brunelli
tem sido bombardeada pelo lixo do in­ dá grande e oportuna cooperação. Em
ferno de imoralidade e.destruição. A lite­ suas páginas, os servos do Senhor encon­
ratura que o Diabo tem semeado na trarão material bíblico e conselhos que
mente e no coração de nossos jovens é de os ajudarão a vencer o mal e a fazer o
estarrecer; e não somente no campo da bem; sair do cabestro de Satã e se ajus­
literatura, mas pelo rádio e TV, que le­ tar ao jugo de Cristo; deixar as trevas e
vam para o sagrado recinto do lar, a cor­ buscpr a luz; fugir do Diabo para servir a
rupção, a desordem, a desobediência e a Jesus, o Senhor. Deus seja servido aben­
rebelião deliberada contra tudo e contra çoar o autor e a todos quantos se inspira­
todos. É uma guerra sem tréguas. - E rem em suas páginas. Que o nome, que é
como resistirmos a esses avanços impru­ sobre todo nome, o nome de Jesus seja
dentes de iniqüidade? - Cruzando os engrandecido, ü Reino de Deus avance,
braços? Apenas combatendo dos púlpi­ nosso povo seja edificado e, no final da
tos a onda de miséria e destruição? Im ­ leitura desse livro, possamos dizer de co­
pedindo que nossos jovens assistam aos ração: “Senhor. foi feita a tua vontade
programas da obscenidade do M undo e aqui na Terra, particularmente na m i­
do Inferno? Tudo isso pode ser muito nha vida, como ela é feita no Céu”.
bom mas é incompleto. (J Enéas Tognini
mundo luta com armas do
Inferno e do Diabo. São po­
derosas, mas não todo- W alter Brunelli
poderosas. Deus põe em M in is tro do
nossas mãos armas espiri­ Evangelho,
tuais no poder do Espírito a rticulista dos
periódicos da C P A Ü ,
fundador e d iretor da
Escola S u p erior de
Teologia Evangélica,
m em bro do Conselho
de Educação
Religiosa da
C onvenção (ie ra l das
Assem bléias de l)eu s
no Brasil.

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